Maria de Fátima Moraes Argon

ALUNO ALCEU E O PROFESSOR KOKPE (O)

ALUNO ALCEU E O PROFESSOR KOKPE (O) Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe Assim começa a carta [i] dirigida a Alceu Amoroso Lima (1893-1983), datada de 14 de agosto de 1926 e assinada simplesmente Winckelmann: “Permitta-me V. a quem perdi de vista ha tantos annos e venho agora encontrar, pelas saudades e recordações que acaba de trazer á beira do tumulo de um velho Mestre, o mesmo menino que conheci como o derradeiro discipulo de meu pobre Pae; […] meu comovido ‘obrigado’ pelas palavras de seu artigo de domingo último”. [i]  Arquivo Tristão de Athayde. Acervo do Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade – CAALL (Rua Mosela, 289 – Petrópolis), unidade da Universidade Candido Mendes. Quem era Winckelmann? Quem era o velho Mestre? Recorrendo aos jornais com os quais Dr. Alceu colaborava, localizamos n’O Jornal, edição de domingo, 7 de agosto, o artigo “O precursor” que elucidava a questão: tratava-se do professor João Kopke e de seu filho, Winckelmann Köpke (1886-1951). Esse e outros artigos de Dr. Alceu publicados n’O Jornal e na Revista do Brasil, nos anos 1926 e 1927, foram reunidos na sua obra Estudos (1927). Neste belíssimo e poético texto, Alceu Amoroso Lima revela a importância do professor particular na formação de sua mentalidade: “[…] aquele que representara, para mim, o primeiro contacto com as coisas da intelligencia”. É possível captar a afetividade construída entre o mestre e o aluno: João Köpke procurou sempre na criança o gosto da criança. Viveu com a infância e inserido na alma infantil. Desde o seu método de aprender a ler, que reagia contra o ensino triste, abstracto, mecânico das cartilhas e do b a-ba […]. Eu bem me lembro, por exemplo, que aprendi a escrever e a compor sem saber uma simples regra de gramática. E Köpke fazia questão de estimular a espontaneidade infantil. Aos nove anos de idade, quando ingressou no Ginásio Nacional, o menino Alceu levou um choque com o contraste, como ele próprio declara: “o ensino me appareceu em todo o seu horror de inquisição, de rigidez, de impersonalidade, de abstracção secca e distante”. Para ele, as aulas de Kopke eram “uma pequena aventura que abria realmente horizontes, sem cansar, sem pesar, com a illusão do fácil e do não ensinado mas apenas conversado”. João Kopke nasceu em Petrópolis, a 27 de novembro de 1852, e faleceu no Rio […] Read More

D. PEDRO II E SULLY PRUDHOMME, DOIS CONFRADES DO INSTITUTO DE FRANCE

D. PEDRO II E SULLY PRUDHOMME, DOIS CONFRADES DO INSTITUTO DE FRANCE Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe O amor pela poesia uniu o imperador D. Pedro de Alcântara (1825-1891) e o escritor e poeta parnasiano Sully Prudhomme (1839-1907), 1º Prêmio Nobel de Literatura obtido em 10 de dezembro de 1901. Ambos pertenciam ao Instituto de França – o segundo, eleito para a Academia Francesa (de Letras) em 8 de dezembro de 1881 e o primeiro, para a Academia de Ciências em 1º de março de 1875, como correspondente na seção de geografia e navegação e, posteriormente, como membro associado estrangeiro na mesma seção, em junho de 1877. A relação literária entre eles pode ser comprovada por meio do diário de D. Pedro II e das cartas de Sully Prudhomme conservados no arquivo particular da família imperial, denominado Arquivo da Casa Imperial do Brasil (POB), doado ao Museu Imperial em 1948. Neste arquivo há uma numerosa correspondência de políticos, intelectuais, escritores, poetas, artistas e amigos com quem D. Pedro II mantinha contato, além de poemas, artigos e traduções por ele realizados. A atuação tradutória de D. Pedro II tem sido objeto de estudo de um grupo de pesquisadores do Núcleo de Estudos do Processo Criativo/NUPROC e da PGET, da Universidade Federal de Santa Catarina. O fato de ser poliglota – falava latim, francês, inglês, italiano, alemão, espanhol, hebraico, grego, árabe, sânscrito, provençal e tupi-guarani – permitiu-lhe fazer traduções do grego, do hebraico, do árabe, do francês, do alemão, do italiano e do inglês. Traduziu vários textos de obras como As Mil e Uma Noites e autores como Longfellow, Manzoni, Victor Hugo, Homero, Liégeard. Na carta de Paris, 17 de abril de 1891, Sully Prudhomme comenta acerca da candidatura do poeta Stéphen Liégeard (1830-1925) para membro da Academia Francesa, que, segundo ele, contava com o apoio de D. Pedro II. É possível que D. Pedro tenha se encontrado com Sully Prudhomme durante a sua terceira viagem à Europa (1887-1888), mas a primeira referência encontrada no diário data de 7 de fevereiro de 1888, ano da publicação de “Le Bonheur”: “1h. Acabei de ler o folhetim dos Débats de ontem sobre o poema “Le Bonheur” de Sully Prudhomme”. Anos mais tarde, D. Pedro pediu um exemplar, conforme podemos conferir pela carta datada de Cannes, em 20 de julho de 1890, que foi recentemente […] Read More

LUTA DA PRINCESA D. ISABEL PELA MATERNIDADE (A)

LUTA DA PRINCESA D. ISABEL PELA MATERNIDADE (A) Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe No século XIX, o papel da mulher era o de esposa e mãe; a ela cabia procriar, educar os filhos, cuidar da casa e servir obedientemente ao marido. As princesas D. Isabel e D. Leopoldina casaram-se em 1864 e, já em janeiro do ano seguinte, o tema da maternidade começa a fazer parte da correspondência trocada entre a imperatriz D. Teresa Cristina e suas filhas recém-casadas. Logo em fevereiro, D. Leopoldina anuncia a sua gravidez a D. Isabel: “Só a você por ora é que Gousti [duque de Saxe] deu licença para annuncial-o mas por ora não sei se aí vou ter um ou uma como já lhe disse”. Pela leitura das cartas, percebe-se a angústia de D. Isabel em não conseguir engravidar; a cada notícia falsa sobre o seu estado, aumentava a sua frustração. No final, pedia à família que não comentasse com ninguém até que os médicos confirmassem o diagnóstico. As suas esperanças foram diminuindo ano a ano. Como mulher, sofria a dor e a decepção de não se tornar mãe e como futura imperatriz, a pressão por parte da sociedade e da classe política para gerar o herdeiro, a quem caberia dar continuidade à Monarquia. Enquanto travava uma das suas maiores lutas pessoais, sua irmã tornava-se mãe de quatro filhos homens: Pedro Augusto (1866), Augusto Leopoldo (1867), José (1869) e Luís (1870). Em 1868, D. Isabel e o marido, conde d’Eu, partiram para Minas Gerais a fim de visitar a estação de águas que tinha grande eficácia no tratamento da esterilidade, mas não teve o resultado esperado. Mais tarde, em sua terceira viagem à Europa, por indicação de sua tia paterna, D. Francisca, princesa de Joinvilhe, teve consulta com o médico francês, Dr. Depaul, em 18 de abril de 1873, que lhe recomendou tratamento hidroterápico em Bagnères-de-Luchon.  Visitou também a estação de águas termais de Bad Gastein, na Áustria, além de ter-se submetido aos banhos de mar, realizando, desta vez, depois de quase dez anos, o tão esperado objetivo de engravidar. No quinto mês de gravidez, seguindo o conselho dos médicos, Dr. Feijó que a acompanhou na viagem, Dr. Depaul e Dr. Campbell, obstetra da rainha Vitória, D. Isabel escreveu ao pai pedindo que fosse dispensada da exigência do artigo 2º do Contrato Matrimonial, […] Read More

TRINTA E CINCO ANOS DE SILÊNCIO

TRINTA E CINCO ANOS DE SILÊNCIO Maria de Fátima Moraes Argon, associada titular, cadeira n.º 28, patrono Lourenço Luiz Lacombe O aniversário do Centro de Cultura Raul de Leoni, fundado em 30 de janeiro de 1977, foi amplamente divulgado pela imprensa e ganhou merecida comemoração com a exposição “35 anos de Cultura”. O citado centro de cultura, o maior do interior do Estado do Rio de Janeiro, abriga a Biblioteca que é a terceira maior do Estado, contando com cerca de 140 mil títulos, e o Arquivo Histórico, o primeiro arquivo municipal do Estado é criado pelo Decreto n.º 198, de 7 de janeiro de 1977 pelo então Prefeito Paulo Rattes. O Arquivo é dividido em dois setores: Arquivo Histórico e Arquivo Central, sendo o primeiro subordinado à Fundação de Cultura e Turismo e o segundo, à Secretaria de Administração. O Arquivo Histórico que também completou 35 anos, lamentavelmente, não foi lembrado, o que talvez seja um reflexo do fato de nunca ter conseguido ocupar o seu espaço na administração pública. O Arquivo Histórico perdeu a autonomia administrativa e está ligado à Biblioteca Municipal, onde ocupa duas salas sem as condições exigidas para sua adequada instalação e, principalmente, encontra-se inviabilizado para receber novos lotes documentais transferidos do Arquivo Central. O armazenamento e o acondicionamento da documentação são insatisfatórios. Não há recursos materiais. Há um isolamento administrativo e a inexistência de integração entre os arquivos corrente, intermediário e permanente. Conta o Arquivo Histórico com apenas uma funcionária que, incansavelmente, luta, há quase trinta anos, para manter o seu funcionamento, para atender aos cidadãos e pesquisadores que têm o direito de acesso à documentação garantido pela Constituição. A aposentadoria da servidora está próxima, situação que agravará ainda mais esse quadro tão desanimador e desastroso. A perspectiva de mudança não é nada satisfatória, já que a Lei n.º 6.769, de 20 de julho de 2010, publicada no Diário Oficial do Município de Petrópolis, que dispõe sobre a reorganização administrativa dos cargos e das funções da Fundação de Cultura e Turismo e dá outras providências, prevê para a Seção do Arquivo Histórico: 1 chefe de seção; 1 arquivista e 2 auxiliares de biblioteca (por que não auxiliares de arquivo?). Os profissionais de História e de Conservação não foram contemplados e o número é muito reduzido para o volume documental (aproximadamente 700 mil documentos). O Arquivo Histórico abriga cerca de 700 mil documentos do período […] Read More

POSSE DE ALESSANDRA BETTENCOURT FIGUEIREDO FRAGUAS

  POSSE DE ALESSANDRA BETTENCOURT FIGUEIREDO FRAGUAS Maria de Fátima Moraes Argon, associada titular, cadeira n.º 28, patrono Lourenço Luiz Lacombe Senhor Presidente Luiz Carlos Gomes, demais membros da Diretoria, Senhoras e Senhores. Inicialmente, desejo expressar meus agradecimentos ao nosso presidente pelo convite que me fez para saudar nossa confreira Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas a qual tive a honra de indicar para o quadro de associada titular do Instituto Histórico de Petrópolis. Em outra ocasião indiquei três historiadores para o quadro de associados correspondentes, mas esta é a primeira vez que indico, para uma cadeira titular, movida pela certeza de que Alessandra assumirá o compromisso de contribuir para a execução dos objetivos e das metas do nosso Instituto Histórico. Alessandra obteve o título de Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1994, e o de Licenciada em História pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP), no ano de 2008, com a monografia Edward Palmer Thompson e Pierre Bourdieu: aproximações em defesa da História, sob orientação do professor Leandro Duarte Rust. Dentre os projetos de pesquisa do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ dos quais participou, destaco: A construção social da classe trabalhadora do Rio de Janeiro: o caso dos migrantes nordestinos e Brazilian Professors: Public University, Protest and Democracy. Ressalto ainda sua recente atuação na preparação do dossiê sobre o conjunto documental relativo às viagens do Imperador D. Pedro II pelo Brasil e pelo mundo, apresentado pelo Museu Imperial ao Comitê do Programa Memória do Mundo da UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – que concedeu à instituição a nominação para o Registro Nacional. Da produção de Alessandra cito, apenas como referência, os trabalhos: O habitus e o hábito de D. Pedro II: novos olhares sobre os diários do imperador (2011); Diários de D. Pedro II:viagens de conhecimento e reconhecimento (2011); Escola e patrimônio histórico: preservar o patrimônio histórico, conhecer a nós mesmos (2008); Desconstruindo o mito da democracia racial: um olhar diferenciado sobre a obra de Gilberto Freyre (2005); O movimento docente nas universidades públicas e o reflorescimento da sociedade civil na década de 1980 (1994); O movimento docente na imprensa escrita (1993). Essa solenidade de hoje é extremamente importante para o IHP e, consequentemente, para cada um de nós, pois é através do ingresso de novos acadêmicos que o Instituto se renova e […] Read More

JÚLIO FREDERICO KOELER

  JÚLIO FREDERICO KOELER Maria de Fátima Moraes Argon, associada titular, cadeira n.º 28, patrono Lourenço Luiz Lacombe Exmo. Sr. Prefeito Paulo Mustrangi, Sr. Presidente do IHP, Luiz Gomes, demais autoridades, Senhoras e Senhores Agradeço o convite feito pelo confrade Luiz Gomes, Presidente do Instituto Histórico de Petrópolis, e pelo Clube 29 de Junho, para ser a oradora nesta solenidade de homenagem ao Major de Engenheiros Júlio Frederico Koeler, dentro das comemorações dos 166 anos da chegada dos colonos alemães a Petrópolis. Não sendo especialista no assunto, essa é a segunda vez em que me arrisco a tratar desse tema. A primeira foi em 2001 quando, convidada para colaborar na edição especial comemorativa da Festa do Colono Alemão, organizada pela Tribuna de Petrópolis, escrevi um ensaio intitulado Breves Considerações sobre a memória dos colonos alemães, no qual tratei do Museu Casa do Colono, alegando que o museu não representa um espaço de reflexão sobre o significado deste legado do passado como experiência coletiva de formação da cultura e da sociedade, mas sim um monumento que existe e é preservado simplesmente como testemunho deste passado. Hoje, exatamente 10 anos depois, um passo importante é dado nesse sentido: a assinatura do decreto de tombamento desse patrimônio de Petrópolis. Estarmos diante do monumento de Júlio Koeler para comemorar a colonização germânica implica refletir sobre tradição, memória, patrimônio e cidadania. A primeira homenagem ao Major Engenheiro Júlio Frederico Koeler, que construiu a primeira cidade programada e planejada do Brasil, foi feita em 1895, ano do cinquentenário da colonização germânica em Petrópolis, pela Câmara Municipal que resolveu denominar de Avenida Koeler a então Avenida 28 de Setembro, antiga Rua D. Afonso. Nesse mesmo ano, um grupo de pessoas da sociedade local resolveu criar uma comissão encarregada de promover subscrições populares para construir uma estátua em homenagem a Júlio Koeler, um dos fundadores da cidade de Petrópolis. Depois de inúmeras tentativas frustradas o projeto foi retomado em 9 de julho de 1953, quando o Prefeito Cordolino Ambrósio designou uma comissão para tratar do assunto do monumento, sendo, finalmente, depois de quase cento e dez anos da morte de Koeler, inaugurado em 23 de janeiro de 1955, como um ato de gratidão do povo. O Historiador Paulo Knauss, coordenador da obra Cidade vaidosa: imagens urbanas do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro: Sete Letras, 1999), observa que “A gratidão certamente é o enunciado que corresponde ao maior […] Read More

DO SOBRADO AO PALÁCIO AMARELO

  DO SOBRADO AO PALÁCIO AMARELO Maria de Fátima Moraes Argon, associada titular, cadeira n.º 28, patrono Lourenço Luiz Lacombe Na casa n.º 12 da Rua Paulo Barbosa, residência da Família Rocha, onde hoje se encontra erguido o Edifício Rocha, foi instalada a Câmara Municipal de Petrópolis em 17 de junho de 1859, tomando posse os vereadores Albino José de Siqueira, Manuel Francisco de Paula, Manuel Cândido do Nascimento Brito, Augusto da Rocha Fragoso, João Batista da Silva, Inácio José da Silva. A referida casa e os móveis foram emprestados à Câmara pela Superintendência da Fazenda Imperial de Petrópolis, conforme informação extraída da ata da 2ª sessão da Câmara, de 21 de junho de 1859. Em 10 de fevereiro de 1862, o Imperador D. Pedro II visitou este prédio, conforme relata em seu diário: “Fui ver o edifício da Câmara Municipal. Tinha avisado o presidente da Câmara que aí se achava bem como o procurador. A casa não é má; porém conviria em lugar de pagar aluguel de um conto comprá-la […].” Correio – Rua do Mordomo – Museu Imperial O legislativo petropolitano provavelmente permaneceu neste prédio até 1863 quando então transferiu-se para o sobrado de propriedade de André Flaeschen. No dia 17 de novembro de 1863, o procurador da Câmara, Gregório José Teixeira e o proprietário da casa sita à Rua do Imperador n.º 1, André Flaeschen celebraram o contrato de arrendamento por quatro anos da referida casa, a contar do dia 15 de novembro de 1863, para servir de sede do legislativo. Tratava-se do prazo n.º 1416 da Renânia Inferior, onde funcionou o Bali Beer, esquina das atuais ruas Professor Pinto Ferreira e Dr. Nelson de Sá Earp. O contrato certamente foi renovado, pois na ata da 13ª sessão ordinária, de 17 de setembro de 1877, André Flaeschen apresentou um requerimento de 11 de agosto, no qual pediu pagamento dos aluguéis da casa que a Câmara ocupou de janeiro a julho do corrente ano. 2_CMP_12 Museu Imperial Em 9 de março de 1877, na 4ª sessão ordinária, o Vereador Paulino Afonso Pereira Nunes apresentou uma proposta para que a Câmara mudasse para a casa da Rua do Imperador n.º 52, sobrado, em frente ao jardim público (mais tarde foi o n.º 555/571 da Av. 15 de Novembro), já que o proprietário da casa em que atualmente a Câmara funcionava tinha elevado o aluguel para 1:000$000 réis. Os vereadores […] Read More

POSSE DE MARIA DE FÁTIMA MORAES ARGON – LEMBRANÇAS DE LOURENÇO LUIZ LACOMBE

  POSSE DE MARIA DE FÁTIMA MORAES ARGON – LEMBRANÇAS DE LOURENÇO LUIZ LACOMBE Maria de Fátima Moraes Argon, associada titular, cadeira n.º 28, patrono Lourenço Luiz Lacombe Já há alguns anos venho sendo convidada para ingressar nesse Instituto Histórico de Petrópolis, mas sempre considerei que não era o momento certo de aceitar, apesar de ser um momento por mim muito esperado e com a certeza de que seria muito especial. Quando meses atrás recebi o convite do professor Jeronymo, meu professor de História Antiga no curso de História da UCP, para me tornar sócia efetiva, pensei: É chegada a hora! Hoje realmente me sinto preparada e, acima de tudo, motivada a participar de forma mais ativa e direta de suas ações e reflexões. Sempre me senti como parte deste Instituto mesmo que informalmente. Sinto-me em casa, isto porque desde 1980, quando ingressei como estagiária no Museu Imperial, passei a ter contato com o Instituto através de três de seus membros: Lourenço Luiz Lacombe, Dora Maria Pereira Rego Correia e Áurea Maria de Freitas Carvalho. Depois, em 1982, como funcionária, passei a ter contato com outros membros do IHP que na qualidade de pesquisadores iam ao Arquivo Histórico do Museu Imperial buscar subsídios para a elaboração de seus trabalhos. Com alguns tive uma relação rápida, mas nem por isso menos produtiva. Durante essa relação, fui não só aprendendo com eles, mas acima de tudo, admirando e respeitando o trabalho de cada um. E o mais importante, eu fui fazendo amigos. Na verdade, a minha formação está intimamente ligada a cada um de vocês. Quando recebi a comunicação oficial de que a Assembléia aceitara a minha indicação e que a posse seria hoje, dia 9 de fevereiro, tive a honra de saber que o patrono era Lourenço Luiz Lacombe, a quem, na oportunidade, eu deveria fazer um breve elogio. Preocupada com essa missão fiquei desde o dia 24 de janeiro pensando: O que vou falar? Daí percebi que falar da sua formação acadêmica, relacionar seus feitos, exigiria de mim conhecimento e pesquisa, mas não era exatamente isso o que eu desejava. Falei da minha insegurança para uma outra pessoa que me é muito cara, José Gabriel da Costa Pinto, e ele disse: “Fale do seu dia a dia com ele, certamente você conseguirá o que deseja”. Refletindo sobre esse conselho, cheguei à seguinte conclusão: realmente, contar histórias vividas por mim e […] Read More

NO CORAÇÃO DA CIDADE HÁ UM PALÁCIO E SEU JARDIM

  NO CORAÇÃO DA CIDADE HÁ UM PALÁCIO E SEU JARDIM… Maria de Fátima Moraes Argon, associada titular, cadeira n.º 28, patrono Lourenço Luiz Lacombe O jardim petropolitano do Imperador Pedro II é um espaço freqüentado até hoje pela população da cidade e seus visitantes. D. Pedro II pelo Decreto nº 155, de 16 de março de 1843, determinou, entre outras medidas, arrendar a Koeler a sua fazenda do Córrego Seco, reservando um terreno suficiente para ali se edificar um palácio para si, com suas dependências e jardins. A importância deste jardim histórico reside não só no seu aspecto paisagístico e nas raridades de suas espécies, mas também como um lugar de contemplação, de estudo, de lazer, de saudade, de lembranças, de segredos e, sobretudo, o seu vínculo estabelecido com a cidade de Petrópolis. Em 18 de abril de 1858, a Princesa Isabel com doze anos incompletos, escreve a seu pai D. Pedro II: “A Condessa [de Barral] nos levou a passear um boucadinho no jardim recitando a minha historia antiga porque tinha um sol muito bonito”. Mais tarde, dez anos depois, já casada, ela escreve a sua mãe D. Teresa Cristina: “Escrevo-lhe esta cartinha para pedir-lhes dois magníficos pés de camélias brancas que existem no jardim, para eu levá-los para as Laranjeiras [local de sua residência no Rio de Janeiro]”. Nos tempos de exílio da Família Imperial, o Visconde de Taunay escreveu no ano de 1891 diversas cartas a D. Pedro, falando de seus sentimentos de angústia e dor com os rumos políticos do Brasil. Na carta de 7 de julho de 1891, ele assim se expressa: “No meu retiro de Petrópolis ponho-me a pensar em muita cousa e não raro me coloco no Parque Imperial, tão cheio de grandeza em seu abandono, para, a gosto, meditar as lições do tempo e dos sucessos […]. A execução dos jardins ao lado e em frente ao Palácio Imperial que iam até a Rua do Imperador coube ao parisiense Jean Baptiste Binot que se achava instalado em Petrópolis desde 1847. O contrato assinado entre Binot e a Superintendência da Imperial Fazenda de Petrópolis, em 1854, foi citado por diversos autores como Alcindo Sodré e Lourenço Luiz Lacombe, mas até hoje nunca havia sido publicado em sua íntegra. Códice 16 do Arquivo Grão Pará 1854 Nº 9 Contrato celebrado para a fatura dos jardins do Imperial Palácio de Petrópolis entre João Batista […] Read More

PENSANDO A CIDADE…

  PENSANDO A CIDADE… Maria de Fátima Moraes Argon “A união entre o passado e o futuro está na própria idéia de cidade, que a percorre tal como a memória percorre a vida de uma pessoa e que, para se concretizar, deve conformar a realidade, mas também conformar-se nela. E essa conformação permanece em seus fatos únicos, em seus monumentos, na idéia que temos deles…”.(Aldo Rossi. A arquitetura da cidade. 1995). Petrópolis constitui-se numa referência fundamental pela sua trajetória de cidade fundada e “vivida” por D. Pedro II e, mais tarde, como capital do Estado do Rio de Janeiro a sua paisagem sofreu e sofre uma série de transformações diárias que vão dando lugar a novos “lugares”. Podemos citar, por exemplo, a residência do Barão de Quartim que foi demolida para dar lugar ao Edifício Quartim; a antiga casa onde funcionava a Biblioteca Municipal que deu origem ao prédio do Centro de Cultura Raul de Leoni; o antigo Hotel Max Meyer, atual Edifício Minas Gerais, e os sobrados da Praça D. Pedro II que deram vez ao Edifício Arcádia. Tais mudanças são resultados das exigências, contradições e dos conflitos inerentes à gestão da cidade, lembrando que muitas delas foram e são feitas em nome do progresso e da modernidade. É preciso destacar que estes símbolos da cidade são testemunhos de modos de vida e experiências, e que as imagens são testemunhos desta transformação. Portanto, é preciso que os cidadãos se reconheçam nestes sinais e registros do passado, e não que tenham apenas as lembranças subjetivas, pois isto acaba por conferir aos “donos do poder” e aos especialistas a capacidade exclusiva de decidir sobre os símbolos que devem ou não ser preservados. Em Petrópolis – não diferentemente do que ocorreu em outras cidades – foi consagrado e definido o que era digno de ser preservado e de integrar o patrimônio da cidade – as sedes do poder político, religioso e militar, classes dominantes, com seus feitos e modos de vida. Além dos bens móveis e imóveis e, constituem também o Patrimônio, os documentos escritos e iconográficos (particularmente os de suporte fotográfico). A falta de documentos sobre um determinado grupo ou ação acaba por apagar marcas importantes do cotidiano e da experiência social vivenciada por grandes contingentes da população, que se torna alijada da reflexão para constituir-se em cultura. Cabe ao governo municipal a implantação de projetos que resultem na ampliação de […] Read More