PARÓQUIA DE CASCATINHA (A) Enrico Carrano, Associado Titular, Cadeira n.º 3 – Patrono Antônio Machado Na semana que passou, mais precisamente no dia 26 de julho, a Paróquia de Cascatinha comemorou o dia dos padroeiros, Sant’Ana e São Joaquim. Convém, a propósito, relembrar datas e fatos importantes da vida religiosa católica do 2.° Distrito, para a preservação da história e da memória do bairro, diretamente ligadas à imigração italiana em Petrópolis. A Igreja de Sant’Ana e São Joaquim foi inaugurada em 1898, e a Paróquia de Cascatinha criada em 1913, tendo como primeiro vigário o padre Aquiles de Mello, que desde outubro de 1903 vinha atendendo a primitiva capela. Monsenhor Aquiles de Mello (o título veio mais tarde) permaneceu em Cascatinha até 1914, e hoje dá nome à praça onde se situa a Matriz. Transferido para Paraíba do Sul, exerceu até 1932 as funções de pároco da cidade e foi, de acordo com informações do Instituto Histórico e Geográfico desse Município, o responsável, em 1928, pelo periódico Alvorada. É de registrar que o “Apostolado da Oração”, movimento religioso com sede principal em Tolouse, na França, estabelece-se em Cascatinha a 4 de novembro de 1900. Em setembro de 1914 toma posse o segundo vigário, padre Lucio Gambarra, que um mês depois deixava a Paróquia. Assume, em novembro de 1914, o padre Francisco Antonio Acquafreda. Em outubro de 1917, Acquafreda é substituído pelo padre Lucio Gambarra que, em junho de 1918, é substituído pelo antecessor. Em julho de 1920, padre Gambarra retorna, e permanece em Cascatinha por 17 anos. Padre Lúcio Gambarra veio do Rio Grande do Norte, onde de 1907 a 1914 atuou na hoje Paróquia Santuário de Santana dos Matos. Dá nome àquela que talvez seja a principal rua da Cidade. Foi “o responsável pela construção da maior parte da Matriz (de Santana dos Matos, RN). Ele conseguiu que dos Estados Unidos, por intermédio do Coronel Cascudo, [viesse] um forro de zinco esmaltado e em relevo, de linda padronagem, que hoje cobre todo o teto interior da Igreja”. Padre Gambarra foi advogado militante em Petrópolis e no Rio de Janeiro. Ocupou a Cadeira de n.° 29 da Academia Petropolitana de Letras (sucedido por Claudionor de Souza Adão, Mauro Carrano e Castro e Gerson Valle). Em julho de 1937, chega padre Francisco Maria Berardinelli. Em 30 de outubro de 1938 é criada a Liga católica Jesus, Maria e José. Sucederam o […] Read More
ANÚNCIOS DE PERDAS DE ANIMAIS NOS JORNAIS DE PETRÓPOLIS ENTRE OS SÉCULOS XIX E XX
ANÚNCIOS DE PERDAS DE ANIMAIS NOS JORNAIS DE PETRÓPOLIS ENTRE OS SÉCULOS XIX E XX Pedro Paulo Aiello Mesquita, Associado Titular, Cadeira nº 5 – Patrono Ascânio Dá Mesquita Pimentel Nos dias de hoje podemos encontrar em postes e muros alguns cartazes nos quais vemos fotos de animais domésticos que foram perdidos ou fugiram, sem contar nas atuais redes sociais, que se prestam também a esses reclames. Contudo, no século XIX a mídia escrita pode mostrar que esses anúncios também eram recorrentes, tal como o que se lê abaixo, publicado na Gazeta de Petrópolis em 04 de junho de 1892: “CAVALLO FUGIDO: Fugio um cavalo escuro, está ferido na charneira. Quem dele der notícia ou o levar ao Quissamã, à casa de Hylário de Medeios, será gratificado. Ou ainda, no mesmo jornal e data: “VACCA PERDIDA. Acha-se uma, em Pedro do Rio, no pasto de Manoel da Cunha Guimarães: pede-se a quem se julgar seu dono, dando os signaes certos, ir reclamal-a do mesmo, no dito lugar, no prazo de trinta dias. Terminado esse prazo será vendida para o pagamento das despesas” O que desperta interesse é o fato de não haver um endereço com nome da rua, número da casa e outras referências mais específicas. No lugar disso, vê-se uma pessoalidade ao se colocar diretamente o nome do proprietário, facilmente localizado e supostamente conhecido por todos no bairro, fosse no Quissamã ou em Pedro do Rio. Ao analisarmos o que escreveu Boudon, essa relação fica clara: “Nas sociedades tradicionais, dada a natureza pessoal da interação, os atores podem apoiar-se no conhecimento efetivo que têm uns dos outros para decidirem-se sobre os compromissos recíprocos ou sobre modalidades das respectivas interações. Nas sociedades modernas o caráter impessoal das trocas leva a que os protagonistas tenham de recorrer a meios indiretos.” Conforme dados disponíveis em Diégues Júnior, a população de Petrópolis girava em torno de 13 mil pessoas em 1890, tendo aumentado na razão de 1800 pessoas anualmente nos trinta anos seguintes, fazendo com que girasse em torno de 67.574 habitantes em 1920. Esse crescimento é facilmente identificável com o desenvolvimento industrial da nossa cidade, culminando em expansão demográfica e urbana. Dessa forma, há uma “modernização” na estrutura social, possivelmente refletida na nova natureza desses anúncios de perdas de animais, que já se pode constatar na Gazeta de Petrópolis de 1902, conforme se lê abaixo: “CACHORRO DESAPARECIDO: Da Avenida 7 […] Read More
VICENTINOS, SEMPRE: MEMÓRIAS DO COLÉGIO SÃO VICENTE DE PAULO
VICENTINOS, SEMPRE: MEMÓRIAS DO COLÉGIO SÃO VICENTE DE PAULO Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula Recentemente, como tem sido bastante comum nas redes sociais, e a partir da difusão dos aplicativos de mensagem, foi criado um grupo de amigos do Colégio São Vicente de Paulo. Como ex-aluna do São Vicente, e parte deste grupo, saltaram-me aos olhos, e por que não dizer, ao coração, as muitas memórias e laços de amizade que unem aqueles que tiveram o privilégio de estudar neste estabelecimento, que funcionou em Petrópolis, até 1992. Como homenagem àqueles que comigo compartilham imensas saudades e excelentes lembranças dos tempos do São Vicente, e visando divulgar a sua história para os mais jovens, falarei um pouquinho deste colégio que formou gerações não só de petropolitanos, mas de brasileiros vindos de toda parte, enquanto recebeu alunos em sistema de internato, semi-internato e externato. Fundado em 1890 por padres lazaristas, o Colégio São Vicente de Paulo, posteriormente, teve a sua direção transferida para a Ordem Premonstratense, ou Ordem de São Norberto. Ocupou a princípio um prédio na Westphália, na atual Avenida Barão do Rio Branco, e, em 1908, já como uma importante e nacionalmente reconhecida instituição de ensino, mudaria para o Palácio Imperial, de onde só sairia no início da década de 1940. Após o Decreto-Lei do Presidente Getúlio Vargas, de 29 de março de 1940, que criou o Museu Imperial, os cônegos que dirigiam o colégio adquiriram o terreno à Rua Coronel Veiga, nº 550, para a construção do novo prédio que deveria abrigar o São Vicente. Nesta ocasião, era diretor do colégio o cônego Guilherme Adriansen, que se encontrava à frente do educandário há mais de vinte e cinco anos. Para o novo empreendimento foi contratado o engenheiro Eduardo Piragibe da Fonseca, autor da planta do edifício que, além do prédio principal, contava com uma capela, à esquerda, e um salão de estudos e festas, à direita. A construção e a execução das obras ficaram a cargo da firma Graça Couto e Cia Ltda, enquanto a fiscalização de parte dos trabalhos foi realizada por Pedro Niebus, construtor em Petrópolis. Na Rua Coronel Veiga, onde atualmente se encontra o Instituto Teológico Franciscano, o Colégio São Vicente ficaria até o encerramento de suas atividades, apenas dois anos após completar o seu centenário. Em sua trajetória, uma das grandes marcas foi sempre […] Read More
MIAMI OU PETRÓPOLIS?
MIAMI OU PETRÓPOLIS? Luciano Cavalcanti de Albuquerque, Associado Correspondente Nos anos 1920 — período conhecido como entre-guerras —, surge um estilo que foi muito adotado nas grandes metrópoles do mundo, como Rio de Janeiro, Nova York, Chicago, e em alguns centros urbanos não tão importantes e industrializados assim, como Miami, ou Petrópolis. Art dèco, esse nome tão curto e delicado, é, na verdade, a abreviação de Exposition des Arts Dècoratifs et Industriels Modernes, que aconteceu em Paris em 1925 e adotou como padrão traços mais funcionais e geométricos, tão importantes quanto a estética por finalidade. Misturava materiais exóticos, como folhados brilhantes, cromados, aço, laqueados e ebanizados. Tons pastel, marrom, preto, cinza-escuro, eram as cores preferidas para decorações internas, salvo raras exceções. Em Paris a costureira Jeanne Lanvin foi grande colecionadora e encomendava muitas peças aos designers da época. Sua casa era toda em art dèco, decorada por Rateau, grande nome do estilo em França. Era uma época em que se havia passado pela 1ª Guerra Mundial, e as pessoas estavam ávidas para aproveitar esse período de paz, antes que outra guerra pudesse acontecer, como afinal ocorre nos anos 40. Davam-se grandes festas, as saias e os cabelos das mulheres encurtaram, a Coco Chanel ou a la garçon, o joelho, até, começou a aparecer, eram as melindrosas, que, enquanto dançavam o charleston rodopiavam enormes colares de pérolas, qual laços de cowboys, nos novos salões da burguesia ascendente do período do pós-guerra. No revestimento arquitetônico usou-se muito o pó de pedra, hoje em desuso, pela dificuldade de restauração sem deixar marcas, portanto, na maior parte das recuperações arquitetônicas dessa época e estilo prefere-se pintura, abandonando o pó de pedra, como foi feito, inteiramente, no distrito art dèco de Miami, um dos maiores conjuntos preservados nesse estilo do mundo, onde foram usadas cores claras e suaves. Na nossa Petrópolis encontramos pequenos conjuntos, como o da foto, espalhados pelo Centro Histórico, principalmente na Rua do Imperador, quase um patchwork de estilos arquitetônicos. Rua do Imperador, 834 a 842 Se bem ou mal comparando não sei, mas em Miami temos a praia logo à frente do conjunto, enquanto aqui o rio Quitandinha corre sorrateiro por entre pequenos trechos em art dèco, provando, assim, a face metropolitana da Cidade Imperial.
EXPOSIÇÕES HORTÍCOLAS E AGRÍCOLAS DE PETRÓPOLIS
EXPOSIÇÕES HORTÍCOLAS E AGRÍCOLAS DE PETRÓPOLIS Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe Parte 1 “No dia 2 de fevereiro do ano próximo vindouro, será efetuada nesta cidade uma exposição de flores, horticultura e indústria, da qual coube a iniciativa a Sua Alteza, a sereníssima princesa Imperial.” Esta comunicação foi feita pelo presidente da Câmara Municipal de Petrópolis, o vereador Paulino Afonso Pereira Nunes, na sessão de 19 de novembro de 1874, na qual declarou que a Câmara reconhecia que tal exposição tornaria públicas as riquezas produtivas do solo petropolitano, portanto ela envidaria todos os esforços para o sucesso do evento visando ao desenvolvimento do progresso e engrandecimento do município, bem como convidaria as corporações das câmaras dos municípios vizinhos a fazerem parte do projeto. Cinco dias antes, D. Pedro II, que apoiava a ideia da exposição, escreveu à princesa D. Isabel participando que “A exposição hortícola petropolitana já tem sido annunciada pelas cem tubas da fama”. Isabel amava as plantas, especialmente as flores – colecionava orquídeas –, e estudou botânica com o professor Francisco Freire Allemão de Cysneiros. Em sua correspondência, há várias referências ao assunto, como, por exemplo, na carta dirigida ao pai em 4 de abril de 1867, na qual critica o trabalho de um tradutor: “Hoje de manhã fiquei desesperada com um que me escrevia nomes de plantas em portuguez e latim como suas ventas, perdoe-me a expressão, como diria o Freire”. Ela mantinha amizade com os botânicos e paisagistas Jean Baptiste Binot e Auguste Glaziou, tanto que fez parte da expedição ao pico de Itatiaia, organizada por Glaziou, que depois publicou um livro com o título Plantes cueillies sur l’Itatiaia au mois de juillet 1872, oferecendo-lhe um exemplar com dedicatória. O livro pertence ao Museu Nacional de História Natural de Paris, tendo sido localizado em 2013 pelo pesquisador do Instituto de Botânica de São Paulo, Sergio Romaniuc Neto. Todavia, a ideia da exposição não pode ser atribuída somente ao interesse incontestável de D. Isabel pelas plantas; tanto ela como seu pai, D. Pedro II, e seu marido, o conde d’Eu, sabiam das oportunidades que esse tipo de evento oferecia como espaço de divulgação dos produtos e, consequentemente, na ampliação do mercado, trazendo benefícios para a economia local. No Brasil, já haviam sido produzidas até então três exposições nacionais, todas inauguradas pelo imperador: a primeira, em 2 de […] Read More
ORA (DIREIS) OUVIR BILAC
ORA (DIREIS) OUVIR BILAC Leandro Garcia, membro da Academia Petropolitana de Letras Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (1865–1918) se orgulhava de possuir, no seu nome próprio, a métrica do verso alexandrino, a grande marca formal da sua poesia. Este elemento, dentre outros, é relevante quando pensamos a vida e a obra deste grande poeta brasileiro, um dos mais populares da nossa literatura. Homem de grande cultura, Olavo Bilac teve sua vida ligada a diversas atividades além de sua produção lírica. Foi cronista, crítico de literatura e de teatro, autor de literatura infantil, tradutor, defensor de diversas campanhas cívicas como o serviço militar obrigatório (especialmente na Primeira Guerra Mundial) etc. Entretanto, foi na imprensa que se notabilizou, atuando em diversos órgãos da época, como A Imprensa (1885-1891), A Leitura (1894-1896), Branco e Negro (1896-1898), Brasil-Portugal (1899-1914), Azulejos (1907-1909), Fon-Fon (1905-1918), O País (1910-1912), Jornal do Commércio (1910-1915), Diário de Notícias (1915-1918) e Atlântida (1915-1918). Na historiografia literária, Olavo Bilac se eternizou como o Príncipe dos Poetas Brasileiros, título dado pela revista Fon-Fon, em 1907, após votação popular entre os leitores daquele periódico. É também comum lembrá-lo como membro da Tríade Parnasiana, ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correa. De fato, Bilac nos legou poemas inesquecíveis, versos de uma força lírico-expressiva que transcendem ao tempo, como “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, / Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto, / Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto / E abro as janelas, pálido de espanto…”. Inclusive, do ponto de vista crítico, podemos abrir uma série de debates acerca destas classificações engessadas, pois em muitos dos seus poemas, a dimensão parnasiana se realiza apenas na forma, no apreço pela metrificação perfeita, pela seleção vocabular nobre que lhe proporcionava as rimas raras. Todavia, em termos de temática, sua poesia visitou outras escolas, especialmente a romântica e a simbolista, pela opção de temas como o amor, a morte, a solidão e o sonho. Então como classificá-lo, parnasiano ou simbolista? Isto é um dos problemas da atual revisão que temos feito, nos cursos de Letras, do cânone literário nacional. Prefiro dizer que grandes poetas e escritores excedem a classificação de escolas e movimentos, por isso são atemporais. Problema semelhante temos com o poeta petropolitano Raul de Leoni, cujo único livro Luz Mediterrânea sofre justamente com esta indefinição crítico-historiográfica, uma vez que Leoni optou pela métrica exuberante – parnasiana – dentro de temáticas […] Read More
DADAMA DO IMPERADOR (A)
DADAMA DO IMPERADOR (A) Luciano Cavalcanti de Albuquerque, Associado Correspondente Marianna Carlota de Verna Magalhães Coutinho (1779-1855), mais conhecida como a Dadama do imperador D. Pedro II, nasceu em Elvas, Portugal, e saiu da Quinta das Carrafouças, propriedade do marido, quando veio para o Brasil com a corte. Casada com o Conselheiro Joaquim José de Magalhães Coutinho, e com a filha nos braços, Maria Antonia, que completou dois anos em pleno Atlântico, deixava para trás parentes e amigos horrorizados por tamanha aventura. Sua dedicação ao marido e à família real, a quem serviam, a predispunha a enfrentar essas agruras, denotando, muito desapego. No Rio de Janeiro, Dom João doou ao Conselheiro Joaquim José, terras no Engenho Novo, onde construíram uma bela chácara; na propriedade, viveram cinco gerações dessa família. Após a volta da Corte para Portugal, passaram a servir ao Príncipe Regente D. Pedro. Logo D. Marianna Carlota enviuvou, quando o Conselheiro Joaquim José, em dia de grande gala, morreu, subitamente, ao lado do já Imperador D. Pedro I, em cerimônia na Igreja do Outeiro da Glória. A Dadama também possuía uma casa no Centro, para mais prontamente atender aos compromissos oficiais, era na Rua do Lavradio, a primeira residencial da cidade. Quando D. Pedro I abdica e sai do Brasil, a primeira mulher em quem pensa para tutora do pequeno D. Pedro II é justamente D. Marianna Carlota, dama da imperatriz. Na cena desesperadora que foi esse embarque, D. Pedro I manda, e roga, que Marianna Carlota cuide de seus filhos D. Pedro II e irmãs, como se fossem seus próprios filhos. Foi nomeada aia do menino-imperador, que de tanto lhe indicarem que ela era a sua dama, chamava-a de Dadama. Retrato da Condessa de Belmonte. Detalhe do quadro Coroação de D Pedro II, de François René Maureaux, de 1842. Coleção Museu Imperial A Dadama, sempre carinhosa e devotada aos novos “filhos” imperiais, soube dividir com seus filhos naturais, o mesmo amor e dedicação, discordando do tutor, José Bonifácio, o qual achava muito severo: às escondidas, dava brinquedos às crianças, antes de irem para a cama, quando por algum castigo, estavam proibidas de entrar no quarto de brincar. Ela mesma escreveu o Pequeno Catecismo Histórico, dedicado ao imperador-menino, para começar a sua instrução religiosa; mais tarde, D. Pedro II deu à netinha da Dadama, Francisca Carolina, o mesmo catecismo, com a mesma intenção, estando na família, até hoje, como relíquia. […] Read More
RUA DO IMPERADOR, 744
RUA DO IMPERADOR, 744 Luciano Cavalcanti de Albuquerque, Associado Correspondente Dos exemplos mais raros, da nossa arquitetura, em quase todo território nacional é o art nouveau, como também o chamamos por aqui, terra de francesismos e anglicismos. Não foge à regra a Cidade Imperial; em caminhadas e caminhadas pelas ruas e avenidas, quase não se vêem edifícios com os traços curvilíneos dessa “arte nova”, característica da Belle Époque. Esse quase fica por conta do número 744 da Rua do Imperador. Está derretendo? Pouco provável, mas sua decoração com linhas sinuosas, de cima a baixo, nos sugere algo em movimento, que se arrasta lentamente pela fachada, geminada a outras quase contemporâneas, nesse importante eixo do projeto urbano do nosso major Koeler. E será que está aí mesmo? Sim é claro, podemos até, além de olhar, tocar, entrar e garantir que é verdade, mas essa casa poderia estar muito bem ambientada em Bruxelas, um dos mais importantes centros do art nouveau no nosso planeta. Em 1925, como muitos desses sobrados do início do séc. XX, funcionava como residência e negócio, nessa época de Victorio Falcone. Já em 1931 era uma confeitaria onde também se jogava xadrez; temos ali, em 1933, a Padaria Eldorado de Antonio Rinaldi. Dois anos depois, Pedro Burger instala um armarinho onde também se vendiam “Chapéus de Cabeça”, assim mesmo, donde se conclui que muitos chapéus serviam a mesma cabeça, principalmente das elegantes senhoras da época, onde véus, flores e laços de fita os enfeitavam, os homens talvez tivessem uma cartola e um coco, no máximo, e se muito, um Panamá. Até 1937 a casa funcionou como a fábrica, primeiro de bolos de Isaura Bulls, precursora dessas nossas atuais e depois de vime, agora com Eugenio Cavalli. Quando, então, em 1937, pertencente a Horácio Magalhães Gomes, instala-se um elegante cassino onde se jogava, além do xadrez, bacará e roleta, o “campista”, meio em desuso hoje em dia, um interessante jogo de azar com três baralhos.
HISTÓRIA E MEMÓRIA NOS 175 ANOS DE PETRÓPOLIS
HISTÓRIA E MEMÓRIA NOS 175 ANOS DE PETRÓPOLIS Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula O historiador francês Pierre Nora já afirmara que “a necessidade de memória é uma necessidade da história”. A comemoração dos 175 anos da criação da Povoação-Palácio de Petrópolis, pelo Decreto Imperial nº 155, de 16 de março de 1843, neste sentido, não deixa de remeter também a uma batalha pela memória, a qual envolveu os mais eminentes intelectuais da cidade nos anos que precederam a celebração do seu centenário, na década de 1940. De um lado, estavam aqueles ligados particularmente ao Instituto Histórico de Petrópolis, e que defendiam o 16 de março como a data da fundação de Petrópolis, liderados por Alcindo de Azevedo Sodré. Do outro lado, encabeçados por Antonio Joaquim de Paula Buarque, ex-prefeito, e a Academia Petropolitana de Letras, os que entendiam que o major Júlio Frederico Koeler era o verdadeiro fundador da cidade e que o 29 de junho de 1845, que marca a chegada dos colonos germânicos, deveria ser escolhida como a data em torno da qual se dariam as festividades do centenário. Anteriormente, em setembro de 1937, havia sido criada, por ato do então prefeito municipal Yeddo Fiúza, a Comissão do Centenário de Petrópolis, tendo como presidente de honra d. Pedro de Orleans e Bragança, príncipe do Grão Pará, composta por um grupo de estudiosos da história de Petrópolis encarregados de pesquisar e escrever sobre as origens da cidade, desde os tempos coloniais (como importante ponto de ligação da variante do Caminho Novo, por onde o ouro extraído das Minas Gerais chegava até o Porto de Magé) – passando pela compra da Fazenda do Córrego Seco pelo imperador d. Pedro I e, mais tarde, no Segundo Reinado, pelo arrendamento desta mesma fazenda ao major Koeler – até a elevação da povoação à categoria de cidade, em 1857, alcançando os primeiros anos do período republicano, quando foi capital do Estado do Rio de Janeiro, entre 1894 e 1902. Somando-se aos esforços da Comissão do Centenário, há que se sublinhar o empenho pessoal do presidente da República, Getúlio Vargas, e do interventor federal do estado do Rio de Janeiro, Ernani do Amaral Peixoto, para que os festejos obtivessem pleno êxito. No entanto, outras organizações municipais, como a Associação dos Amigos de Petrópolis, fundada pelo coronel João Augusto Alves, e a imprensa local, além […] Read More
LÍDIA BESOUCHET: UMA INTELECTUAL FEMINISTA EM PETRÓPOLIS
LÍDIA BESOUCHET: UMA INTELECTUAL FEMINISTA EM PETRÓPOLIS Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula Em conversa com um amigo escritor, confirmei o que a intuição já apontava: é bastante comum despertarmos o interesse pela trajetória dos estudiosos que nos precederam em relação ao nosso objeto de pesquisa. Este foi precisamente o meu caso com relação à Lídia Besouchet (1908-1997), uma das três mulheres autoras de biografias de d. Pedro II. Antes dela, a historiadora norte-americana Mary W. Williams já havia escrito, em 1937, o seu Dom Pedro the Magnanimous, Second Emperor of Brazil. Completando a tríade feminina em meio a dezenas de biógrafos, Lilia Schwarcz lançou, em 1998, As Barbas do Imperador, que se tornaria uma referência incontornável. O que eu não poderia imaginar, no entanto, é que Lídia Besouchet, que publicou a biografia de d. Pedro II em 1975, e, em versão ampliada, o seu Pedro II e o Século XIX, em 1993, fosse uma das principais combatente pelos direitos das mulheres, na década de 1930, e que tivesse, para além do seu interesse por d. Pedro II, uma importante ligação com a história de Petrópolis. Nascida no Rio Grande do Sul, na adolescência, Besouchet mudou-se para Vitória, no Espírito Santo, onde iniciou sua trajetória intelectual, tornando-se um dos grandes nomes da escrita feminista capixaba, através dos textos que veiculou na revista Vida Capixaba, em cujas colunas desafiava o paradigma de mulher ideal, dedicada ao matrimônio e à maternidade, e questionava a submissão imposta às mulheres pela ordem patriarcal. Formou-se como professora, em 1924, frequentando, mais tarde, o Curso Superior de Cultura Pedagógica, onde teve os primeiros contatos com os ideais da Escola Nova, que, entre outros pontos, defendia a laicidade e o ensino público universal. A partir daí, não tardaria a ampliar seus questionamentos, sobretudo pautada nas leituras socialistas, que a levariam ao pensamento revolucionário e à aproximação com a Juventude do Partido Comunista. Nas rodas intelectuais de esquerda, Besouchet encontraria o seu companheiro, o jornalista Newton Freitas, com quem se mudou para o Rio de Janeiro no final de 1933. Instalados na capital carioca, o casal se dedicou à atividade jornalística e ao engajamento político, aderindo, em 1935, à Aliança Nacional Libertadora (ALN), de cunho progressista e antifascista. Paralelamente à sua militância no PCB e na ANL, onde se envolveu no movimento “Pão, Terra e Liberdade”, Lídia Besouchet atuou […] Read More