Arquivo de Alceu Amoroso Lima (O) Leandro Garcia, da Academia Petropolitana de Letras Petrópolis é mundialmente conhecida pelas suas belezas naturais, artísticas e históricas. Entretanto, a Cidade Imperial possui uma dimensão ainda pouco valorizada – a de ser uma cidade de pesquisas, considerando os seus importantes arquivos: o do Museu Imperial, o Municipal e, particularmente, o acervo pessoal de Tristão de Athayde (1893-1983), salvaguardado no Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, o CAALL, localizado na Rua Mosela 289, sua antiga residência na cidade. Quero falar deste último. Alceu foi o mais importante intelectual leigo católico do Brasil, bem como o maior crítico literário do nosso modernismo. Por esta última razão, teve contato com os principais escritores nacionais, especialmente entre as décadas de 20-50. A prática da correspondência foi a sua principal ferramenta, por isso saíam e chegavam à Mosela 289 uma infinidade de missivas, enviadas e recebidas dos diferentes rincões do país, tudo através dos Correios. Alceu de Amoroso Lima, Tristão de Athayde (1893-1983) Desta forma, ao longo da vida, Alceu organizou o seu precioso arquivo, que hoje compreende aproximadamente 50 mil documentos entre cartas, fotografias, recortes de jornal, manuscritos e outras naturezas textuais. O mais importante: tudo disponível à consulta e à pesquisa do público em geral. Desnecessário dizer da importância deste espaço para Petrópolis e para o mundo, e não exagero em dizê-lo, pois o acervo do CAALL se abre à investigação de forma interdisciplinar: Literatura, Teologia, História Geral, História da Igreja e outras temáticas. Assim, o arquivo de Alceu Amoroso Lima se abre a inúmeras possibilidades e potencialidades investigativas e hermenêuticas, em natureza sempre aberta, num sintomático processo de work in progress. Sabe-se que a Epistolografia – área da Teoria Literária que investiga cartas e correspondências – é uma ciência ainda incipiente no Brasil. Fato estranho e paradoxal, já que a carta sempre foi muito usada pelos nossos escritores. Todavia, uma pesquisa sistematizada, nos estudos literários brasileiros, é algo que começou a partir dos anos 2000, com a publicação do primeiro volume da correspondência de Mário de Andrade (com Manuel Bandeira), feito pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Alceu sabia da importância da sua correspondência, tanto que a organizou de forma meticulosa em diversos armários da sua casa, na Mosela 289, dando uma forma pessoal de organização e catalogação. O velho mestre usou suas cartas para construir uma boa parte do seu pensamento, para dar informações e […] Read More
MARTHA WATTS E O COLÉGIO AMERICANO: UMA EDUCADORA PIONEIRA EM PETRÓPOLIS (PARTE II)
MARTHA WATTS E O COLÉGIO AMERICANO: UMA EDUCADORA PIONEIRA EM PETRÓPOLIS (PARTE II) Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula Grupo de alunos e alunas do Colégio Americano, no Palácio Itaboraí, de propriedade da Igreja Metodista, no Valparaíso. Petrópolis. Sem data. Crédito da Imagem: Acervo Arquivo Histórico. Museu Imperial/Ibram/MinC A missionária norte-americana Martha Hite Watts (1845-1909) é reconhecida na História da Educação pelo seu pioneirismo e pelas inovações pedagógicas que propôs. Em 1881, em Piracicaba/SP, fundou o primeiro colégio metodista do Brasil (atual Universidade Metodista de Piracicaba), e revolucionou o ensino ao trabalhar com classes mistas, seja reunindo meninos e meninas, seja por estarem abertas tanto a alunos protestantes quanto católicos. Além disso, introduziu classes de jardim-de-infância, e defendeu a importância dos laboratórios para experimentos científicos, atrelando o conhecimento teórico à verificação prática, um paradigma pedagógico extremamente revolucionário no final do século XIX.[1] [1] ELIAS, Beatriz Vicentini. Inovação Americana na Educação do Brasil. In: Revista Nossa História, n. 23, 2005, p. 81-83 Seu trabalho chamou a atenção de Prudente de Morais (terceiro Presidente da República do Brasil), que à época era Presidente do Estado de São Paulo, e a convidou para assessorar a reforma educacional que visava implementar em seu governo. Ela não aceitou a proposta por considerar mais importante a tarefa de criar outras escolas metodistas e, de Piracicaba, mudou-se para Petrópolis, onde fundou o Colégio Americano, em abril de 1895. A ideia do Colégio Americano em Petrópolis surgiu também como uma resposta às demandas das famílias, particularmente as da elite, que desejavam se refugiar na cidade serrana. Se, no ramo católico, o Colégio Notre Dame de Sion, exclusivo para meninas, transferiu-se para Petrópolis, passando a funcionar no Palácio Imperial (hoje Museu Imperial), do lado protestante, os metodistas compraram o Palácio Itaboraí[2], de propriedade do arquiteto Antonio Januzzi, que havia projetado, na década de 1880, o templo da Igreja Metodista do Catete, no Rio de Janeiro. É muito provável que, desde então, Januzzi tenha estreitado a relação com os metodistas, que culminou com a venda do seu palacete em Petrópolis. [2] Atualmente, o Palácio Itaboraí pertence à Fundação Oswaldo Cruz. O Colégio Americano visava atender a brasileiros e estrangeiros que buscassem o que Martha Watts chamava de “educação liberal, tendo por fim o desenvolvimento moral, intelectual e físico dos alunos”. Funcionou em Petrópolis, como internato e externato, até o início década de 1920, quando, […] Read More
MARTHA WATTS E A MISSÃO METODISTA EM PETRÓPOLIS (PARTE I)
MARTHA WATTS E A MISSÃO METODISTA EM PETRÓPOLIS (PARTE I) Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula Martha Hite Watts. Bardstown, 1845 – Louisville, 1909 (Kentuck, EUA) Agente da “Womans Board of Foreign Missions” dos Estados Unidos. Créditos da Imagem: Acervo Centro Cultural Martha Watts/Instituto Educacional Piracicabano Desde o início do movimento metodista, ainda no século XVIII, na Inglaterra, a participação das mulheres foi uma realidade, a começar por Susana Wesley e, posteriormente, as 27 pregadoras autorizadas a trabalharem como leigas por John Wesley, a principal liderança do movimento que buscava reformas dentro da Igreja Anglicana. Nos primeiros anos do Metodismo no Brasil, há registros sobre as “mulheres visitadoras”, encarregadas de visitas e leituras da Bíblia para uma população majoritariamente analfabeta. A partir de 1880, ganhou fôlego o projeto educacional, que visava à criação de escolas como forma de expansão do campo missionário, no qual as mulheres tinham um papel essencial: de um lado, as que estavam nos EUA sustentando financeiramente a missão; por outro lado, as que vinham para o Brasil para implantar o trabalho e organizar as escolas, cujo lema “evangelizar e civilizar” atrelava-se aos ideais modernizantes e civilizatórios que permearam o clima intelectual da Belle Époque. É neste contexto que, em 1895, o projeto metodista foi estabelecido definitivamente em Petrópolis, a partir de duas vertentes missionárias: a organização da Igreja, com doze membros, sob o pastorado do Reverendo James L. Kennedy; e a criação do Colégio Americano, que ocupou o Palacete Januzzi (hoje Palácio Itaboraí), sob a direção de Miss Martha Watts, reconhecida pelo seu pioneirismo no campo da educação. Como integrantes das missões metodistas norte-americanas – financiadas pela Igreja Metodista Episcopal do Sul dos Estados Unidos -, Martha Watts e James L. Kennedy vieram juntos para o Brasil, em 1881. Mas foi em Petrópolis que, pela primeira vez, ambos se fixaram para o desenvolvimento de um trabalho conjunto. Martha Hite Watts é o primeiro nome no Rol de Membros da Catedral Metodista e, quanto à constituição da segunda igreja protestante da cidade, relata, em 1896: “(…) Desde então o irmão Kennedy preparou um grande salão em uma localidade central e nosso trabalho realmente começou. No primeiro domingo em que nos reunimos ali, ele organizou uma escola dominical com vinte e nove membros. (…).”[1] [1] Martha Watts, carta de janeiro de 1896, publicada em MESQUITA, Zuleica (org.). Evangelizar […] Read More
AINDA OS 190 ANOS DOS CURSOS JURÍDICOS
AINDA OS 190 ANOS DOS CURSOS JURÍDICOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Os que leram o artigo anterior sobre esse tema hão de pensar que eu me contrapus à iniciativa da criação dos cursos jurídicos no Brasil em 11 de agosto de 1827. Não seria esta a leitura correta do meu texto. O fato de haver examinado algumas decorrências culturais da implantação de tais cursos entre nós não significa negar o meu aplauso a tamanho cometimento que sobre ter começado a formar profissionais do Direito em território nacional estimulou a mocidade brasileira no rumo da interdisciplinaridade jurídica, de modo a capacitá-la a dedicar-se aos mais variados ramos da atividade liberal com boa margem de segurança calcada na abrangência do conhecimento da cultura humanista. Porém, o que não se pode negar é o chamado irresistível ao estudo da cultura bacharelesca entre nós, decorrente dos movimentos acadêmicos durante décadas. Trata-se de um estudo instigante e atrativo. Quando em 1977 transcorria o sesquicentenário da criação dos Cursos Jurídicos, Lourenço Luiz Lacombe, então diretor do Museu Imperial, promoveu um ciclo de palestras para comemorar o acontecimento. Trouxe professores de Pernambuco, de São Paulo e do Rio de Janeiro. E eu me recordo que entre os temas mais debatidos figurava justamente o pertinente à cultura do bacharelismo. E essa cultura evidencia-se de várias formas, inclusive pela ostentação palavrosa tão comum nos tribunais do júri, onde o drama existencial é vivido por personagens reais, protagonizados pelos profissionais da defesa e da acusação num duelo feroz em que não faltam os mais requintados lances teatrais. Esse teatro gratuito sempre calou fundo na alma popular, para a qual crime sempre foi sinônimo de homicídio, julgado necessariamente no Tribunal do Júri. E por causa do espetáculo do júri ficou na imaginação popular que advogado é aquele que fala muito e bonito. Tudo isso de uma certa forma tem a ver com a prevalência do Direito Público sobre o Privado, principalmente em matéria criminal. Em 110 anos, isto é, de 1830 a 1940, nós tivemos três Códigos Penais e somente um Código Civil que raiou em 1916. O criminalista italiano Cesare Lombroso, nascido em 6/11/1835, na cidade de Verona e falecido a 19 de outubro de 1909 em Turim, foi o pai da teoria do criminoso nato que se revelava através de uma índole comportamental […] Read More
D. PAULA MARIANNA, A PRINCESA SEM A QUAL PETRÓPOLIS PROVAVELMENTE NÃO EXISTIRIA
PAULA MARIANNA, A PRINCESA SEM A QUAL PETRÓPOLIS PROVAVELMENTE NÃO EXISTIRIA Bruno da Silva Antunes de Cerqueira, Associado Correspondente Poucos conhecem a história da loura filha de D. Pedro I e D. Maria Leopoldina que nasceu no Rio de Janeiro em 17.02.1823 e faleceu na mesma cidade em 16.01.1833. Paula Marianna Leopoldina Joanna Carlota Faustina Mathias Francisca Xavier de Paula Michaela Gabriela Raphaela Gonzaga era a quinta filha do casal imperial. Seus dois prenomes principais foram a homenagem do pai às Províncias de São Paulo e Minas Gerais (capital Mariana), que tanto auxiliaram D. Pedro e D. Leopoldina no processo emancipatório do Brasil. A rigor, ao nascer, D. Paula foi “Infanta de Portugal e do Brasil”, haja vista não existir, ainda, nossa Constituição, promulgada somente em 25.03.1824; a partir daí, D. Paula foi somente princesa do Brasil, ainda que genealogicamente continuasse a ser infanta portuguesa. Os grandes biógrafos e historiadores da mãe e do pai (Carlos Oberacker Jr., Octavio Tarquínio de Sousa, Pedro Calmon e outros) apontam que foi, em grande medida, para tratar das enfermidades de D. Paula que D. Pedro I se decidiu pela aquisição da antiga Fazenda do Padre Corrêa. D. Paula era asmática e epilética, como todos os demais seus irmãos — exceção para D. Maria da Glória (mais tarde D. Maria II, rainha de Portugal) —, mas, dizem os citados autores, sofria também de “doenças do fígado”. Episódio triste na história de vida dessa princesa que durou tão pouco foi, em julho de 1826, o reconhecimento oficial de D. Izabel Maria de Alcantara Brazileira (filha da Marquesa de Santos) como filha do Imperador e a concessão do título de Duquesa de Goiás. Houve uma exasperação de D. Leopoldina no Paço de São Cristóvão, seguida de ação firme da rainhazita (D. Maria II de Portugal), negando-se a cumprimentar a “bastarda”. Neste momento torpe do pai-herói — literalmente —, D. Pedro teria ameaçado bater em D. Maria II, ao que ela retorquiu-o dizendo que ele não podia afrontar a soberana de Portugal. D. Paula Marianna saiu em defesa da irmã-madrinha e atacou a Duquesa de Goiás, ao que levou algumas palmadas de D. Pedro [1]. [1] Episódio a que se referem vários autores. Cf. LUSTOSA, Isabel. D. Pedro I, um herói sem nenhum caráter. Cia. das Letras, Rio de Janeiro, 2006. P. 231 A perda dessa irmã foi muitíssimo sentida por D. Jannuaria, D. Francisca e o pequeno […] Read More
HÁ 190 ANOS NASCIAM OS CURSOS JURÍDICOS NO BRASIL
HÁ 190 ANOS NASCIAM OS CURSOS JURÍDICOS NO BRASIL Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Enquanto nossos vizinhos hispanomericanos conheceram a Universidade desde o século XVI, nós apenas tivemos algumas Faculdades somente no século XIX. E os cursos jurídicos raiaram aqui a 11 de agosto de 1827 com a criação das Faculdades de Direito de Olinda e de São Paulo. Desde então, deixamos de buscar as luzes do saber jurídico na Universidade de Coimbra, para nos nutrirmos delas em dois pontos estratégicos do Império: Pernambuco com irradiação pelo Norte/Nordeste; São Paulo polo de atração dos estudantes do Sul/Sudeste. Mas não foram poucos os casos de fluminenses, mineiros e até paulistas que cursaram a Faculdade em Olinda e de nordestinos que colaram grau em São Paulo. Feliz intercâmbio capaz de aproximar o arquipélago que compunha o Brasil Imperial. Mas longe da praticidade da vida forense, do objetivismo do pleito judiciário, o teoricismo livresco, a retórica de braços com a vaidade tupiniquim, criaram a cultura do bacharelismo promovendo a doutor o simples bacharel que jamais defendera qualquer tese perante austeras bancas examinadoras. Deslumbrada matrona campista, nascida aí por 1870, mãe de numerosa prole não se cansava de apregoar aos viventes de acanhada freguesia rural do município norte-fluminense: – Os meus filhos serão doutores! Era o título valendo mais que a profissão nem sempre exercida. E até hoje no sul da Bahia é raro ouvir-se de alguém formado em Direito ser ele advogado. O que ocorre com frequência é a declaração enfática: – Eu sou bacharel! O diploma de conclusão do curso jurídico era o passaporte vip para a carreira política de sucesso, calcada quanta vez no discurso palavroso, inconsistente, alegórico, distante da realidade nacional. Uma locução francesa valia mais que uma atitude pragmática. A cultura bacharelesca criou a hipertrofia do Direito Público, relegando o Privado a segundo plano. A prova cabal disto está no fato de só termos conhecido o Código Civil em 1916, apesar dos esforços anteriores de Augusto Teixeira de Freitas (1816-1883). Entretanto, a Argentina com Dalmacio Vélez Sarsfield (1800-1875) e o Peru tiveram Código Civil bem antes de nós, o primeiro em 1869 e o segundo em 1852. Durante o século XIX e até no princípio dos novecentos, mestres e alunos deixaram-se empolgar pelas escolas penais italianas e pelos constitucionalistas franceses, alemães, espanhóis e portugueses. Enrico […] Read More
REVOLUÇÃO RUSSA: CENTENÁRIO ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA
Revolução Russa: Centenário Acima de Qualquer Suspeita Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, Associado Titular, Cadeira n.º 13 – Patrono C.el Amaro Emílio da Veiga “A revolução de outubro de 1917 é o ponto de partida de um movimento histórico, cujas sequencias estendem até nós e que ainda não esgotou os seus efeitos.” (Rene Remond). Remond, não deixa de ter razão ao afirmar que seus efeitos não cessaram, principalmente quando em nossa sociedade a polarização atual e reflexa se estabelece na disputa entre “mortadelas & coxinhas”, indicador de posições ideológicas ancoradas nas questões partidárias. Por estes sintomas contemporâneos, não podemos negar que a “revolução russa” de 1917, marcou o início de uma experiência cujos reflexos se processam à atualidade, pois se constituiu em sua época em um desafio concreto à ordem burguesa e capitalista da sociedade. O movimento possibilitou no período a transformação da sociedade e das relações sociais de produção, conduziu a ocorrência de uma ruptura social e política sem precedentes que possibilitou manifestações espontâneas de um grupo até então invisível no circulo político da sociedade industrializada, o operariado urbano. Assim é praticamente impossível não repensar a revolução russa e seu contexto de época, quando uma sociedade com 170 milhões de habitantes com 80% da população vivendo oprimida no campesinato, extremamente miserável, recém-liberada de um secular regime de servidão atroz, onde servos falecidos dignificavam candidatos à nobreza (Gogol). Mas impossível ainda é não a contextualizarmos em sua época e seu momento político extremamente opressivo comportando violências e genocídios como heranças do czarismo. Naquele exato momento a população sangrava em uma serie de combates nos cenários de guerra com o Japão, cuja derrota significou a destruição e miséria, com uma vitória para uma nação que se industrializou rapidamente como o Japão da Era Meiji. Em menos de uma década a Rússia foi inserida a força no cenário da Primeira Grande Guerra europeia, por puro capricho do Czar que se indispôs rufando seu nacionalismo ao dos germânicos, resultando na deserção de milhares de soldados russos onde o maior contingente era de mutilados que marchavam em fétidas fileiras de famintos para terra que pertencia ao “paizinho” (Czar). Independente do perfil ideológico, o movimento revolucionário foi necessário, pois o momento exigia reações que não poderiam ser contestadas na época. Mesmo que houvessem saído de um cenário de dominação, passaram a um novo dominador, onde o império de uma sociedade burocrática comunista se estabelece […] Read More
NOS DESVÃOS DA MEMÓRIA
NOS DESVÃOS DA MEMÓRIA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Há 160 anos raiava a imprensa em Petrópolis, justo quando estava em discussão na Assembleia provincial o projeto de lei que criava o município e elevava a freguesia de São Pedro de Alcântara à categoria de cidade. Pela mão do madeirense Bartolomeu Pereira Sudré veio a lume em março de 1857 o jornal Mercantil que durou até 1892 quando resolveu-se na Gazeta de Petrópolis. Em dezembro do mesmo ano apareceu O Parahyba fundado por Augusto Emilio Zaluar e que teve como redatores Remigio de Senna Pereira e Quintino Bocaiuva, este produzindo matérias com enorme senso crítico. Foi n’ O Parahyba que começou sua carreira jornalística o descendente de irlandeses Thomas Cameron, que em meados dos anos sessenta dos oitocentos fundou O Pharol em Paraíba do Sul, depois transferido para Juiz de Fora. De volta a Petrópolis na década de setenta, Cameron foi redatar o Mercantil onde ficaram famosos seus editoriais concisos e precisos. Lamentavelmente ninguém sabe onde foram parar as coleções do Mercantil. A Biblioteca Municipal só as possui a partir de 1876. Em compensação, O Parahyba, de vida efêmera, foi salvo graças ao empenho de Felipe Faulhaber que fez encadernar em dois grossos volumes os exemplares do periódico em epígrafe, doando-os à Biblioteca petropolitana. O Parahyba foi contemporâneo das batalhas eleitorais que se travaram nesta urbe até a instalação da municipalidade em junho de 1859 e da construção da estrada União e Indústria. Abrigou em suas colunas matérias não só de interesse local, mas de alcance regional. Seus colaboradores e correspondentes ocuparam-se de temas referentes à agricultura, à imigração e à colonização, aos incipientes projetos ferroviários, à escravidão, aos ensaios industriais. Foi também n’ O Parahyba, que Jean Baptista Binot fez publicar artigos memoráveis, já defendendo a natureza petropolitana, numa época em que não se falava em ecologia, já denunciando as agressões ao plano Koeler, máxime naquilo que concernia à construção civil nas áreas nobres do quarteirão Vila Imperial. Frederico Damke testemunha ocular da formação e do desenvolvimento da colônia germânica de Petrópolis, da qual foi escrivão, tradutor e estatístico, fez das colunas d’ O Parahyba a trincheira para defender sua reputação ante as calúnias levantadas por inescrupulosos indivíduos da ala colonial. Vale ainda registrar que durante o período monárquico […] Read More
HISTÓRIA EM CHAMAS
HISTÓRIA EM CHAMAS Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira Portentoso incêndio acaba de destruir tradicional prédio do Centro Histórico de Petrópolis. As chamas consumiram um supermercado localizado na Rua Paulo Barbosa com acesso de serviço na travessa Prudente Aguiar e fundos com a Praça Clementina de Jesus. Um pouco da história desse ponto comercial, para relembrar e reforçar o registro e, também enaltecer importante empresário que viveu com intensidade a vida comercial industrial, social, política e jornalística em nossa cidade: João Varanda. Ele veio de Bicas, Minas Gerais, com seu clã de empreendedores que se destacaram na vida do Município. Seu irmão José criou e manteve o saudoso Cine Esperanto; seu cunhado Cordolino José Ambrósio, foi prefeito, deputado estadual e ocupou a governadoria do Estado do Rio. Sobre João Varanda, disse, dentre muitas considerações, em artigo na Tribuna, edição de 19 de outubro de 1993: Foi ele um vulcão de criatividade, fissurado em trabalho, comandou muitas frentes de comércio e indústria em múltiplas atividades em Petrópolis. Nos anos 50/60 do século XX findo, sua empresa J. Varanda Comércio e Indústria comerciava automóveis, peças e acessórios, explorava postos de gasolina, materiais de construção, tintas, caça e pesca, combustíveis e derivados, alimentos, serviços gráficos, com editora, transporte de passageiros, concessionário da empresa Companhia Rodoviária de Transportes, direção do “Jornal do Povo”, respeitado matutino de forte opinião. O complexo comercial que hoje conhecemos por supermercado, existia com João Varanda, distribuído em empresas de diversos registros comerciais, portas abertas ao longo das ruas do Centro Histórico, adjacências e bairros. Algumas empresas do “Grupo Comercial e Industrial J. Varanda”: Filpan S.A., Auto Petropolitano, Auto Peças Petrópolis, Companhia Rodoviária de Transportes, Artes-Gráficas Impressora S.A., Produtos Alimentícios Jovar Ltda., e outras. Na sociedade, foi presidente do Lions Clube de Petrópolis, do Petropolitano F. C., integrou os quadros da ACIP (hoje ACIRP) e da CDL, colaborou com a Escola de Música Santa Cecília e outras entidades. Possuía doce espírito filantropo. Amava a política, foi candidato a prefeito, mas não logrou êxito nas urnas. Com sua visão e coragem teria sido um bom prefeito Ao falecer com ele partiu sua organização. Afinal carro sem motor não anda, João Varanda era o motor de seu fabuloso empreendimento.
ARMAZÉM FINKENNAUER
ARMAZÉM FINKENNAUER Paulo Roberto Martins de Oliveira, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 10 – Patrono Carlos Grandmasson Rheingantz, falecido O colono germânico GEORG FINKENNAUER (* 1809 na Alemanha e + 1883 em Petrópolis, RJ) chegou à Imperial Colônia de Petrópolis, no início do ano de 1846, em companhia da esposa e de cinco filhos. A filha Marie nasceu durante a viagem, em alto mar. Vieram de onde nasceram – Aldeia de Spiesheim localizada entre os rios Nahe e Rheim, Bispado de Mainz, Região do Hunsrück na Alemanha. Em Petrópolis receberam o prazo de terra nº 3631, no Quarteirão Woerstadt. Durante e após a construção de sua humilde casa, trabalhou por algum tempo nas obras de construção do Palácio Imperial e, em seguida, dedicou-se à sua antiga profissão de “Metzgermeister” (mestre açougueiro). Trabalhou como autônomo neste serviço (como tantos outros colonos), para a subsistência da família, nos tempos primitivos e difíceis da Colônia. Com muito trabalho e persistência economizou e realizou um grande sonho: o de ser comerciante. No início do ano de 1867, adquiriu o prédio do prazo de terra nº 231-B do Quarteirão Renânia Inferior, localizado na então Rua 14 de Julho nº 21, atual Rua Washington Luiz. Em outubro de 1867, após algumas reformas e concluídas as instalações – Georg inaugurou o seu armazém de “Secos e Molhados”. Em 1882, passou o estabelecimento para o filho caçula, Johann Christian Ferdinand Finkennauer, nascido em Petrópolis (*1851 e + 1918). Mais tarde, por volta de 1910, este fez sociedade com o filho Ferdinando Adão, neto do colono, comemorando em 1927 os sessenta anos ininterruptos do próspero negócio da família. Passados alguns anos, venderam o armazém para Joaquim Hansen (bisneto do colono Peter Hansen) e este, no ano de 1944, transferiu a casa comercial para Álvaro Degani, que manteve o mesmo ramo de negócio até o ano de 1958, quando transformou o armazém na concessionária de veículos DKW-VEMAG sob o nome de Serrana Automóveis. Com a transferência da concessionária para outro local mais amplo, o antigo prédio sofreu mais reformas – transformando-se no Hotel Petrópolis e depois no Scala Hotel. Apesar das inúmeras reformas e modificações que ocorreram no prédio ao longo dos anos, a parte superior da fachada (telhado) ainda lembra com poucos detalhes a “Casa Finkennauer”. ARMAZÉM FINKENNAUER, na Rua 14 de Julho, nº 21