A empresa C. Pareto & Cia e a Companhia Fiação e Tecidos “Cometa”

Maria de Fátima Moraes Argon – Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe

Em 5 de março de 1888, o Ministério da Fazenda do Império deu a concessão a uma Companhia para a instalação de uma fábrica de papel em terrenos do Meio da Serra, que pertenciam a Fábrica de Pólvora da Estrella da Serra. A concessão seria por 35 anos, sem responsabilidade alguma para a Fazenda Nacional nem indenização de benfeitorias.[1]

[1] Memorial (cópia datilografada) apresentado ao Ministro da Fazenda pelo capitão Angelo Mendes de Moraes sobre a situação da Fábrica Cometa, em terrenos do Patrimônio Nacional. Raiz da Serra, 25 de novembro de 1925. Arquivo Tristão de Athayde (CAALL/ATA/C/C19/114-2). Acervo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade/Ucam.

Mais tarde a fábrica de papel converteu-se em fábrica de linha, denominada “Manufactureira de Linhas Estrella”, permanecendo ali até março de 1897, quando abriu falência. Por alvará do Juiz da Câmara Comercial do Tribunal Civil e Criminal da Capital Federal, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, de 13 de fevereiro de 1897, os bens hipotecados ao Banco da Lavoura e Comércio do Brasil foram a leilão em 19 de março, pelo leiloeiro Joaquim Dias dos Santos, sendo adquiridos pelo valor de 196:000 Rs, conforme escritura pública de 10 de abril de 1897, por Pareto & Claviez (Carlo Pareto e Alexandre Claviez) para a empresa C. Pareto & Cia, que se encontrava em vias de organização, tendo sido constituída legalmente em 14 de abril de 1897. Entre 1897 e 1902, a firma despendeu cerca de novecentos contos de reis para ampliar e melhorar as instalações, tendo sido em 1902 aumentado o capital para 1.500:000 rs.[2]

[2] Requerimento (minuta por letra de Alceu Amoroso Lima) da Companhia Fiação e Tecidos “Cometa” ao Presidente do Conselho de Águas e Energia Elétrica. Sem local e data. Arquivo Tristão de Athayde (CAALL/ATA/C/C19/114-3). Acervo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade/Ucam.

Nestes terrenos do Meio da Serra é instalada a Fábrica de Tecidos “Cometa”, cujo anúncio é publicado no Almanak Laemmert, de 1898: “Carlo Pareto & Cia – Fábrica de Tecidos “Cometa”. Escritório Rua General Camara, 34 e 36. Rio de Janeiro”.

Em 1903 foi aberta a filial no Alto da Serra e, em 28 de março, Carlo Pareto, proprietário da fábrica de tecidos “Cometa” apresenta o requerimento nº 569 à Câmara Municipal de Petrópolis,[3] solicitando autorização para abrir 15 janelas na parede Oeste do prédio.[4] A empresa foi vendida naquele mesmo ano à Companhia Fiação e Tecidos “Cometa”, [5] que foi constituída em 6 de maio de 1903.[6]

[3] No requerimento se assina Carlos Pareto Araújo Junior. Acervo do Arquivo Público Municipal.

[4] Carta de Affonso Celso [de Assis Figueiredo Junior, Conde de Affonso Celso] a Manoel José Amoroso Lima – Solicita que não se abram janelas no prédio da fábrica [Cometa], ao lado da sua casa, visto que isso a tornará inabitável em consequência do barulho e dos resíduos do algodão expelidos pelos teares. Vila Petiote, Petrópolis, 18/11/1903. Anexo: bilhete verbal de Affonso Celso [de Assis Figueiredo, Conde de Affonso Celso] a Manoel José Amoroso Lima – Agradecendo por ter atendido o seu pedido. Vila Petiote, Petrópolis, 20/11/1903. (CAALL/ATA/DP). Acervo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade/Ucam.

[5] Carta (cópia datilografada, papel timbrado da Companhia Fiação e Tecidos “Cometa”) de Alceu Amoroso Lima ao ministro da Fazenda, Aníbal Freire da Fonseca. Rio de Janeiro, 27 de junho de 1925. Arquivo Tristão de Athayde (CAALL/ATA/C/C19/114-1). Acervo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade/Ucam.

[6] No anúncio da Companhia publicado em 1º de janeiro de 1920, na Tribuna de Petrópolis aparece 15 de maio de 1889 como a data de sua fundação. Aqui levantamos a hipótese de se tratar de um erro de digitação, sendo provavelmente o ano 1898.

De Cusatis (1988) afirma que “Pareto tinha como Diretor da Companhia o jovem, culto e diligente Signore Ítalo Isabela, sócio da Companhia.” Entretanto, no levantamento realizado no Almanak Laemmert aparecem como diretores Manoel José Amoroso Lima e A. Ambrosetti no período de 1903 a 1907. O nome de Italo Isolabella[7] só aparecerá como diretor em 1908, junto aos de Manoel José Amoroso Lima e James Gibson, todos eles permanecendo no cargo até 1917. É possível que os citados diretores fossem sócios da Companhia, mas tudo parece indicar que Manoel José Amoroso Lima era sócio majoritário.

[7] No Almanak Laemmert o sobrenome é grafado Isolabella e não Isabela.

Manoel José Amoroso Lima era um empresário que, em 1º de janeiro de 1848, associou-se a J. J. São Paulo (sucessor da firma Castelhões & São Paulo), passando a denominar-se J. J. São Paulo & Cia. Em 1º de janeiro de 1852, sucedendo a J. J. São Paulo & Cia fundou a firma Amoroso Lima & Mattos. Com a morte do sócio, estabeleceu a firma M. J. Amoroso Lima, que depois foi Amoroso Lima & Cia. Mais tarde, em janeiro de 1870, passou a ser Amoroso, Cerqueira & Cia; Amoroso, Oliveira & Cia; Amoroso, Cunha & Cia, e finalmente, em 1884, Amoroso, Costa & Cia (Armazéns de Fazendas por Grosso – consignações de Café, Fumo e outros gêneros) estabelecida na Rua de São Pedro, 54 e 56.

Em 1918, seu filho Alceu Amoroso Lima (1893-1983) assume a direção da Companhia Fiação e Tecidos “Cometa”[8] e, em 1937, vende a empresa a Pedro Montalvão Amado. Alceu Amoroso Lima dividiu a direção com Manoel F. Gomes no período de 1925 até 1934 e com Fábio de Aguiar Goulart,[9] de 1935 a 1937.

[8] Carta manuscrita (papel timbrado do Teatro Municipal do Rio de Janeiro) de Clelia ao sobrinho Wagner [Antunes Dutra], na qual cita: “[…] um pedido à conceituada Fábrica de Tecidos da qual é proprietário-diretor o dr. Alceu de Amoroso Lima […]”. Arquivo Tristão de Athayde. Coleção Wagner Dutra (CAALL/ATA/CWD). Acervo Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade/Ucam. Wagner Dutra trabalhou na Fábrica “Cometa”. Foi secretário de Alceu Amoroso Lima no Centro D. Vital e diretor-proprietário da revista A Ordem

[9] No Arquivo Tristão de Athayde (CAALL/ATA/C/G34/191-55) há vinte documentos de Fábio Aguiar Goulart a Alceu Amoroso Lima, do período de 1934 e 1947. A maioria é da década de 1940 e versa sobre a Liga Eleitoral Católica e a Ação Católica. Na carta datada de São Paulo, em 21 de fevereiro de 1939, menciona “agradeço a Deus a felicidade que me concedeu em permitir que trabalhássemos juntos durante alguns anos, que foram de tanto proveito e edificação para mim”.   São pequenas as referências à Fábrica Cometa e pela leitura depreende-se que não foi sócio tão somente ocupou o cargo de diretor.

Carlo Pareto & Cia atuava desde 1890 com importação de Fazenda, nos endereços Rua General Camara nº 36; Martins Pinheiro nº 2 e Petrópolis. Mais tarde, amplia os negócios e anunciam-se como banqueiros, importadores, exportadores, industriais e agentes de Fábrica, de Companhias de Navegação e do Banco di Napoli. Como Importador de fazenda foi agente da Companhia Fiação e Tecido “Cometa”, até onde foi possível apurar de 1903 a 1910.

REFERÊNCIAS

De Cusatis, José. Os italianos em Petrópolis. Revista do Instituto Histórico de Petrópolis, volume especial, 1988, p. 176-177.

Mesquita, Pedro Paulo Aiello. A formação industrial de Petrópolis. Curitiba: Editora Prismas, 2015.

Santos, Joaquim Eloy Duarte dos. Uma história para Teresa. Tribuna de Petrópolis, 27 maio 20021. Disponível em https://ihp.org.br/26072015/lib_ihp/docs/jeds20010527t.htm. Acesso em: 12 jan. 2021.