A PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA FLUMINENSE Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Ficou na memória de estudiosos e pesquisadores, a Constituição do Estado do Rio de Janeiro, promulgada a 9 de abril de 1892. Foi esse o estatuto, que embora modificado aqui e ali ao longo do tempo, guiou os destinos fluminenses ao longo do período histórico conhecido como República Velha. Mas, o que muita gente não sabe, é que antes dessa Carta, houve uma outra, que não chegou a produzir seus devidos e legais efeitos, por motivos que serão expostos ao final desta exposição. Proclamada a República em 15 de novembro de 1889, o Governo Provisório dos Estados Unidos do Brasil, teve que legislar através de decretos, o mesmo acontecendo com os governadores das ex-províncias, até que se votasse a constituição federal e, depois dela, a de cada estado da Federação. A 15 de setembro de 1890, deu-se a eleição para a Constituinte Federal e dois meses depois, o governador fluminense Francisco Portela assinava o projeto de constituição estadual que seria apresentado à futura assembléia cujos membros seriam escolhidos pelo sufrágio direto em fevereiro de 1891. O Jornal Mercantil, que se publicava nesta cidade divulgou, em suas edições de novembro e dezembro de 1890, o referido projeto de constituição. Os responsáveis por tal esboço, adotaram, no concernente ao poder legislativo, o sistema bi-cameral: assembléia geral, constituída por uma câmara de deputados e por um senado. Bahia e Minas Gerais também seguiram o mesmo figurino, desnecessário e dispendioso, mais tarde abandonado. Quando a Constituição veio a lume, devidamente promulgada, a 29 de junho de 1891, o seu artigo 6º determinava: O poder legislativo é exercido pela assembléia geral, em regra com a sanção do governador do Estado. § 1º – A Assembléia Geral compor-se-á de duas câmaras: a dos deputados e dos senadores. Pelo projeto em estudo, o poder executivo seria exercido pelo governador do Estado, eleito por 4 anos e só podendo se recandidatar ao mesmo cargo, após dois períodos governamentais exercidos por outros cidadãos. O Vice Governador, que tivesse exercido as suas funções de governo durante os últimos 6 meses de quatriênio, não poderia ser eleito novamente no período seguinte. E o artigo 36 trazia uma novidade interessante: Cada eleitor votaria em duas urnas por duas cédulas diferentes: em uma para governador; na outra para vice. […] Read More
HISTÓRIAS E DEBATES
O deputado Aldo Rebelo ( PCdoB) em Folha de São Paulo ( Tendências e Debates, 10/01/01, Artigo intitulado “A Nova História Oficial”), comentando e criticando a coleção “Sociedade e História do Brasil” de autoria do Professor Marco Antônio Villa (nome que ele omite), para o Instituto Teotônio Vilela, declara o seguinte: “Está de volta uma das mais renitentes calúnias da História, a de que o Império foi austeridade e a República corrupção. “Na Folha de São Paulo do dia 16/01/01, também em “Tendências/debates”, o Professor Marco Antônio Villa responde a acusação, justamente indignado, por não ter sido citado como o autor da obra, no artigo “A Nova História Velha.” Depois de tecer várias considerações, corrigindo dados incorretos contidos no artigo do Deputado comunista, como, por exemplo, que a obra foi escrita para o Instituto Teotônio Vilela e não para o PSDB, “confundindo o leitor sobre a autoria do trabalho e lembrando o estilo de Stalin” (sic), declara que nunca lhe foi perguntado qual o Partido de sua preferência e escreveu a coleção histórica, com inteira independência, sem censura, como um verdadeiro historiador e não como produtor de uma nova versão da “História Oficial”. Também sou Professor de História, embora sem a magnitude de um Marco Antônio Villa. Gostei da resposta do ilustre colega ao Deputado comunista, inclusive porque, em sua réplica, chama a atenção de inúmeras passagens de nossa História, onde a superioridade do Império Brasileiro sobre a República fica flagrante. O Professor não se diz, “pour cause”, monarquista; se apresenta neutro, como bom Historiador e Pesquisador. Nem é de minha conta ousar perguntar-lhe. Entretanto, eu, pessoalmente, sou monarquista e o sou não só movido por causas históricas, sociais, econômicas e políticas, mas até também por causas filosóficas, psicológicas e teológicas. Não sou hermético. Se me provarem o contrário, mudo de opinião. Brincando com as palavras, não sou hermético e sim hermenêutico, se os documentos me provarem outra coisa, troco de camisa. Acho entretanto difícil, pois, por mais de 50 anos, os documentos só me fizeram mais solidamente monárquico. Por isso, o artigo do Professor Marco Antônio Villa trouxe-me enorme satisfação. Quando cita os irmãos Rebouças e Joaquim Nabuco como abolicionistas e monarquistas não faz mais, “data venia”, do que asseverar, uma grande verdade: O Império do Brasil sempre lutou contra a escravidão. É bem certo que muitos políticos da aristocracia rural, e que muitas vezes eram Senadores ou […] Read More
KOELER NO BRASIL – RESUMO
A chegada do jovem alemão de Mainz ao Brasil. Júlio Frederico Koeler no Corpo de Engenheiros. Sua presença na Província do Rio de Janeiro, especialmente na Vila Real da Praia Grande, onde começou a sua vida familiar. Sua naturalização como brasileiro. O trabalho na Serra do Mar para onde foi designado. A Estrada Normal da Estrela. O rio Paraíba do Sul e sua ponte. Atuação em outros locais do Vale. 1.1 – Ao embarcar para o Brasil se demitiu “livremente do cidadão Grão ducal” e disse que viria “viver e morrer aqui”, e foi o que aconteceu. No Brasil cumpriu uma brilhante trajetória, morrendo de um acidente, em 1847. (1) (1) Koeler chegou ao Brasil em 1828 a bordo da Galera de Bremen denominada “Harmonie”, que segundo o “Jornal do Commércio” de 3 de julho de 1828, gastou 62 dias na viagem, trazendo 225 alemães, dois oficiais subalternos e quatro famílias com 24 pessoas, destacando como passageiros, o Tte. Cel. Jorge Antônio Schaeffer, sendo a mesma notícia dada pelo “Diário do Rio de Janeiro”, da mesma data. 2.1 – Em 9 de julho de 1828 requereu sua admissão no Imperial Corpo de Engenheiros, no posto de Tenente e em 21 de novembro do mesmo ano, o Imperador concedeu-lhe a Carta Patente solicitada. 3.1 – Na então Vila Real da Praia Grande, casou-se com D. Maria do Carmo Delamare e foram pais do menino Rodrigo Delamare Koeler. 4.1 – Em 1831, ano em que seu filho nascera, foi ele naturalizado cidadão brasileiro por Decreto de 31 de outubro daquele ano. 5.1 – A 28 de abril de 1841 é nomeado pelo Visconde de Baependi, então Vice-Presidente da Província do Rio de Janeiro, para chefiar a 2ª Seção de Obras Públicas da mesma Província. Desde 1837 já vinha ali trabalhando incumbido dos trabalhos da estrada que então se construía, ligando o porto da Estrela a Paraíba do Sul, caminho que passava pelo Córrego Seco. (2) (2) O Córrego Seco foi a terra comprada por D. Pedro I em 1830, posteriormente colonizada por D. Pedro II com o auxílio de Koeler e de Paulo Barbosa. Aí surgiu Petrópolis, a Colônia alemã e depois cidade em 1857. 6.1 – Muito trabalhou na serra em diversas comissões, e não só na abertura da referida estrada. Morou com sua família na baixada quente e no clima ameno da serra. Muito lutou para vencer o relevo […] Read More
BRASILEIROS ILUSTRES EM PETRÓPOLIS
O VISCONDE DE OURO PRETO Affonso Celso de Assis Figueiredo, nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, a 21 de fevereiro de 1837, sendo filho do ilustre casal João Antônio Affonso e Dona Maria Magdalena de Figueiredo Affonso. Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo em 1858, foi o Visconde, sem favor algum, um dos últimos representantes da respeitável estirpe de estadistas do Império. Regressando a Ouro Preto, desempenhou importantes cargos, entre os quais os de secretário de polícia, inspetor da tesouraria e deputado provincial e geral e fundou na capital de Minas Gerais a folha liberal “O Progressista”, que circulou de 1859 a 1863. Transferindo-se para a Capital, ali fundou “A Reforma”, órgão do clube político do mesmo nome. Na Corte, com apenas 29 anos, foi nomeado Ministro da Marinha, integrando o Gabinete chefiado por Zacarias de Góis e Vasconcellos, em 1866, tendo na ocasião prestado relevantes serviços durante a Guerra do Paraguai. Na verdade, sua atuação frente ao Ministério da Marinha, naqueles tempos difíceis foi, sem dúvida, extraordinária. Referindo-se a ela, José Bonifácio de Andrada e Silva, citado pelo historiador João Dornas Filho, assim se pronunciou: “O Arsenal da Marinha operava verdadeiros prodígios fazendo construir, com rapidez inaudita vasos de guerra que logo foram movimentados. O Ministro providenciou prontamente sobre tudo quanto era urgente no gravíssimo transe… Em menos de três anos, dos estaleiros do Arsenal foram lançados uma corveta, três encouraçados, seis monitores e duas bombardeiras, além da reconstrução quase completa de uma fragata e duas canhoneiras” 1 . 1) Cf. Dornas Filho, João. Figuras da Província. Belo Horizonte, Movimento Editorial Panorama, 1949, p.248. Sua enérgica e profícua atuação no Ministério da Marinha o projetaram no cenário político nacional. Assim, escolhido senador do Império, em 1879, foi convidado a ocupar a Pasta da Fazenda no Ministério Sinimbu, tendo, no desempenho desta árdua função, reformado o método de apresentação de orçamentos e criado e regulamentado novos impostos. Como conseqüência, em 1882, foi nomeado Conselheiro de Estado e, em junho de 1889, com a queda do Gabinete Conservador de João Alfredo, recebeu a incumbência de organizar novo gabinete, ocasião em que expôs com grande lealdade ao Imperador, a grave situação em que o país se encontrava, com a agitação reinante em algumas províncias, visando à mudança da forma de governo. Fez ver ao Imperador a necessidade de enfraquecer e inutilizar as idéias falsas e imprudentes, responsáveis por tal […] Read More
COLÓQUIO DO INSTITUTO HISTÓRICO DE PETRÓPOLIS SOBRE OS 150 ANOS DA IMPERIAL COLÔNIA DE PETRÓPOLIS
Em 1565 teve início a colonização da Baixada Fluminense, ao fundo da Baia da Guanabara, com a concessão de uma sesmaria à Cristóvão de Barros. Mas a subida da Serra do Mar, mil metros acima, com sua crista encarpada e, principalmente, coberta por uma mataria selvagem, afastou dali o colonizador português. Aquela penosa subida somente foi vencida no princípio dos anos setecentos, com a abertura do Caminho Novo. É importante destacar aqui, que essa barreira natural influiu decisivamente nos destinos do Brasil, pois “nossa história atrevida de Bandeiras teria sido outra sem esse impedimento”, como lembra Alberto Ribeiro Lamego. A ocupação da Serra da Estrela foi logo iniciada e a partir dos primórdios dos oitocentos, a colonização com imigrantes alemães, uma tendência da época, foi experimentada. Primeiro com o Barão Georg Heirinch von Langsdorff na sua Fazenda da Mandioca, uma iniciativa particular que não teve o sucesso esperado. Na década de 30, trabalhadores alemães foram usados com eficiente resultado na construção da Estrada Normal da Estrela, uma moderníssima rodovia que subia a serra. Em 1845, chegou o primeiro contingente de colonizadores alemães que iria começar a construção de Petrópolis. Dez anos após passariam pela cidade outros colonos alemães que iriam construir a Rodovia União e Indústria e iniciar a vida na nascente cidade de Juiz de Fora. Por todo o final daquele século, centenas de imigrantes germânicos, sem um planejamento especial, iriam se estabelecer em algumas cidades mineiras para tentar vida nova. Comemoramos, 150 anos da chegada do “Virginie” ao porto do Rio, trazendo os primeiros 161 colonos e suas famílias, que arribaram Petrópolis em 29 de junho de 1845. De junho até novembro daquele ano, foram 2338 pioneiros vindos, principalmente, do Rheiland-Pfalz. A chegada desse contingente de desbravadores, significou efetivamente, a existência de Petrópolis. A cidade porém já existia desde 16 de março de 1843, quando Dom Pedro II assinou o Decreto Imperial nº 155, criando Petrópolis através do arrendamento das terras da Fazenda do Córrego Seco ao Major Júlio Frederico Koeler. Nos três anos seguintes, houve muito trabalho administrativo, técnico, comercial, político, social mas, no Córrego Seco, quase nada. A povoação verdadeira do lugar só começou a existir com a chegada das primeiras famílias de alemães que vinham ocupar o espaço que lhes tinha sido reservado. É tão significativa a presença do elemento alemão em Petrópolis, que durante cem anos houve uma grande indecisão sobre a verdadeira […] Read More
REGISTROS SOBRE KOELER (2)
A PASSAGEM DO RIO PARAÍBA DO SUL O rio caudaloso na época das chuvas, e mais seco e portanto mais estreito, na época da estiagem, ora dificultava, ora permitia a passagem dos viajantes e tropeiros que do porto da Estrela buscavam a Paraíba, ou de Minas que demandavam aquele movimentado porto. No começo, essa travessia era feita por meio de barcas movidas a remo por exímios remadores e também por meio de pranchas. As dificuldades apresentadas com remadores livres e um cativo, acrescidas com as canoas, como a grande que precisava de reparos, e também as duas outras que necessitavam de consertos. Por isso precisava-se de madeira o que se arrasta até 1837 e sente-se dificuldade de se consegui-la “na vizinhança da Paraíba”. O ilustre historiador José Antonio Soares de Sousa, assim nos falou em trabalho publicado na Revista do IHGB:1 “a passagem fazia-se então por uma velha barca ou uma grande balsa que comportava 15 mulas carregadas”, e isso baseado em Gardner e nos Relatórios de Koeler. Essa passagem era muito freqüentada por tropas com animais carregados e, como exemplo, destacamos o mês de fevereiro de 1838 que apresentou um movimento de 3.509 animais carregados para o porto da Estrela e, para a Província de Minas, 3.272 muares. No Relatório de Koeler, de 1835 e dirigido ao Presidente da Província, há uma referência à estrada da Estrela que é a “mais freqüentada da Província de maneira que nela só transitam mais viandantes que nas outras todas do centro reunidas”. Ainda utilizando o Relatório de Koeler do ano de 1838, vemos um interessante episódio: “aconteceu que carregando o Patrão a canoa grande com os efeitos do tropeiro Cordeiro, este exigiu que a enchesse com as cargas de 3 lotes de animais. O Patrão fez-lhe observações a que o tropeiro não atendeu e o resultado foi submergir-se a canoa no meio da correnteza e perderem-se as cargas e quase a canoa, que arrebatada pelas águas, desapareceu em um momento. Aí o administrador da obra da ponte prometeu 10$000 de gratificação a 2 particulares se salvassem a canoa e a gente embarcada na barca submergida. Marcelino Idálicio Cordeiro e Prodêncio J. de Camargo, não só salvaram primeiramente 7 pessoas que tinham caído no rio e, depois, com risco de suas vidas, foram buscar a canoa encalhada nas cachoeiras e conseguiram salvá-la e maior parte das cargas”. Datado da Vila da Paraíba […] Read More
QUARTEIRÃO MOSELA ATRAVÉS DOS TEMPOS (O)
O QUARTEIRÃO MOSELA ATRAVÉS DOS TEMPOS Paulo Roberto Martins de Oliveira, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 10 – Patrono Carlos Grandmasson Rheingantz, falecido Do Quarteirão Mosela e o povo colonizador, viveram épocas de grande atividades. A maioria dos colonos germânicos que habitavam o quarteirão, possuíam grandes conhecimentos profissionais: Eram carpinteiros, carvoeiros, ferreiros, pedreiros, e outros hábeis artífices que sempre encontraram muito o que fazer, tanto na Vila Imperial, quanto no seu próprio terreno e arredores, onde plantavam e tinham criações, dando serviço à sua própria família. No cultivo das hortas e dos pomares, colhiam variedades de hortaliças e frutos. Com a criação de suínos produziam, além da carne e outros produtos, a tão apreciada “Leber Blutwurst” (lingüiça de fígado e sangue). Das vacas, cujo o leite, abastecia a cidade, também produziam, em grande escala, o queijo branco (conhecido como queijo de minas). O Mosela era e ainda é um dos quarteirões mais participativo quanto à recreação dos seus moradores. Lá algumas sociedades recreativas, foram fundadas. Em 1895, fundaram o Harmonie Moselthal e mais tarde o denominaram de Sociedade Recreativa Harmonia Brasileira. Instalou-se à Rua Mosela n.º 713, num terreno cujo prédio, foi construído para este fim e que pertencia ao Sr. Frederico Burger. Mediante aluguel, o Harmonie funcionou até fins do ano de 1907, cedendo lugar para a Sociedade Boa Esperança. Porém esta não prosperou e encerrou suas atividades. Em definitivo e adquirindo o prédio, o Harmonie voltou para o seu antigo endereço e embora com algumas dificuldades, sobrevive até aos dias de hoje. Em 07/09/1928, um grupo de jovens fundou o Esporte Clube Vera Cruz e em 1954 adquiriu uma grande área de terras próximo à localidade do Moinho Preto. Em tempos difíceis, este clube esteve fora de atividades. Porém um grupo de sócios e saudosistas, João Guilherme Burger e Luiz Carlos Holderbaun, liderados pelo Sr. Augusto José Kreischer e com o apoio de um dos sócios fundadores, o Sr. Pedro José Kling, fez com que o clube voltasse aos seus tempos áureos e hoje, com um belíssimo campo de futebol e outras benfeitorias, vem plenamente atendendo aos sócios com torneios futebolísticos e outras atrações. Em 1929, em homenagem ao falecido Sr. Roberto Burger, foi fundada à Rua Mosela a Sociedade Desportiva Luzeiro, cujas atividades foram encerradas à alguns anos passados. Em 16/03/1997, por gentileza do Frei Vitalino Turcato – Presidente do Conselho das Pastorais das Obras Sociais São Judas […] Read More
PASSADO, PARA NÃO PERDER O FUTURO (O)
O PASSADO, PARA NÃO PERDER O FUTURO Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva Faz já algum tempo. Não muito. Mas somado ao período antecedente vai constituindo o valor que a permanência através dos anos acaba conferindo às pessoas, às coisas, aos fatos. Foi a 9 de março de 1986 que o “Relógio da Estação” voltou a funcionar para o público, na fachada da Casa Comércio, na Rua Dr. Porciúncula. Apesar daqueles que, de visão tacanha, hoje lhe dão pouca importância, ele prossegue na marcha para a idade que consagra e que é dado objetivo incontestável. Era um domingo. A cerimônia de reinstalação foi planejada para se resumir no próprio trabalho de levar o relógio do chão ao suporte fixado na parede e de pô-lo em movimento. A solenidade aí estava; era o assistir não a um ato simbólico e evocativo ou a um único gesto externo, como apertar um botão de partida, final de uma série de árduos labores vividos longe do conhecimento da maior parte, mas sim assistir à realidade, com todas as possibilidades de sucessos e de fracasso, da realização da última etapa da recuperação do tradicional relógio. O público acorreu ao local, participando, com suas opiniões, suas apreensões, suas palavras de advertência e incentivo, com o apoio de sua mão e do vigor de seu braço, dos esforços físicos da entrega a ele do aparelho que a ele em serviço sempre pertenceu. Não faltaram os descendentes de Otto Jerke e seus familiares, em cada instante presentes e colaboradores, especialmente Otto Jerke Filho. (1) (1) Ver J. TEIXEIRA NETTO, Jornal de Petrópolis de 14.3.86, pág. 4 . Os trabalhos duraram das 18h15min às 20h45min, momento em que, terminadas as ligações e iluminados os mostradores Norte e Sul (2), os mecanismos secundários se puseram a mover para o ajuste automático com o relógio-mestre às 20h59min. (2) O mostrador Norte é o que está voltado para a Rua do Imperador e o Sul para a Rua Paulo Barbosa. (Com mais precisão, os mostradores visam respectivamente ao NNW e ao SSE). É interessante observar que a Rua do Imperador corre de Leste para Oeste, no alinhamento muito aproximado de 063 e 243 graus a partir do Norte verdadeiro. Os mapas da cidade em geral indicam orientação pelo Norte magnético. O Sr. ALZINO PEREIRA DA SILVA, havia colocado a fiação elétrica para […] Read More
RELÓGIO DA ESTAÇÃO NOVAMENTE EM FUNCIONAMENTO (O)
O “RELÓGIO DA ESTAÇÃO” NOVAMENTE EM FUNCIONAMENTO Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva “Eu era então copeiro do rei” (Neemias, 1,11) Com os modernos sistemas de informação da hora, especialmente através das rádios-relógios e do telefone, conjugados e dependentes dos equipamentos de Observatórios Astronômicos, perdeu-se a noção do que representava, tempos atrás, a dificuldade de se saber e de se manter a hora certa. Pense-se, por exemplo, em uma pequena cidade afastada dos grandes centros, em um período em que a população não mais se guiava pelo deslocamento do Sol entre a aurora e o poente. Como se teria ali o conhecimento da exatidão da hora? Quem, afinal, dizia qual era a hora certa? É claro que se está cogitando de referências de tempo mais precisas do que aquelas manifestadas por expressões como “à noitinha nos encontramos”, ou “depois da chuva passo lá”, ou “chegue logo que amanhecer”, ou “o nosso acordo vale até o pôr-do-sol”. Em termos de minutos, quem dizia naquela cidade o que era certo ou errado, quem afirmava que este ou aquele relógio marchava bem ou não? Vem, então, à lembrança os relógios públicos. O da torre da igreja, o da estação, o do relojoeiro. Sim, é interessante marcar que a vida das cidades se organizava, no tocante a horários, pelos relógios públicos, sobretudo aqueles de maior confiança, aqueles dos relojoeiros que forneciam o padrão, a “hora certa”. Em Petrópolis (RJ), na Rua Dr. Porciúncula, diante da Estação da Estrada de Ferro Leopoldina, o relojoeiro OTTO JERKE instalou por sobre a loja onde funcionava a sua “Relojoaria e Ourivesaria Suissa”, um grande relógio, de duas faces, luminoso. Isto ocorreu entre setembro e outubro de 1922. O requerimento de licença para instalação foi protocolado na Prefeitura Municipal sob o nº 3359, a 4 de setembro de 1922 e foi deferido a 18 do mesmo mês, fixando-se o dia 20 de outubro seguinte como termo final do prazo para a colocação do relógio na posição indicada na parede do prédio. O serviço foi realizado satisfatoriamente e encaminhou-se o requerimento ao arquivo a 3 de novembro. Tanto a caixa e o artístico suporte representando uma águia, como o mecanismo haviam sido importados da Alemanha. A precisão do funcionamento foi por todos logo reconhecida e o relógio passou a comandar os avanços, os atrasos e a pontualidade da vida de […] Read More
PETRÓPOLIS: NOVO ANO, NOVO SÉCULO, NOVO MILÊNIO E NOVAS PERSPECTIVAS
Petrópolis, ou antes a Fazenda do Córrego Seco teve seu destino determinado pelo decreto imperial de 16 de março de 1843: construção de um palácio para o Imperador, com suas dependências e jardins, terreno para uma povoação que deveria ser aforado a particulares assim como cem braças dum e doutro lado da estrada geral que cortava a fazenda para também ser aforado a particulares (com dimensões determinadas). Havia, ainda a recomendação de demarcar terrenos para uma igreja com a invocação de São Pedro de Alcântara e para o cemitério da povoação. Assim seria local de vilegiatura para a Família Imperial e desenvolver-se-ia como uma povoação comum. A presença do Palácio atraiu a afluência de famílias ricas, nobres, de diplomatas e funcionários, enfim de pessoas de alguma maneira ligadas ao Imperador e sua família. Houve grande número de edificações de casarões e hotéis, muitos dos quais testemunham a arquitetura, a arte e o desenvolvimento cultural da segunda metade do século XIX; ao mesmo tempo a qualidade de vida, com ar puro e água limpa e abundante, livre das febres e epidemias que assolavam o Rio de Janeiro fez com que educadores de visão mandassem construir importantes instituições de ensino para meninos e meninas cujos pais desejassem proporcionar aos filhos educação em ambiente saudável. As construções que ainda existem, com seus jardins também de época, formam o que chamamos de “centro histórico”. Ao mesmo tempo, a necessidade de pessoas habilitadas ao serviço de desmatamento dos vales onde se instalariam os futuros habitantes segundo a planta elaborada por Koeler, as construções das habitações e serviços de transporte, alimentação e outros, provocaram a vinda dos colonos alemães e de outros estrangeiros que aqui vinham tentar a vida. No final do século XIX, com a chegada até nós da chamada “Revolução Industrial” que proporcionou o desenvolvimento de grandes fábricas de tecidos, Petrópolis tornou-se conhecido no mundo inteiro pela sua produção textil, desenvolvendo-se sobremaneira no setor econômico e também na sua população pois suas indústrias atraiam, não só operários oriundos de outros estados brasileiros, sobretudo Minas Gerais, como também de outros países como foi o caso da Companhia Petropolitana, em Cascatinha em que a quase totalidade da mão de obra veio da Itália trazendo, por conseguinte, outros costumes, outras tendências e, mesmo, outras formas de encarar o trabalho com diferente perspectiva. Politicamente Petrópolis passou de colônia e povoação a Cidade em 29 de setembro de […] Read More