S O S PARA O ÓRGÃO DA CATEDRAL

Raul Ferreira da Silva Lopes, ex-Associado Titular, falecido

O órgão da Catedral, há aproximadamente vinte anos, emudeceu! É lamentável que um instrumento tão valioso como ele esteja relegado ao silêncio por falta de manutenção!

Ele é um patrimônio cultural-musical da Catedral e de nossa cidade. Sua potência e sonoridade o colocam entre os maiores do Brasil. Projetado e fabricado no Rio de Janeiro nas oficinas do organeiro alemão, Guilherme Berner, por muitos anos deu suntuosidade musical à Catedral.

Vejamos como o vespertino do Rio de Janeiro “A NOITE”, nos anunciou sua inauguração:

“Petrópolis, 26.01.1937 (Da Sucursal de “A Noite”) – A Catedral de Petrópolis que guarda os despojos dos Imperadores, vai cada dia que passa, constituindo-se num valioso monumento de arte, mercê das doações dos fiéis com que é beneficiada.

Agora, será um magnífico órgão, o maior e o mais pomposo do Brasil, que virá acrescentar, à majestade interior da história matriz, uma nota viva de grandeza e suntuosidade.

O instrumento é oferta da Sra. D. Olga Rheingantz Porciúncula. Foi projetado e construído no Rio de Janeiro, com materiais e mão de obra nacionais, pelo artista organeiro Guilherme Berner, introdutor da indústria do órgão no Brasil.

Montado sobre vigas de ferro, na nave posterior do templo, pesa 9 toneladas, medindo 8 metros de largura por 9 de altura. Dispõe de mil e quinhentos tubos sonoros – (na primeira fase) – dos quais o maior mede 6 metros. Funciona por um moderníssimo sistema eletro-pneumático e acionado por um grupo motor-ventilador-dínamo de 2 HP.

A consola, móvel e ultra-moderna, é provida de 18 registros, com duas combinações livres, para dois teclados. Um terceiro teclado será instalado em futuro próximo – (2ª fase). Foram empregados 8000 metros de fio nas diversas ligações. É, enfim, um instrumento que honra sobremodo a iniciante indústria nacional.

A solene inauguração do novo órgão terá lugar no próximo domingo, 31 de janeiro, às 9 horas, com a presença do bispo diocesano, D. José Pereira Alves, que procederá à sua benção, pronunciando, no ato, ligeira alocução. Logo após, o vigário de Petrópolis, padre Gentil da Costa, que muito se esforçou para que o órgão viesse a integrar o patrimônio da Catedral, oficiará missa solene, com assistência pontifical.”

Para iniciar um movimento de S O S para o órgão que necessita de uma restauração plena na parte elétrica, nas válvulas e na troca de alguns partes de madeira onde o cupim atacou, a Sociedade de Amigos da Catedral promoveu uma palestra, no dia 08.08.1997, às 20 h, com o filho do organeiro construtor do órgão: Walter Leonardo Berner. Estavam presentes outros membros da família e Eugen Hermann Rüb que, quando jovem, trabalhou na fábrica de Guilherme Berner e foi quem confeccionou todos os tubos metálicos do órgão. Uma real presença umbilical, ligando-nos, hoje, à construção do órgão. Estiveram presentes, ainda, outras personalidades e interessados.

Walter Berner foi brilhante em sua palestra, dividindo-a em 4 tempos. Nos três primeiros falou da grandeza da criação do homem em conceber tão valioso instrumento, sem par, comparado com um “Coro de flautistas celestes.” Discorreu sobre sua origem de a C. e sua trajetória até hoje. No quarto tempo, sensibilizado, falou sobre detalhes da construção do órgão por seu pai, inclusive exibindo ferramentas originais e documentos. Mostrou três tipos de tubos metálicos do órgão e sua sonoridade. Foi uma noite para não se esquecer, abrilhantada, entre os quatro tempos da palestra, pelo apurado Quarteto “Cantabille.”

Esse instrumento “celeste” não pode continuar mudo. Além de peça preciosa e valiosa do patrimônio da cidade, que representa, ainda pode “encher” as naves da Catedral em funções religiosas e concertos com sua monumental qualidade, elevando os espíritos e encantando os corações amantes da divina música.

Para completar as informações, vale a pena transcrever o laudo dado pelo fiscal:

“Revmo. Pe. Gentil Costa. DD Vigário da Matriz de Petrópolis:

Na qualidade de fiscal da construção e montagem do órgão elétrico, fabricado pelo Sr. Guilherme Berner, venho hoje apresentar o meu parecer à V.Revma. e à Exma. Sra. D. Olga Rheingantz, doadora do instrumento.

O órgão com seus 23 registros sonoros pareceria pequeno dadas as proporções da majestosa Igreja, se não fossem a acústica e as disposições dos registros, construídos com as dimensões apropriadas ao local.

Depois de dois concertos, verifiquei o acerto da “Mensura” escolhida para os tubos e da homogeneidade dos registros. Todos eles soam com sonoridade apreciável.

Destacam-se entre todos a bela “Tuba Mirabilis”, cujo som se espalha pela imensa nave com sonoridade e brilho incomparáveis.

O grupo “Do Principal” e das “Flautas” , desde 16 pés até ao “Picolo” com 2 pés, dão ao instrumento a base necessária a um órgão destinado ao serviço religioso.

No grupo “Gamba”, destacam-se a “Dulciana” com um timbre soberbo e bem característico, adaptando-se às diferentes combinações, dando-lhes variedades múltiplas – clarinetes, trompa, oboé, fagote, etc…

O “Clarinete” labial, patente de Laukhuff, nos dá, na discreção do som, o timbre deste instrumento, principalmente nas oitavas médias.

Os Registros Auxiliares” muito bem proporcionados, os “Baixos” bem representados, esperando, contudo, o aumento de mais um terceiro teclado para serem ampliados.

A parte técnica foi construída com todo o esmero, garantindo ao instrumento longa vida e pouco dispêndio para a conservação. O ataque das notas, mesmo no “Staccato” é notável, honrando ao construtor e seus auxiliares. O acabamento da Consola (mesa de teclados), a visibilidade das plaquetas e a facilidade das combinações, tornam o órgão um instrumento que será bem apreciado pelos verdadeiros organistas, amadores da arte.

Meus parabéns, pois, ao distinto amigo, à Exma. Sra. Doadora do Instrumento e ao construtor, Sr. Guilherme Berner.

Com os cumprimentos, o amigo grato pela distinção da escolha para Fiscal da Obra Artística – Rio de Janeiro, 16 de maio de 1937 – ass. D. Plácido de Oliveira, O S B., Organista do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro.”

Pouco tempo depois o órgão foi ampliado e reinaugurado, passando de 1500 tubos para 2227 tubos, atendendo à sugestão de D. Plácido.

Vamos perder esta jóia?

S O S para o órgão da Catedral, Srs. Responsáveis pelo turismo de Petrópolis, Srs. Amantes da música; batalhadores da preservação do patrimônio da cidade e qualquer anônimo grande ou pequeno, que preze sua Catedral.

S O S! Salvemos nosso órgão!