GRANDE GUERRA E PETRÓPOLIS (A)

GRANDE GUERRA E PETRÓPOLIS (A) Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, Cadeira n.º 13 – Patrono C.el Amaro Emílio da Veiga “A grande guerra”, como ficou conhecida, ocorreu em época onde não se discutia se uma guerra era justa ou injusta, como hoje é corrente, mas nada lhe retira a imagem de processo desumano, bárbaro de imensa irracionalidade. Sua denominação permaneceu até os anos 30, possuindo origem em uma guerra europeia que se expande arrastando aliados. Resultado do choque entre poderes políticos de Estados que se propunham hegemônicos com discursos nacionalistas, xenófobos, destruidores. Coroados pelos interesses econômicos do imperialismo, geoestratégico, tecnológicos que se orientaram por ideologia de superioridade nacional neodarwinista, evoluindo posteriormente para discurso racial. Sua representatividade era sinônimo da arrogância econômica das nações que arrotavam hegemonia à época. René Remond (1974) questionava o porquê de se atribuir tamanha importância à guerra? Não estaríamos superestimando seu papel? Suas consequências foram tão decisivas a ponto de mudarem a história da humanidade? Quanto às responsabilidades, presumidas ou aceitas, como no caso da Alemanha, perguntamos ainda o porquê da Alemanha ter desejado o conflito? Questão nacional? Econômica? Expansão? Necessidade vital do militarismo prussiano? A procura por novos mercados? Rivalidade com a Inglaterra? Poder, domínio ao custo de mais de dez milhões de mortos. Uma aventura nesta contabilidade hoje centenária! Pode ser que tenha transformado os países nela implicados, pois alteraram regimes, negócios, fronteiras, sistemas de forças, mas o mundo não se tornou melhor, pelo contrário em seu vácuo surgiram conflitos imensos que produziram seis vezes mais o número de mortos que esta. Discute-se ainda se a segunda guerra não seria sua extensão, garantida pela subdivisão. Continuidade em uma extensa faixa temporal de conflitos camuflados por disputas menores e imensos genocídios? Para o nosso país, noticiários dos jornais da Capital Federal refletiam esta surpresa, de certa forma com grande entusiasmo como registrou o jornal A Noite: “O entusiasmo do povo aglomerado na nossa artéria principal não tinha limites” (Avenida Rio Branco); “… à aparição de um símbolo das nações aliadas, vivas eram ouvidos acompanhados de salva de palmas, de aclamações ruidosas…”. Mas todo este entusiasmo não se compararia aos problemas vividos por nossa localidade serrana no decorrer de 1917 (Tribuna de Petrópolis). Em outubro, o “paquete” Macau, brasileiro, foi torpedeado por um submarino alemão no Atlântico, sendo o quarto, fato que “… conduziu nosso governo a proclamar o estado de guerra entre o […] Read More

VOU À AVENIDA

“VOU À AVENIDA” Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe   É comum até os dias de hoje os moradores de Petrópolis dizerem “Vou à Avenida”, quando na verdade o nome do logradouro é Rua do Imperador. É uma história curiosa. A rua do Imperador vem dos tempos da monarquia, quando os principais logradouros do Quarteirão Vila Imperial receberam os nomes de membros da Família Imperial. Exemplos: rua Princesa D. Francisca, rua Princesa D. Januária, rua do Imperador, rua da Imperatriz, rua Princesa Isabel, rua Princesa D. Leopoldina, praça Príncipe Grão Pará, rua Dom Afonso. Com a mudança do regime, no dia 15 de novembro de 1889, tornando o país uma república federativa, cerca de um mês depois a nova ordem política republicana exigiu da Câmara Municipal de Petrópolis a mudança dos nomes dos logradouros, numa clara intenção de apagar a memória da monarquia. Assim, a rua Princesa D. Francisca virou rua General Osório; a rua Princesa D. Januária, Marechal Deodoro; a rua do Imperador, avenida 15 de Novembro; a rua da Imperatriz, avenida Tiradentes; a rua Princesa Isabel, Treze de Maio; a praça Príncipe Grão Pará, praça da Liberdade; e a rua Dom Afonso, avenida Koeler. Cuidemos da rua do Imperador, anteriormente avenida 15 de Novembro. Seu primeiro nome foi trocado em 5 de dezembro de 1889, pouco menos de um mês depois da mudança do regime, com a chegada da República. Assim, passou a denominar-se Avenida 15 de Novembro. Por muitos anos, a rua do Imperador, rebatizada avenida 15 de Novembro, foi inteiramente adotada pela população, que a denominava simplesmente “avenida”. No entendimento dos nossos legisladores, com o apoio dos estudiosos de nossa história, resolveu-se restaurar os antigos nomes das ruas do Imperador e da Imperatriz, o que ocorreu nos anos de 1979 e 1983 respectivamente, desaparecendo de nossa nomenclatura urbana a avenida 15 de Novembro e a avenida Tiradentes. O povo, no entanto, jamais deixou de referir-se à rua do Imperador como “avenida”, o que perdurará por muitos e muitos anos à frente. Então, “- Vamos à Avenida?”; “- Minha loja é na Avenida ; “ – Moro na Avenida”. E pelo traçado urbanístico e relevância histórica, afinal, a rua do Imperador é mesmo uma larga avenida.

ALUNO ALCEU E O PROFESSOR KOKPE (O)

ALUNO ALCEU E O PROFESSOR KOKPE (O) Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe Assim começa a carta [i] dirigida a Alceu Amoroso Lima (1893-1983), datada de 14 de agosto de 1926 e assinada simplesmente Winckelmann: “Permitta-me V. a quem perdi de vista ha tantos annos e venho agora encontrar, pelas saudades e recordações que acaba de trazer á beira do tumulo de um velho Mestre, o mesmo menino que conheci como o derradeiro discipulo de meu pobre Pae; […] meu comovido ‘obrigado’ pelas palavras de seu artigo de domingo último”. [i]  Arquivo Tristão de Athayde. Acervo do Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade – CAALL (Rua Mosela, 289 – Petrópolis), unidade da Universidade Candido Mendes. Quem era Winckelmann? Quem era o velho Mestre? Recorrendo aos jornais com os quais Dr. Alceu colaborava, localizamos n’O Jornal, edição de domingo, 7 de agosto, o artigo “O precursor” que elucidava a questão: tratava-se do professor João Kopke e de seu filho, Winckelmann Köpke (1886-1951). Esse e outros artigos de Dr. Alceu publicados n’O Jornal e na Revista do Brasil, nos anos 1926 e 1927, foram reunidos na sua obra Estudos (1927). Neste belíssimo e poético texto, Alceu Amoroso Lima revela a importância do professor particular na formação de sua mentalidade: “[…] aquele que representara, para mim, o primeiro contacto com as coisas da intelligencia”. É possível captar a afetividade construída entre o mestre e o aluno: João Köpke procurou sempre na criança o gosto da criança. Viveu com a infância e inserido na alma infantil. Desde o seu método de aprender a ler, que reagia contra o ensino triste, abstracto, mecânico das cartilhas e do b a-ba […]. Eu bem me lembro, por exemplo, que aprendi a escrever e a compor sem saber uma simples regra de gramática. E Köpke fazia questão de estimular a espontaneidade infantil. Aos nove anos de idade, quando ingressou no Ginásio Nacional, o menino Alceu levou um choque com o contraste, como ele próprio declara: “o ensino me appareceu em todo o seu horror de inquisição, de rigidez, de impersonalidade, de abstracção secca e distante”. Para ele, as aulas de Kopke eram “uma pequena aventura que abria realmente horizontes, sem cansar, sem pesar, com a illusão do fácil e do não ensinado mas apenas conversado”. João Kopke nasceu em Petrópolis, a 27 de novembro de 1852, e faleceu no Rio […] Read More

OUTRO FRÓES, O COLECIONADOR (O)

OUTRO FRÓES, O COLECIONADOR (O)   Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, Cadeira n.º 13 – Patrono C.el Amaro Emílio da Veiga   Já dizia Susan Sontag “Colecionar fotos é colecionar o mundo” (p.13), não importando o tamanho deste mundo assim como de seu alcance sobre o mesmo. A história de um sitiante de São José sempre me atormentava o inconsciente sobre o tamanho do seu universo quando foi trazido para a cidade e se sobressaltou com o que viu. Não seria este o caso de José Kopke Fróes (1902-1996) que preso aos umbrais de nossa cidade conhecia como ninguém cada quadrante desta “urb”, rememorava cada qual dos ocupantes deste espaço citadino, sendo a fotografia não uma mania, muito mais os “nervos” da cidade, de seu cotidiano, “…o resultado mais extraordinário da atividade fotográfica é nos dar a sensação de que podemos reter o mundo inteiro em nossa cabeça.” (Sontag,1983). José Kopke Fróes era o irmão de Gabriel (1897-1986), ambos apaixonados pelo “lugar”, parte integrante de sua história, colecionadores de memórias. Gabriel o “tecelão de memórias” por crônicas, contos e fichamentos, já José o caçador de livros, pois era bibliotecário e pesquisador de imagens, vasculhava pedra sobre pedra procurando identificar cada local presente em postais, fotos, cada esquina, cada comércio, cada morador. “Fotografar é apropriar-se da coisa fotografada.”, dizia Sontag, mas para Zé que não se dedicava ao mister, colecionar constituía-se na ação mais preciosa, apoderava-se do sentido presente na imagem, “encarnava” o espírito da cidade, forma de apropriação da representação, empoderava-se da identidade urbana. “Fotos fornecem um testemunho. Algo de que ouvimos falar mas de que duvidamos, parece comprovado quando nos mostram uma foto.” (Sontag). Assim entrevistei (1983) “Zé Fróes”, em uma das suas diversas exposições pela cidade, sendo esta exatamente nos saguões do prédio dos Correios e Telégrafos. Com sua calma peculiar, transmitida pela idade, saboreava as fotos expostas identificando não somente os cenários, mas se detendo sobre o tempo em que foram batidas. Possivelmente por quem as tivesse batido. Conhecimento ou propriedade ímpar que o remetia ao lugar apaixonado, espírito das imagens, sua cidade. Sua primeira exposição, transcorreu quando do centenário da chegada dos colonos alemães a Petrópolis (veja foto), no salão principal da Câmara Municipal, sendo ele o bibliotecário-chefe da biblioteca do município nesta época, portanto trinta e oito anos antes de nossa entrevista pela Tribuna de Petrópolis. José ainda comentou que sua coleção estimulara […] Read More

O IHP NOS 175 ANOS DE PETRÓPOLIS

O IHP NOS 175 ANOS DE PETRÓPOLIS   O Instituto Histórico de Petrópolis participou ativamente das festas de comemoração dos 175 anos da cidade de Petrópolis. Na sessão de 12 de março, realizada na Casa de Cláudio de Souza, a associada titular Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas leu o seu texto “História e memória nos 175 anos de Petrópolis”, escrito especialmente para registrar a passagem do aniversário da cidade. O texto pode ser lido na íntegra na Tribuna de Petrópolis, edição de 14/03/2018 (Coluna IHP EM CENA). Estiveram presentes às festas promovidas no dia 16 de março os associados Maria de Fátima Moraes Argon da Matta, Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Dom Gregório Paixão, Paulo Roberto Martins de Oliveira, Marisa Guadalupe Plum, Fernando Costa, Elizabeth Maller, Ronaldo Rego, Antônio Eugênio Taulois, Frederico Haack, Maurício Vicente Ferreira Júnior, Enrico Matievich e Hamilton Frias Martins.   Após a missa celebrada pelo bispo diocesano Dom Gregório Paixão, na Catedral São Pedro de Alcântara, o associado Paulo Roberto Martins de Oliveira, como orador oficial do IHP naquela solenidade, proferiu um discurso junto ao monumento do Major Julio Frederico Koeler realçando o seu papel como responsável pelo plano urbanístico da cidade. Paulo Roberto fez um breve histórico das origens da cidade e salientou que a divisão territorial da cidade de Petrópolis, 1º Distrito do Município, criada a partir da primeira planta de Petrópolis elaborada por Koeler, em 1846, com 11 quarteirões e duas vilas, vigora até os dias de hoje, sendo observada pelo cadastro da Prefeitura, pelo Registro de Imóveis e pela Companhia Imobiliária de Petrópolis. Concluiu, dizendo ser fundamental que o Poder Público coloque a indicação do nome do quarteirão nas vias públicas a fim de resgatar a nomenclatura urbana, contribuindo para a compreensão do plano urbanístico de Petrópolis, pioneiro no Brasil. Da esquerda para direita, na primeira fila, os associados: Fernando Antonio de Souza da Costa, Paulo Roberto Martins de Oliveira, Marisa Guadalupe Cardoso Plum, Joaquim Eloy Duarte dos Santos e Elizabeth Maria da Silva Maller. Na segunda fila: Antonio Eugênio de Azevedo Taulois,  Maria de Fátima Moraes Argon, Frederico Haack e Dom Gregório Paixão Ao fim da solenidade, o grupo seguiu para a Praça D. Pedro II, onde o associado titular do IHP, Dom Gregório Paixão, em nome da instituição, proferiu um discurso em homenagem ao imperador, aquele que valorizava a educação e acreditava ser ela o caminho para o desenvolvimento do país. Contou o […] Read More

HÁ CEM ANOS MORRIA ALBERTO TORRES

 HÁ CEM ANOS MORRIA ALBERTO TORRES Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima   Há cem anos morria no Rio de Janeiro Alberto de Seixas Martins Torres, um dos fluminenses mais eminentes entre tantos outros que tiveram como berço a chamada antiga província.  Nascido em Itaboraí em 26 de novembro de 1865, Alberto Torres fez uma carreira vertiginosa, galgando os mais altos postos, fosse no estado do Rio de Janeiro, fosse no cenário nacional ainda muito moço. Parecia adivinhar que partiria cedo deste planeta, pois morreu a 29 de março de 1917, com apenas 52 anos. Aos 16 anos o jovem Alberto já estava em atividade política como abolicionista e republicano. Bacharelou-se em Direito em 1886, colando grau na Faculdade do Recife junto com Raul Pompéia (1863-1895) e Xavier da Silveira (1864-1912). Em oposição a Francisco Portela (1833-1913), primeiro governador do Estado no regime republicano, negou-se a participar da primeira constituinte estadual na chapa portelista. Deposto Portela em dezembro de 1891, Alberto Torres uniu-se aos comandados de José Thomaz da Porciúncula (1854-1901) e integrou a segunda constituinte fluminense que promulgou a Carta de 9 de abril de 1892. Tinha Alberto Torres 31 anos quando foi nomeado ministro da Justiça pelo presidente Prudente de Moraes (1841-1902). Exonerou-se em virtude dos desmandos praticados pelo vice-presidente Manoel Victorino Pereira (1853-1902), quando ocupou interinamente a primeira magistratura do país em virtude do afastamento de Prudente de Moraes por motivo de saúde. Eleito presidente do estado em julho de 1897, Alberto Torres cumpriu o triênio 1898/1900 em Petrópolis, então capital fluminense. Teve um governo tumultuado não só em razão da crise financeira, mas também por causa do racha no Partido Republicano estadual provocado pela rumorosa questão da duplicata de Câmaras Municipais em Campos dos Goitacazes. Teve o grande mérito de ter criado na cidade de Petrópolis o Ginásio Fluminense, lamentavelmente de vida efêmera, mas, enquanto existiu trouxe para estas serras mestres do calibre de Silva Ramos (1853-1930), de Louis Cruls (1848-1908), de Artur Thiré (1853-1923), de Raimundo Corrêa (1859-1911). Tinha o ilustre filho de Itaboraí 35 anos quando deixou o governo do Estado. Jurista de inegável valor, Alberto Torres foi nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal pelo presidente Campos Sales (1841-1913), que cumpria o quatriênio 1898/1902. Seus votos e pareceres foram sempre corajosos e lapidares. Em 1907 somente ele e Amaro Cavalcanti (1849-1922) […] Read More

CUM CHRISTO IN PACE CONFRADE IVO ALBUQUERQUE

CUM CHRISTO IN PACE CONFRADE IVO ALBUQUERQUE Fernando Antônio de Souza da Costa, Associado Titular, Cadeira n.º 19 – Patrono Galdino Justiniano da Silva Pimentel Quem conhecia Ivo Albuquerque desde logo se sentia cativado pela criatura afável e cordial que ornava o homem e o intelectual de multifacetados matizes culturais. E nesse mesmo diapasão não se concebia a presença de Ivo sem Linda, sua mulher. Atuante e elegante transitava em todas as camadas prestando relevantes serviços às obras sociais e assistenciais. Fomos alvejados pela presença do querido casal por diversas vezes em nosso escritório o que incluiu uma estada conosco em Cabo Frio bem antes de se mudarem para Belo horizonte, Minas Gerais. Eram elegantes no trajar e no conviver. Figuras presentes em todos os acontecimentos sociais, culturais e religiosos da Imperial Cidade de Petrópolis durante o tempo em que aqui residiram. Mereceram o reconhecimento público e foram distinguidos com o Prêmio Academia Petropolitana de Letras.  Ivo em suas visitas ao escritório onde militamos gostava, sobretudo, de conversar conosco sobre os assuntos que versavam política e história. Há quinze dias telefonou para nossa casa como de costume. Ivo e Linda Albuquerque Agora me apercebo de que ele estava a se despedir. Conversou com Célio por longo tempo. Era mesmo o abraço de despedida do amigo aos amigos que subiu ao regaço paterno no sábado dia 9 de dezembro de 2017. Ele que nasceu no Rio de Janeiro, a 04 de dezembro de 1934. Possuía um rico, expressivo e dignificante curriculum vitae. Fez seus estudos secundários no Colégio Militar do Rio de Janeiro, ingressando, posteriormente na Academia Militar das Agulhas Negras, onde concluiu o Curso de Artilharia. Possuía ainda o Bacharelado em Ciências Contábeis e Administrativas, o Mestrado em Aplicações Militares, pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e o Doutorado em Aplicações, Planejamentos e Estudos Militares, pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e vários cursos de Especialização e Extensão. Foi agraciado com as seguintes Condecorações: Ordem do Mérito Militar, no Grau de Cavaleiro, Medalha Militar do Prata, Medalha do Pacificador, Medalha da Organização das Nações Unidas (UNIPOM), Medalha Prêmio Internacional da Paz 1988, Medalha Marechal Hennes, Medalha do Sesquicentenário da Independência (Universidade Federal de Mato Grosso) e Medalha Marechal Mascarenhas de Moraes, as quais lhe conferem a condição de personalidade de alta expressão cultural, militar e cívica. Recebeu ainda 71 referências elogiosas durante sua permanência no Serviço Ativo do Exército e, como Oficial do Estado-Maior, teve ressaltados seu valor pessoal e zelo profissional através de expressivas citações dos então […] Read More

DOM PEDRO II: REFLEXÕES SOBRE O MONARCA INTELECTUAL

DOM PEDRO II: REFLEXÕES SOBRE O MONARCA INTELECTUAL Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula Ao contrário das biografias clássicas de d. Pedro II que, além de apontarem para a dualidade entre o monarca e o cidadão, reforçam os epítetos de rei filósofo, erudito e mecenas, as recentes pesquisas fornecem indícios suficientes para a formulação da hipótese de que o imperador pôde contribuir direta e significativamente com a construção do conhecimento, configurando-se, para além do diletante, em um tipo de intelectual característico do último quartel do século XIX. Os seus estudos tradutórios e traduções, como salientam os pesquisadores coordenados pelo linguista Sergio Romanelli, ou a atuação como mestre das suas filhas, as princesas Isabel e Leopoldina, preparando-as para o governo da casa e, sobretudo, do país, como tem mostrado a historiadora Jaqueline Aguiar, por si só, permitiriam situar Pedro II, na acepção das mais recentes abordagens historiográficas, como um intelectual mediador, ou aquele que se dedica a atividades ou práticas de mediação cultural. No caso das traduções, por exemplo, a teoria literária reconhece o processo criativo implícito no trabalho, que não aparece como mero exercício de erudição, mas como uma ressignificação do texto original a partir dos códigos culturais do tradutor. Além disso, ao perfil de estadista mecenas, estudos têm contraposto a importância de Pedro II em uma rede de sociabilidade que envolvia intelectuais de várias partes do mundo, com os quais o imperador não só colaborou, financiando seus projetos, ou enviando amostras que pudessem fundamentar suas teorias, mas debatendo com afinco teses que pautariam um novo paradigma científico. O caso mais conhecido talvez seja o apoio financeiro e moral que deu para a fundação do Instituto Pasteur, criado em 1887, quando a teoria sobre os micro-organismos causava grande desconfiança e contestação. Não à toa, ainda hoje o busto de Pedro II encontra-se instalado na “Sala dos Atos”, no Museu Pasteur, em Paris. No Brasil, d. Pedro II foi um importante agente para a consolidação de dois espaços de pesquisa fundamentados na cultura científica dos últimos decênios do século XIX, relacionado às ciências práticas, ou que pudessem ser, segundo a concepção da época, úteis às conquistas materiais e, em última instância, à modernização do país. Neste sentido, na década de 1870, o imperador atuou diretamente para a fundação da Escola de Minas de Ouro Preto e a reorganização do Museu Nacional, especialmente […] Read More

120 ANOS DO DESASTRE DE CANUDOS (OS)

OS 120 ANOS DO DESASTRE DE CANUDOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima   Delenda Canudos foi a ordem terminante dos que em 1897 detinham nas mãos os cordéis do poder. Mas Canudos era conseqüência e como sempre ocorreu no Brasil, é sempre este que está na alça de mira dos poderes constituídos, ignorantes da velha máxima latina: sublata causa, tolitur effectus. Trocando em miúdos, somente subtraindo-se a causa e que se exterminará o efeito dela advindo. A questão de Canudos pôs a nu a tragédia social do interior nordestino, velha de muitos séculos, teúda e manteúda no feudalismo renitente, na escravidão à ignorância, no desesperado apelo aos milagreiros NE profetas, no cambão na paranóia coletiva em busca do nirvana. As causas do fenômeno canudiano foram levantadas e discutidas pelo gênio de Euclides da Cunha e as soluções para o drama sertanejo, com base no diagnóstico, dependeriam apenas da vontade política dos governos, fossem eles estaduais ou federais. Mas debelar causas custa tempo e dinheiro e isso não interessa ao imediatismo politiqueiro dos nossos coringas, que jamais pensam e agem a longo prazo e que só dispõem de verbas para supérfluos, fachadas e na advocacia em causa própria. E o desastre de Canudos, que afora cumpre 120 anos, provocou o seu maléfico efeito cascata. A desgraça comum seguiu latente Nordeste afora e a sedição do Juazeiro de 1913/1914 e todo o fanatismo que se desenvolveu no Cariri cearense em torno do Padre Cícero, comprovaram que a hégira continuava viva no sertão, como escreveu Euclides da Cunha. Segundo os historiadores, o desastre de Canudos foi a origem do processo de favelização do Rio de Janeiro, agravado no princípio do século XX com a reforma de Pereira Passos, que ao acabar com os infectos cortiços da região central da cidade, não criou nos subúrbios dela conjuntos habitacionais dignos e seguros para abrigar os egressos do bota abaixo. E como diria o velho Carvalhal Lage, muitas tempestades ainda estavam por vir. Repensar Canudos nesta lastimável quadra em que vivemos na atualidade, é lamentar os 120 anos perdidos com basófias, demagogias e populismos, alheios aos sábios ensinamentos de Euclides da Cunha. Passamos essas doze décadas evitando a lupa e o bisturi, usando e abusando de ungüentos, mesinhas e compressas; dourando pílulas, colorindo misérias, escondendo verdades, empurrando detritos para debaixo do tapete. Segundo […] Read More

D. PEDRO II ERA REPUBLICANO?

D. PEDRO II ERA REPUBLICANO? Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula   A pergunta já abordada por importantes veículos de comunicação no país pode parecer paradoxal, para não dizer estapafúrdia, em um primeiro momento, mas para surpresa de muitos, pode-se dar a ela uma resposta afirmativa. Aliás, este questionamento pode ser solucionado sob duplo aspecto. Em sentido estrito, d. Pedro II acreditava, sim, ser a república a mais apurada forma de governo, embora declarasse que o Brasil ainda não estava pronto para ela. Esta concepção vincula-se ao Iluminismo, especialmente a Montesquieu, para o qual, se a população é voltada para a causa pública – a virtude cívica – a ordem deveria ser a republicana. Ainda assim, o próprio Montesquieu defendera a monarquia constitucional moderna como a mais adequada dadas as condições históricas do seu tempo. Esta linha de pensamento não era estranha a d. Pedro II, como podemos exemplificar a partir de um fragmento de seu diário[1], escrito já no exílio, em 5 de janeiro de 1890, portanto, logo após os acontecimentos do 15 de novembro. Ao comentar a opinião de Carlos Leôncio da Silva Carvalho, que havia sido ministro, ocupando a Pasta dos Negócios do Império no Gabinete Liberal de 1878 a 1880, d. Pedro nos permite entrever o seu posicionamento diante dos fatos que levaram à sua deposição: […] Confessa Leôncio de Carvalho que não queria já a república porque o imperador criterioso e verdadeiramente amigo do país aceitava a federação das províncias como disse Saraiva e porque para a república ser o governo do povo pelo povo era preciso primeiro educar e preparar os cidadãos (Minha opinião ficou bem clara quando tratei disso com Saraiva). O ex-imperador … favorecia com inexcedível generosível [sic] generosidade a educação popular. Os fatos cuja responsabilidade pertence aos maus amigos e conselheiros da Coroa precipitaram os acontecimentos. [1] Os diários de d. Pedro II integram o Arquivo da Casa Imperial do Brasil (POB), pertencente ao acervo do Arquivo Histórico do Museu Imperial/Ibram/MinC. Ver BEDIAGA, Begonha (Org.). Diário do Imperador D. Pedro II: 1840-1891. Petrópolis: Museu Imperial, 1999. Em 7 de abril de 1890, o ex-imperador completaria: “Abdicara [sic] como meu Pai se não me achasse ainda capaz de trabalhar para a evolução natural da república.” No ano seguinte, em 4 de junho de 1891, revelou: “(…) não duvidaria aceitar a presidência da república, […] Read More