Vera Lúcia Salamoni Abad

IMIGRAÇÃO ÁRABE NO BRASIL – UMA QUESTÃO DE IDENTIDADE – REFLEXOS EM PETRÓPOLIS

IMIGRAÇÃO ÁRABE NO BRASIL – UMA QUESTÃO DE IDENTIDADE – REFLEXOS EM PETRÓPOLIS Vera Lúcia Salamoni Abad, Associada Titular, Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima   A crônica da imigração árabe para o Brasil pode se valer de muitos pontos de vista. Estudos acadêmicos buscam determinar uma data para o início de um movimento imigratório, mas não chegam a uma conclusão. Estatísticas mostram em números quantos vieram, sem poder precisar suas origens pela diversidade de documentos de viagem. Recentemente, alguns importantes trabalhos foram elaborados a partir de informações colhidas em entrevistas com descendentes dos que aqui vieram ter. Enfim, são estes últimos os melhores contribuintes na obtenção de informações para a elaboração de uma narrativa consistente deste processo singular dentro de nossa história. A história de Petrópolis também faz a sua parte e contribui com dados e fatos de alguma relevância, curiosidades talvez. Sem deixar de notar que foi seu criador, D. Pedro II, um fator importante no processo da imigração árabe para o Brasil. 1 – INÍCIO DA IMIGRAÇÃO. Apoiada nos estudos de Knowlton (1960), Safady (1972) e outros, Maria Lúcia Mott, em seu capítulo sobre a imigração árabe no livro “Brasil 500 anos de povoamento”, registra datas para a presença de imigrantes árabes no Brasil como 1880 com a chegada de Yussef Moussa, ou dos irmãos Zacarias em 1874 ou até mesmo que a verdadeira origem de Antônio Elias Lobo, o português que doou a Quinta da Boa Vista a D. João VI fosse libanesa. Sabemos que em Petrópolis, em 1860, já existia o Hotel Oriental de propriedade de Said Ali, de origem dita turca. O fato é que presenças pontuais não caracterizam propriamente um movimento migratório e o modo como se deu a imigração, famílias trazendo seus membros aos poucos, um parente trazendo outros, amigos, vizinhos, sempre por conta própria em navios provenientes de Marselha ou Gênova, só permite o registro de um número significativo de pessoas a partir do final do século XIX e início do século XX. Muitos vieram antes da guerra de 1914 e mais outros logo depois, ao ser restabelecido o transporte marítimo normal até os anos 30 decrescendo em número nos primórdios da Segunda Guerra Mundial. 2 – ORIGEM “O processo deu-se principalmente na área geográfica conhecida como Bilad al-Sham (Territórios de Damasco) ou Surya (Síria). O termo Síria era usado desde a Idade Média por geógrafos árabes para […] Read More

PLANO DIRETOR DE PETROPOLIS – PROPOSTA DE EMENDAS IHP 2011

PLANO DIRETOR DE PETROPÓLIS – PROPOSTA DE EMENDAS IHP 2011 Comissão: Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva Vera Lúcia Salamoni Abad, Associada Titular, Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Patrícia Ferreira de Souza Lima, Associada Titular, cadeira n.º 36 – Patrono José Vieira Afonso INSTITUTO HISTÓRICO DE PETRÓPOLIS 2011 PROPOSTA DE EMENDAS AO PROJETO DO PLANO DIRETOR DE PETRÓPOLIS ihp (protocolo Câmara Municipal CM 0631/06.04.2011)   Embasados em tudo quanto consta das Considerações Especiais e Gerais constantes do presente documento, submetemos a exame as emendas ao final apresentadas e justificadas. As notas se destinam a certificar as citações e a fornecer a base interpretativa em seu contexto.   I – CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS II – CONSIDERAÇÕES GERAIS III – EMENDAS PROPOSTAS   I – CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS   Necessariamente, quando se trata de criar uma lei, como é o caso, tem-se que trabalhar o ordenamento jurídico como um todo. Esta não é uma questão menor ou desprezível. Se se luta por uma lei, ela há de ser feita o mais perfeitamente possível, sob pena de se perder a matéria substancial, o melhor propósito e a mais nobre intenção por causa de um defeito instrumental. A apreciação atual é a do Plano Diretor. Em primeiro lugar tem-se que colocar sobre a mesa a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Lei n.º12.376, de 30/12/2010) e dar especial atenção a seu artigo 2º e seu parágrafo 1º. Dizem eles: Art. 2° – Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1° – A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. (NOTA 01) “Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro.” (Redação da LEI Nº 12.376/30.12.2010) Art. 2° – Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. § 1° – A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. § 2° – A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. § 3° – Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. […] Read More

CONSIDERAÇÕES SOBRE A BANDEIRA REPUBLICANA DO BRASIL

CONSIDERAÇÕES SOBRE A BANDEIRA REPUBLICANA DO BRASIL Vera Lúcia Salamoni Abad, Associada Titular, Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima   1 – INTRODUÇÃO Em 2009 quando ruiu parte do teto do prédio que abriga o Templo da Humanidade, sede da Igreja Positivista do Brasil na cidade do Rio de Janeiro, tornou-se notícia a descoberta das relíquias do acervo ali guardado. Dentre elas, esquecidos numa gaveta estavam os desenhos do projeto de uma nova bandeira para o Brasil republicano idealizada pelos seguidores da filosofia positivista do francês Augusto Comte (1798 – 1856). Figura 1 e 2 site templodahumanidade.org.br desenhos atualmente em restauração Tratava-se de dois desenhos da esfera central da bandeira: um em papel milimetrado com um esboço do todo e de alguns detalhes, como as estrelas, e outro em papel vegetal com o desenho definitivo do projeto. Além dos esboços em papel, existia uma pintura a óleo sobre tela com as cores que seriam usadas para realizar o projeto. (fig.1,2,3) Figura 3 acervo Igreja Positivista do Brasil. Tela de Décio Vilares, atualmente desaparecida Causou surpresa a muitos e aos historiadores em particular que tais documentos estivessem assim descuidadamente relegados ao abandono assim como o próprio local onde costumavam se reunir pessoas que influenciaram diretamente a instalação do regime republicano no nosso país. Ao mesmo tempo, considerando os desenhos encontrados, vemos a preocupação dos artífices do projeto na representação de uma esfera celeste na nova bandeira, a imagem do céu austral com destaque do “Cruzeiro do Sul”, o que parece vir de encontro ao conceito SULEAR criado um século depois da feitura de nossa bandeira pelo físico e antropólogo Marcio D’Olne Campos. O termo SULEAR estabelece uma distinção no modo de se situar em relação aos pontos cardeais contrapondo-se à prática advinda dos povos residentes no hemisfério norte, notadamente os europeus. Tal prática, comum no hemisfério norte, tomando por direção o sol nascente de dia e a Estrela Polar à noite, torna-se totalmente inadequada no hemisfério sul, de onde a Estrela Polar não é visível. À noite, é o Cruzeiro do Sul que indica a direção para o Polo Sul. Assim, o verbo Sulear se contrapõe ao verbo Nortear, por estar mais de acordo com a ótica do sul. Mas além disso, também problematiza o hábito de se aceitar o que sempre foi imposto como o certo ou melhor apenas por tradição colonial e constitui um rompimento com […] Read More

DISCURSO DE POSSE – Vera Lúcia Salamoni Abad

Sr Luiz Carlos Gomes Ilustre presidente do Instituto Histórico de Petrópolis Autoridades presentes Caros parentes e amigos aqui presentes   Sinto-me muito honrada e feliz de hoje fazer parte do Instituto Histórico de Petrópolis como associada efetiva. Perguntaram-me se viria fazer parte do acervo. . ainda não. Ser aceita no Instituto Histórico, como fui aceita na Academia Brasileira de Poesia, representa para mim, não um prêmio ou um coroamento de carreira, mas uma oportunidade única de aprendizado. A oportunidade de poder crescer em meu trabalho através do  convívio com aqueles que, por experiência e sabedoria, detêm  os meios próprios para nos desenvolver, e a chance de assim poder oferecer o trabalho que puder produzir para o crescimento desta instituição. Este é meu propósito.  É, portanto, como aprendiz que aqui me coloco e neste primeiro momento. Obrigada.   E o aprendizado começa logo ao conhecer mais a fundo o trabalho da pessoa que me coube como patrono e sobre quem devo discorrer neste momento.   Patronos são escolhidos pelas academias por serem figuras históricas, homens de letras, (mulheres, também!), pessoas que se destacam nos âmbitos relacionados com os propósitos acadêmicos. Intitulam os acadêmicos (pelo menos os da ABL) imortais. Claro, ninguém é imortal. Mas a dita humana imortalidade existe em uma obra, em certos feitos, e mesmo assim, não prescinde do relato passado de geração para geração para que se perpetue e, se tal relato não for por escrito, periga de ser deturpado ou esquecido para sempre.  Falo de matéria prima com a qual lido há bastante tempo: a palavra, a palavra escrita,  a memória, cerne do conhecimento histórico. O relato da história tem a ver com a memória, informação e preservação.    Assim, mesmo sem citar o seu nome, meu patrono já está presente em dois aspectos importantes do conhecimento histórico: relacionar-se com os que detêm os mesmos propósitos e raízes para promoção do próprio crescimento e a memória, fator essencial  à preservação da identidade para que o desenvolvimento se faça a partir do conhecimento.    Foi através da excelente pesquisa realizada pela prof.a Priscila Ribeiro Dorella da Universidade Federal de Minas Gerais,*(1) que travei conhecimento da obra de   Silvio Júlio Albuquerque Lima.   *(1) DORELLA, Priscila. Silvio Júlio de Albuquerque Lima: um precursor dos estudos acadêmicos sobre a América Hispânica no Brasil. Belo Horizonte UFMG, 2006. Dissertação apresentada ao curso de Mestrado do Programa de Pós-graduação do Departamento de História […] Read More

EXTERNATO MODELO – Um exemplo de escola primária particular em Petrópolis

EXTERNATO MODELO – Um exemplo de escola primária particular em Petrópolis, na primeira metade do século XX Vera Lúcia Salamoni Abad, Associada Titular, Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima, com a colaboração de Patrícia Ferreira de Souza Lima, Associada Titular, cadeira n.º 36 – Patrono José Vieira Afonso   Tópicos: 1. Memória Testemunho dos ex-alunos e descendentes das professoras do Externato Modelo. 2. A escola primária do Império ao início do século XX A República Primeiras regulamentações: cada estado/província fazia a sua O Currículo A Nova Escola 3. Escola de cunho familiar Escola particular no fundo do quintal 4. O Externato Modelo O prédio – o local, instalações A família Corrêa As professoras 5. As práticas O dia a dia O currículo O uniforme Recursos Horários Festas Prêmios Ação educativa 6. O legado O que deve ser registrado e guardado Aprendizagem para o presente e para o futuro   EXTERNATO MODELO “O segredo da verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias”. O dizer encontra-se em epígrafe na abertura da obra Viva o Povo Brasileiro de João Ubaldo Ribeiro, onde a história do nosso povo é relatada por seus protagonistas. Este é um modo válido de se registrar a história: a verdade multi facetada, dependente de vários olhares diferentes resultante de inúmeros pontos de vista torna inviável um relato único dos fatos. Ao procurar os fatos relativos ao Externato Modelo, escola que constituiu um marco na educação petropolitana na primeira metade do século XX, constatamos que os dados que registram sua existência são escassos, quase nada podendo se encontrar em documentos oficiais. Restou-nos assim, o recurso de basear este trabalho nas histórias e guardados, memórias dos descendentes das professoras e dos que ali receberam seus ensinamentos escolares, como se dizia, onde “aprenderam as primeiras letras”. Chamados a prestar seus depoimentos, todos acolheram com prazer a oportunidade de falar sobre suas experiências infantis no trato com suas professoras, no dia a dia do trabalho escolar, nos convívio com os colegas e principalmente no que ficou para suas vidas como resultado do processo educativo que receberam no Externato Modelo. A todos agradecemos de coração, o carinho, a atenção, a presteza em atender ao chamado, a valiosa colaboração. Com o conteúdo de tais testemunhos e dados recolhidos, apresentamos a seguir, a ser registrada nos arquivos do Instituto Histórico de Petrópolis, a memória do Externato Modelo que funcionou de cerca de 1927 […] Read More