Francisco José Ribeiro de Vasconcellos

PROFETA BINOT (O)

O PROFETA BINOT Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Há 125 anos morria nesta cidade o cidadão franco-petropolitano JEAN BAPTISTE BINOT. Nascido em Paris, em 1806, veio para o Brasil em 1836, onde viveu a maior parte de sua vida, radicando-se na recém-fundada Petrópolis, onde viria a falecer aos 17 de setembro de 1894. Acompanhou os primeiros passos da nova urbe, conheceu de perto o plano Koeler, trabalhou nos jardins do Palácio Imperial, criou renomado orquidário no Retiro, foi paisagista e defensor da exuberante natureza petropolitana, adivinhou os nossos desastres urbanísticos e ecológicos, colaborou na imprensa local mostrando as agressões à plasticidade urbana e ao meio ambiente. Na edição de 5 de janeiro de 1859 d’“O Parahyba” escreveu Binot: “Petrópolis vai entrar em uma nova fase, tanto para as construções, como para as vias de comunicação, porque se temos tantos sinistros a deplorar hoje, a culpa é antes das autoridades que dos proprietários, porquanto para evitar semelhantes desgraças não se devia deixar construir ao pé dos taludes a menos que não tivessem 45º; mas até hoje cada qual constrói como lhe apraz, à sua guisa, visto que as autoridades superiores não procuram determinar ainda um alinhamento e uma construção para os edifícios nesta cidade.” O artigo em epígrafe foi publicado cinco meses antes da posse da primeira Câmara Municipal petropolitana. Ela já teria que encarar o desafio de impor regras rígidas ao movimento fundiário no município, notadamente no centro da urbe onde o meticuloso plano Koeler, já de si valia como bússola. Entretanto, Binot vaticinara o aumento do descalabro, ante a omissão e quanta vez a convivência das autoridades competentes. E por décadas a fio, num crescendo assustador, desafiando a lei da gravidade, a geologia do solo petropolitano, as peculiaridades da natureza local, os temporais de verão, as enchentes dos cursos d’água, as construções de todo o gênero, avançaram morro acima, dizimaram matas, se esgueiraram pelas margens de rios e córregos e como diria Camões, se mais área de risco houvera, lá chegaram. Jean Baptiste Binot adivinhou a vocação industrial de Petrópolis ao dizer que “as fábricas manufatoras aparecerão como por encanto visto que não há em toda a província do Rio de Janeiro lugar mais próprio que Petrópolis para trabalhos desse gênero.” Realmente o clima, a abundância de recursos hídricos, a proximidade da Corte, os modernos meios […] Read More

110 ANOS DA TRAGÉDIA DA PIEDADE (OS)

OS 110 ANOS DA TRAGÉDIA DA PIEDADE Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima   Foi a 15 de agosto de 1909 que Euclides Pimenta da Cunha subiu aos céus nos braços de Nossa Senhora da Glória depois de ter sido vitimado por uma bala assassina no subúrbio carioca da Piedade. Euclides da Cunha morreu prematuramente quando muito teria que contribuir para o enriquecimento da cultura nacional, para a integração ibero-americana, para a fixação dos limites do norte do país. Sete anos antes de seu falecimento, o filho de Cantagalo legou ao Brasil aquilo que para alguns não passava de um monumento literário escrito em linguagem rebuscada, mas que para os estudiosos da realidade nacional representava um tratado que aglutinava conhecimentos geográficos, históricos, etnossociológicos e demopsicológicos. Intitulava-se a obra “Os Sertões” que tinha como enfoque especial a questão de Canudos a emblematizar um tema muito mais profundo e abrangente nos sertões brasileiros. As causas do fenômeno canudiano foram levantadas e discutidas na obra em apreço e as soluções para o drama sertanejo, com base no diagnóstico, dependeriam apenas da vontade política dos governantes de quaisquer esferas do poder. Mas o caso de Canudos, tratado de per si, como um tumor que precisava ser extirpado com base no pressuposto de que o Conselheiro era inimigo da República, tornou-se um fim em si mesmo. Entretanto, ele deveria ter sido contextualizado, para que a população sertaneja, atraída pelos paranoicos de ocasião, que ofereciam o céu na terra, não prosseguisse no cumprimento de seu triste destino, escrava da ignorância e da indigência. “Timeo homo unius libri”, diziam os latinos, isto é, tenho medo do homem de um livro só. Mas, embora, “Os Sertões” seja o carro chefe de Euclides da Cunha, escreveu ele outras obras tão importantes como aquela. “Contrastes e Confrontos” é uma delas e “À Margem da História” veio a lume dois meses após a sua morte. Neste livro Euclides da Cunha revelou-se um eminente líbero-americanista, com os olhos voltados para a Amazônia, para o Prata, para as vertentes andinas do Pacífico. Tratando da Amazônia, e o tema está agora na ordem do dia, disse Euclides que quando de sua conquista pelo homem branco, não se sabia se aquilo era uma bacia fluvial “ou um mar profundamente retalhado de estreitos”. E afirmou enfático: “O homem ali é um intruso impertinente. Chegou sem […] Read More

MORTE DO MINISTRO SUGHIMURA (A)

A MORTE DO MINISTRO SUGHIMURA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Em 1906 Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919) cumpria seu último ano de mandato como Presidente da República. O Rio de Janeiro no embalo da reforma de Pereira Passos pretendia tornar-se a Paris do Trópico. Petrópolis esplendia como capital diplomática em torno do carismático Barão do Rio Branco (1845-1912), Ministro das Relações Exteriores, que fizera de sua casa na Westfália sucursal do Palácio Itamarati. O glamour fazia a festa na “belle époque” petropolitana. Porém, já no fim da “saison” uma triste notícia correu pelos quatro cantos da cidade. No dia 19 de maio falecera o Ministro Plenipotenciário do Japão junto ao governo brasileiro. Chamava-se ele FUKISHI SUGHIMURA e fora vítima de uma paralisia bulbar. Apesar dos esforços dos médicos drs. Modesto Guimarães e Hilário de Gouvêa, o homem não resistiu. Contava, na altura, 59 anos. O snr. Miura, secretário da legação japonesa, apressou-se em comunicar o fato ao Barão do Rio Branco, a D. Julio Tonti, Núncio Apostólico e decano do corpo diplomático em Petrópolis e ao governo japonês. O ilustre Ministro havia deixado viúva e seis filhos. Como não havia onde cremar o corpo do extinto, conforme o desejo da família ficou decidido que o mesmo seria sepultado no cemitério São João Batista no Rio de Janeiro, prestando o governo brasileiro toda a assistência e todas as homenagens do estilo, de acordo com as devidas providências tomadas pelo Barão do Rio Branco. Quem era o Ministro Saghimura Tratava-se de um trabalhador incansável que ainda jovem dedicara-se ao jornalismo e às letras em seu país, sendo também um expert em filosofia chinesa. Na carreira diplomática, além dos seus bons ofícios prestados ao Ministério das Relações Exteriores, foi secretário da legação japonesa na Coreia e no Canadá. Foi nomeado Ministro Plenipotenciário no Brasil em 1905 e, em um ano provocou um avultado movimento nas relações entre o Mikado e o governo brasileiro. Mantinha o Ministro japonês uma rotina pesada de trabalho. Era um homem essencialmente pragmático. Consoante o depoimento de alguns de seus contemporâneos em Petrópolis, levantava-se às 5 horas da manhã e depois de um breve passeio pelas ruas centrais da cidade, dirigia-se ao seu gabinete para cuidar dos assuntos da legação. Após o almoço tirava um cochilo e voltava à faina só voltando à casa ao cair […] Read More

HÁ CEM ANOS MORRIA ALBERTO TORRES

 HÁ CEM ANOS MORRIA ALBERTO TORRES Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima   Há cem anos morria no Rio de Janeiro Alberto de Seixas Martins Torres, um dos fluminenses mais eminentes entre tantos outros que tiveram como berço a chamada antiga província.  Nascido em Itaboraí em 26 de novembro de 1865, Alberto Torres fez uma carreira vertiginosa, galgando os mais altos postos, fosse no estado do Rio de Janeiro, fosse no cenário nacional ainda muito moço. Parecia adivinhar que partiria cedo deste planeta, pois morreu a 29 de março de 1917, com apenas 52 anos. Aos 16 anos o jovem Alberto já estava em atividade política como abolicionista e republicano. Bacharelou-se em Direito em 1886, colando grau na Faculdade do Recife junto com Raul Pompéia (1863-1895) e Xavier da Silveira (1864-1912). Em oposição a Francisco Portela (1833-1913), primeiro governador do Estado no regime republicano, negou-se a participar da primeira constituinte estadual na chapa portelista. Deposto Portela em dezembro de 1891, Alberto Torres uniu-se aos comandados de José Thomaz da Porciúncula (1854-1901) e integrou a segunda constituinte fluminense que promulgou a Carta de 9 de abril de 1892. Tinha Alberto Torres 31 anos quando foi nomeado ministro da Justiça pelo presidente Prudente de Moraes (1841-1902). Exonerou-se em virtude dos desmandos praticados pelo vice-presidente Manoel Victorino Pereira (1853-1902), quando ocupou interinamente a primeira magistratura do país em virtude do afastamento de Prudente de Moraes por motivo de saúde. Eleito presidente do estado em julho de 1897, Alberto Torres cumpriu o triênio 1898/1900 em Petrópolis, então capital fluminense. Teve um governo tumultuado não só em razão da crise financeira, mas também por causa do racha no Partido Republicano estadual provocado pela rumorosa questão da duplicata de Câmaras Municipais em Campos dos Goitacazes. Teve o grande mérito de ter criado na cidade de Petrópolis o Ginásio Fluminense, lamentavelmente de vida efêmera, mas, enquanto existiu trouxe para estas serras mestres do calibre de Silva Ramos (1853-1930), de Louis Cruls (1848-1908), de Artur Thiré (1853-1923), de Raimundo Corrêa (1859-1911). Tinha o ilustre filho de Itaboraí 35 anos quando deixou o governo do Estado. Jurista de inegável valor, Alberto Torres foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal pelo presidente Campos Sales (1841-1913), que cumpria o quatriênio 1898/1902. Seus votos e pareceres foram sempre corajosos e lapidares. Em 1907 somente ele e Amaro Cavalcanti (1849-1922) […] Read More

120 ANOS DO DESASTRE DE CANUDOS (OS)

OS 120 ANOS DO DESASTRE DE CANUDOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima   Delenda Canudos foi a ordem terminante dos que em 1897 detinham nas mãos os cordéis do poder. Mas Canudos era conseqüência e como sempre ocorreu no Brasil, é sempre este que está na alça de mira dos poderes constituídos, ignorantes da velha máxima latina: sublata causa, tolitur effectus. Trocando em miúdos, somente subtraindo-se a causa e que se exterminará o efeito dela advindo. A questão de Canudos pôs a nu a tragédia social do interior nordestino, velha de muitos séculos, teúda e manteúda no feudalismo renitente, na escravidão à ignorância, no desesperado apelo aos milagreiros NE profetas, no cambão na paranóia coletiva em busca do nirvana. As causas do fenômeno canudiano foram levantadas e discutidas pelo gênio de Euclides da Cunha e as soluções para o drama sertanejo, com base no diagnóstico, dependeriam apenas da vontade política dos governos, fossem eles estaduais ou federais. Mas debelar causas custa tempo e dinheiro e isso não interessa ao imediatismo politiqueiro dos nossos coringas, que jamais pensam e agem a longo prazo e que só dispõem de verbas para supérfluos, fachadas e na advocacia em causa própria. E o desastre de Canudos, que afora cumpre 120 anos, provocou o seu maléfico efeito cascata. A desgraça comum seguiu latente Nordeste afora e a sedição do Juazeiro de 1913/1914 e todo o fanatismo que se desenvolveu no Cariri cearense em torno do Padre Cícero, comprovaram que a hégira continuava viva no sertão, como escreveu Euclides da Cunha. Segundo os historiadores, o desastre de Canudos foi a origem do processo de favelização do Rio de Janeiro, agravado no princípio do século XX com a reforma de Pereira Passos, que ao acabar com os infectos cortiços da região central da cidade, não criou nos subúrbios dela conjuntos habitacionais dignos e seguros para abrigar os egressos do bota abaixo. E como diria o velho Carvalhal Lage, muitas tempestades ainda estavam por vir. Repensar Canudos nesta lastimável quadra em que vivemos na atualidade, é lamentar os 120 anos perdidos com basófias, demagogias e populismos, alheios aos sábios ensinamentos de Euclides da Cunha. Passamos essas doze décadas evitando a lupa e o bisturi, usando e abusando de ungüentos, mesinhas e compressas; dourando pílulas, colorindo misérias, escondendo verdades, empurrando detritos para debaixo do tapete. Segundo […] Read More

AINDA OS 190 ANOS DOS CURSOS JURÍDICOS

AINDA OS 190 ANOS DOS CURSOS JURÍDICOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima   Os que leram o artigo anterior sobre esse tema hão de pensar que eu me contrapus à iniciativa da criação dos cursos jurídicos no Brasil em 11 de agosto de 1827. Não seria esta a leitura correta do meu texto. O fato de haver examinado algumas decorrências culturais da implantação de tais cursos entre nós não significa negar o meu aplauso a tamanho cometimento que sobre ter começado a formar profissionais do Direito em território nacional estimulou a mocidade brasileira no rumo da interdisciplinaridade jurídica, de modo a capacitá-la a dedicar-se aos mais variados ramos da atividade liberal com boa margem de segurança calcada na abrangência do conhecimento da cultura humanista. Porém, o que não se pode negar é o chamado irresistível ao estudo da cultura bacharelesca entre nós, decorrente dos movimentos acadêmicos durante décadas. Trata-se de um estudo instigante e atrativo. Quando em 1977 transcorria o sesquicentenário da criação dos Cursos Jurídicos, Lourenço Luiz Lacombe, então diretor do Museu Imperial, promoveu um ciclo de palestras para comemorar o acontecimento. Trouxe professores de Pernambuco, de São Paulo e do Rio de Janeiro. E eu me recordo que entre os temas mais debatidos figurava justamente o pertinente à cultura do bacharelismo. E essa cultura evidencia-se de várias formas, inclusive pela ostentação palavrosa tão comum nos tribunais do júri, onde o drama existencial é vivido por personagens reais, protagonizados pelos profissionais da defesa e da acusação num duelo feroz em que não faltam os mais requintados lances teatrais. Esse teatro gratuito sempre calou fundo na alma popular, para a qual crime sempre foi sinônimo de homicídio, julgado necessariamente no Tribunal do Júri. E por causa do espetáculo do júri ficou na imaginação popular que advogado é aquele que fala muito e bonito. Tudo isso de uma certa forma tem a ver com a prevalência do Direito Público sobre o Privado, principalmente em matéria criminal. Em 110 anos, isto é, de 1830 a 1940, nós tivemos três Códigos Penais e somente um Código Civil que raiou em 1916. O criminalista italiano Cesare Lombroso, nascido em 6/11/1835, na cidade de Verona e falecido a 19 de outubro de 1909 em Turim, foi o pai da teoria do criminoso nato que se revelava através de uma índole comportamental […] Read More

HÁ 190 ANOS NASCIAM OS CURSOS JURÍDICOS NO BRASIL

HÁ 190 ANOS NASCIAM OS CURSOS JURÍDICOS NO BRASIL Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Enquanto nossos vizinhos hispanomericanos conheceram a Universidade desde o século XVI, nós apenas tivemos algumas Faculdades somente no século XIX. E os cursos jurídicos raiaram aqui a 11 de agosto de 1827 com a criação das Faculdades de Direito de Olinda e de São Paulo. Desde então, deixamos de buscar as luzes do saber jurídico na Universidade de Coimbra, para nos nutrirmos delas em dois pontos estratégicos do Império: Pernambuco com irradiação pelo Norte/Nordeste; São Paulo polo de atração dos estudantes do Sul/Sudeste. Mas não foram poucos os casos de fluminenses, mineiros e até paulistas que cursaram a Faculdade em Olinda e de nordestinos que colaram grau em São Paulo. Feliz intercâmbio capaz de aproximar o arquipélago que compunha o Brasil Imperial. Mas longe da praticidade da vida forense, do objetivismo do pleito judiciário, o teoricismo livresco, a retórica de braços com a vaidade tupiniquim, criaram a cultura do bacharelismo promovendo a doutor o simples bacharel que jamais defendera qualquer tese perante austeras bancas examinadoras. Deslumbrada matrona campista, nascida aí por 1870, mãe de numerosa prole não se cansava de apregoar aos viventes de acanhada freguesia rural do município norte-fluminense: – Os meus filhos serão doutores! Era o título valendo mais que a profissão nem sempre exercida. E até hoje no sul da Bahia é raro ouvir-se de alguém formado em Direito ser ele advogado. O que ocorre com frequência é a declaração enfática: – Eu sou bacharel! O diploma de conclusão do curso jurídico era o passaporte vip para a carreira política de sucesso, calcada quanta vez no discurso palavroso, inconsistente, alegórico, distante da realidade nacional. Uma locução francesa valia mais que uma atitude pragmática. A cultura bacharelesca criou a hipertrofia do Direito Público, relegando o Privado a segundo plano. A prova cabal disto está no fato de só termos conhecido o Código Civil em 1916, apesar dos esforços anteriores de Augusto Teixeira de Freitas (1816-1883). Entretanto, a Argentina com Dalmacio Vélez Sarsfield (1800-1875) e o Peru tiveram Código Civil bem antes de nós, o primeiro em 1869 e o segundo em 1852. Durante o século XIX e até no princípio dos novecentos, mestres e alunos deixaram-se empolgar pelas escolas penais italianas e pelos constitucionalistas franceses, alemães, espanhóis e portugueses. Enrico […] Read More

NOS DESVÃOS DA MEMÓRIA

NOS DESVÃOS DA MEMÓRIA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Há 160 anos raiava a imprensa em Petrópolis, justo quando estava em discussão na Assembleia provincial o projeto de lei que criava o município e elevava a freguesia de São Pedro de Alcântara à categoria de cidade.             Pela mão do madeirense Bartolomeu Pereira Sudré veio a lume em março de 1857 o jornal Mercantil que durou até 1892 quando resolveu-se na Gazeta de Petrópolis. Em dezembro do mesmo ano apareceu O Parahyba fundado por Augusto Emilio Zaluar e que teve como redatores Remigio de Senna Pereira e Quintino Bocaiuva, este produzindo matérias com enorme senso crítico. Foi n’ O Parahyba que começou sua carreira jornalística o descendente de irlandeses Thomas Cameron, que em meados dos anos sessenta dos oitocentos fundou O Pharol em Paraíba do Sul, depois transferido para Juiz de Fora. De volta a Petrópolis na década de setenta, Cameron foi redatar o Mercantil onde ficaram famosos seus editoriais concisos e precisos.             Lamentavelmente ninguém sabe onde foram parar as coleções do Mercantil. A Biblioteca Municipal só as possui a partir de 1876. Em compensação, O Parahyba, de vida efêmera, foi salvo graças ao empenho de Felipe Faulhaber que fez encadernar em dois grossos volumes os exemplares do periódico em epígrafe, doando-os à Biblioteca petropolitana.             O Parahyba foi contemporâneo das batalhas eleitorais que se travaram nesta urbe até a instalação da municipalidade em junho de 1859 e da construção da estrada União e Indústria. Abrigou em suas colunas matérias não só de interesse local, mas de alcance regional. Seus colaboradores e correspondentes ocuparam-se de temas referentes à agricultura, à imigração e à colonização, aos incipientes projetos ferroviários, à escravidão, aos ensaios industriais.             Foi também n’ O Parahyba, que Jean Baptista Binot fez publicar artigos memoráveis, já defendendo a natureza petropolitana, numa época em que não se falava em ecologia, já denunciando as agressões ao plano Koeler, máxime naquilo que concernia à construção civil nas áreas nobres do quarteirão Vila Imperial.             Frederico Damke testemunha ocular da formação e do desenvolvimento da colônia germânica de Petrópolis, da qual foi escrivão, tradutor e estatístico, fez das colunas d’ O Parahyba a trincheira para defender sua reputação ante as calúnias levantadas por inescrupulosos indivíduos da ala colonial.             Vale ainda registrar que durante o período monárquico […] Read More

PARAHYBA (O) – ANCESTRAL DO INSTITUTO DE ESTUDOS VALEPARAIBANOS

O PARAHYBA – ANCESTRAL DO INSTITUTO DE ESTUDOS VALEPARAIBANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Foi pela mão de Augusto Emilio Zaluar que começou a circular em Petrópolis, a partir de 2 de dezembro de 1857 o jornal “O Parahyba”, que lamentavelmente encerrou suas atividades em fins de 1859. Apesar de seu pouco tempo de existência, foi um periódico arredio ao insulamento, rebelde ao localismo ensimesmante, sobranceiro às iniqüidades da politicalha, ao chamamento das questiúnculas paroquiais, ao disse que disse das comadres e compadres pobres de espírito. “O Parahyba” foi uma folha desfronteirizada, mensageira de intensa comunicação social na província do Rio de Janeiro e no vale do Paraíba, fosse ele fluminense, mineiro ou paulista. Ela cuidou de aproximar culturas, interesses, provocando uma permanente troca de informações, de experiências, de resultados. E foi o arauto dos reclamos e das inquietações dos povos rurais e urbanos de boa parte do sudeste brasileiro. Remigio de Sena Pereira, que foi um de seus principais redatores, em matéria publicada na edição de 21 de novembro de 1858, afirmou com muita propriedade a verdadeira vocação d’ “O Parahyba”. Disse ele: “Já dissemos e repetimos com a sanção de autoridades que nos têm julgado, O Parahyba não é um jornal de localidade, um jornal bairrista, é sim um jornal propriamente da província. E ainda mais, na conexão natural dos interesses que lhes são comuns entrelaçará no desempenho de sua idéia fundamental as três irmãs limítrofes, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas, sem que todavia decline, como órgão da imprensa brasileira a sua parte nas questões gerais”. Tal “O Parahyba” de tão curta vida e de tão brilhante trajetória. Em seu apostolado na defesa das grandes questões nacionais, provinciais, valeparaibanas, quatro aspectos fundamentais serão expostos aqui, deixando-se outros de parte, para que a comunicação não extrapole os limites regimentais do tempo. 1º – colonização; 2º – agricultura; 3º – vias de comunicação e transportes; 4º – acolhimento às reivindicações, reclamos e contribuições das comunidades integrantes do vale do Paraíba. Na verdade esses quatro pontos se reduziam a três já que na ótica de Augusto Emilio Zaluar e de seu grupo, Colonização e Agricultura estavam irremediavelmente atreladas uma a outra. E a síntese de tudo estava no quarto item. O próprio Zaluar em artigo publicado na edição de 17 de janeiro de 1858 d’ “O […] Read More

HONRANDO A ESTIRPE

  HONRANDO A ESTIRPE Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Há um ditado antigo que assim se enuncia: quem quer se fazer não pode, quem é bom já nasce feito. Talvez pouca gente saiba nos dias que correm, que o prédio nº 167 da Av. Koeler nesta cidade, pertenceu outrora ao Dr. Vicente Candido Figueira de Melo Saboia, Barão e depois Visconde de Saboia, que nele faleceu a 18 de março de 1909. Nascido em Sobral no Ceará a 13 de abril de 1836, o Dr. Vicente era o sexto filho de José Saboia (1800/1870) e de Joaquina Inacia Figueira de Melo Saboia (1803/1873). Em 1858 doutorou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. No ano seguinte, depois de submeter-se a concurso, foi nomeado expositor da Seção Cirúrgica da mesma Faculdade e, em 1872, chegou a catedrático de Clínica Cirúrgica, tendo lecionado por cerca de vinte anos. Assumiu a diretoria da Faculdade de Medicina em 1881 e pouco depois tornou-se médico da Família Imperial. Homem de cultura humanista, bem relacionado com o mundo científico europeu, tornou-se membro da Real Academia de Medicina de Roma, da Academia de Medicina e da Sociedade de Cirurgia de Paris, da Sociedade de Obstetrícia de Londres, da Academia de Ciências de Lisboa. No Brasil integrou a Imperial Academia de Medicina e foi sócio do Instituto do Ceará. Promoveu por incumbência do governo geral a reforma do ensino superior brasileiro e deixou inúmeros trabalhos publicados, a maioria na área de cirurgia que era sua especialidade. Introduziu entre nós o método antisséptico que lhe permitiu fazer sucesso com cirurgias abdominais, o que representava alto risco de vida em sua época. Também foi o primeiro a usar aqui a atadura gessada. Casou-se o Dr. Vicente Saboia no Rio de Janeiro, aos 6 de janeiro de 1861, com D. Luiza Marcondes Jobim, natural da então província de São Pedro do Rio Grande, filha do Senador José Martins da Cruz Jobim, que foi figura muito atuante no Imperial Instituto Fluminense da Agricultura. Os futuros Viscondes de Saboia tiveram cinco filhos a saber: Edmundo Jobim de Saboia, que seguiu a carreira paterna; Eduardo Jobim de Saboia, engenheiro; Adelaide Jobim de Saboia; Julieta Jobim de Saboia; Maria Luisa Jobim de Saboia, cujo filho Anibal Saboia Lima meteu-se na carreira diplomática. Agora, para honra dessa magnífica estirpe, um outro […] Read More