ALGUNS EQUÍVOCOS RELACIONADOS À HISTÓRIA PETROPOLITANA

Jeronymo Ferreira Alves Netto

Na rica e fecunda História de nossa Petrópolis, encontramos alguns equívocos que necessitam ser devidamente esclarecidos, sob pena de afetarem seriamente a reconstrução de nosso passado.

Apesar dos esforços dos pesquisadores do Instituto Histórico de Petrópolis, sempre comprometidos com a verdade histórica, em desfazer tais equívocos, continuam os mesmos a ser divulgados, colocando em risco a credibilidade de nossa historiografia.

Neste sentido queremos lembrar que inúmeras são as razões que podem levar alguém a deturpar a verdade, cabendo aos historiadores agir no sentido de lembrar que todas estas razões não são sensatas.

Logo, é nosso dever alertar para o fato de que nem tudo que está nos jornais, revistas, televisão e até em publicações oficiais contém a verdade.

Assim, a afirmativa de que “Petrópolis é a única cidade imperial da América Latina”, não é verdadeira. O pesquisador Francisco de Vasconcellos em seu alentado trabalho intitulado “Três ensaios sobre Petrópolis” nos informa “que o Imperador D. Pedro I, pelo alvará de 15 de abril de 1825, concedeu à cidade de Montevidéu, o título de Imperial pelos seus patrióticos e relevantes serviços em favor da causa do Império. Do mesmo modo, em 17 de março de 1823, já havia outorgado a São Paulo este título, fazendo o mesmo à Vila Rica, atual Ouro Preto, em 20 de março do mesmo ano”.

Acrescente-se, ainda, que a historiadora Thalita de Oliveira Casadei, em seu livro a Imperial Cidade de Nictheroy, reproduziu o Decreto nº 93, de 22 de agosto de 1841, que concedeu à cidade de Niterói o mesmo título.

Petrópolis, só em 26 de março de 1981, recebeu o título de Cidade Imperial, através de um decreto do então Presidente da República João Baptista de Oliveira Figueiredo.

Tal decreto, é preciso que se reconheça, além de resgatar uma dívida para com a nossa cidade, que “de fato” sempre foi uma cidade Imperial, contribuiu para a preservação de todo o seu acervo arquitetônico e natural.

Prosseguindo, queremos também lembrar que o pesquisador Paulo Roberto Martins de Oliveira, associado do Instituto Histórico de Petrópolis, em palestra proferida no referido Instituto, em 29 de novembro de 2004, apontou inúmeros desvios na divulgação de nossa História, entre os quais tomamos a liberdade de selecionar alguns, que nos parecem mais gritantes. Os italianos, diz ele, “não foram colonos, pois eram imigrantes livres de contrato, que vieram voluntariamente para trabalhar no Brasil; a Casa do Colono transformada em museu, situada no Quarteirão Castelânea, nunca pertenceu a colono algum, pois o primitivo proprietário era o germânico Johann Gotlieb Kaiser, um ex-militar; a nova rodoviária à margem da Estrada BR-140 foi construída no Quarteirão Darmstadt e não no Quarteirão Bingen, como vem sendo divulgado”.

A todas estas informações desejo ainda acrescentar que a Missa celebrada na Praça da Confluência, em 1846, não foi e não poderia ter sido, como afirmam alguns, a primeira celebrada em Petrópolis. Bem antes desta cerimônia ocorrer, já era bastante intenso o movimento religioso em nosso Município. Aceitar pois tal afirmativa como verdadeira, seria negar todos os atos religiosos celebrados na Capela de Nossa Senhora da Conceição da Roça das Pedras, entre 1734 e 1760, na Capela de Nossa Senhora do Amor de Deus, entre 1751 e 1808, entre outras.

A estes argumentos, devemos acrescentar o depoimento do próprio Major Júlio Frederico Koeler que, em ofício ao Presidente da Província, declarou terem sido os primeiros atos religiosos “celebrados em sua própria casa”.

Quanto ao caráter ecumênico que alguns vislumbram naquela importante celebração religiosa, entendemos tratar-se de uma afirmação ousada e inverossímil.

Neste sentido, o sermão proferido naquela ocasião por Monsenhor Bedini constitui uma prova irrefutável de que o ato religioso celebrado naquele sítio foi uma missa católica e não um culto ecumênico. A pregação do ilustre sacerdote foi, na íntegra, um resumo dogmático de verdades importantes da fé católica.

Cumpre ainda ressaltar que, se tais deformações chegarem às Escolas, onde um dos principais requisitos para que a História cumpra a sua missão educativa é aceitar que a verdade existe, que o hábito ao respeito pela verdade deve integrar a formação do educando, teremos certamente um problema bem maior.

O que pretendemos é, tão somente, evidenciar os perigos das distorções da realidade dos fatos e das deformações da verdade, pois os erros, equívocos e mentiras podem acabar se tornando verdades para os homens.