VENERANDA SENHORA (A)

Cinara Maria Bastos Jorge Andrade do Nascimento, Associada Correspondente

Apesar de divulgado em diversos órgãos de imprensa e ultimamente pela BBC News Brasil, permanece a dúvida se estariam os restos mortais da Condessa do Rio Novo na Capela de Nossa Senhora da Piedade, em Três Rios/RJ, ou no St. Mary’s Cemetery, em Londres, Inglaterra.

Mariana Claudina Pereira de Carvalho (antes Barroso Pereira), casada com o primo José Antônio Pereira de Carvalho, considerada fundadora de Três Rios, foi mulher dinâmica e de visão futurista. Benemerente, doou vultosa importância para a fundação de um abrigo de meninas órfãs, a Casa de Caridade de Paraíba do Sul; vendeu uma das casas que possuía em Petrópolis por preço simbólico para instalação do Colégio Santa Isabel, onde até hoje se encontra; facilitou a passagem da Estrada União e Indústria, e mais tarde da Ferrovia D. Pedro II pelas suas terras, entre outros feitos.

Falecidos os pais e o marido, passou a administrar os bens deles herdados. Eram de sua propriedade fazendas e imóveis em São João Del Rei/MG, uma residência na rua 1º de Março na Corte e duas casas de veraneio na Rua do Imperador em Petrópolis. Morre em Londres a 5 de junho de 1882, após malsucedida cirurgia feita pelo Dr. Spencer Wells, médico da Rainha Vitória.

Mariana não teve filhos e em seu testamento, registrado antes da viagem a Londres, legou seus bens aos sobrinhos, reservando, porém, a maior de suas fazendas, a Cantagalo, para seus quase duzentos escravos, alforriando-os todos antes da Lei Áurea. Nada pediu para seus funerais, apenas queria ser sepultada junto aos pais e o marido, na Capela de N. Sra. da Piedade, próxima à sede de sua fazenda.

Em 1885, três anos após sua morte, o caixão com os restos mortais chega ao porto do Rio de Janeiro e de lá foi transportado para a Estação de Entre Rios, seguindo para a referida Capela. Dois anos mais tarde, estando pronto o túmulo de mármore que a receberia, em 5 de junho foram feitas as cerimônias fúnebres, tendo os jornais noticiado que, no momento da cerimônia, ao abrirem o caixão, nele havia um esqueleto sem cabelos e dentes, envolvido em serragem.

Até aí chegaram nossas pesquisas ao término do livro “Pioneiros dos três rios – A Condessa do Rio Novo e sua Gente”, lançado no dia 5 de junho de 2012, lembrando os 130 anos de morte daquela que chamamos Veneranda Senhora.

Mas a dúvida lançada pela antiga nota de jornal, que relatava um esqueleto sem cabelos e dentes, permanecia e as pesquisas continuaram até que, em 2015, um amigo genealogista residente em Londres interessa-se pelo caso e descobre que Mariana Claudina fora sepultada no St. Mary’s Cemetery. E mais, conforme declaração assinada pela superintendente do local, “a Condessa repousa em paz nesse Cemitério e nunca foi exumada”. Este documento nos chega acompanhado de fotos, uma delas mostrando o caixão depositado em um dos nichos do cemitério.

Diante dessas evidências, diversas tentativas fizemos para conseguir a exumação dos remanescentes humanos sepultados na Capela. Pedidos à Casa de Caridade de Paraíba do Sul – dona do espaço, ao Prefeito de Três Rios e ao Ministério Público, mas todas foram infrutíferas. Descendentes do Visconde de Entre Rios, irmão da Condessa, negaram autorização.

Passados 136 anos da morte da ilustre fundadora de Três Rios, seus expressos desejos nunca foram respeitados. O marido, Visconde do Rio Novo, ainda jaz no Rio de Janeiro, e ela própria tampouco conseguiu o eterno repouso na cidade que nasceu de sua benevolência.

A Veneranda Senhora permanece expatriada.