Oazinguito Ferreira da Silveira Filho

DISCURSO DE RECEPÇÃO A LUCAS VENTURA DA SILVA PELO ASSOCIADO TITULAR OAZINGUITO FERREIRA DA SILVEIRA FILHO

DISCURSO DE SAUDAÇÃO A LUCAS VENTURA DA SILVA Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, Cadeira nº 13 – Patrono Amaro Emílio da Veiga   Cumprimento a todos os presentes e venho aqui para conversar sobre o Lucas, um jovem que está sendo convidado a participar de um grupo de na maioria de veteranos e compor esta escola. Há algum tempo eu falava com a Fátima Argon, Luiz Carlos Gomes e vários outros, que nós temos uma academia e que o mais importante é construirmos história, pentear essa história da própria cidade. Ficamos presos no Séc. XIX durante muito tempo e vários dos nossos historiadores do passado tiveram obras maravilhosas. Estive revendo a obra do “Centenário”, fantástica, de fôlego, e que sofreu críticas. O próprio Raul Lopes dizia que deveria ser revisitada porque muitos dos seus pontos ainda estavam conflitantes para ele.  Nós temos um arquivo público imenso, requerimentos com relação ao tratamento das obras urbanas, das questões do governo Fiúza que precisam ser visitados, digitalizados. Nós temos uma das maiores hemerotecas no país com coleções de jornais fantásticos. Na primeira década do Séc XX tivemos a impressão de cerca de duzentos jornais. Inclusive eu trabalhei bastante com Marcello de Ipanema com relação a isso na citação da obra quando fez o “Anuário Fluminense” com todos os jornais. E também com o Vasconcellos foi uma obra de fôlego, quando receberam em 1984 um trabalho do Lacombe por causa disso. Eu era em 1984 tão jovem quanto você, Lucas. Era difícil fazer pesquisa e ser aceito pela própria academia, pois o historiador local não era aceito, nem mesmo a história local.  Hoje em dia é que se está buscando a história local e tentando simplesmente trabalhar pontos que são positivos e construtivos. O Joaquim Eloy quando viu uma publicação minha em 1986 na Tribuna de Petrópolis com uma foto salva de ópera, inédita e raridade de época, encenada neste espaço – casa em que estamos. Não se pode deixar de falar da história operária que foi sufocada, nós chegamos a ter metade da população dos anos 30 de operários e que o Fiúza lhes retirou a educação porque ela estava lhes dando condições para que pudessem galgar novas formações sociais dentro da cidade, novos empregos e colocações. Nós tínhamos fábricas, um centro financeiro formado pelo Banco Construtor, Banco de Petrópolis de 1928 que depois se tornou o Banco do Brasil, a Companhia Telefônica […] Read More

GRANDE GUERRA E PETRÓPOLIS (A)

GRANDE GUERRA E PETRÓPOLIS (A) Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, Cadeira n.º 13 – Patrono C.el Amaro Emílio da Veiga “A grande guerra”, como ficou conhecida, ocorreu em época onde não se discutia se uma guerra era justa ou injusta, como hoje é corrente, mas nada lhe retira a imagem de processo desumano, bárbaro de imensa irracionalidade. Sua denominação permaneceu até os anos 30, possuindo origem em uma guerra europeia que se expande arrastando aliados. Resultado do choque entre poderes políticos de Estados que se propunham hegemônicos com discursos nacionalistas, xenófobos, destruidores. Coroados pelos interesses econômicos do imperialismo, geoestratégico, tecnológicos que se orientaram por ideologia de superioridade nacional neodarwinista, evoluindo posteriormente para discurso racial. Sua representatividade era sinônimo da arrogância econômica das nações que arrotavam hegemonia à época. René Remond (1974) questionava o porquê de se atribuir tamanha importância à guerra? Não estaríamos superestimando seu papel? Suas consequências foram tão decisivas a ponto de mudarem a história da humanidade? Quanto às responsabilidades, presumidas ou aceitas, como no caso da Alemanha, perguntamos ainda o porquê da Alemanha ter desejado o conflito? Questão nacional? Econômica? Expansão? Necessidade vital do militarismo prussiano? A procura por novos mercados? Rivalidade com a Inglaterra? Poder, domínio ao custo de mais de dez milhões de mortos. Uma aventura nesta contabilidade hoje centenária! Pode ser que tenha transformado os países nela implicados, pois alteraram regimes, negócios, fronteiras, sistemas de forças, mas o mundo não se tornou melhor, pelo contrário em seu vácuo surgiram conflitos imensos que produziram seis vezes mais o número de mortos que esta. Discute-se ainda se a segunda guerra não seria sua extensão, garantida pela subdivisão. Continuidade em uma extensa faixa temporal de conflitos camuflados por disputas menores e imensos genocídios? Para o nosso país, noticiários dos jornais da Capital Federal refletiam esta surpresa, de certa forma com grande entusiasmo como registrou o jornal A Noite: “O entusiasmo do povo aglomerado na nossa artéria principal não tinha limites” (Avenida Rio Branco); “… à aparição de um símbolo das nações aliadas, vivas eram ouvidos acompanhados de salva de palmas, de aclamações ruidosas…”. Mas todo este entusiasmo não se compararia aos problemas vividos por nossa localidade serrana no decorrer de 1917 (Tribuna de Petrópolis). Em outubro, o “paquete” Macau, brasileiro, foi torpedeado por um submarino alemão no Atlântico, sendo o quarto, fato que “… conduziu nosso governo a proclamar o estado de guerra entre o […] Read More

OUTRO FRÓES, O COLECIONADOR (O)

OUTRO FRÓES, O COLECIONADOR (O)   Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, Cadeira n.º 13 – Patrono C.el Amaro Emílio da Veiga   Já dizia Susan Sontag “Colecionar fotos é colecionar o mundo” (p.13), não importando o tamanho deste mundo assim como de seu alcance sobre o mesmo. A história de um sitiante de São José sempre me atormentava o inconsciente sobre o tamanho do seu universo quando foi trazido para a cidade e se sobressaltou com o que viu. Não seria este o caso de José Kopke Fróes (1902-1996) que preso aos umbrais de nossa cidade conhecia como ninguém cada quadrante desta “urb”, rememorava cada qual dos ocupantes deste espaço citadino, sendo a fotografia não uma mania, muito mais os “nervos” da cidade, de seu cotidiano, “…o resultado mais extraordinário da atividade fotográfica é nos dar a sensação de que podemos reter o mundo inteiro em nossa cabeça.” (Sontag,1983). José Kopke Fróes era o irmão de Gabriel (1897-1986), ambos apaixonados pelo “lugar”, parte integrante de sua história, colecionadores de memórias. Gabriel o “tecelão de memórias” por crônicas, contos e fichamentos, já José o caçador de livros, pois era bibliotecário e pesquisador de imagens, vasculhava pedra sobre pedra procurando identificar cada local presente em postais, fotos, cada esquina, cada comércio, cada morador. “Fotografar é apropriar-se da coisa fotografada.”, dizia Sontag, mas para Zé que não se dedicava ao mister, colecionar constituía-se na ação mais preciosa, apoderava-se do sentido presente na imagem, “encarnava” o espírito da cidade, forma de apropriação da representação, empoderava-se da identidade urbana. “Fotos fornecem um testemunho. Algo de que ouvimos falar mas de que duvidamos, parece comprovado quando nos mostram uma foto.” (Sontag). Assim entrevistei (1983) “Zé Fróes”, em uma das suas diversas exposições pela cidade, sendo esta exatamente nos saguões do prédio dos Correios e Telégrafos. Com sua calma peculiar, transmitida pela idade, saboreava as fotos expostas identificando não somente os cenários, mas se detendo sobre o tempo em que foram batidas. Possivelmente por quem as tivesse batido. Conhecimento ou propriedade ímpar que o remetia ao lugar apaixonado, espírito das imagens, sua cidade. Sua primeira exposição, transcorreu quando do centenário da chegada dos colonos alemães a Petrópolis (veja foto), no salão principal da Câmara Municipal, sendo ele o bibliotecário-chefe da biblioteca do município nesta época, portanto trinta e oito anos antes de nossa entrevista pela Tribuna de Petrópolis. José ainda comentou que sua coleção estimulara […] Read More

REVOLUÇÃO RUSSA: CENTENÁRIO ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA

Revolução Russa: Centenário Acima de Qualquer Suspeita Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, Cadeira n.º 13 – Patrono C.el Amaro Emílio da Veiga “A revolução de outubro de 1917 é o ponto de partida de um movimento histórico, cujas sequencias estendem até nós e que ainda não esgotou os seus efeitos.” (Rene Remond).   Remond, não deixa de ter razão ao afirmar que seus efeitos não cessaram, principalmente quando em nossa sociedade a polarização atual e reflexa se estabelece na disputa entre “mortadelas & coxinhas”, indicador de posições ideológicas ancoradas nas questões partidárias. Por estes sintomas contemporâneos, não podemos negar que a “revolução russa” de 1917, marcou o início de uma experiência cujos reflexos se processam à atualidade, pois se constituiu em sua época em um desafio concreto à ordem burguesa e capitalista da sociedade. O movimento possibilitou no período a transformação da sociedade e das relações sociais de produção, conduziu a ocorrência de uma ruptura social e política sem precedentes que possibilitou manifestações espontâneas de um grupo até então invisível no circulo político da sociedade industrializada, o operariado urbano. Assim é praticamente impossível não repensar a revolução russa e seu contexto de época, quando uma sociedade com 170 milhões de habitantes com 80% da população vivendo oprimida no campesinato, extremamente miserável, recém-liberada de um secular regime de servidão atroz, onde servos falecidos dignificavam candidatos à nobreza (Gogol). Mas impossível ainda é não a contextualizarmos em sua época e seu momento político extremamente opressivo comportando violências e genocídios como heranças do czarismo. Naquele exato momento a população sangrava em uma serie de combates nos cenários de guerra com o Japão, cuja derrota significou a destruição e miséria, com uma vitória para uma nação que se industrializou rapidamente como o Japão da Era Meiji. Em menos de uma década a Rússia foi inserida a força no cenário da Primeira Grande Guerra europeia, por puro capricho do Czar que se indispôs rufando seu nacionalismo ao dos germânicos, resultando na deserção de milhares de soldados russos onde o maior contingente era de mutilados que marchavam em fétidas fileiras de famintos para terra que pertencia ao “paizinho” (Czar). Independente do perfil ideológico, o movimento revolucionário foi necessário, pois o momento exigia reações que não poderiam ser contestadas na época. Mesmo que houvessem saído de um cenário de dominação, passaram a um novo dominador, onde o império de uma sociedade burocrática comunista se estabelece […] Read More

CONTRIBUIÇAO À HISTÓRIA DA IMPRENSA PETROPOLITANA “O DIABO PETROPOLITANO DA BELLE EPOQUE”

CONTRIBUIÇAO À HISTÓRIA DA IMPRENSA PETROPOLITANA “O DIABO PETROPOLITANO DA BELLE EPOQUE”[1]  [1] Publicado na primeira pagina do segundo caderno da Tribuna de Petrópolis, em 10 de dezembro de 1983. Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, Cadeira n.º 13 – Patrono C.el Amaro Emílio da Veiga    No decorrer de 1982 ao iniciarmos nossas românticas pesquisas sobre a História da Imprensa Petropolitana, não poderíamos nunca imaginar que tal empreendimento nos forneceria tão apurado, raro e rico material documental para diversas publicações . E nem mesmo poderíamos conceber que a Petrópolis de outrora fosse tão dinamicamente diferente da inerte cidade que hoje conhecemos. Assim sendo, após um longo ano de estudos e pesquisas conseguimos catalogar e documentar trazendo ao conhecimento de nosso público, inúmeros elementos até então totalmente desconhecidos pelas novas gerações, e é o que de certo modo nos continua estimulando ante tão difícil, sedutor e nada rendoso afazer, porém que em seu todo se torna espiritualmente e profissionalmente compensador.  Não nos foi também sem méritos que as obras sobre História da Imprensa no Brasil do Professor Nelson Werneck Sodré e os diversos artigos especializados do professor Marcelo Ipanema, além do estimulo de diversos amigos com suas criticas e observações, nos amadureceram para que nos dedicássemos de corpo e alma a esta árdua iniciativa.  Assim com o apoio da equipe de direção da Tribuna de Petrópolis que nunca mediram esforços para que tais publicações se realizassem, e o material coletado e impresso hoje seguisse o perene caminho do registro histórico.  Por tal, é que no interregno das publicações que ora se seguem dominicalmente sobre “A Imprensa Petropolitana na República Velha”, procuramos um assunto também pitoresco e relativo a imprensa e que pudéssemos no máximo esplendor técnico das possibilidades da Tribuna [2], imprimir, nos mais puros requintes da originalidade do documento como textualmente registrando assim de forma definitiva uma revista que marcou época na imprensa petropolitana. Pela sua altivez, beleza, leveza e pureza tanto de impressão como critico-humoristico, como foi O DIABO.  [2] Já com impressão em off-set nesta época foi possível reproduzir a página do no. 1, assim como a primeira e última página (8) do no. 2, onde a arte predominava. Ressaltando-se na gravura da pagina 8, onde está “Petrópolis em caricatura”. Teria a mesma que no conjunto de publicações da época do nosso antigo Distrito Federal, Rio de Janeiro, Possuir enorme destaque, não fosse haver escapado o […] Read More

PETRÓPOLIS FASCISTA (UMA): CAMISAS NEGRAS, PARDAS E “GALINHAS VERDES”

  UMA PETRÓPOLIS FASCISTA: CAMISAS NEGRAS, PARDAS & “GALINHAS VERDES” Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga A notícia da coluna de Ricardo Boechat no jornal O DIA de 09/11/2006, p.5, não surpreenderia aos petropolitanos que conviveram próximos ou vivenciaram o descrito. Ela cita o andamento de uma tese de doutorado de Cléa Shiavo, “Pioneiros alemães de Nova Filadélfia: relatos de mulheres”, sobre uma célula fascista na zona norte do Rio, mais precisamente em Campo Grande, entre os anos 20 e 45. Eu já sabia que a representatividade comunista na mesma área fora muito grande, pois meu pai, oriundo de Bangu pertencera às fileiras do partidão, mas desconhecia esta presença fascista. No caso de Petrópolis, desde as publicações para o Centenário da Tribuna de Petrópolis, apresentamos descrições desta forte presença. Enquanto na Capital o aliancismo marchava com recrutamentos recordes no interior, principalmente na região serrana, caso petropolitano, a expansão nazifacista se processava abertamente. Encontramos em 18/07/1933, a notícia de uma festa que foi promovida pela colônia italiana local em homenagem ao agente consular, Sr. Felipe Gelli, e que foi idealizada pelo secretário da célula do “fascio” local, Vicente Marchese. Festa esta idealizada pela secção feminina do mesmo “fascio”. Já em 17/10 do mesmo ano, os jornais noticiavam, com fotos, a inauguração da nova sede do “fascio” petropolitano que agora se fazia presente na Avenida XV de Novembro n.º 275, e que comportava o “do polavoro” (associação) e um curso de língua italiana anexo ao mesmo conjunto. “O dia de anteontem há de ficar assinado na história da colônia italiana de Petrópolis com letras de ouro” (Tribuna de Petrópolis). O que denunciava que havia uma cumplicidade do redator da época. Em 01/11/1936, o jornal noticiava com destaque (foto), a ocorrência comemorativa da “Marcha sobre Roma”, e que uma festa patriótica se realizava em Petrópolis convidando o povo, “O Fascio Paolo Diana, desta cidade, celebrando o aniversário da Marcha sobre Roma e da Fundação do novo império realizará hoje, as 15horas, na sede da Sociedade Italiana, uma sessão solene, com a presença de toda a colectividade”. Paralelo ao crescimento do “fascio”, os alemães também se apresentavam com comemorações e palestras que ocorriam no Clube da Rua 13 de Maio, ou com maior envergadura no Teatro Petrópolis onde o símbolo nazista e manifestações se seguiam (foto do Arquivo do Museu Imperial, presente no fascículo […] Read More

SAINDO DA ROTINA PEDAGÓGIA

  SAINDO DA ROTINA PEDAGÓGICA Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga Grande parte de nosso processo educativo comprovadamente não segue os parâmetros traçados para a sala de aula e imposto pelos currículos escolares, muito menos, pelos guias estabelecidos pelos educandários tanto públicos como privados. Observa-se que educar é satisfazer a curiosidade informativa dos educandos, mesmo que esta por vezes exija uma pesquisa mais detalhada. Porém nem sempre os professores procedem à mesma, por receio de se estender e não cumprir o programa que lhes é exigido pelos burocratas da administração escolar e oficial. Há alguns meses, alunos do ensino fundamental pesquisando na internet sobre crustáceos para trabalho de Ciências encontraram o termo ‘caranguejola’ associado a artigos que eu publiquei em 2007 e curiosamente me crivaram de questões, sendo a principal, se o veículo a que nos referíamos no artigo teria a forma de um caranguejo? Respondi-lhes que não… precisamente, mas que se recorrêssemos ao imaginário poderíamos nos surpreender com a origem da denominação e suas comparações. Claro que a ‘caranguejola’ seria um veículo rústico e pesado podendo comportar uma média de 12 a 16 passageiros e geralmente puxado por dois ou quatro burros que circulavam pelas ruas centrais de nossa cidade no século XIX. Estes veículos haviam sido trazidos para Petrópolis por volta do final da década de 90 por empresários considerados ‘desenvolvimentistas’, como um Sr. Felipe Bruck, pioneiro neste transporte à época da administração de Hermogênio Silva, e que foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Petrópolis no mesmo período. Estes observaram que com a chegada do trem à recém-criada Estação da Leopoldina (1885), no centro de nossa cidade, ocorria a necessidade de transporte para a elite, tanto carioca como local, que se deslocava entre hotéis e mansões em nossas vias principais. O primeiro veículo se locomovia entre a Leopoldina e a Cascatinha. Mais tarde, o próprio Hermogênio Silva, convocou para um dialogo o dono do Banco Construtor, Franklin Sampaio, propondo um projeto de maior envergadura para a cidade que encontrava-se em pleno ciclo de desenvolvimento industrial. Este transporte fugiria ao tradicional, coche ou a charrete, que eram ainda muito utilizadas pelos que residiam em áreas não contempladas por um transporte coletivo. Confundiam-se também com as célebres ‘diligências’ que marcaram a subida da serra com sua tradicional viagem pela Estrada dos Mineiros. A elite que fugia do Rio […] Read More

ESCRAVISMO E ABOLIÇÃO EM PETRÓPOLIS

  ESCRAVISMO E ABOLIÇÃO EM PETRÓPOLIS CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA SOCIAL PETROPOLITANA: ESCRAVISMO E ABOLIÇÃO EM PETRÓPOLIS (1) Oazinguito Ferreira da Silveira Filho “O Balaio, o Balaio chegou Cadê branco? Não há mais branco Não há mais sinhô” ( Cântico das lutas da Balaiada, in, Luiz Luna) “Ó didê, Baba um pê Levanta-se, o pai está chamando…” (O Caçador e os Orixás do Mato, in, Deoscoredes M. dos Santos) Produzir um trabalho sobre o percurso histórico da raça negra em nossa comunidade é na maioria das vezes um trabalho que aparenta relativa facilidade de ser produtivo mas, também torna-se um tanto difícil, quando os elementos que temos que pesquisar se encontram na quase sua totalidade dispersos, e em locais às vezes o mais inacessível. Portanto, procuramos formular uma síntese, ou melhor um “alinhavado” de textos, já anteriormente produzidos, e que até hoje possuem um denotado grau de importância científica em nossa cidade. São estes textos trabalhos fundamentais elaborados pela Comissão do Centenário, produzidos por vários autores. E para complementar, como não podia deixar de ser, recorremos ao constante manancial de informação que são os jornais que compõem a Hemeroteca Publica Petropolitana. A expressão acima utilizada “fácil”, tem por característica não a depreciação do trabalho, mas o fator que o movimento histórico do negro em nossa comunidade difere das dos demais por uma única e atenuante característica; a da densidade demográfica – a não grande representatividade numérica em nosso quadro populacional, através das várias épocas que antecederam ao último quartel do século. Porém, ao tempo ela torna-se significativa, desde que possamos formular um pequeno quadro histórico na formação social. (1) Publicado em 12 de maio de 1984, no Segundo Caderno da Tribuna de Petrópolis AS OBRAS DO CAMINHO NOVO Nossos registros começam por volta do início do século XVIII, quando das aberturas das picadas para construção do Caminho Novo para as Minas Gerais. Em documento um dos pioneiros desta construção, Garcia Rodrigues Paes, filho do famoso “bandeirante das esmeraldas”, que é declarado “falido” não podendo mais continuar seu intento de abrir a nova estrada, em virtude de o esforço haver consumido todos os bens que lhe pertenciam, bem como aqueles que havia herdado. Este “enfraquecimento capital”, resultou nas seqüentes fugas de escravos, mão-de-obra a este pertencente, fruto do capital investido (2). (2) Comissão do Centenário de Petrópolis, volume , pg. 41 Fugas que freqüentemente levavam estes escravos a se refugiarem em nosso […] Read More

CARNAVAL EM PETRÓPOLIS NO SÉCULO XIX

  CARNAVAL EM PETRÓPOLIS NO SÉCULO XIX CONTRIBUÍÇÃO À HISTÓRIA SOCIAL PETROPOLITANA: SUBSIDIOS PARA UMA HISTÓRIA DO CARNAVAL EM PETRÓPOLIS NO SÉCULO XIX (1) Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “E o povo? Esse, também, se divertia. Logo às primeiras horas da manhã, os escravos iniciavam, barulhentamente, o entrudo, pelas senzalas e pelos logradouros da cidade. O Rio de Janeiro acordava em alvoroço, ouvindo os ambulantes que já apregoavam as mercadorias da ocasião: – Porvio! Limão de chêro, de toda cô. Bom chêro. Bom chêro. Um pacote de polvilho custava, no começo da passada centúria, cinco réis e uma dúzia de limões d’água, cheirando a canela, dois tostões. O limão vinha no tabuleiro da preta e o pacote de pó de goma no cesto ou no samburá. – Porvio! Limão de chêro! As crianças saltavam da cama, gritando: Entrudo! Entrudo! Entrudo! E iam provocar a vizinhança, bombardeando as urupemas e grades de pau com bolas de cera cheias de água, que lhes davam as famílias, atrás das rótulas, a cocar a cabeça do primeiro que surgisse para responder ao desafio. Dentro em pouco generalizava-se o combate. A labareda de alegria pegava fogo em todo o Rio de Janeiro. E os limões de cheiro a cruzar! Entrudo! Entrudo! Entrudo!” (in, EDMUNDO, Luiz, Recordações do Rio antigo) (1) Extraído do nosso ensaio, “Subsídios para a História: O Carnaval de Ontem”, publicado em caderno especial da Tribuna de Petrópolis em 04/03/1984. O texto acima que bem caracteriza o “carnaval” carioca, popular, genuinamente brasileiro em pleno século XIX, de nada teria a ver com o carnaval que se desenvolveu em Petrópolis a partir dos registros impressos da década de 50 do mesmo século. Embora do carnaval petropolitano nada de novo possuiu-se para se acrescentar à história desta festividade folclórica de herança portuguesa tão presente em nossa sociedade. Todos os elementos que no município encontramos foram transferidos da Corte e das demais regiões e adaptados ao cenário local, principalmente a partir da presença dos “veranistas”. A “Petrópolis colônia”, possuía em sua constituição demográfica uma grande massa de colonos alemães, vindos de províncias “esquecidas” da Alemanha, campesinos em sua maioria, ignorantes, e cujo germe de festividade não passava de seu próprio folclore e costumes, comemorações camponesas às épocas de plantio e colheita, tão comuns herdadas do cotidiano feudal europeu. Por outro lado o contexto dominante entre […] Read More

MEMORIAL PARA A MARECHAL DEODORO (UM)

  UM MEMORIAL PARA A MARECHAL DEODORO Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga Mais conhecida até a fundação da povoação como caminho dos mineiros, a estrada passou a incorporar a nomenclatura urbana de Dona Tereza quando após o planejamento urbano de Koeler ganhou a denominação que a acompanharia até o final do século XIX, Rua Princesa Dona Januária. Observamos que não existia a passagem do Alto da Serra para o Morin (atual Padre Feijó), assim sendo o trajeto pesado de carroças e tropas de muares, corria por toda a Rua de Dona Tereza até o centro do então vilarejo, passava à frente da Fazenda do Córrego Seco até que atravessava o citado córrego continuando sua viagem pela Estrada dos Mineiros. Após a proclamação do sistema republicano que fecha o ciclo monárquico em nosso país, o processo branco de ‘desmonarquização’ por que foi atingida a cidade, conduziu a novas denominações em suas ruas, e atingiu a Dona Januária que passou a ostentar a denominação do chefe maior do movimento, Rua Marechal Deodoro, assim como da principal via na qual desaguava, que deixou de ser Rua do Imperador, para envergar a data do movimento, Avenida XV de Novembro. No ano de 1857, justamente ano da elevação de Petrópolis a cidade, segundo descrições de Gabriel Fróes, um dos maiores cronistas históricos de Petrópolis, foi aberta ao trânsito a nova ponte situada em frente a Rua Princesa Dona Januária, que segundo este era o tradicional ‘…desembocadouro de carros e passageiros que se dirigiam a cidade’. Antes se prolongava a viagem até o encontro dos rios, onde de outra ponte de madeira se passava ao lado oposto seguindo viagem para as Minas Gerais. A construção da referida ponte fazia parte do projeto de urbanização de Koeler para a principal via da cidade. Não podemos dizer que as obras estivessem concluídas, pois ainda levaram mais alguns anos, mas mesmo assim a cidade se tornava passo a passo o ‘cartão postal do Imperador’, digno de registro daquele que foi o mais importante fotógrafo da Corte, Klumb, que fotografou em 1865 a entrada da Rua Princesa Dona Januária e de uma de suas mais importantes casas comerciais da época na esquina (prédio onde atualmente possuímos a Farmácia Brasil), e de alguns habitantes da mesma região que para esta posaram. Outro registro fotográfico processou-se mais tarde a partir do […] Read More