Francisco José Ribeiro de Vasconcellos

RESGATES PETROPOLITANOS

  RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Historiografar no atacado, é fácil; falar sobre figurões de extensa bibliografia, é mamão com açúcar. Difícil é tirar das profundas do esquecimento público as figuras locais, tratá-las no varejo e resgatar-lhes a memória, por vezes repleta de elementos edificantes, elos de uma corrente maior que une o tempo ao espaço. A alóctones e autóctones deve Petrópolis os seus dias de grandeza, de elegância, de “glamour”, de progresso material e espiritual. Alguns deles estão entronizados em praça pública, ou têm seus nomes expostos ostensivamente à entrada dos logradouros. Mas quantos há que ficaram nos desvãos da história, esquecidos numa gaveta, num armário ou numa sepultura sem lápide? É hora de exumar a memória dessa gente e fazê-la ressuscitar para o conhecimento dos viventes de hoje e da posteridade. Falemos de Ricardo Narciso da Fonseca que faleceu nesta cidade aos 17 de abril de 1912, aos 87 anos, depois de ter nela vivido quase sete décadas. Morreu no mesmo 1912 que levou ao túmulo o Barão do Rio Branco, o Visconde de Ouro Preto e Quintino Bocaiúva. Ricardo Narciso da Fonseca era pernambucano, nascido em 1825, no mesmo ano em que viera ao mundo o Imperador D. Pedro II. Mal saído da adolescência, veio para o Rio de Janeiro e, aos 19 anos, com a saúde abalada, subiu a Serra da Estrela para tentar recuperá-la. Corria o ano de 1844. A casa grande da fazenda do Córrego Seco estava ocupada pelo Major Julio Frederico Koeler, que então cuidava do projeto Petrópolis. O jovem Ricardo enquanto buscava a cura para os seus males tentava ocupar-se com alguns misteres. Segundo Antonio Machado ele trabalhou na reconstrução da estrada de Minas no trecho entre o Itamarati e Pedro do Rio; depois dirigiu um rancho de tropeiros no Alto da Serra e finalmente veio explorar o mesmo negócio no entorno da sede da fazenda do Córrego Seco. No contato com o Major Koeler, Ricardo Narciso da Fonseca foi tomando gosto pelo plano que estava criando a nova urbe serrana e, em pouco tempo o pernambucano tornava-se um dos principais colaboradores do Major. Desvio de rios, arruamento, plantio de árvores, preservação das encostas, em todos estes misteres fez-se presente o espírito incansável e otimista de Ricardo Narciso da Fonseca. Foi escrivão da Colônia de Petrópolis. No […] Read More

RESGATES PETROPOLITANOS

  RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Há anos um mistério encobre uma das facetas mais significativas da imprensa petropolitana. Quem sabe a publicação desta matéria não proporcionará o deslinde da questão? Recapitulemos. Em março de 1857 começou a circular nestas serras, à véspera da emancipação política da urbe, o jornal “Mercantil” de Bartolomeu Pereira Sudré. Em dezembro daquele mesmo ano, pela mão de Augusto Emilio Zaluar veio a furo o periódico “O Parahyba”. Aquele viveu até 1892; este morreu em fins de 1859. A coleção d ‘ “O Parahyba”, graças ao espírito lúcido e com enorme visão de futuro do colono e vereador Felipe Faulhaber, está depositada na Biblioteca Municipal de Petrópolis, reunida em dois grossos volumes. Os números do “Mercantil” de 1876 a 1892 também estão encadernados e integram o acervo da mesma Biblioteca, embora com algumas falhas, em virtude do empenho do jornalista Thomaz Cameron, que antes de morrer em 1909, destinou sua coleção de periódicos à instituição em epígrafe. Então perguntar-se-á: Onde foram parar os números do “Mercantil” de 1857 a 1875? Até hoje não consegui obter uma resposta convincente. Há muitas informações desencontradas, mas a triste verdade é que o mistério permanece. A Biblioteca Municipal não os tem. O mesmo acontece com as Bibliotecas Nacional e do Museu Imperial. Onde teriam ido parar tão preciosos documentos que poderiam reconstituir a vida petropolitana da década de sessenta e parte da de setenta do século XIX? Será que esses jornais integram ainda alguma coleção privada, algum acervo de família? Deparou-se-me uma pista ao estudar a figura insigne de Frederico Damcke, que foi contemporâneo de Julio Frederico Koeler, testemunha ocular da fundação de Petrópolis e escrivão da colônia. Encontrei na Biblioteca do Museu Imperial recortes da “Tribuna de Petrópolis” colhidos nas edições de 22 de novembro de 1959 e de 1° de janeiro de 1960. São transcrições de matérias de autoria de Frederico Damcke veiculadas durante o ano de 1857 pelo jornal “Mercantil”. No final do longo artigo que a “Tribuna de Petrópolis” trouxe a furo em 1° de janeiro de 1960, lê-se em letras garrafais: “COLEÇÃO DO JORNAL “O Mercantil” ANO DE 1857 PERTENCENTE AO ARQUIVO WALTER BRETZ.” Parece ficar claro que o arquivo do jornalista e escritor Walter João Bretz, falecido em 29/10/1944, possuía, entre outros documentos, a coleção do jornal “Mercantil”, […] Read More

MEMORIAL – BIBLIOTECA MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS

  MEMORIAL – BIBLIOTECA MUNICIPAL Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Esclareço, antes de mais nada, que não advogo em causa própria; trato de um tema de interesse público. Histórico Quando em novembro de 1971 radiquei-me em Petrópolis, para aqui fixar residência, encontrei a Biblioteca Municipal ocupando um pardieiro na esquina da Rua da Imperatriz com a Praça Visconde de Mauá, onde a luz havia sido cortada por questão de segurança. Dirigia então a Biblioteca a figura inesquecível de Yeda Lobo Xavier da Silva, que me permitia, apesar da precariedade do ambiente, fazer algumas consultas, usando eu uma lanterna para melhor decifrar o que continham os livros e periódicos. Foi nesse lúgubre e bizarro contexto, indigno de uma cidade como Petrópolis, que iniciei minhas pesquisas sobre a cultura e a história do município, sempre em caráter particular, sem qualquer ajuda, inclusive financeira de quem quer que fosse, principalmente do poder público a que nada devo. Durante a administração Paulo Rates (1973/1977) foi construído num dos lados da Praça Visconde de Mauá o prédio que deveria abrigar o Centro de Cultura, onde acomodar-se-iam a Biblioteca Municipal, propriamente dita, com suas dependências naturais quais fossem a chamada Sala Petrópolis, a Hemeroteca e o Arquivo Histórico, que, diga-se de passagem, tecnicamente deveria ocupar um outro espaço. Já no governo Jamil Sabra o novo edifício começou a tomar forma no concernente à prestação de serviços à cultura petropolitana. Avultavam ali duas figuras fundamentais: Hebe Machado Brasil, que presidia o então Departamento de Cultura e Yeda Lobo Xavier da Silva, que administrava a Biblioteca com extremo amor e zelo, aqui melhorando as condições de pesquisa, ali cuidando da preservação e modernização do acervo, acolá dando total atenção aos consulentes. E ainda lhe sobrava tempo para pesquisar e escrever. Para infelicidade de nós todos faleceu prematura e inesperadamente em setembro de 1991. Mergulhado profundamente em minhas investigações sobre Petrópolis e tomando por base o rico acervo existente na Biblioteca e adjacências, produzi as seguintes obras objetivando especificamente o município a partir de 1978: Petrópolis sua Administração na República Velha – 1.° vol. Petrópolis sua Administração na República Velha – 2.° vol. – 1981 Petrópolis do Embrião ao Aborto – 1.° vol. – 1981 Petrópolis do Embrião ao Aborto – 2.° vol. – 2008 Três Ensaios sobre Petrópolis – 1984 Petrópolis Capital Diplomática – Manuel […] Read More

RESGATES PETROPOLITANOS [MARIA ELVIRA MACEDO SOARES]

  RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Maria Elvira Macedo Soares nasceu em Paris aos 2 de novembro de 1911. Está pois a transcorrer o primeiro centenário de seu nascimento. Filha do político e jornalista José Eduardo de Macedo Soares, fundador e diretor-presidente de “O Imparcial” e do “Diário Carioca”, e de Adélia Costallat de Macedo Soares, ligou o seu destino a Petrópolis desde tenra idade. Seus pais adquiriram em 16 de dezembro de 1915 e 9 de fevereiro de 1918 a parte principal da Fazenda Samambaia que incluía a casa grande, vinda de meados do século XVIII e demais benfeitorias. Foram transmitentes Horacio Moreira Guimarães, filho do Barão de Guimarães e sua mulher Ana Maria Rocha Miranda Moreira Guimarães. Maria Elvira, que atendia na intimidade por Marieta, chegou portanto a Samambaia com quatro anos de idade e ali passou gostosos verões durante sua meninice e adolescência. De suas lembranças deu conta em interessante livro de 1977 que intitulou “Samambaia”, obra que tive o prazer de apresentar e anotar e que recebeu boa crítica de Luis da Câmara Cascudo em memoráveis cartas que dei à publicidade em “Camara Cascudo do Potengi ao Piabanha” Petrópolis, 1989. Em “Samambaia” há um capítulo dedicado às visitas regulares que durante o verão fazia à fazenda o Bispo de Niterói D. Agostinho Benassi (1868/1927), onde o prelado era recebido com toda a pompa e circunstância por D. Adélia, senhora conhecida por sua radical religiosidade. Mas aquelas férias de fim de ano na tranquilidade samambaiana sob o olhar compreensivo e simpático de D. Benassi, foram bruscamente interrompidas pela necessidade de mudar-se a família para a Europa por causa de perseguições políticas durante o governo de Artur Bernardes (1922/1926). Marieta foi internada num colégio em Wetren na Bélgica. De volta à pátria, retomou os veraneios em Samambaia, que a separação dos pais em 1929 não conseguiu prejudicar. Na partilha de bens do casal a fazenda tocou à D. Adélia, que no entanto já não pôde contar com as bênçãos regulares de D. Benassi, morto em 1927. Ao iniciarem-se os anos trinta dos novecentos, Marieta mudou-se para São Paulo para viver na companhia da avó paterna. Mulher de imensa coragem pessoal, meteu-se na revolução de 1932 como enfermeira de campanha dos revolucionários paulistas. Participou da resistência em Itapetininga e ali conheceu o primeiro marido, […] Read More

RESGATES PETROPOLITANOS [ JOÃO FRANCISCO BARCELOS]

  RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima João Francisco Barcellos foi dos grandes advogados fluminenses, ao lado de tantos outros de igual fama, a montar o seu quartel general aqui em Petrópolis, onde residiu, produziu imensamente e colecionou vasta clientela e inúmeros amigos. Nasceu na antiga Santa Teresa de Valença, hoje Município de Rio das Flores aos 26 de agosto de 1862. A 25 de maio de 1928 tombou fulminado por um ataque cardíaco, quando fazia sustentação oral no Tribunal da Relação (hoje de Justiça) em Niterói, à época capital do Estado do Rio de Janeiro. Fez o Dr. Barcellos curso de humanidades no Colégio Pedro II e, com os preparatórios na mão, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo, onde fez brilhante curso até bacharelar-se em 1885. Como todo moço de sua época, era abolicionista e republicano. Radicando-se em Petrópolis, engrossou as fileiras dos que pugnavam pelo fim da Monarquia. Já na República, durante o governo de José Thomaz da Porciúncula, foi Chefe de Polícia do Estado e Secretário do Interior e Justiça. Eleito deputado federal não tomou posse de sua cadeira na Câmara, abandonando definitivamente a política. Nunca ficou suficientemente esclarecida essa súbita decisão. Homem de caráter forte e incorruptível, alicerçado em sólidos princípios éticos e filosóficos, deve ter experimentado alguma contrariedade para tomar atitude tão radical. Entregou-se dali em diante de corpo e alma à advocacia, ganhando fama, não só por seus conhecimentos jurídicos e habilidade no desempenho profissional, mas também por sua retidão, pelo espírito de justiça e sobretudo pelo repúdio à chicana, à treita, ao chamado apostolado do embuste. Foi o defensor intimorato de quantos necessitavam ver amparados os seus direitos, ainda que as causas não rendessem a seu patrono honorários suficientes. Nesse modelo espelhar-se-ia com certeza Heráclito Fontoura Sobral Pinto. João Francisco Barcellos foi membro do Conselho Diretor e Presidente do Banco Construtor do Brasil. João Francisco Barcellos morava à Rua Silva Jardim n° 163 e de lá saiu o cortejo fúnebre com número avultado de pessoas em direção ao Cemitério Municipal. Ainda nesse mesmo ano de 1928 a Prefeitura Municipal de Petrópolis por sugestão do Dr. Luiz Pessoa Cavalcanti, e de Amadeu Guimarães, Spartaco Banal e Francisco Costa Bastos Filho, todos residentes no Itamaratí, baixou o Ato n° 43 de 26 de outubro, dando o nome de João […] Read More

RESGATES PETROPOLITANOS [ANTONIO AUGUSTO DE AZEVEDO SODRÉ]

  RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Antonio Augusto de Azevedo Sodré, de tradicional família fluminense, nasceu em Maricá aos 13 de fevereiro de 1864 e morreu em sua Fazenda da Quitandinha, aqui mesmo em Petrópolis, a 1º de fevereiro de 1929. Era irmão de Antonio Candido de Azevedo Sodré, pai de Alcindo de Azevedo Sodré, o mago do 16 de Março, idealizador e primeiro diretor do Museu Imperial. O Dr. Alcindo, por ocasião da morte de seu tio e também sogro, era Vice-Presidente da Câmara Municipal de Petrópolis, médico de vasta clientela e responsável pela direção do “Jornal de Petrópolis”. Médico também foi Antonio Augusto que se formara pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1885. Contava então 21 anos e não titubeou em submeter-se a concurso para professor da escola em que vinha de colar grau. Embora aprovado em 1º lugar, deixou de ser nomeado pelo Imperador em virtude de sua pouca idade. O jovem não desanimou. Abrindo-se novo concurso, Antonio Augusto a ele se submeteu classificando-se uma vez mais em 1º lugar. Foi então nomeado para a cadeira de clínica médica, que regeu com brilhantismo e enorme dedicação por 39 anos. Teve enorme clientela no Rio de Janeiro, tendo publicado alguns trabalhos de elevado valor científico, entre eles “Patologia da Icterícia” e “A Febre Amarela”. Nesta teve a colaboração de Miguel Couto. Fundou Antonio Augusto o semanário “Brasil Médico”, que durante muito tempo foi o único periódico no gênero no país. Foi Diretor da Faculdade de Medicina, Presidente da Academia Nacional de Medicina, tendo presidido em 1910 o Congresso Médico Latino-Americano que se reuniu no Rio de Janeiro. Foi secretário de Francisco de Castro no Instituto Sanitário Federal, destacando-se no trabalho da extinção da cólera morbus durante a epidemia que se alastrou pelo vale do Paraíba. Dirigiu a instrução pública do Distrito Federal e foi Prefeito do Rio de Janeiro de 6 de maio de 1916 a 15 de janeiro de 1917, durante a presidência de Wenceslau Braz. Eleito Deputado Federal pelo Estado do Rio de Janeiro, destacou-se na Câmara em duas legislaturas como membro das comissões de instrução e de higiene públicas. Antonio Augusto de Azevedo Sodré foi fundador e diretor-médico da Companhia de Seguros A Equitativa, a maior empresa no gênero de seu tempo em todo o território nacional. […] Read More

RESGATES PETROPOLITANOS [JOÃO BAPTISTA DE CASTRO]

  RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima João Baptista de Castro faz parte daquele grupo de pessoas que são maiores no atacado do que no varejo. Era natural de São João del Rei, onde nasceu a 1º de dezembro de 1849. Jovem ainda foi mandado para a Inglaterra e depois para a França onde cursou o Liceu Saint Louis em Paris. Rumou em seguida para Gand, na Bélgica, em cuja universidade diplomou-se em engenharia industrial. Sua graduação deu-se em 1873. De volta ao Brasil, casou-se no Rio de Janeiro com a filha do comendador João Martins Cornélio dos Santos. Fixou-se com a família em Juiz de Fora, onde o fizeram vereador, cargo que ocupou por pouco tempo, tendo-o deixado para assumir a direção da Estrada de Ferro de Juiz de Fora ao Piau. Unindo os seus conhecimentos técnicos que lhe advieram da boa formação universitária ao seu inegável espírito empreendedor, João Baptista de Castro conseguiu pelo decreto geral n.º 9715 de 5 de fevereiro de 1887, privilégio pelo prazo de dois anos para explorar fosfato de cal na fazenda Taipas, Município de Queluz (atual Conselheiro Lafaiete), na então Província de Minas Gerais. Havia no decreto em epígrafe uma certa preocupação com o meio ambiente, dispondo ele, por exemplo, que o concessionário ficava obrigado a “dessecar os terrenos alagados em virtude dos trabalhos da exploração, restituindo-os no seu antigo estado, de modo que não possa ser prejudicada a saúde dos moradores da circunvizinhança.” Passando a residir no Rio, tornou-se João Baptista de Castro comissário de café. Fez-se membro da Sociedade Nacional de Agricultura, vindo a ser um dos grandes propagandistas do cooperativismo. Militando entre os republicanos, privou da amizade de Quintino Bocaiuva, no Rio de Janeiro e de João Pinheiro em Minas Gerais. A convite deste prestou relevantes serviços aos cafeicultores mineiros, participando de congressos, simpósios, seminários. Sua ação em prol da agricultura e da pecuária fez-se sentir também em São Paulo. Foi dos grandes propagandista das qualidades do gado zebuíno; em Aparecida estudou as vantagens de certa leguminosa responsável pela melhora na lactação das vacas; em Piracicaba presenciou a inauguração da Escola Agrícola Luiz de Queiroz, hoje uma referência nacional. João Baptista de Castro foi grande produtor rural nos estados do Rio de Janeiro, de Minas e de São Paulo. Envolvido no movimento de 15 de […] Read More

CENTENÁRIO DE NELSON DE SÁ EARP (O)

  O CENTENÁRIO DE NELSON DE SÁ EARP Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Quem sai aos seus não degenera, diz o velho ditado popular. Foi exatamente o que ocorreu com Nelson de Sá Earp. Na linha materna era ele neto de Hermogênio Pereira da Silva, o homem que deu envergadura político-administratriva a Petrópolis no início da República. Médico oftalmologista, foi várias vezes vereador entre 1892 e 1910, elegendo-se quase sempre Presidente da Câmara, à época com funções executivas. Com uma visão extraordinária da vida pública, jamais inaugurou uma obra, simplesmente entregava-a à população, pois estava no estrito cumprimento de seu dever. E não foram poucas as suas realizações nos quase vinte anos em que esteve à frente dos destinos petropolitanos. Pelo flanco paterno Nelson de Sá Earp era neto de Arthur de Sá Earp, misto de baiano e escocês, com estágio nas Minas Gerais e pouso definitivo em Petrópolis, onde também exerceu a medicina, foi Vereador e Presidente da Câmara, notabilizando- se pelo ambicioso plano de obras que executou na primeira década do século XX. Interessante notar que os médicos brasileiros sempre revelaram significativa eficiência e muita sensibilidade quando engajados na administração pública. Médicos foram Juscelino, A.C.M., Pedro Ernesto, Hermogênio Pereira da Silva, Arthur de Sá Earp, pai e filho, Joaquim Moreira, Oswaldo Cruz, Paula Buarque, Mário Pinheiro e também Nelson de Sá Earp. Ungido pela Santa Cruz nasceu Nelson nesta cidade aos 3 de maio de 1911. Foi aluno do Colégio São Vicente de Paulo. Estudou Medicina no Rio de Janeiro e ali poderia ter feito carreira brilhante. Contrariando preceito milenar, preferiu ser profeta em sua terra. Ainda na década de trinta dos novecentos firmou- se como clínico em sua cidade. Naquele tempo baldaram-se-lhe os arroubos políticos barrados pelo Estado Novo, ditadura braba que durou de 1937 a 1945. Com a redemocratização do país a partir de 1946 afloraram em Nelson de Sá Earp os desejos de servir a seu povo como político e administrador. Ia assim cumprir a segunda vocação de seus troncos familiares. E Nelson elegeu-se Vereador, foi Presidente da Câmara, confiando-lhe Petrópolis a Prefeitura em 1958. Fui um de seus eleitores na primeira eleição de que participei na vida. E desde então passei a acompanhar de perto a sua eficiente e brilhante trajetória de médico e de homem público. Não obstante tão absorventes […] Read More

JOAQUIM NABUCO E A INTERVENÇÃO ESTRANGEIRA

  JOAQUIM NABUCO E A INTERVENÇÃO ESTRANGEIRA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Em agosto de 1895 Joaquim Nabuco publicou nas páginas do “Jornal do Comércio” do Rio de Janeiro uma série de artigos sobre a intervenção estrangeira durante a Revolta da Armada, artigos esses que foram reunidos num livro sob o título “A Intervenção Estrangeira”. No prefácio datado de 25 de dezembro de 1895 disse Nabuco que a origem dos referidos artigos estava no fato que passara desapercebido a muita gente, qual fosse “a ligação entre o procedimento do Comandante do navio português Mindelo, Augusto de Castilho, dando asilo a revoltosos em perigo” e “a parte que Castilho tivera na intimação ao almirantado” de neutralizar o ataque à cidade do Rio de Janeiro. Joaquim Nabuco não podia compaginar o comportamento da esquadra estrangeira surta na Baía da Guanabara, neutralizando a ação dos revoltosos, impedindo o impiedoso bombardeio da Cidade de Rio de Janeiro, com a reação do governo do Marechal Floriano condenando o procedimento humanitário do Comandante português, protegendo do massacre aqueles que um dia, estando mais fortes, puseram em risco a segurança da Capital Federal. Era uma questão de equidade e de justiça. Acima de tudo um dever de humanidade, de cavaleiro fidalgo, que não tripudia sobre o vencido, depois de ter sido poupado por este, quando tinha os cordéis do poder nas mãos. Augusto de Castilho teve um advogado à altura de seu gesto, o Dr. Alves de Sá, que, em sua defesa, consoante Joaquim Nabuco, “demonstrou que o seu cliente praticara um ato glorioso para a Marinha Portuguesa e que salvara os restos da nossa Armada de um massacre, à moda de 1793, a bordo dos navios.” Disse mais Joaquim Nabuco nesse seu memorável prefácio em que não esconde o desprezo que devotara à figura pequena, mesquinha, medíocre e sanguinária de Floriano Peixoto, o falso consolidador da República: “A ferocidade exibida na mutilação do corpo de Saldanha da Gama um ano depois, autoriza a pensar que ele teria tido a mesma sorte de Lorena, dos irmãos Artur e Álvaro de Carvalho, do Marechal Batovy e dos outros militares feitos prisioneiros no Desterro, se tivesse caído vivo em poder da Ditadura. Para o Conselho de Guerra, que tinha de julgar Castilho, essa nota de humanidade, a mais aguda de todas, dominava qualquer outra.” A chamada […] Read More

REPENSANDO EUCLIDES DA CUNHA

  REPENSANDO EUCLIDES DA CUNHA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima No transcurso do primeiro centenário da morte de Euclides da Cunha (1866/1909), a perspectiva temporal já permite considerações que vão muito além do comezinho, tantas vezes repetido por preguiçosos e pelos que trabalham à base de tesoura e cola. Desaparecido aos 43 anos de idade, ele parecia ser o autor de uma obra só “Os Sertões”, que veio a lume numa pequena edição em 1902. Euclides e “Os Sertões” se amalgamaram de tal forma, que formaram um corpo único, aparentemente indivisível, como se não houvesse mais nenhum Euclides da Cunha além de sua obra maior, pelo volume e pelo conteúdo, sem dúvida das maiores produzidas no Brasil dos novecentos. Daquela parte aos dias que correm (em 2012 celebrar-se-ão 110 anos da primeira edição de “Os Sertões”) tornou-se comum e corrente confundir-se esta obra com a Guerra de Canudos, como se ela tivesse como escopo tratar desse instigante tema. A vinculação sempre foi inevitável, embora o episódio canudeano tenha servido como pano de fundo para tamanho cometimento literário e científico. Num artigo intitulado “Imagens de ‘Os Sertões’” publicado na edição de 11 de agosto de 2002 do jornal “Voz de Nazaré”, Bahia, disse o articulista José Augusto Afonso: “Muito mais do que um relato de Canudos e da figura de Antonio Conselheiro, a obra é uma interpretação explicativa de cunho sociológico de um Brasil diferente, o da caatinga, dos nordestinos miseráveis e excluídos”. Mais adiante: “Na verdade Euclides e “Os Sertões” procuraram traduzir uma explicação para um Brasil real que nada tinha a ver com a cultura européia ou os hábitos afrancesados da elite que vivia no eixo Rio – São Paulo”. Tem-se, por conseguinte, que haveria muito mais Canudos além de “Os Sertões” como muito mais sertão além de Canudos. No primeiro caso porque as causas apontadas para o conflito no sertão baiano eram equivocadas e serviam apenas para açular os jacobinos ante as teóricas pretensões sebastianistas. Demais, porque o Brasil não soube ou não quis colher as lições canudeanas, tentando abolir ou ao menos diminuir o profundo abismo que separava o país pé duro do país vitrine, onde uma tênue camada de verniz francês disfarçava a grossaria atávica dos pretensiosos litorâneos. No segundo caso porque o sertão nordestino tem infinitas facetas e relevante complexidade, no qual […] Read More