Maria de Fátima Moraes Argon

ARQUIVO HISTÓRICO DO MUSEU IMPERIAL A SERVIÇO DAS CIÊNCIAS (O)

  O ARQUIVO HISTÓRICO DO MUSEU IMPERIAL A SERVIÇO DAS CIÊNCIAS Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe Os arquivos e coleções (1) que formam o acervo do Arquivo Histórico do Museu Imperial (2) não são especializados no tema Medicina e/ou Saúde, entretanto, há informações relevantes na documentação referentes a invenções, procedimentos médicos, saúde pública etc. (1) Arquivos: Conjunto de documentos que, independentemente da natureza ou do suporte, são reunidos por acumulação ao longo das atividades de pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas. Coleções: Reunião artificial de documentos que, não mantendo relação orgânica entre si, apresentam alguma característica comum. Ana Maria de Almeida Camargo e Heloísa Liberalli Belloto. Dicionário de Terminologia Arquivística. São Paulo: Associação dos Arquivistas Brasileiros, Núcleo Regional de São Paulo/Secretaria de Estado de Cultura, 1996. (2) Instituição subordinada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN/MinC. O acervo é formado por 54 arquivos e coleções que pertenceram a pessoas que atuaram na vida política, social, econômica e cultural do período monárquico, ocupando cargos relevantes na administração pública e papel importante na esfera da vida privada. Destaca-se, entre eles, o arquivo particular da Família Imperial, denominado Arquivo da Casa Imperial do Brasil (1249 a 1940), doado ao Museu Imperial por D. Pedro Gastão de Orleans e Bragança, em 1948. D. Pedro II declarou, em seu diário de 1862, que nascera para consagrar-se às letras e às ciências, e Guilherme Auler (3) salienta “É curioso observar que não existiu uma preferência especial para um ramo da arte ou da ciência. A todos os setores chegou o apoio benemérito do Monarca”. O Imperador concedeu, por decreto de 20/10/1887, uma bolsa à Dra. Maria Augusta Generoso Estrela (1860-1948) para estudar na Escola Médica de Senhoras, em Nova York, sendo a primeira brasileira e a primeira sul-americana a formar-se em medicina. Ela ingressou na Academia de Medicina em 1876 com 16 anos e terminou o curso em 1879, tendo recebido o diploma de médica em 29 de março de 1881 quando completou a maioridade. Voltou ao Brasil em 1882, revalidou seu diploma e teve intensa atividade médica até sua morte em 1946. (3) Auler, Guilherme. Os bolsistas do Imperador. Petrópolis: Tribuna de Petrópolis, 1956. A Coleção Mota Maia merece também especial atenção, trata-se de documentos que foram produzidos e acumulados pelo médico Cláudio Velho da Mota Maia que recebeu do Governo Imperial, em […] Read More

CÂMARA MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS: O PRIMEIRO PRESIDENTE E O ATUAL

  CÂMARA MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS: O PRIMEIRO PRESIDENTE E O ATUAL Daniela de Souza Costa Jaqueline de Medeiros Brand Maria de Fátima Moraes Argon, associada titular, cadeira n.º 28, patrono Lourenço Luiz Lacombe O prof. Paulo Machado da Costa e Silva, no capítulo IV – Petrópolis e sua Câmara Municipal, do livro Conhecendo Petrópolis: aspectos históricos e geográficos, edição especial, diz que: “Quando for escrita a história completa das atividades da Câmara Municipal de Petrópolis e da vida e da atuação daqueles muitos homens ilustres do passado e do presente, que foram e são os vereadores, a própria história do Município ganhará nova compreensão e nova significação”. E ainda: “este trabalho pretende dar breves informações sobre a evolução da Câmara Municipal nas várias fases de sua existência e incentivar a que pesquisadores desvendem minudências importantes do seu existir”. Acreditamos que o primeiro passo importante e decisivo para isso foi dado quando o Museu Imperial, em 1993, idealizou um projeto de preservação das atas conservadas no seu acervo (são 10 códices do período de 18/6/1859 a 31/12/1889 e de 30/11/1892 a 27/2/1896) e convidou a Câmara Municipal para ser sua parceira nesse empreendimento. Desse contacto surgiu um convênio entre as duas instituições e, ainda, levou a Câmara a instituir pela Lei 5.110, de 20 de janeiro de 1994, o Projeto Recuperação da Memória Histórica do Legislativo Petropolitano. Motivadas pelo nosso trabalho, como membros da equipe do Projeto Atas da Câmara Municipal de Petrópolis, e estando Petrópolis comemorando seus 140 anos de elevação à categoria de cidade, resolvemos iniciar uma série de biografias de vereadores e de funcionários da Câmara. Consideramos importante resgatar a história do passado, mas também preservar a de hoje, por isso elegemos, para dar início a essa série, o 1º presidente da Câmara Municipal Albino José de Sequeira e o atual Nelcyr Antônio da Costa. ALBINO JOSÉ DE SEQUEIRA Petrópolis, elevada à categoria de cidade, pela lei nº 961, de 29/09/1857 só teve sua Câmara instalada em 17/06/1859, isto porque as duas primeiras eleições foram anuladas, tendo sido considerada válida a terceira, de 13/3/1859. A presidência da Câmara Municipal coube ao vereador mais votado Amaro Emílio da Veiga, no entanto por ser militar da ativa não pôde assumi-la. Sendo imediato em votos Albino José de Sequeira que assume o cargo durante toda a legislatura. Um primeiro dado interessante deste vereador é que o seu nome aparece, em toda a […] Read More

PETRÓPOLIS E SEU PATRIMÔNIO

  “… a cultura é mais do que as belas artes. É memória, é política, é história, é técnica, é cozinha, é vestuário, é religião, etc…” Palácio de Cristal, Palácio Rio Negro, Casa de Santos Dumont e muitos outros estão sempre presentes no material de propaganda e divulgação da cidade, nos discursos dos políticos, nos slogans, nos anúncios publicitários. Vira e mexe são restaurados e postos à visitação pública como símbolos dignos de preservação. Recentemente, o Palácio de Cristal e a Casa de Santos Dumont mereceram atenção do governo municipal. Certamente é inegável a importância desses bens, mas no tocante às políticas de preservação do patrimônio histórico, essas ações “isoladas” quase sempre guardam a marca da improvisação ou da manipulação e do uso político da cultura. É preciso estabelecer uma política de preservação através do reconhecimento, proteção, tombamento, valorização e divulgação do seu patrimônio histórico, artístico, arqueológico e ambiental. O patrimônio histórico da nossa cidade não é constituído apenas de bens imóveis. Igualmente significativos são os seus bens da cultura material, os objetos de arte, as coleções de documentos escritos e iconográficos (particularmente os de suporte fotográfico), periódicos etc. A preservação dos bens arquitetônicos é importante e inquestionável, mas é preciso que haja projetos que despertem o interesse da população pela história da cidade e que haja meios para ampliar o universo de registros relativos à memória e à história da cidade. É preciso refletir sobre o critério de preservação dos documentos, objetos e monumentos, não deixar que eles sejam meros objetos de reverência a uma memória mítica do passado, mas sim perceber o significado do passado como experiência coletiva de formação da cultura e da sociedade. O patrimônio documental da nossa cidade tem sido valorizado, reconhecido e preservado? Basta ver a situação do Arquivo Público Municipal para se obter a resposta. No último governo, o Arquivo deixou de ficar administrativamente subordinado à Secretaria de Cultura (desde a sua criação em 1977) para se vincular à Secretaria de Educação, com a alegação de que esta possuía maiores recursos financeiros. Sem entrarmos na questão se tecnicamente é recomendável ou não, visivelmente percebemos e lamentamos que a cultura continue ocupando um lugar sem destaque, num plano secundário e as verbas sempre escassas. Recentemente, nesta atual administração, o Arquivo voltou a pertencer a Fundação Cultural Petrópolis. Será que agora o Arquivo deixará de ser apenas um “apenso” da Biblioteca Municipal? Terá uma estrutura […] Read More

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A MEMÓRIA DOS COLONOS ALEMÃES

  Convidada para escrever um artigo comemorativo ao dia 29 de junho, a minha primeira reação – automática e prevista – foi buscar na minha memória dados para a escolha do tema. Nos dicionários, memória é a “Faculdade de reter as idéias, impressões e conhecimentos adquiridos anteriormente”. Quando queremos dizer que uma pessoa tem boa memória dizemos que ela tem “memória de elefante” e para expressar o contrário dizemos que ela tem “memória de galo”, mas a memória individual é sempre limitada e finita. Neste meu exercício, vários dados e nomes começaram a surgir. Vou citar apenas o do colega e amigo Francisco de Vasconcellos, pois foi o último dado recentemente armazenado na minha memória sobre o assunto. Durante uma de nossas últimas conversas, ele me esclareceu que Ricardo Martin foi o pseudônimo adotado por Guilherme Auler e, com a sua amabilidade, me presenteou com o seu livro “Câmara Cascudo do Potengí ao Piabanha”. Durante o processo de leitura foi se delineando na minha frente, de alguma maneira, o tema que eu procurava para marcar a minha modesta contribuição neste assunto, uma vez que nunca me dediquei particularmente a ele, como tantos outros fizeram e tem feito. Foi no capítulo “A Tribuna de Petrópolis de Guilherne Auler” que eu encontrei o que procurava: “…Numa daquelas treze naus que zarparam de Dunquerque às ordens de Delrue & Cia., conduzindo colonos germânicos que se destinavam a Petrópolis, viajava o casal Henrique Pedro Auler e Maria Margarida Auler, ele natural de Laudert, St. Goar, Koblenz. Em agosto de 1845, instalava-se o par no prazo 1626 do Quarteirão Castelânea, na Imperial Colônia serrana. Um neto desses emigrados, Cristóvão Guilherme, casado com a espanhola Ângela Martinez, radicou-se no Recife e aí, a 6 de janeiro de 1914, nasceu Guilherme Auler…” (grifo meu). “…Criador do Clube 29 de Junho, que se propunha a resgatar e defender as tradições culturais germânicas e teuto-brasileiras, oriundas do processo aculturativo nestas serras. Auler criou em sua folha um suplemento do Clube e trouxe para ele outros descendentes de alemães capazes de divulgar as atividades da agremiação. Gustavo Ernesto Bauer, foi um deles. A par disso, Auler através de matérias não assinadas ou por ele firmadas, ou ainda sob o pseudônimo de Ricardo Martin, procurou reanimar os arraiais germânicos de Petrópolis, tão duramente castigados pelas injustas perseguições durante a Segunda Guerra Mundial, abrindo-lhes espaços enormes na Tribuna onde pela primeira vez […] Read More

BATENDO NA MESMA TECLA

  Lendo o artigo Yes! Não temos memória? do prof. Oazinguito Ferreira, publicado domingo 15 de abril último, não pude deixar de mais uma vez voltar a um assunto que tem sido objeto de minhas preocupações e também de luta – a defesa do patrimônio cultural da nossa cidade, especialmente o seu patrimônio documental. Para citar São Paulo, em 1987, a técnica da Fundação do Desenvolvimento Administrativo do Estado de São Paulo, Rose Marie Inojosa, no seu artigo Um plano de mudanças para a área de administração documental já nos falava que “na área de administração documental é necessário ter toda a paciência de quem compreende o ritmo dos movimentos culturais e não deixar de lançar as sementes”. O patrimônio cultural envolve questões bem complexas e nos leva a refletir sobre alguns conceitos como memória, cidadania, informação, modernidade, preservação e tantos outros. A criação de museus, de arquivos, de centros culturais é importante, mas para que isso dê realmente resultados é necessário que a ação não se restrinja apenas a guarda ou apropriação destes acervos, mas sim contribuir para dar sustentação às diversas atividades e manifestações culturais da cidade sem interferir na sua dinâmica, oferecendo assessoramento técnico necessário à preservação de suas próprias referências culturais. Senão estaremos enfrentando as dificuldades de sempre como a convivência entre o “antigo” e o “novo”. As idéias de progresso e modernidade têm levado a uma sistemática destruição das marcas do passado. “No antigo reside uma importante parcela da memória social e da identidade cultural dos habitantes da cidade, mas desconsiderar a questão do patrimônio histórico-ambiental urbano é exilar o cidadão, alijá-lo do seu próprio meio”. O Brasil possui, em nível constitucional, legislação específica de proteção de bens culturais desde 1937 e a cidade possui instituições municipais de preservação. Mas isto não basta, nenhuma mudança se efetiva apenas por decreto, embora o instrumento legal seja um meio para a sua viabilização, como é o caso do nosso ARQUIVO PÚBLICO criado pelo decreto nº 198, de 7 de janeiro de 1977. O PRIMEIRO do Estado do Rio de Janeiro. Nos últimos anos, um pequeno grupo de profissionais tem falado do valor deste acervo tanto para a história como para o desenvolvimento sócio-cultural da cidade, mas infelizmente não se conseguiu até agora despertar o interesse do governo municipal. Os documentos são fundamentais tanto para as comunicações administrativas, como para a memória do poder público, espelho, afinal, do […] Read More

QUESTÃO DO ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL (A)

A QUESTÃO DO ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL Aurea Maria de Freitas Carvalho, ex-Associada Titular, Cadeira n.º 4 – Patrono Arthur Alves Barbosa, falecida Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe   Mais uma vez voltamos ao tema: o Arquivo Público Municipal, que no ano passado foi objeto de noticiário de jornais ou de notícias orais que ora nos enchiam de esperança ora nos causavam a maior angústia, pois infelizmente as informações são passadas à população sem nenhum compromisso com atualização e, em alguns casos, até mesmo com a verdade. Criado pelo decreto nº 198, de 7 de janeiro de 1977 pelo então prefeito Paulo Rattes, compreende dois setores específicos: O arquivo administrativo subordinado à Secretaria de Administração e o arquivo histórico, hoje integrado à Fundação Petrópolis, Cultura, Esporte e Lazer, este nasceu da preocupação de duas bibliotecárias Maria Amélia Porto Migueis e Yedda Maria Lobo Xavier que, compreendendo a importância dos documentos oficiais para a história do município e sabendo da falta de espaço com que lutava a Secretaria de Administração, procuraram o Prefeito expondo-lhe os seus temores quanto ao destino dessa documentação. O resultado disso foi a criação do Arquivo Público Municipal e a transferência imediata de parte de seu acervo, considerada histórica, para dependências da Biblioteca Municipal até que se obtivesse um local adequado à sua importância e ao seu natural crescimento. Desde essa época os pesquisadores, historiadores, arquivistas e demais intelectuais preocupados com a memória de Petrópolis alternam momentos de esperança ao lerem cabeçalhos como os do jornal O Dia, de 15/06/97, Novos espaços para a memória, informando que o Arquivo Administrativo (651.692 documentos) até o fim do mês em curso sairia do porão do prédio da Câmara Municipal de Petrópolis para um prédio da área de entorno da antiga linha férrea de Petrópolis, na rua Doutor Sá Earp. Ou o do Jornal de Petrópolis, de 24-30 de agosto de 1997, Casa do Barão é salva mais uma vez pela COMDEP; Mendigos faziam fogueira no interior; Pode abrigar o Arquivo Público ou a Indústria e Comércio, abordando o problema de espaço do arquivo administrativo (localizado no porão do Palácio Amarelo) e do arquivo histórico (localizado em dependências da Biblioteca Municipal) com momentos de suma apreensão ao verem que, mais uma vez o Arquivo foi preterido. Outra nota publicada na imprensa informava que a Fundação Petrópolis – Cultura, Esportes e Lazer […] Read More

POSSE EM 1865

  “No inverno de 1864-1865, senti a saúde tão abalada que os médicos me aconselharam a abandonar todo trabalho e mudar de clima. Houve quem lembrasse uma viagem à Europa; mas o interesse que deveria sentir um naturalista em se achar de novo no meio do ativo movimento científico do Velho Mundo constituía justamente um obstáculo. Não era aí que eu deveria procurar repouso para o espírito. Por outro lado, eu me sentia atraído pelo Brasil por um desejo de quase toda a minha vida. Aos vinte anos de idade, quando era eu apenas um estudante, Martius encarregou-me, por morte de Spix, da descrição dos peixes colecionados no Brasil por esses dois célebres viajantes. Desde então, veio-me repetidas vezes a idéia de ir estudar aquela fauna no seu próprio país; era um projeto sempre adiado, por falta de ocasião oportuna, mas nunca abandonado. Uma circunstância particular aumentava o atrativo da viagem. O imperador do Brasil, que se interessa profundamente por todos os empreendimentos científicos, havia testemunhado uma viva simpatia pela obra, a que eu me consagrara, da fundação de um grande museu zoológico nos Estados Unidos; cooperara mesmo para isso, enviando coleções feitas por ordem sua, especialmente para tal fim. Sabia, portanto, que poderia contar com a benevolência do soberano desse vasto Império em tudo o que dissesse respeito aos meus estudos. Eram perspectivas bastante sedutoras. Mas, por isso mesmo, eu recuava diante da idéia de realizar uma simples visita de turista ao Brasil. Contando apenas com os meus recursos – que partido poderia tirar das mil e uma oportunidades que se me ofereceriam? – Bem pequeno, sem dúvida. Voltaria do Brasil cheio de recordações agradáveis, mas sem um único resultado científico de importância. Dominavam-me essas preocupações, quando por acaso, encontrei Nathaniel Thayer. Tendo escutado com vivo interesse a exposição dos meus planos de viagem, disse-me: “O Sr. não há de deixar de dar um cunho científico a esta excursão. Leve consigo seis auxiliares, gente moça, que eu me encarregarei das despesas com eles e com toda a expedição” (1). (1) Prefácio do livro de Louis Agassiz, “Viagem ao Brasil (1865-1866)”. Em 1865 chega ao Brasil a Expedição Thayer, chefiada pelo ictiólogo – (especialista em ictiologia – parte da zoologia que trata dos peixes) e geólogo Louis Agassiz. Esta expedição científica tinha como objetivo, não só descobrir e reunir as espécies de plantas e animais, mas, sobretudo, estudar as relações […] Read More

POSSE NO SÉCULO XIX: 3ª MUDA

  Assim era conhecida e citada por diversos viajantes e cronistas do séc. XIX, a Estação Posse que “se compunha de dos vastos armazéns para depósito de café do interior e cargas de retorno, outro para depósito de sal, duas casas para os empregados, uma estrebaria e cocheira para 24 animais do serviço especial das diligências, além das acomodações do pessoal do mesmo serviço, grandes estrebarias para 300 animais das carroças, com todas as suas dependências, como tanques de água corrente”. As Estações foram construídas pela Companhia União e Indústria para exploração industrial de transporte de passageiros e carros. Em 19/03/1856 esta empresa celebrou com a província do Rio de Janeiro um contrato para construção do trecho Petrópolis e Juiz de Fora, cujos trabalhos foram inaugurados pelo imperador D. Pedro II em 12/04/1856. A 1a seção da estrada, de Vila Teresa a Pedro do Rio, foi aberta ao público em 18/03/1858 e a 2a seção da estrada, de Pedro do Rio a Posse, foi inaugurada e aberta ao trânsito em 28/04/1860, ambas as solenidades contaram com a presença do imperador D. Pedro II. Os registros de viajantes que passaram por essa região, são tão profundos de conteúdo e tão ricos de beleza que se transformam num verdadeiro convite de viagem pelo tempo, por seus rios, serras e vales. Percorreremos esse caminho de chegada do Vale da Posse através das seguintes impressões do cronista I. de Vilhena Barbosa: “Prosseguindo a estrada pelo Vale do Piabanha, a primeira obra de arte desta seção é a linda ponte de Jacuba sobre o ribeiro deste nome. É de ferro a ponte, com 12 metros de vão. A paisagem que a certa é de muita beleza e amenidade, por quanto o Jacuba, precipitando-se do alto de elevadas rochas, forma uma cascata, não de grande volume de águas, mas bonita e pitoresca, dando realce e frescura às fragas cobertas de musgos, e às árvores que vestem as encostas”. Continuando essa excursão, Revert Henry Klumb, fotógrafo da família imperial, descreve em sua obra 12 horas em diligência – Guia do viajante de Petrópolis a Juiz de Fora, sua passagem pela 3a muda. “O Piabanha corre à nossa esquerda, ora límpido e calmo, ora quebrando-se em cascatas no seu leito de rochedos; já vão surgindo à nossa frente os declives rochosos da garganta do Taquaril que o rio atravessa, precipitando-se por uma estreita fenda de granito; chegamos a […] Read More

REFLEXÕES SOBRE O ARQUIVO DA FAMÍLIA IMPERIAL E O PAPEL DE D. PEDRO II NA SUA FORMAÇÃO

  Caros amigos, decidi aproveitar este momento para falar em voz alta sobre um tema que tem sido objeto de minha reflexão nos últimos 6 anos, tenho três intenções bem claras: a primeira, de me favorecer dos conhecimentos acumulados por vocês em torno de d. Pedro II, a segunda, o desejo particular de suscitar questões novas em torno deste imperador e a terceira, a esperança de obter algumas respostas a estas indagações. Como se tratam de reflexões e, por um vício profissional, eu as classifiquei como O primeiro estágio. Há 20 anos atrás, quando comecei a trabalhar no Arquivo Histórico do Museu Imperial as colegas do Museu que trabalharam e trabalhavam nele (d. Dora e Áurea), me apresentaram o Arquivo da Casa Imperial do Brasil, como o arquivo particular da família imperial, e através do inventário sumário organizado por Alberto Rangel, publicado nos Anais da Biblioteca Nacional em 1939, fui aos poucos tendo idéia do seu conteúdo. Mas no decorrer desses anos fui tomando conhecimento de vários fatos como a existência do Arquivo Grão Pará, se me depararam documentos sugestivos, surgiram-me freqüentes perguntas, dúvidas e afirmações feitas pelos usuários dessa documentação. Vou utilizar-me como trilha para o desenvolvimento do tema o capítulo 19 “Um fantasma chamado d. Pedro”, do livro As barbas do imperador, de Lilia Schwarcz, no qual ela trata da recondução oficial da figura de d. Pedro como herói nacional. Diz que “Em 1891, d. Pedro doara ao Instituto Histórico parte de sua volumosa biblioteca e de sua bela coleção de fotos. O gesto do ex-imperador era sem dúvida um claro sinal de estima por esse estabelecimento, que lhe fora tão fiel, mas também significava uma forma de perpetuar sua memória guardada nas imagens que durante tantos anos colecionara”. No Brasil de 1890 deram-se 13 leilões dos bens da Casa Imperial – objetos, móveis e semoventes. Procederam à avaliação dos móveis, carros, animais e objetos existentes na Quinta da Boa Vista e os vindos do Paço da Cidade o tenente-coronel Costa Ferreira, da parte do Juízo da 2ª Vara de Órfãos e João Teixeira, por parte do dr. José da Silva Costa, procurador de d. Pedro de Alcântara. O Juiz da 2ª vara, dr. Honório Coimbra nomeou para proceder ao leilão o leiloeiro Joaquim Dias dos Santos. Francisco Marques dos Santos, em seu artigo intitulado O leilão do Paço de São Cristóvão, publicado no Anuário do Museu Imperial, […] Read More

HISTÓRIA EM PETRÓPOLIS (A)

A HISTÓRIA EM PETRÓPOLIS Maria de Fátima Moraes Argon, associada titular, cadeira n.º 28, patrono Lourenço Luiz Lacombe Petrópolis é uma cidade que atrai as pessoas não só pela sua beleza natural mas principalmente pela sua história e seu patrimônio arquitetônico. Percorrer a cidade olhando seus prédios é uma atividade prazerosa, só no centro temos o Museu Imperial, antiga casa de verão do imperador d. Pedro II, que nos faz lembrar a história da origem e a povoação da cidade; tendo atraído outras pessoas que construíram outras casas que foram embelezando a cidade. Por exemplo, o barão de Guaraciaba construiu o “Palácio Amarelo” que, mais tarde, foi adquirido pela Câmara Municipal de Petrópolis para servir de sua sede. Novo olhar e nos deparamos com a casa da princesa Isabel, a Catedral São Pedro de Alcântara, o palácio Rio Negro (nos faz lembrar de uma fase áurea a de capital do Estado do Rio de Janeiro 1894-1902), a casa de Rui Barbosa, a Igreja Evangélica, o Palácio de Cristal, o prédio da UCP, a casa de Mauá e tantos outros prédios que guardam, contam e fazem a nossa história. Alguns, por não terem tido a mesma sorte, se encontram em situações adversas como é o caso do Grande Hotel (fechado) e do antigo Teatro Capitólio (hoje funciona como um estacionamento). Conhecer a história da cidade, dos prédios, de seus proprietários ou moradores só é possível porque há documentos. Esses, na maioria das vezes, pertencem a um arquivo que é o conjunto de documentos reunidos por acumulação ao longo das atividades de pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas. Esses arquivos, quando não mais ligados a sua instituição, geralmente estão subordinados a um Arquivo, entidade administrativa responsável pela custódia, pelo tratamento documental e pela utilização dos arquivos sob sua jurisdição. Refletir sobre o trinômio Petrópolis – História – Arquivo é uma tentativa de chamar a atenção dos cidadãos e dos dirigentes de que já é mais do que momento de unirmos esforços no sentido de que a cidade recupere, viva e faça sua história. Um dos caminhos é o ensino. Infelizmente, desde 1983, o curso de História da Universidade Católica de Petrópolis se encontra desativado. Fazendo uma retrospectiva, percebemos que estamos sob certos aspectos mais atrasados do que estávamos na década de 1960. Visto que, em 1968, o Museu Imperial criou o Curso de Elementos de Técnica de Pesquisa de História, em convênio […] Read More