POSSE DE MARIA DE FÁTIMA MORAES ARGON – LEMBRANÇAS DE LOURENÇO LUIZ LACOMBE

Maria de Fátima Moraes Argon, associada titular, cadeira n.º 28, patrono Lourenço Luiz Lacombe

Já há alguns anos venho sendo convidada para ingressar nesse Instituto Histórico de Petrópolis, mas sempre considerei que não era o momento certo de aceitar, apesar de ser um momento por mim muito esperado e com a certeza de que seria muito especial.

Quando meses atrás recebi o convite do professor Jeronymo, meu professor de História Antiga no curso de História da UCP, para me tornar sócia efetiva, pensei: É chegada a hora! Hoje realmente me sinto preparada e, acima de tudo, motivada a participar de forma mais ativa e direta de suas ações e reflexões.

Sempre me senti como parte deste Instituto mesmo que informalmente. Sinto-me em casa, isto porque desde 1980, quando ingressei como estagiária no Museu Imperial, passei a ter contato com o Instituto através de três de seus membros: Lourenço Luiz Lacombe, Dora Maria Pereira Rego Correia e Áurea Maria de Freitas Carvalho. Depois, em 1982, como funcionária, passei a ter contato com outros membros do IHP que na qualidade de pesquisadores iam ao Arquivo Histórico do Museu Imperial buscar subsídios para a elaboração de seus trabalhos. Com alguns tive uma relação rápida, mas nem por isso menos produtiva. Durante essa relação, fui não só aprendendo com eles, mas acima de tudo, admirando e respeitando o trabalho de cada um. E o mais importante, eu fui fazendo amigos. Na verdade, a minha formação está intimamente ligada a cada um de vocês.

Quando recebi a comunicação oficial de que a Assembléia aceitara a minha indicação e que a posse seria hoje, dia 9 de fevereiro, tive a honra de saber que o patrono era Lourenço Luiz Lacombe, a quem, na oportunidade, eu deveria fazer um breve elogio.

Preocupada com essa missão fiquei desde o dia 24 de janeiro pensando: O que vou falar? Daí percebi que falar da sua formação acadêmica, relacionar seus feitos, exigiria de mim conhecimento e pesquisa, mas não era exatamente isso o que eu desejava. Falei da minha insegurança para uma outra pessoa que me é muito cara, José Gabriel da Costa Pinto, e ele disse: “Fale do seu dia a dia com ele, certamente você conseguirá o que deseja”. Refletindo sobre esse conselho, cheguei à seguinte conclusão: realmente, contar histórias vividas por mim e por ele, provavelmente fará com que eu consiga falar do professor, do historiador, do administrador e do homem que foi Lourenço Luiz Lacombe.

Esperando que vocês possam relembrá-lo e, para quem não o conheceu ou não teve o privilégio de conviver com ele possa conhecer um pouco dessa pessoa, que, segundo Dom Pedro Gastão de Orléans e Bragança, “era extremamente elegante, plena de fidalguia”, pretendo falar de coisas de um passado.

Quando entrei para o Museu Imperial, aos 20 anos de idade, participei do II Congresso Nacional de Museus, e ouvindo pela primeira vez o diretor Lacombe, me emocionei e me encantei. Pensei, aí está um homem com o dom da oratória. Falando do prazer em recebê-los, ele falava que o sucesso dessa Instituição se devia ao amor com que sua equipe trabalhava. Mais tarde, tive a felicidade de fazer parte desta equipe e constatar essa verdade, pois também fui tomada por esse amor. Ouvi-o, durante 15 anos, falando desse amor, mas a única coisa que Lacombe esqueceu-se de dizer foi que esse amor vinha dele. Bem, aí se deu o nosso primeiro grande encontro: o amor pelo Museu Imperial.

Percorrer o Palácio em sua companhia era como voltar ao século XIX; ele dava vida a cada objeto e, num curto espaço de tempo, falava do interesse de D. Pedro I pela fazenda do Padre Correia até a criação do Museu Imperial. Sempre quando eu entrava no Museu me vinha uma sensação gostosa, a mesma que sinto quando estou num lugar sagrado. Creio que o mesmo acontecia com ele; nas inúmeras vezes em que o acompanhei, independentemente se falava a um grupo de alunos de 1º grau ou a um chefe de Estado, era cheio de entusiasmo, de emoção e de um grande conhecimento.

A primeira vez em que me aproximei dele, “a estagiária falando com o Diretor”, fiquei nervosa e insegura, mas bastou que ele falasse para que eu me tranqüilizasse. E assim foi sempre. Além do constante aprendizado, das lições diárias, ele sempre incentivava e, acima de tudo, confiava.

Uma vez, Lacombe esperava uma autoridade, e duas estagiárias e eu resolvemos mudar a nossa sala. Quando estávamos carregando uma mesa bem pesada, um homem bem vestido com um terno elegante, colocou sua pasta de couro na escada, tirou o paletó e veio nos ajudar. Todos do gabinete estavam preocupados visto que a chegada do visitante já havia sido anunciada. O Diretor resolveu descer para ver o que estava acontecendo: ficou surpreso e, cumprimentando-o sorridente, disse: “Como não ajudar essas lindas meninas?”. Menina, tratamento carinhoso usado durante nossos 15 anos de convivência.

Em outros momentos, durante uma reunião com os chefes de seção em que eu discordava de algum ponto de vista por ele defendido e apresentava os meus argumentos, Lacombe dizia: “Você me convenceu, você é a técnica. Mude. Faça as mudanças que julgar necessárias”. Daí nasceu a minha auto-confiança, o maior legado que ele me deixou.

O Diretor sempre foi nobre em sua expressão de trabalho e, por isso, convincente e eficaz, porque viveu a verdadeira vida, que é a vida do amor. Sempre manifestou sua luz interior que vibrava através dos seus atos, de suas idéias, suas palavras, do encorajamento que nos passava…

Socrátes disse que “quando levantamos um dedo estamos afetando a estrela mais distante”, e Lacombe com seus atos, suas idéias, seu carinho, afetou muitas pessoas, dentre elas, eu.

Espero que os meus atos, as minhas idéias, que ocorrerão nesta Casa possam afetar a vida de muitos de maneira convincente e calcada no amor como o nosso Lacombe fez.

Pode ser pretensão minha, mas a pessoa precisa sonhar para realizar. E eu quero realizar.

Obrigada a todos por esse carinho, por esse presente.