CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO BISPO DE PALMAS, O PETROPOLITANO D. CARLOS EDUARDO SABÓIA BANDEIRA DE MELO

Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette

Comemora-se este ano o centenário de nascimento de Dom Carlos Eduardo Sabóia Bandeira de Melo, primeiro bispo da Diocese de Palmas no Paraná.

Dom Carlos Eduardo nasceu em Petrópolis, à Rua Paulino Afonso, em l º de julho de 1902, sendo seus pais o desembargador João Pedro Sabóia Bandeira de Melo e D. Carolina Pinheiro Bandeira de Mello.

Dom Carlos Eduardo foi o último filho da numerosa família Sabóia Bandeira de Melo, estimadíssima nos meios sociais petropolitanos, já que seu pai aqui exerceu durante longos anos as altas funções de Juiz de Direito, “deixando seu nome impresso em milhares de corações pela probidade e nobreza de sentimentos, amplamente patenteadas no longo exercício de suas altas funções” (1). Caráter forte e esclarecido, o Dr. João Pedro Sabóia Bandeira de Melo sempre primou pela mais perfeita probidade e imparcialidade no exercício de sua magistratura. Católico convicto, fez grande amizade com os religiosos franciscanos de nossa cidade, chegando a pertencer à Ordem Terceira de São Francisco.

(1) Tribuna de Petrópolis, 09 de março de 1948.

Dom Carlos Eduardo perdeu o pai com apenas quatro anos de idade e bem cedo sentiu sua inclinação para a vida religiosa, ingressando na Ordem Seráfica.

Assim, em 10 de fevereiro de 1911, ingressou no Seminário Seráfico Santo Antônio, em Blumenau, Santa Catarina, onde em seis anos concluiu o Ginásio, entrando em seguida para o noviciado da Ordem Franciscana em Rodeio, no mesmo Estado. Em seguida cursou Filosofia no Convento Bom Jesus, em Curitiba, e logo após Teologia no Convento dos Franciscanos, em Petrópolis, cidade onde foi ordenado sacerdote, em 4 de janeiro de 1925, por Dom Agostinho Benassi, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus.

Foi professor e prefeito do Seminário Seráfico de Rio Negro no Paraná e coadjutor e pregador nas paróquias de rio Negro e Mafra, em Santa Catarina. Eleito definidor provincial da Província da Imaculada Conceição no Brasil, encontrava-se no exercício destas funções, quando, a 1 º de agosto de 1936, foi nomeado administrador apostólico da Prelazia do Senhor Bom Jesus da Coluna dos Campos de Palmas, pelo Papa Pio XI.

Foi o segundo prelado de Palmas que abrangia uma área de aproximadamente trinta mil quilômetros, onde habitavam cerca de cem mil almas, entre as quais inúmeros índios já semicivilizados.

Inteligência arguta a par de um coração boníssimo, Dom Carlos Eduardo, tornou-se estimadíssimo por seus irmãos de hábito, que nele viam um confrade modelo pela simplicidade e caridade fraterna. A formação do clero lhe mereceu especial atenção, empenhando todo os seus recursos de zelo apostólico na construção do primeiro Seminário de Palmas, inaugurado a 25 de março de 1940, de onde saíram eminentes sacerdotes.

Em 13 de dezembro de 1947, em reconhecimento aos relevantes serviços por ele prestados, foi agraciado pela Santa Sé com a nomeação para bispo de Girba, continuando a ser Prelado de Palmas.

Sua sagração episcopal ocorreu a 14 de março de 1948, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis, sendo sagrantes o Núncio Apostólico Dom Carlos Chiarlo, acompanhado de Dom Inocêncio Engelhe O.F.M., bispo de Campanha e Dom Antônio Reis, bispo de Santa Maria (RS).

Foram padrinhos de sagração seu irmão, Dr. Carlos Sabóia Bandeira de Melo, o Dr. José Vieira Machado, o Comendador Gervásio Seabra e o Dr. Francisco de Castro e Silva.

A imponente cerimônia, realizada sob a competente direção de Monsenhor Joaquim Nabuco, que atuou como mestre de cerimônias, foi assistida pelo Príncipe Dom Pedro, chefe da Família Imperial, pelos inúmeros amigos do novo bispo e por seus irmãos franciscanos.

Os petropolitanos lhe ofereceram, bem como aos seus familiares, um banquete no Palace Hotel, após o que o novo antístite foi homenageado no Teatro Mariano com discurso do Cel. Hugo Silva e apresentação pela Escola de Cantores dos Teólogos Franciscanos e dos Canarinhos de peças musicais de seu repertório.

Por ocasião de sua sagração episcopal, Dom Carlos Eduardo enviou belíssima mensagem aos petropolitanos, um verdadeiro hino de amor a Petrópolis. Disse ele na ocasião: “Agraciado por S.S. o Papa Pio XII, com a altíssima distinção de nomeação para Bispo, dirijo-me por esta folha aos meus conterrâneos, aos filhos desta cidade, que me viu abrir os olhos à luz do dia.

Imerecidamente elevado para ocupar um lugar entre os principais do povo de Deus, não esqueço o povo do qual vim, pelo contrário, tanto mais perto me sinto dele. Foi nesta cidade que nasci, não só para o mundo, mas nasci para Cristo. Pois aqui Deus me redimiu nas águas lustrais do batismo. Aqui recebi as primeiras instruções tanto religiosas como intelectuais. Aqui, na mesa eucarística, recebi o pão dos anjos, Nosso Senhor, na Santa Comunhão.

Todas esta glórias eu as participo com meus patrícios petropolitanos e tudo isto me liga a eles. Mas foi também aqui que Cristo me sagrou no sacerdócio pela conferição do S. Sacramento da ordem. E quando agora Deus determinou elevar-me ao episcopado, não hesitei, não quis, não cogitei em receber a plenitude do sacerdócio, senão no meio deste mesmo povo que é particularmente meu, porque nascemos neste mesmo berço florido, cidade e jardim ao mesmo tempo” … e conclui fazendo um apelo aos petropolitanos: “Na sinceridade do meu afeto por minha cidade apelo para todos vós, que com o maior zelo, fervor e dedicação, sejais firmes na fé de nossos pais, obedientes aos ensinamentos da Santa Madre a Igreja Católica, fiéis ao nosso amantíssimo Papa Pio XII, unidos no amor acendrado que a lei cristã nos impõe na caridade de Cristo que nos foi infundida pelo Divino Espírito Santo” (2).

(2) Tribuna de Petrópolis, 14 de março de 1948.

Com a fundação do Seminário São João Maria Vianney, em Palmas, Dom Carlos Eduardo conseguiu ligar seu nome à vida de centenas de Sacerdotes, que enriqueceram o Clero daquela região. Do mesmo modo, graças ao seu zelo apostólico, foi fundado em 1 º de julho de 1967, o Conselho Pastoral, Educacional e Assistencial (CPEA) responsável pela manutenção da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas, instalada a 11 de novembro de 1968.

Espírito modelado pelo de São Francisco, procurou impor-se pela bondade e governar pelo coração, tornando-se merecedor da gratidão e admiração de seus diocesanos de Palmas.

A 6 de fevereiro de 1969, Dom Carlos Eduardo Bandeira Sabóia de Melo entregou sua bondosa alma ao Criador. Foi um petropolitano que construiu uma obra imperecível, que dignifica o seu nome e lhe exalta a figura humana. Por isso, por ocasião da celebração do centenário de seu nascimento, Petrópolis deve colocá-lo na galeria de seus mais altos valores.