DISCURSO DE POSSE DO ASSOCIADO TITULAR JOSÉ AFONSO BARENCO DE GUEDES VAZ

José Afonso Barenco de Guedes Vaz, Associado Titular, Cadeira n.º  11 – Patrono Henrique Carneiro Teixeira Leão Filho

Sra. Presidente do Instituto Histórico de Petrópolis, Maria de Fátima Moraes Argon; Membros da Diretoria e Associados presentes. Minhas senhoras, meus senhores.

Ao iniciar estas singelas palavras, não poderia deixar de agradecer, sensibilizado, ao caro amigo e acadêmico Fernando Costa pelas imerecidas considerações que fez pronunciar a meu respeito partidas, sem dúvida, do grande coração que lhe bate no peito.

Saiba, pois, que este modesto orador irá guardar para sempre tais palavras, permitindo-me recordar o poeta quando escreveu:

“Quando sincera, a amizade:
à medida que envelhece,
é inconteste verdade:
cada vez, mais ela cresce.”

Também, desejo deixar aqui consignado o meu preito de gratidão aos ilustres associados Fernando Costa, Paulo César dos Santos e Luiz Carlos Gomes, pelo magnânimo gesto que tiveram para com minha pessoa, por ocasião da indicação do meu nome para ocupar a cadeira vaga em decorrência do falecimento do insígne petropolitano Décio José Kronemberger, figura que deixou marcado, de modo indelével, seu nome junto a esta Casa, justamente pela forma como sempre se conduziu, prestigiando o Instituto, valendo-se de sua inteligência e sensibilidade, sem falar, certamente, nas amizades que fez conquistar junto a seus companheiros do Instituto.

E, exatamente, por vir a substituir tão importante figura, profundo conhecedor dos altos objetivos propugnados por esse Instituto, sinto pesar sobre meus ombros extrema responsabilidade convicto, entretanto, de que o nome e bem assim o conceito de Décio José Kronemberger nunca serão esquecidos e continuarão a brilhar como estrela de primeira grandeza perante aqueles que com ele compartilharam, na certeza, ensejos de extrema união e amizade, especialmente distinguindo-o com a mais cordial consideração e respeito, face sua cultura e em razão de atitudes que sempre fez adotar, sublimando o nome desta cidade perante o concerto de tantas outras do nosso grandioso país.

Orgulhava-se de Petrópolis, foi um estudioso e pesquisador acerca dos fatos ocorridos no passado e quiçá aproveitando-se de oportunidades prazerosas com a finalidade de trazê-las à luz desta Casa, frequentando-a quando possível.

A propósito do meu predecessor ainda irei detalhar fatos, momentos, atuações, homenagens e tudo o mais que pude pesquisar sobre tão marcante pessoa, aliás, aproveitando o ensejo para agradecer a sua família que muito fez colaborar com este orador, a qual penhoradamente agradeço.

Não poderia também deixar de consignar a data de 19 de abril p.p., quando fui eleito em decorrência do sufrágio por parte de associados que, naturalmente, reconheceram na minha modesta pessoa as condições de ter assento nesta Casa, aliando-me a figuras de intelectuais de grande expressão, com profundos conhecimentos relativamente à história do Brasil, do estado do Rio de Janeiro e, sem dúvida, de nossa Petrópolis.

Para mim, meus caros, tudo motivo de alegria e contentamento, além da grande honraria em poder transpor os umbrais desta Casa.

Assim, aqueles que emprestam a esta solenidade, embora a distância, um cunho de beleza, atenção e encantamento, estejam convictos que não me farei alongar nestas palavras além do tempo estritamente necessário a fim de desincumbir-me da tarefa a que, por dever, me propus, impondo-me a mim, para realizá-la sem lhes massacrar, o uso da palavra em período que não há de ultrapassar trinta minutos.

Gostaria de deixar consignado que este, é outro momento, de muitos que tenho vivido – ora a atravessar ásperos caminhos, sinuosos e plenos de espinhos – ora a percorrer trajetórias suaves e respirando o perfume de belas flores ao longo dos percursos – também dos mais gratos, e que fazem tocar profundamente minha sensibilidade, que me envaidece e, sobretudo, me propicia o mais justificado orgulho.

Permito-me recordar, por ocasião do meu discurso de posse na APL, quando fiz questão de enfatizar e o faço também neste momento, deixando evidenciado que na qualidade de humilde e discreto escritor a publicar semanalmente, durante anos, em páginas de jornais desta encantadora terra de Pedro II, crônicas simples e despretensiosas, sem qualquer outro objetivo ou intuito, que não o exercício da pena, a par e natural recreação do espírito; sem buscar, jamais, nenhuma ostentação, afastado das clarinadas retumbantes da publicidade, sem qualquer preocupação de ordem material que, diga-se de passagem, nada constrói, evidentemente não compatível com quem, na luta, apenas terça armas no superior terreno da idéia, da intenção de demonstrar fatos atuais ou já passados, mas que merecem ser recordados, lembrados, justamente formadores da opinião, da história, do conhecimento.

Que galardão mais honroso, de igual brilho, que o de poder agora alçar a condição de membro associado efetivo do Instituto Histórico de Petrópolis!

Diante de tais colocações e em razão do momento em que me emposso nesse Instituto na cadeira nº 11, cujo patrono é Henrique Carneiro Leão Teixeira Filho, permitam-me, caros amigos, volver a passado longínquo, ocasião em que o insígne Henrique Carneiro Leão Teixeira Filho formulou a proposta para que se organizasse uma Instituição, em caráter definitivo, para estudar a história local, cabendo lembrar que, num primeiro momento, como descreve o ilustre professor e historiador Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Dr. Henrique sugerira que a entidade recebesse a designação de Instituto Pedro II, o que acabou por não prosperar prevalecendo aquela que evoluía por um designativo mais amplo, Instituto Histórico de Petrópolis, e é bom que se esclareça que a designação prevalente encontrara respaldo entre os membros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, como deixa enfatizado o referido professor, uma vez que o IHGB “… justificou-se a apadrinhar e assessorar os primeiros tempos do IHP”.

Em decorrência, parte-se  para a redação dos estatutos da entidade sendo que a comissão encarregada para tanto foi composta dos Srs. Max Fleiuss, Américo Jacobina Lacombe, Alcindo Sodré, Rangel Pestana e, naturalmente, do ora homenageado, Leão Teixeira Filho.

Assim é que em 02 de dezembro de 1938 o IHP dava posse a sua primeira Diretoria, evento que aconteceu no Salão Nobre da municipalidade sendo eleito Leão Teixeira Filho, na condição de primeiro Presidente da entidade.

Na ocasião, valeu-se o mesmo através de significativas palavras no tocante à figura de Pedro II, atuando na qualidade de Orador Oficial, Pedro Calmon, referindo-se a respeito do significado do Ato, ou seja, a posse da primeira Diretoria do Instituto.

Nascera, enfim!

Relembre-se que o Dr. Leão Teixeira Filho presidiu o IHP durante quatro biênios (1938/46) e exerceu a vice-presidência nos anos 1953/1958.

Ainda, em razão do falecimento do sempre lembrado – até os dias de hoje – Alcindo Sodré, voltou Leão Teixeira a presidir a entidade durante o período (1958/60).

A notável figura do ora homenageado fez-nos legar, dentre muitos outros, um marcante discurso a respeito da fundação de Petrópolis, despiciendo ressaltar quanto ao empenho do mesmo com referência ao Instituto, um grande soldado que colaborou para o engrandecimento da entidade de modo a que chegasse, da maneira, a mais respeitável, aos dias atuais.  

A vida dessa inesquecível figura, todavia, não foi tão somente coberta de louros, uma vez que logo de início foi marcada pelo falecimento de sua mãe deixando o filho com apenas 16 dias de nascido, sob os cuidados de sua tia paterna, Maria Henriqueta Teixeira de Alencar Lima.

Nesta cidade fez seus primeiros estudos, sendo que em 1908 acabou por matricular-se no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo. Após, foi aluno do colégio Paula Freitas, no Rio de Janeiro.

Na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, atual UFRJ, formou-se engenheiro geógrafo (1918) e engenheiro civil (1920).

Em Petrópolis, desempenhou o cargo de Diretor de Obras e Viação, exatamente no período de (1927/28).

A se destacar quanto a sua participação, nesta cidade de Petrópolis, na condição de membro da Comissão Executiva que, em 1925/26, tratou de traçar diretrizes para a comemoração do Centenário de D. Pedro II, incluindo a Exposição Industrial do Município.

Em 1943, mais uma vez, prestou relevantes serviços quando fez integrar a Comissão incumbida da comemoração do Centenário de Petrópolis.

Acresça-se que Teixeira Leão foi ainda muito além da condição de mestre, uma vez que participou como examinador da banca de concursos para catedrático de História do Brasil da Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, atual UFRJ.

Lecionou, outrossim, na PUC-RJ, distinguindo-se na qualidade de professor de História Diplomática do Brasil, no Instituto Rio Branco (1959).

Teixeira Leão, merecidamente, foi agraciado com a Medalha Koeler, em face dos relevantes serviços prestados a Petrópolis.

No tocante a assuntos históricos publicou cerca de vinte trabalhos na revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, entre os quais, a se destacar: Anais do 2º Congresso de História Nacional – (vol. I); Honório Hermeto na fundação de Petrópolis, e alguns traços de sua personalidade (vol. 236-1957); Justiniano da Rocha, biógrafo do Marquês do Paraná (Anais do 3º Congresso de História Nacional (1938) e a presidência do Rio de Janeiro, em 1842 (Anuário do Museu Imperial, 1945).

Extraordinária, tenho certeza que assim posso afirmar, no tocante a honrada figura que acabamos de homenagear e bem assim relembrar a propósito de tantos méritos que nos fez legar, projetando o nome da Cidade Imperial, a nossa querida Petrópolis, e de nossa pátria, a tantos rincões e por isso mesmo o preito de gratidão, em especial, de admiração pelo engenheiro e historiador, certamente um dos grandes responsáveis pelo momento que ora podemos vivenciar, juntamente com personalidades de idêntico valor cultural que integram este Sodalício e que merecem os maiores encômios, como, também, aqueles que partiram mas que também deixaram seus nomes indelevelmente marcados nos anais do Instituto.

Referências elogiosas e merecidas, conforme já explanadas de início, ao ocupante da cadeira nº 11, Décio José Kronemberger, nascido em 28 de agosto de 1959 e falecido nesta cidade em 06 de junho de 2018.

Décio, filho primogênito de Hilário Olegário Kronemberger e D. Nair Fraga Kronemberger – teve como berço primeiro, Cascatinha, 1º Distrito da Cidade de Petrópolis.

Décio, entretanto, na companhia de seus pais, embora criança, sofreu com o amargo falecimento de dois outros irmãos, um com apenas três meses após chegar ao mundo e outro tendo partido com apenas nove anos.

Relata para mim, seu filho Julian, de maneira carinhosa, e sobretudo prestimosa, que a infância de seu pai foi de pobreza, o que não o impediu todavia, de se matricular no Instituto Irmã Cecília Jardim, tendo nesse educandário concluído o curso ginasial.

Mas na condição de homem de grandes iniciativas, sempre disposto a alcançar seus objetivos, decidiu, em época oportuna, frequentar a Universidade Católica de Petrópolis, no período compreendido entre 1966 a 1971, bacharelando-se no curso de Direito.

Em foto que me foi enviada pelo eminente associado Fernando Costa, pude reconhecer Décio, na companhia de Júlia Schaefer, Osvaldo Costa Frias Filho e Thélio de Araújo Pereira, dentre outros.

Sua trajetória profissional fez percorrer junto à empresa Petroflex, para onde prestou concurso, nela desenvolvendo atividades profissionais até o ano de 1991.

Casou-se com D. Angélica e se vivo estivesse estaria comemorando 50 anos de feliz casamento, relata a mim o filho Julian nascido em 1975, a quem aproveito o ensejo para agradecer por tantas gentilezas a mim cominadas, extensivas à Sra sua mãe, a fim de que pudesse este modesto ocupante da cadeira que fora ocupada por Décio, discorrer, emocionado, porém pleno de honraria, no tocante a trajetória desse petropolitano que só fez amealhar sinceras amizades para com seus inúmeros conterrâneos e associados desse IHP, sem falar na família a qual se dedicou com todo empenho.

Julian relata, outrossim, que seu pai deixou ainda os filhos, Fabian, nascido em 1973 e Giovan, nascido em 1976.

Interessado e perspicaz a respeito da tradicional família Kronemberger,  radicada em Petrópolis e na condição de estudioso acerca da árvore genealógica da mesma, acompanhado pelo Sr. Carlos Rheingantz, após alguns anos de muito estudo e pesquisas fez concluir o importante levantamento o qual, segundo pude colher, foi publicado na Tribuna de Petrópolis, em 1983.

Ainda, de acordo com informações obtidas junto ao filho, Décio fez escrever diversos artigos nos jornais Tribuna de Petrópolis e Diário de Petrópolis.

Uma de suas predileções, também, a de prestigiar as festas realizadas pelo município relacionadas com as famílias alemãs chegadas a Petrópolis;  sempre comemoradas com extremo sentimento de gratidão em razão do dedicado trabalho prestado com vistas a colonização da cidade, nos mais diferentes setores, levado a cabo por homens e mulheres de extrema garra e vontade de vencerem, o que diga-se de passagem conseguiram e fizeram transmitir a seus descendentes.

Por isso mesmo Décio veio se tornar membro do Clube 29 de Junho, participando, outrossim, de inúmeros grupos folclóricos – Bergstadt e Mosel Wolkstanze.

No aludido Clube teve oportunidade de organizar diversas festas com familiares de descendentes alemãs, carregando consigo o entusiasmo e a vontade de sempre prosseguir no trajeto por ele escolhido.

No tocante à família Kronemberger, coube a Décio a iniciativa da realização de sete festas, todas com intuito de propiciar a união entre as famílias e bem assim relembrar aquelas que aqui chegaram em 29 de junho de 1845; com relação a tal festividade, consta a participação de mais de duzentos e cinquenta pessoas a prestigiarem o evento, inclusive com a presença de descendentes da família radicados em diversos estados do país, como São Paulo, Distrito Federal e Piauí, além de outros que passaram a viver no exterior.

Décio, em face de sua trajetória ímpar, foi homenageado pela Câmara Municipal de Petrópolis da mesma tendo recebido a competente honraria, mediante o aplauso de familiares e amigos.

Décio José Kronemberger, segundo ainda pude constatar, em razão do seu modo de agir, do sentimento humanitário que incessantemente fez guardar com a finalidade de ajudar o próximo e em face de tantas outras qualidades que lhes fazia ornar o caráter, acabou por ser homenageado após o seu falecimento em evento comemorativo ao Dia da Chegada dos Primeiros Colonos Alemãs à Petrópolis, perante o monumento Koeler, recordados, também, naquele ensejo, no tocante aos restos mortais da Família Imperial cujos túmulos encontram-se na Catedral de Petrópolis – O Imperador D. Pedro II e sua esposa Teresa Cristina, sua filha a Princesa Isabel e seu esposo D. Luiz Gastão de Orleans.

Mas Décio como nunca desistiu de implementar suas idéias e propósitos, por isso mesmo manteve-se, constantemente, a colaborar, também, com o esporte em nossa cidade através da Liga Petropolitana de Desportos (LPD), onde teve atuação como Diretor, Tesoureiro, Técnico de escolinhas de futebol, em especial com referência ao Sport Club Magnólia e ao Petropolitano Futebol Clube.

Enfim, um lutador, um homem cujos objetivos sempre fez alcançar com êxito, e por isso mesmo, na condição de grande entusiasta da preservação da cultura germânica em Petrópolis, o presidente da AGFB assim se manifestou a propósito de Décio: “Ele era um exemplo mais do que evidente do que é a gana do povo alemão”.

E eu, na homenagem derradeira que lhe faço neste ensejo, confesso que procurei buscar e traçar para o papel os momentos mais importantes de sua vida e termino minha oração na certeza de que Décio descansa na Paz do Senhor.