0 COMBATE DE MONTE CASTELLO – SEXAGÉSIMO SÉTIMO ANIVERSÁRIO

Cláudio Moreira Bento, associado correspondente

HOMENAGEM AOS HERÓIS DA CONQUISTA DE MONTE CASTELLO

No transcurso, em 21 fevereiro de 2012 (3ª feira de Carnaval) do 67º aniversário da vitória brasileira na conquista de Monte Castello, a homenagem da Federação de Academias de História Militar Terrestre do Brasil (FAHIMTB), a sucessora, em 23 de abril de 2011, Bicentenário da AMAN, da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB), aos bravos que ali combateram e, em especial, aos que ali perderam suas vidas, em defesa da democracia e da liberdade mundial. E uma referência aos historiadores militares e patronos de cadeiras da FAHIMTB que ali conduziram as armas brasileiras à vitória, os Marechais João Baptista Mascarenhas de Morais e Humberto de Alencar Castelo , respectivamente comandante da 1ª DIE e seu Oficial de Operações e, sem esquecermos os patronos de cadeiras da FAHIMTB General Carlos de Meira Mattos que além de integraram a 1ª DIE tiveram atuação destacada junto com os Marechais Mascarenhas de Morais e Castelo Branco, no registro, preservação e divulgação da memória histórica da FEB. Aqui também reverencio a memória do acadêmico Coronel Cecil Wall Barbosa de Carvalho, professor de Direito na AMAN, por largo período, o qual como tenente, com um tiro certeiro de morteiro, silenciou uma posição de metralhadora inimiga que ameaçava a progressão do seu Regimento Sampaio, consagrando-se em uma crônica militar intitulada Um Tiro Feliz , como o seu personagem.

INTRODUÇÃO

A matéria a seguir sobre o combate de Monte Castello é um exemplo de análise histórica crítica militar que produzimos, em 1978, como instrutor de História Militar na AMAN. Matéria que havíamos inserido em nosso livro Como estudar e pesquisar a História do Exercito Brasileiro editado pelo Estado-Maior do Exercito em 1978 e 1999 e disponível em Livros no site da Academia www. ahimtb.org.br.

O combate de Monte Castello é abordado criticamente, ou militarmente, nos Apêndices 5-1 a 5-3, à luz dos Fundamentos da Arte e Ciência Militar que abordamos no capitulo 4 – Fundamentos para o estudo crítico da História Militar, em 28 páginas.

História militar: crítica a ser realizada em especial por profissionais militares com o Curso de Estado-Maior, à luz de reconstituições de História Militar descritivas feitas com isenção, por profissionais de História, com o apoio de fontes históricas classificadas como fidedignas, autênticas e íntegras. E este exemplo nos foi dado por Caxias, por esta razão patrono da FAHIMTB, ao analisar criticamente e com isenção, a batalha do Passo do Rosário a pedido do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de que era sócio. E em 1862, como Ministro da Guerra, haver adaptado a Doutrina do nosso Exército, baseada na Doutrina de Portugal, às realidades operacionais sul-americanas que ele vivenciara em quatro campanhas pacificadoras em que ele comandou as operações, bem como na guerra externa contra Oribe e Rosas 1851-52. E acrescentando “ATÉ QUE NOSSO EXÉRCITO DISPONHA DE UMA DOUTRINA GENUINAMENTE BRASILEIRA.” É este era o seu sonho a ser realizado pelos seus sucessores. Pois o Brasil enriquece e deve ser forte militarmente, como as grandes nações, potencias e grande potências que são ricas e fortes militarmente, A riqueza de uma nação não convive com a sua fraqueza militar. É o que a História Militar da Humanidade nos ensina. E ai estão a Amazônia e o Pré Sal a serem protegidos da ambição internacional, COM PODER MILITAR BRASILEIRO DISSUASÓRIO DEFENSIVO COMPATÍVEL, a ser construído pelos responsáveis pela Defesa do Brasil, eleitos pelo Povo Brasileiro, com a contribuição de seus diplomatas e militares.

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Esboço do combate de Monte Castello do então Major de Infantaria J. F. de Maya Pedrosa,
atualmente acadêmico da FAHIMTB

1. AMBIENTAÇÃO

Perdurava, em fevereiro de 1945, enorme saliente inimigo apoiado nos Montes Apeninos, coincidente com a área de responsabilidade do IV Corpo de Exército (EUA) que a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) integrava. Ocupava aquelas alturas dos Apeninos, entre o Rio Panaro e a Rodovia 64, o XIV Exército Alemão. Isto impedia o uso da Rodovia 64 – trecho PORRETA TERME-BOLONHA, pelo V Exército (EUA) para abastecer cinco de suas 10 divisões.

2. SITUAÇÃO GERAL

O V Exército dos EUA atribuiu ao seu IV Corpo, ao qual integravam a 10ª Divisão de Montanha (EUA) e a 1ª DIE (BRASIL), a missão: atacar alturas dos Montes Apeninos, divisoras das águas dos rios RENO e PANARO (à esquerda no alto), para eliminar ou reduzir o saliente alemão nelas apoiado.

3. SITUAÇÃO PARTICULAR

A 1ª DIE (BRASIL), segundo a primeira fase do Plano Encore teria a seguinte missão:

Conquistar MONTE CASTELLO em íntima ligação com a 10ª Divisão de Montanha (EUA) que atacaria paralelamente, à sua esquerda, na direção BELVEDERE-MONTE DE LA TORRACIA.

A manobra da 1ª DIE foi assim planejada:

– ataque principal sobre Monte Castello, a cargo do Regimento Sampaio (1º Regimento de Infantaria), reforçado por dois pelotões de Carros de Combate dos EUA, mais 1ª Cia. do 9º Batalhão de Engenharia de Combate (para remoção de minas e acompanhamento) e fogos de apoio direto dos 1º e 2º Grupos de Artilharia 105 mm, reforçados pelas companhias de obuses 105, do 11º Regimento de Infantaria e do 1º Regimento de Infantaria;

– ataque secundário limitado a cargo do 2º Batalhão, do 11º Regimento de Infantaria (São João del Rei-MG), para cobrir o flanco direito do Regimento Sampaio no ataque principal;

– defensiva no restante da frente, a cargo do 6º Regimento de Infantaria (Caçapava-SP);

– reserva da 1ª DIE:

– 11º Regimento de Infantaria (menos o 2º Batalhão);

– Esquadrão de Reconhecimento Mecanizado.

– o 9º Batalhão de Engenharia de Combate, menos a 1ª Companhia, foi encarregado de reparar e conservar as rodovias de interesse da operação;

– os 4º Grupo e 3º Grupo de Artilharia (menos uma Bateria), realizariam ações de apoio ao conjunto;

– as Comunicações deveriam estabelecer três eixos de comunicações com a tropa atacante.

Para melhor assegurar o comando da operação, o Comandante da 1ª DIE o General de Divisão João Baptista Mascarenhas de Morais instalou-se em seu posto de comando avançado e destacou para dar assistência ao comandante do ataque principal, o General de Brigada Zenóbio da Costa (Comandante da Infantaria Divisionária e seu E-3 (Oficial de Operações), o Tenente-Coronel Humberto de Alencar Castelo Branco.

4. COMBATE DE MONTE CASTELLO

Às 05h30min de 21 de fevereiro de 1945 , teve início o ataque a Monte Castello, pela 1ª DIE, após conquistados nos dois dias anteriores, GORGOLESCO e MAZZANGANA. A última, com auxílio de aviões da Força Aérea Brasileira.

Aquelas alturas flanqueavam a via de acesso ao Monte Castello, a cargo da 1ª DIE.

A 10ª Divisão de Montanha (EUA) foi detida face à reação apresentada pelos alemães em MONTE DELLA TORRACIA.

Apesar disso, a 1ª DIE prosseguiu para seu objetivo com perfeita coordenação entre os ataques principal e secundário e modelar apoio de fogo proporcionada pela Artilharia Divisionária. Fogo preciso e concentrado que transformou Monte Castello num vulcão e mereceu de um adversário a seguinte expressão:

“As concentrações de Artilharia aqui em Monte Castello eram de arrebentar os nervos de qualquer um”.

Depois de 12 horas de combate, o Regimento Sampaio conquistou Monte Castello após ser fixado pelo seu 3º Batalhão (FRANKLIN) e desbordado pelo seu 1º Batalhão (UZEDA).

O ataque secundário, apoiado pelos fogos do 3º Grupo de Artilharia, avançou na direção de ABETAIA e assegurou cobertura ao ataque principal, em virtude da ameaça representada pela cota 884.

A conquista de MONTE DE LA TORRACIA objetivo da 10ª Divisão de Montanha (EUA).

5. TÓPICOS PARA DISCUSSÃO

Discutir o combate de Monte Castello, à luz da manobra e seus elementos e dos princípios de guerra.

– Figura n.º 1 –

6. UMA SOLUÇÃO

a. Manobra e seu elementos

1) Objetivo: Conquistar Monte Castello.

2) Forma: Ofensiva – Defensiva.

– Parte Ofensiva – Central; por Penetração.

– Parte Defensiva – Defesa em Posição.

3) Direções: Paralelas dos ataques principal e secundário.

4) Repartição de Meios:

– Ação Principal (ataque principal sobre o Monte Castello):

– Regimento Sampaio (1º RI);

– 2 Pelotões de Carros de Combate dos EUA;

– 1ª Cia. Engenharia /9ª BE, em reforço;

-1º e 2º Grupos de Artilharia 105, em apoio direto, reforçados por duas Companhias de Obuses 105, dos 1º RI e 11º RI.

– Ações Secundárias:

– Ataque Secundário a cargo do 2º Batalhão do 11º RI, com apoio de fogos de uma Bateria do 3º Grupo;

– Defesa do restante da frente, a cargo do 6º RI.

– Reserva:

– 11º RI (S. João Del Rey), menos o 2º Batalhão;

– Esquadrão de Cavalaria Mecanizada.

5) Amplitude da manobra: Tática.

6) Comando: Centralizado.

7) Desencadeamento: Ações simultâneas

b. Princípios de guerra

1) Objetivo: Conquista de Monte Castello, ponto chave da ruptura das defesas alemãs nos Apeninos, entre os vales do rios RENO e MARANO.

2) Surpresa: Não caracterizada.

3) Massa: Regimento Sampaio reforçado por 2 Pelotões de Carros de Combate (EUA),1ª Companhia do/9º BE e apoio direto de fogos dos 1º e 2º grupos de artilharia 105, reforçados por duas companhias de obuses 105 do Regimento Sampaio e do 11º Regimento de Infantaria.

4) Economia de meios: 2º Batalhão, do 11º RI, no ataque secundário; 6º RI na defensiva, no restante da frente; e 2 grupos de artilharia, menos uma bateria, em apoio ao conjunto.

5) Ofensiva: deslocamento do Regimento Sampaio para Monte Castello, mantendo a iniciativa das ações e ali impondo sua vontade ao inimigo, auxiliado pelo eficiente apoio dos carros de combate, da engenharia de acompanhamento e dos grupos em apoio direto. Prosseguimento para o objetivo, após ser a unidade vizinha detida.

6) Manobra: deslocamento do Regimento Sampaio, com rapidez e segurança, para colocar-se em posição vantajosa relativamente ao objetivo conquistado através de um desbordamento realizado no âmbito do próprio Regimento Sampaio (um batalhão fixando e o outro desbordando).

7) Segurança: pelas informações colhidas sobre o terreno e o inimigo, através de patrulhas e outros meios. Segurança pelo dispositivo: ação principal coberta à esquerda pelo ataque da 10ª Divisão de Montanha dos EUA e à direita pelo ataque secundário, reserva forte e defensiva no restante da frente.

8) Simplicidade: manobra simples – um ataque principal e um secundário, defensiva no restante da frente e com ordens. claras e precisas entendidas por todos os executantes.

9) Unidade de comando: perfeita coordenação e ligação entre 1ª DIE e a GU vizinha (10ª Divisão de Montanha dos EUA. Coordenação e comando propiciados pelos três eixos de comunicações estabelecidos, e mais, a presença de representantes categorizados do comandante da 1ª DIE, o General Zenóbio da Costa e o E/3 da 1ª DIE, Tenente-Coronel Castelo Branco, junto ao posto de comando Regimento Sampaio, e em estreita ligação com o comandante da 1ª DIE, em seu posto de comando avançado.

Nenhum comandante subordinado tomou iniciativa comprometedora da unidade de comando

Nota importante do autor. A razão dos insucessos dos 4 ataques frontais de Monte Castello por forças brasileiras e americanas tem a seguinte explicação.

Foi a 232ª Divisão de Infantaria alemã que fez frente à FEB nos Apeninos. E foi em Monte Belvedere, que dominava e flanqueava o Monte Castello, que o comandante alemão, veterano comandante de Corpo de Exército na Batalha de Stalingrado, concentrou todo o seu esforço defensivo da ampla frente que lhe coube defender, por ser Belvedere, o pivô da defesa alemã nos Apeninos.

Daí a resistência enorme que os alemães ofereceram aos americanos frente a Monte Belvedere e aos americanos e brasileiros em Monte Castello, que só caiu após o 5º ataque aliado em 21 de fevereiro de 1945 e desfechado pela FEB, com o Regimento Sampaio no ataque principal quando Monte Belvedere já havia sido conquistado pela 10ª Divisão de Montanha dos EUA.

Do contrário, ataques frontais americanos e brasileiros não teriam nenhuma possibilidade de surpresa e continuariam a serem mal-sucedidos, pela dominância sobre eles de vistas e fogos de Belvedere, o pivô da defesa alemã nos Apeninos.

Detalhamos estas considerações em artigo As duas faces da glória, na Revista A Defesa Nacional, n.º 755, jan/jun 1992, p 52/62, em resposta ao livro do repórter Willian Waak. As duas faces da gloria. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1985, em que seu autor prestou uma grande colaboração à História da FEB , ao pesquisar, na paz na Alemanha chefes alemães participantes da defesa na frente da 1ª DIE, em Monte Castello

Fontes consultadas:

AMAN. Combate de Monte Castello. in: HISTÓRIA MILITAR DO BRASIL. Volta Redonda: Gazetilha/ Cadeira de História, 1978.

ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO. O EXÉRCITO BRASILEIRO NA 2ª GUERRA MUNDIAL. in: História do Exército Brasileiro. Rio de Janeiro: Comissão de História do EME, 1972. v.3, p.841/849.

BENTO. Cláudio Moreira Cel. Como estudar e pesquisar a História do Exército. Brasília: EME/IGGCF, 1978 e 1999, distribuídos a AMAN, EsAO, ECEME e na AHIMTB.

(____). As Forças Armadas e a Marinha Mercante do Brasil na 2ª Guerra Mundial. Volta Redonda: Gazetilha, 1995 (Capa e prefácio do General Plínio Pitaluga. Obra comemorativa do Jubileu de Ouro do Dia da Vitória).

(____). Marechal Mascarenhas de Morais – significação histórica. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Volume 344. jul/set. p.119/156 (Conferência como membro do IHGB, no centenário do comandante da FEB a convite do Presidente Pedro Calmon).

(____). Reflexos no Poder Nacional da pesquisa, estudo militar crítico da História Militar Terrestre do Brasil. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Volume 344. jul/set. p.107/109