GRANDE HOTEL – PETRÓPOLIS

Elisabeth Maria da Silva Maller, associada titular, cadeira n.º 31, patrono Napoleão Thouzet

O Objetivo deste trabalho é registrar o processo de revitalização do Grande Hotel Petrópolis, narrando a trajetória de vida de dois grandes empreendedores que contribuíram, cada um a seu tempo, para o progresso de nossa cidade.

No auge da Belle Époque, o prédio do Grande Hotel trouxe charme e glamour à Petrópolis dos anos 30, com seus salões requintados e instalações modernas em seu estilo eclético, provocou frisson e mudou a paisagem da então Avenida XV de Novembro.

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O ano de 1930 marcava o início da era Vargas, o país começava um novo ciclo, que mudaria a rotina e a vida dos brasileiros

A queda da bolsa de New York mudava o perfil daqueles que buscavam o exterior como destino turístico e as viagens pelo interior do Brasil tornaram-se mais atrativas devido às boas condições das estradas de rodagem.

Petrópolis, já famosa desde o tempo do Império por suas belezas naturais e clima agradável, passou a ser freqüentada por um número cada vez maior de visitantes, que buscavam melhores instalações e que, por falta de hospedagem, recorriam aos hospitais, que na época ofereciam bons serviços e os preços eram atrativos.

A idéia de construir um hotel, que oferecesse a seus hóspedes acomodações de alta qualidade, agregando lazer, motivou o Coronel Jeronymo Ferreira Alves, homem de posses e visão de empreendedor, a mandar construir no coração da então Avenida XV de Novembro um hotel, que batizou com o nome de “Grande Hotel”.

O Coronel Jeronymo Ferreira Alves nasceu em São Martinho do Val, Conselho de Vila Nova de Famalicão, Portugal. Chegou ao Brasil com 14 anos de idade em 28.10.1888, vindo para Corrêas, onde morou e trabalhou como caixeiro do estabelecimento do tio chamado Jeronymo de Oliveira.

Mudou-se para Itaipava em 1902, onde se estabeleceu e abriu um armazém próprio, casando-se com D. Margarida Carlos, com quem teve nove filhos: Noêmia, Zaida, Dario, Cármen, Iveta, Narim, Edir, Eda e Jeronymo.

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D. Margarida Carlos e Jeronymo Ferreira Alves – 1941
(Acervo da família)

O Grande Hotel, projetado para proporcionar o que havia de melhor a seus hospedes, teve como responsável pela construção o respeitável Sr. Francisco de Carolis, que não mediu esforços na execução de seu projeto.

O Hotel era o único prédio da cidade que possuía um elevador, que atendia a todos os andares, telefone, escadarias marmóreas, decoradas com ladrilhos hidráulicos, como também, banheiro a cada dois quartos. Cozinha internacional, um serviço de quarto exemplar, era um luxo! Grandioso como próprio nome.

As damas da sociedade petropolitana costumavam se reunir nos salões do Grande Hotel para o chá das cinco, enquanto os cavalheiros saboreavam um brandy acompanhados de charutos cubanos.

O Grande Hotel foi arrendado à firma dos Srs. Balbis & Irmão Ltda. pelo aluguer mensal de 8.000$000 (oito contos de reis).

A inauguração, do Grande Hotel, foi noticiada nos jornais locais como sendo uma das mais grandiosas e promessa de alavancar o progresso da cidade.

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As perspectivas criadas em torno do Grande Hotel, fazia crescer as expectativas da população que estava desempregada, e que acreditava que o Grande Hotel oferecia-lhes a possibilidade de sair daquela condição.

Em meio às notícias acerca das conquistas dos trabalhadores através da criação da CLT, o perfil do brasileiro mudou, proporcionando àqueles que possuíam poucos recursos a possibilidade enfim de viajar, conhecer novos destinos.

Petrópolis, que no tempo do Império, foi sede da capital durante vários meses, pois o Imperador D. Pedro II e sua corte se instalavam em seu palacete de verão, hoje Museu Imperial, para passar aqui o verão.

No dia 14 de dezembro de 1930, dia da inauguração do “Grande Hotel”, a Tribuna de Petrópolis, noticiava, na coluna do trabalhador, que Lindolfo Collor, suspendia provisoriamente a entrada de imigrantes no país, objetivando com essa medida, defender o operariado agrícola e urbano do País do desemprego.

Essa notícia trouxe preocupação, pois muitas de nossas fábricas possuíam mão de obra estrangeira, principalmente a italiana, fato que preocupou também os empresários acostumados a recrutar esse tipo de mão de obra.

O cenário político estava em pleno movimento, anunciando para as 16h00min um comício na Praça D. Pedro, em prol da campanha do Dr. Sá Earp, e, em meio a esse cenário acontecia o concurso da Rainha dos Empregados do Comércio, através de voto popular, a partir do preenchimento de um cupom publicado na edição do mesmo dia.

Petrópolis era uma cidade muito movimentada, e o comércio era bem variado. A Confeitaria D’Angelo, famosa por seus doces finos, a Casa Fonseca, especializada em artigos de vestuário, a Padaria Sul Americana, o Salão Cosmopolita, especializado em beleza feminina, o Mercado Municipal, dentre outros.

Havia também várias salas de cinema, o Capitólio, de propriedade da firma do Coronel Jeronymo Ferreira Alves, o Cinema Petrópolis, o Santa Cecília, o Glória, que projetavam em suas telas sucessos internacionais.

O Jornal de Petrópolis estampava na primeira página da edição do dia 14 o orçamento para 1931 e também noticiava a moratória dos bancos.

Petrópolis fervilhava, com a proximidade das festas natalinas, e em meio a esse cenário anunciava a inauguração do “Grande Hotel”.

Não resta dúvida que a expectativa da inauguração do Grande Hotel era grande, não somente pela promessa de bons serviços, mas a possibilidade de presentear a cidade com um hotel moderno, fato que estamos vivenciando nos dias de hoje.

Enfim, chegou o grande dia, o jornal Tribuna de Petrópolis, noticiou a festa da inauguração em grande estilo.

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O Grande Hotel passou a receber como hóspedes pessoas ilustres, nobres, ministros de estado, artistas, cantoras do rádio, pessoas que vinham em busca de sossego, agregados ao lazer, oferecidos pelo Grande Hotel através de seu cassino.

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No ano de 1932, o Coronel Jeronymo Ferreira Alves, casava sua filha Zaida Ferreira Alves com Napoleão Esteves e em 1936 sua outra filha de nome Eda Ferreira Alves com Luis Barros, utilizando os salões do Grande Hotel.

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Zaida Ferreira Alves e Napoleão Esteves 21 07 1932
(Acervo da família)

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Luiz Barros e Eda Ferreira Alves – 22 09 1936
(Acervo da família)

Foram montados altares, num dos salões do hotel para a celebração dos casamentos. A cerimônia só ocorreu desta forma, devido a um pedido especial dos noivos ao Bispo de Niterói, que consentiu na realização fora dos limites da igreja. O pároco de então da Catedral de São Pedro de Alcântara o Pe. Francisco Gentil Costa, que mais tarde tornou-se Monsenhor Gentil, foi quem oficializou a cerimônia com toda pompa a circunstância.

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Altar montado no salão para o casamento de Zaida e Esteves 21 07 1932
(Acervo da família)

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Altar montado para o casamento de Eda e Luiz 22 09 1936
(Acervo da família)

O centro com arranjos florais, a louça fina, os talheres de prata e os cristais faziam parte desse cenário de sonhos.

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Salão para recepção do casamento de Zaida e Napoleão Esteves 21 07 1932
(Acervo da família)

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Salão para recepção do casamento de Eda e Luiz 22 09 1936
(Acervo da família)

O Grande Hotel foi palco de varias comemorações. Eram realizadas festas de fim de ano, soirées e matinês carnavalescas, conforme retrata a Revista Ilustrada de n.º 152 de 03.03.1933.

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O Grande Hotel viveu décadas de glamour, mas com a proibição do jogo em nosso país, e a possibilidade através do aumento de poder aquisitivo das pessoas que se hospedavam em hotéis durante suas viagens, de adquirir um imóvel em nossa cidade, os chamados veranistas fizeram o Grande Hotel viver um período de dificuldades.

Após a morte do Coronel Jeronymo Ferreira Alves, a então viúva aumentou o aluguer do Grande Hotel para 10.000$000 e a pouca procura contribuíram para seu processo de estagnação.

O Grande Hotel foi durante algum tempo administrado pelo Sr. Zanardi Galiano. E após a morte da viúva D. Margarida o espólio da família tentou sem sucesso continuar a explorar o hotel, mas divergências acerca da abertura de lojas no andar térreo aceleraram seu fechamento.

Grande Hotel funcionou durante aproximadamente três décadas até encerrar definitivamente suas atividades.

O PATRIARCA

A historia do Patriarca se mistura à historia de muitos brasileiros que sonham prosperar e acreditam que só através do trabalho isso pode ser possível.

Antônio Augusto da Silva nasceu em Brás Pires, Cataguases, Minas Gerais, no dia 23.11.1930, filho primogênito de Cirilo Augusto Ferreira da Silva e Zita de Lourdes Monteiro da Silva.

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Antônio Augusto da Silva (Acervo da família)

Sua infância, no sitio da família, foi bastante difícil, as dificuldades do dia a dia eram muitas, trabalhando como lavrador, ajudava ao pai e assim permaneceu até casar-se com D. Judith Xavier Ghuidini em 04 de janeiro de 1954.
D. Judith Xavier Ghuidini e Antônio Augusto da Silva – 1954

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Acervo da família

Mudou-se para Petrópolis em 1958, a convite de um primo de nome Rui, e seu primeiro emprego na cidade, foi num laboratório de análises.

Preocupado em melhorar seus conhecimentos, matriculou-se no Colégio Carlos A. Werneck, onde cursava contabilidade.

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Judith e Antônio – 1966 (Acervo da família)

Neste período já haviam nascido os filhos, Cirilo, Denis e Denise. Cleise nasceu anos mais tarde. Foram tempos difíceis, mas a vontade de prosperar era mais forte e isso o impulsionou a montar uma bombonière, de nome “Café Carangola”, com capital emprestado do primo e algumas economias.

O negócio não deu certo, e decidido a se tornar um comerciante bem sucedido, por volta de 1960, o Patriarca decidiu montar uma sapataria e deu a ela o nome “Mascote”, devido ao tamanho da loja.

Costumava ele mesmo ir ao Rio de Janeiro, viajando de ônibus, para renovar seu estoque de mercadorias; muitas vezes armazenou as caixas vazias nas prateleiras, para parecer que seu estoque era muito maior.

Adotou como filosofia de vida economizar, mas sempre se preocupou com o bem-estar e com a formação dos filhos, queria vê-los bem posicionados na vida.

Sempre buscou a união dos filhos. Homem de hábitos simples, seu primeiro endereço em nossa cidade foi uma casa pacata na Rua Visconde do Bom Retiro, cujas instalações eram precárias.

O segundo endereço da família foi uma casa de vila na Rua Paulino Afonso, embora simples, era própria. A vida estava melhorando. Mais ainda era preciso economizar.

As crianças Cirilo, Denis, Denise e Cleise estudaram em colégios tradicionais da cidade, com bolsa de estudos oferecida pela escola.

O Patriarca sempre procurou dar conforto aos filhos, tudo de acordo com sua condição financeira.

D. Judith, esposa dedicada, sempre cuidava da casa e da educação dos filhos, ajudou o marido nos momentos difíceis e sempre o incentivou a nunca desistir.

A família costumava passar as férias em Minas Gerais, na casa de parentes, momentos de descontração e muitas brincadeiras.

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Férias com a família em Minas Gerais (Acervo da família)

Aos poucos, o Patriarca conseguiu ampliar seu negócio e abriu mais três filiais da sapataria. Adquiriu a loja de ferragens, de nome ”Ao Regador”, todas localizadas na Rua do Imperador.

Patrocinou o estudo dos filhos, Cirilo, Denis, Denise, Gleise e Patrícia, filha da segunda união. Queria vê-los formados, com uma profissão, pois para ele, a vida de comerciante é muito difícil.

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A família – D. Judith, Denis, Cirilo, Denise e Cleise, D.Julieta (sogra) e D.Vanda (cunhada).
(Acervo da família)

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Antonio e Patricia (Acervo da família)

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Denis, Antonio e Cirilo – 2000 (Acervo da família)

Acostumado a passar várias vezes em frente ao Grande Hotel, pensou comprá-lo, pois acreditava que diversificando seus negócios se tornaria um empresário de médio porte.

A compra foi efetuada, mas uma terrível doença o afastaria dos negócios. Terminou seus dias ao lado da esposa, filhos e netos.

Sonho acalentado, em fim conquistado, jamais desfrutado, e que a união da família está tornando possível.

A REVITALIZAÇÃO

Há aproximadamente cinco anos os jornais locais noticiaram a reabertura das atividades do Grande Hotel Petrópolis, fechado por varias décadas.

A estrutura, deteriorada pela ação do tempo, trazia pouca expectativa para aqueles que vivenciaram seus áureos tempos, mas o que parecia impossível estava começando a se tornar realidade.

Durante vários anos o prédio do Grande Hotel Petrópolis foi objeto de especulações; havia aqueles que pretendiam instalar ali uma universidade ou talvez um centro comercial com várias lojas e escritórios.

A idéia de reabri-lo era remota e ousada, mas o que parecia impossível para uns se tornou um desafio para a família Ghuidini da Silva.

Motivados pelo sonho do Patriarca, os herdeiros decidiram reabri-lo. O projeto ficou a cargo do arquiteto Carlos Marcolino. Era o começo de uma nova era para o Grande Hotel Petrópolis.

No projeto, novos espaços foram criados. O cassino foi transformado em sala de reuniões, com o que há de mais moderno em infraestrutura.

O Grande Hotel Petrópolis oferece também um salão restaurante, sala de ginástica, um elevador panorâmico, quartos amplos e muito bem decorados, inclusive com instalações para portadores de necessidades especiais, instalações de primeiro mundo.

Em meio à modernidade, foi preservado o elevador original, o lustre que estava localizado no lobby do Hotel, bem como foram recuperados tapetes confeccionados em ladrilhos hidráulicos dos corredores, os vidros coloridos das portas e também os brasões que faziam parte da fachada, uma obra orçada em milhões.

Segundo a gerente geral Marta Cerqueira, petropolitana, que por vários anos esteve envolvida com projetos hoteleiros, profissional de alto gabarito, a abertura do Grande Hotel Petrópolis é uma grande promessa de bons negócios.

Marta mudou-se para Petrópolis aceitando o convite de Denise e Cleise para gerenciar o Grande Hotel Petrópolis porque acredita que ele será um grande diferencial para a cidade.

Para a família Ghuidini da Silva, a reabertura do Grande Hotel é a concretização de um sonho.

Fotos da Revitalização: Acervo Fotográfico Grande Hotel Petrópolis

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Fontes de Pesquisa:

Biblioteca Municipal de Petrópolis – Sala Petrópolis
Jornal Tribuna de Petrópolis – edição de 16.12.1930
Jornal de Petrópolis – edição de 13.12.1930
História oral por Jeronymo Ferreira Alves Netto
História oral pela família Ghuidini da Silva
Acervo fotográfico da Família Ferreira Alves
Acervo fotográfico da Família Ghuidini da Silva
Acervo fotográfico da revitalização do “Grande Hotel”