ENTREVISTA VISITA À CASA DA SRA. ALUÍZIA MARIA GABRICH

  Primeiramente darei um breve conhecimento histórico da família GABRICH. A princípio ainda não foi possível pesquisar na Alemanha, a aldeia de origem do colono GEORGE GABRICH, sabe-se apenas que acompanhado de sua esposa Elizabete e mais 3 filhos, viajaram na barca inglesa “George” com destino ao Brasil, pagando 450 francos pelas passagens para a sua família. Partiram do Porto de Dunquerque na França em julho, chegaram ao Brasil em 26 de agosto e desembarcaram no Porto da Cidade do Rio de Janeiro em 29 de agosto de 1845. A seguir foram levados para o depósito dos colonos (Sociedade Promotora de Colonização da Província do Rio de Janeiro) na Rua da Glória. Em 02 de setembro de 1845 entre outros, o colono George Gabrich e sua família, encontravam-se alojados na casa que servia de depósito dos colonos na Imperial Cidade de Niterói. O colono e sua família ao chegarem no Povoado de Petrópolis, receberam o prazo de terras de 1ª Classe – n.º 271, com a superfície de 781 braças quadradas e um décimo – no Quarteirão Vila Imperial – com testada para o Caminho Colonial (hoje Rua Casemiro de Abreu). Em 1847, recebeu a gratificação Imperial de 25$000 (vinte e cinco mil réis). Sendo 5$000 (cinco mil réis) por cada um da família. Em 01/01/1854, pagou o foro de 7$810 (sete mil oitocentos e dez réis) relativo ao prazo de terras. Em 16/07/1856, recebeu o título/registro de aforamento n.º 1097. Em 27/12/1859, recebeu o n.º 110 da Relação da Diretoria da Colônia – nesta época constava o casal e 7 filhos. Com a morte do colono em 13/04/1873, passados dois anos e exatamente em 12/04/1875, a viúva e os demais herdeiros de George Gabrich, vendem e transferem o prazo de terras para o foreiro Pedro Schmitz do qual pagou 3$000 (tres mil réis) pela transferência. Este documento foi assinado por Pedro Schmitz e como procurador da viúva e dos herdeiros, assinou o Sr. José Schaefer – (estes assentamentos estão registrados no livro 8-A da Cia. Imobiliária de Petrópolis). No dia 11 de março próximo passado, tive o prazer de visitar a Sra. Aluízia Maria Gabrich Barenco. A representante mais idosa da família Gabrich – com 84 anos de vida. A encontrei alegre, saudável e bem disposta a lembrar-se do passado. A memória infalível de Dona Aluízia, transportou-me para o início deste século; com magníficas lembranças dos seus antepassados e […] Read More

IMPERIAL COLÔNIA GERMÂNICA DE PETRÓPOLIS ATIVIDADES SOCIAIS, ARTES, HÁBITOS E COSTUMES

  ATIVIDADES SOCIAIS A primeira associação dos colonos, nasceu no ano de 1854 – a GEWERBE VEREIN, voltada para os estudos das artes e ofícios. Com o término da Imperial Colônia Germânica em 1859, deixou de existir a “Caixa de Socorro”mantida pela mesma. Em substituição; Pedro Müeller (diretor do Semanário Germânia) fundou em 01/11/1864 a Sociedade Beneficente “Deutsch Brasilianisch Krankenkasse Brunderbund”. A seguir, outros entusiastas da Colônia, fundaram a Cecilien Verein no Quarteirão Nassau, a Liedertafel no Quarteirão Bingen e em 07/09/1898, Pedro Hilgert fundou a Turnverein de Petrópolis. Após o regime colonial, surgiram as sociedades recreativas, musicais e dançantes. Em 1863, o Professor Frederico Stroelle, fundou a “Saengerbund Eintracht” (denominada mais tarde por Coral Concórdia). Em seguida surgiram outras associações. Sendo algumas instaladas nos Quarteirões: Nassau, Bingen e Mosela. Cada associação criava o seu próprio coral, outras atividades artísticas, esportivas e musicais. Além de organizarem passeios, piqueniques e outros eventos.. Em 11/11/1894 foi fundada a “Deutscher Verein” e em 05/05/1895 pelo Sr. Carlos Kling Sobrinho (neto do colono George Magnus Kling), foi fundada a “Harmonie Moselthal” que mais tarde passa a denominar-se Sociedade Recreativa Harmonia Brasileira. Apesar das muitas dificuldades comuns a qualquer clube, vem esta sociedade resistindo até aos dias atuais, com um quadro de sócios que ainda na maioria, são descendentes dos nossos colonizadores. Vale ressaltar que por volta de 1874, os Srs. Carlos Latsch e Pedro Kneipp, mantinham uma casa de bailes no local ainda conhecido como Duas Pontes (entre as Ruas Washington Luiz e Cel. Veiga). A parte recreativa dos primeiros tempos da Colônia, tinham mais caráter familiar de festas escolares e religiosas e geralmente aconteciam nos quarteirões, sempre longe da Vila Imperial. Em 1854 existiu um coral formado por 20 à 25 colonos, sob a regência do também colono Jacob Müller, cujo trabalho teve por início o ano de 1849. A princípio com cânticos religiosos, quando das apresentações nas missas dominicais. Quanto a parte musical, tem-se notícias de que a primeira banda de música dos colonos, surgiu em novembro de 1845 (apenas 5 meses após o início da Colônia) e composta por l2 pessoas. Porém por mais que pesquisei, não consegui descobrir os nomes destes colonos. Com certeza, sabe-se que o primeiro musicista que apareceu na Colônia, foi o Sr. Gustavo Eckardt – natural de Hesse e competente afinador de pianos. Era casado com uma das filhas do colono Valentim Scheid, moradores do Quarteirão […] Read More

QUINHENTOS ANOS DE BRASIL – COMPROMISSO COM O FUTURO

QUINHENTOS ANOS DE BRASIL – COMPROMISSO COM O FUTURO Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, cadeira nº 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva O nosso olhar para a História dos quinhentos anos não pode ser uma contemplação. Tem que ser um ato sério de refletir sobre os ensinamentos alcançados e as experiências vividas para marcarmos que rumo tomar agora, a fim de construirmos um amanhã que certamente não pode ser igual ao hoje de tantas misérias físicas e morais. A História não é narrar acontecimentos pelo simples narrar. É estudá-los, para progredir. As festividades que correm neste período por todo o País hão de diferir da celebração da conquista de uma taça. Não comemoramos um feito acabado, uma competição terminada com vitória. Devemos ter a consciência de que estamos dando relevo, com festas, assim como deve ser um casamento, a um compromisso verdadeiro em relação ao que vamos realizar na vida para atingir a felicidade, cientes das virtudes com que contamos e dos erros a corrigir. A chegada das embarcações de Pedro Álvares Cabral às costas existentes em uma desconhecida vastidão oceânica ao poente é fato resultante de muitos fatores e causador de diversos outros a respeito dos quais temos que pensar. Consideremos alguns pontos nesta oportunidade. O encontro de terra depois de tantos dias de navegação audaciosa, em rota adotada deliberadamente para dentro de região inexplorada, significa o apuro dos conhecimentos da época, a utilização extrema da ciência e da habilidade náutica até então adquiridas. Os portugueses dispunham de instrumentos de observação astronômica e de métodos de seu emprego, recursos materiais e intelectuais que iam sempre desenvolvendo. Dispunham de naus e caravelas as mais avançadas, a última palavra em construção naval. Dispunham de técnicas de navegação, de esquemas de exploração e de sistema de comunicações os mais elaborados a partir das expedições anteriores. Tudo isto foi dura e longamente trabalhado para ganhar eficiência adequada à conquista e à manutenção da liderança nos embates da expansão de domínio.   São afirmações genéricas, mas verdadeiras. Brotam da crítica dos mais sábios à fonte documental. São verificáveis em consagradas obras (1). As palavras que ouvem estão calcadas o mais das vezes no minucioso livro de Moacyr Soares Pereira intitulado A Navegação de 1501 ao Brasil e Américo Vespúcio (2). (1) nota ao final (2) ASA Artes Gráficas Ltda., 1984.   Exemplos concretos vão a seguir mencionados em confirmação das assertivas […] Read More

NOVENTA ANOS DA REVOLTA DA CHIBATA (OS)

OS NOVENTA ANOS DA REVOLTA DA CHIBATA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima 1910 foi o ano do inferno astral na política brasileira, fluminense e petropolitana. No plano nacional, a ascensão da figura caricata do Marechal Hermes da Fonseca à suprema magistratura do país, depois de um processo sucessório traumático, iria marcar o início da fase decadentista da República Velha ou melhor da Primeira República. Na esfera estadual, a diplomação do candidato niilista Oliveira Botelho numa trama cheia de fraudes que alijou do poder o presidente eleito Edwiges de Queiroz, ia inaugurar na terra fluminense um período de desenfreado caciquismo com seu clímax desastroso já nos anos vinte, no triste episódio da deposiçao de Raul Fernandes e da subida de Feliciano Sodré pela mão nefasta de Artur Bernardes. Em Petrópolis, 1910 marcou o fim da era Hermogênio Silva, que foi das mais esplendorosas que esta urbe já viveu, embalada por um grupo político forte, sério e que fez enormemente pela cidade. A queda do hermogenismo abriu o caminho para a grande crise que provocaria a intervenção no município, ao arrepio dos mais sagrados postulados do ideário e da legislação republicanos, com a imposição da Prefeitura em 1916. Feita essa tomada de ordem geral, para marcar com letras de fogo o ano fatídico de 1910, ocupemo-nos de um lamentável episódio ocorrido em plena baía da Guanabara, nas barbas do poder central, no mês de novembro daquele ano. O Marechal Hermes acabara de tomar posse de seu cargo a 15 de novembro. Oito dias depois, na noite de 23 para 24, marinheiros a bordo dos principais navios de guerra brasileiros, sob o comando de um certo João Cândido, iniciaram uma rebelião que passou à História com o nome de Revolta da Chibata. Em síntese, o movimento reivindicava melhores soldos e abolição por completo dos castigos corporais. Tais os motivos propalados, as causas aparentes do motim. Talvez não fosse prudente descartar outras motivações de ordem política, tanto mais que o governo que se iniciava estava viciado na sua origem por treitas, manobras solertes, fraudes, intrigas e de toda a sorte de baixarias. Seria ocioso, neste momento em que se pretende rememorar e até repensar a Revolta da Chibata, repetir tudo quanto disseram os jornais da época e publicaram aqueles que se ocuparam do assunto em nível nacional, inclusive os que […] Read More

JORGE SAMPAIO, O ÚLTIMO FIDALGO – (CRÔNICA HISTÓRICA)

  Há um perpassar de tristeza pelos socavões históricos de Petrópolis. Com a figura de Jorge de Souza Ferreira Francklin Sampaio, morto aos 96 anos de idade, desapareceu parcela viva da memória da Cidade Imperial. Personalidade ímpar encarnou, em vida, os singelos valores, apanágio dos homens que assimilaram o perfeccionismo pedagógico do Império e suportaram as agruras libertárias no início da República. Ninguém representou melhor a cidade serrana, do que ele, cidadão petropolitano. Médico, conhecedor de artes plásticas, pianista, tenor de circunstância, era homem de consciência, do diálogo e da palavra. A sua prosa, rica de informações, fazia por realçar a História Pátria ao desvendar o significado das coisas imperecíveis, e dar perpetuidade às aspirações, tangíveis, dos ancestrais, tão necessárias para a nacionalidade. Por divina eleição do destino representou a sua época, condensando em si as virtudes domésticas, cívicas, repositório que foi dos esplendores morais da sociedade. E soube viver com discrição e modéstia. Homem sem desgostos, inexaurível nas atenções, afinado com as belezas da existência, cônscio de seus deveres – a lhanura de seu procedimento provinha da simbiose que praticava entre a contemplação do passado e o exercício do presente. A atmosfera do Império que lhe amoldou a personalidade, tanto quanto, os entreveros da República a conduzirem sua vida, fizeram com que o sentimento afetivo, nele, se apresentasse aguçado pelo cunho da autenticidade. Não era homem de disputas estéreis e nem nascera para perseguir posições de prestígio pois já representava, pelo berço, aquela interação antevista por Goethe, aurida na fidelidade ao “sonho da juventude”, herança européia misturada ao despretensioso comportamento brasileiro que aflorou na sociedade de Petrópolis, assimilação que é a razão de sua grandeza. É este o sentido profundo que o fez identificado a harmoniosa Cidade Imperial, transcendência a torná-lo partícipe da misteriosa vibração poética, impregnada nos ares serranos, que devolve à alma o bálsamo para as vicissitudes da existência, e de tão simples se iguala aos riachos que refletem margens multicoloridas, as paisagens, a nobre magnificência de construções seculares, e nomes tutelares do lugar, a exemplo do padroeiro, franciscano ibérico, São Pedro de Alcântara. Desde os meus tempos de estudante, no Colégio S. Vicente de Paulo, em Petrópolis, à época da 2ª Guerra Mundial, nos repetidos fins de semana passados em Corrêas, aprendi a observar, no Jorge Sampaio, a sua cativante distinção e afabilidade para com as pessoas. Admiração consolidada face às reuniões, costumeiras após as missas […] Read More

CAMÉLIAS DO LEBLON E A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA (AS)

AS CAMÉLIAS DO LEBLON E A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA Eduardo Silva, Associado Correspondente Um quilombo no que é hoje a Zona Sul do Rio, uma princesa (Isabel) que acolhia escravos fugidos no seu palácio e uma flor que servia de símbolo de um movimento subversivo: historiador junta as peças do quebra cabeça e reconstitui episódio esquecido do Império. A crise final da escravidão, no Brasil, deu lugar ao aparecimento de um modelo novo de resistência, o que podemos chamar quilombo abolicionista. No modelo tradicional de resistência à escravidão, o quilombo rompimento, a tendência dominante era a política do esconderijo e do segredo de guerra. Por isso, esforçam-se os quilombolas exatamente em proteger seu dia-a-dia, sua organização interna e suas lideranças de todo tipo de inimigo ou forasteiro, inclusive, depois, os historiadores. Já no modelo novo, o quilombo abolicionista, as lideranças são muito bem conhecidas, cidadãos prestantes, com documentação civil em dia e, principalmente, muito bem articulados politicamente. Não mais os poderosos guerreiros do modelo anterior, mas um tipo novo de liderança, uma espécie de instância de intermediação entre a comunidade de fugitivos e a sociedade envolvente. Sabemos hoje que a existência de um quilombo inteiramente isolado foi coisa rara. Mas, no caso dos quilombos abolicionistas, os contatos com a sociedade são tantos e tão essenciais, parte do jogo político da sociedade envolvente. O Quilombo do Jabaquara, em São Paulo – uma das maiores colônias de fugitivos da história – é um bom exemplo do novo paradigma da resistência. O quilombo organiza-se em torno da “casa de campo de abolicionista” e os quilombolas erguem seus barracos com dinheiro recolhido entre pessoas de bem e comerciantes de Santos. A população local, inclusive as senhoras de bom nome, protege o quilombo das investidas policiais e parece fazer disso um verdadeiro padrão de glória. Quintino de Lacerda, o chefe do quilombo, levou uma vida bastante confortável e morreu rico, deixando extensa lista de bens, móveis e imóveis, para seus herdeiros, incluindo um pequeno tesouro amealhado em jóias de ouro e moedas de prata. Quintino não era um guerreiro no mesmo sentido que o foi Zumbi dos Palmares, o indomável general. Era já uma espécie de administrador, articulador, líder populista, intermediário, enfim, entre o quilombo e a sociedade em torno. Sobre o quilombo do Leblon, no Rio de Janeiro, as notícias são ainda mais surpreendentes. A começar por seu idealizador, ou chefe, que era o […] Read More

HISTÓRIA X FOLCLORE

  1 – MAXIXE SUBVERSIVO A canção “Cálice” de Chico Buarque de Holanda, êxito da música popular em 1978, levou cinco anos congelada até obter permissão do Governo Federal em Brasília, para ser gravada e veiculada. Em se tratando de Chico Buarque, nosso Schubert caboclo, não admira a perseguição que sofreu da censura militar oficial, que em matéria de música, como em toda produção artística, chegava às raizes do absurdo, temerosa de um “fá” menos ortodoxo, ou de um sincopado mais extremista. Há quem julgue que essas e outras perseguições, a depor vergonhosamente contra a cultura nacional, e o grau de inteligência dos censores, é coisa do nosso tempo, fruto da política pós 64. Na verdade, trata-se de coisa bem antiga. Durante quatro séculos vivemos sob regime colonial com o pensamento brasileiro censurado duplamente: pelo governo de El Rei e pela Igreja. Com pouco mais de 150 anos de independência, ainda não aprendemos a viver dentro do regime da liberdade criadora, viciados na mentalidade do colonato, que passou da monarquia e atravessou a república, com raros interregnos de respeito à cultura e à arte. No tempo do Presidente Afonso Pena, por exemplo, quando o Marechal Hermes era Ministro da Guerra (atual Ministro do Exército), mandou proibir a execução do maxixe pelas bandas militares, porque tal gênero musical popular, segundo a autoridade, depunha contra os foros de civilização do Brasil, por ser música de negros e de gentinha. O Marechal Hermes, depois Presidente da República, era admirador ferrenho do militarismo alemão e coube-lhe convidar a missão militar alemã que veio ao Brasil em 1908, para assistir as manobras militares do Exército, em Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Depois das manobras os oficiais prussianos foram homenageados com um desfile de bandas militares e, quando o chefe da missão visitante Von Reichau ouviu nossos músicos, ficou tão entusiasmado que pediu ao Marechal que fizesse tocar o mais recente sucesso do Carnaval carioca – o maxixe “Vem cá Mulata”, que fazia furor até na Europa, sendo conhecido na Alemanha. Os alemães foram atendidos e a banda puxou o maxixe bem sapecado, que para os anfitriões foi um verdadeiro escândalo. Já é velha, como se vê, essa mania de nós nos envergonharmos do que é nosso e bom. Cinco anos depois, em plena Presidência da República, o Marechal Hermes, casado com D. Nair de Teffé, amiga dos artistas e ligada à alta sociedade carioca, […] Read More

RIO DE JANEIRO DE D. JOÃO VI COMO ETAPA NA FORMAÇÃO DA CIDADE CONTEMPORÂNEA (O)

O RIO DE JANEIRO DE D. JOÃO VI COMO ETAPA NA FORMAÇÃO DA CIDADE CONTEMPORÂNEA Rachel Esther Signer Sisson, Associada Correspondente Tendo em vista o tema proposto – o Rio de Janeiro contemporâneo e o legado de D. João VI – serão inicialmente abordados alguns aspectos da evolução do espaço da cidade julgados pertinentes, sem qualquer intenção de esgotar a riqueza e a complexidade do tema. Embora iniciada a vida política da cidade em 1565, com a fundação entre o morro Cara de Cão e o Pão de Açúcar, sua existência urbana só começou em 1567, quando da transferência para o morro do Castelo (I), onde foram logo edificados a fortaleza e a igreja de São Sebastião, a casa dos governadores da capitania, a casa de Câmara e a cadeia pública, o pelourinho, os armazéns do rei e o colégio dos jesuítas, inaugurado em 1573. No Seiscentos, o Castelo foi preterido a favor da várzea de Nossa Senhora do Ó, demarcada, ao sul, por esse morro e o de Santo Antonio, e, ao norte, pelos de São Bento e a da Conceição. A partir da orla entre os morros do Castelo e de São Bento, foi tomado aos brejos, por drenagem ou aterro, o solo suporte de uma trama viária quase regular tomando a direção geral oeste, a qual, já no Oitocentos, após atingir o campo de Santana, tornava-se bastante rarefeita, como se vê na planta da cidade de 1812, encomendada pelo Príncipe Regente. Já então, o litoral norte da cidade, o mais abrigado, e preferido para a localização de trapiches, contava ainda com casos, “algumas assaz excelentes”(2), à margem das praias e nas encostas do alinhamento montanhoso Conceição-Providência, entre aquele litoral e a várzea. Na zona sul, já se iam desenvolvendo os bairros do Catete, Laranjeiras, Botafogo e Gávea, proliferando as casas de chácara, sendo que “nenhum outro tipo de edificação exprimiu com tanta autenticidade a vida íntima da gente carioca e o caráter regional de sua arquitetura”(3) Dada a afinidade do Rio de Janeiro luso-brasileiro com quadros construídos citados por Françoise Choay, o seu espaço urbano identifica-se aos sistemas fechados de evolução lenta considerados puros por significarem “pelo jogo de seus próprios elementos, sem recurso a sistemas suplementares verbais ou gráficos” – e hipersignificantes, por serem “condicionados por um conjunto (….) de outros sistemas que eles mesmos, por sua vez, condicionam”, ou seja, por engajarem “uma conduta global […] Read More

ELEMENTOS PARA A HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO PETROPOLITANA

  Agradeço à Câmara Municipal de Petrópolis e ao Clube 29 de junho, a honra de poder estar aqui, e dizer algo em homenagem a data comemorativa da chegada de nossos primeiros colonos alemães à região. Não sou um historiador! Sou um estudioso da história, honrado com eleição para sócio de nosso Instituto Histórico. Por isso mesmo, avulta minha responsabilidade e peço às autoridades presentes e convidados que relevem‑me, pois embora professor universitário, ultimamente, escritor e presidente de nossa Academia Petropolitana de Letras, não sou um “expert” em história, porém, apenas, um curioso de nosso passado, como, de certo, muitos dos presentes. A data que hoje comemoramos já foi polêmica quando um expressivo número de historiadores e personalidades da vida pública da cidade, liderados pelo ex‑prefeito Dr. Antonio de Paula Buarque, pretendia que a 29 de junho de 1845 fosse a data da fundação de nossa cidade. Entretanto, a história de Petrópolis iniciou-se oficialmente em 16 de março de 1843, na data em que o Imperador D. Pedro II assinou o Decreto no. 155 que aprovou o plano de seu mordomo Paulo Barbosa da Silva, determinando o arrendamento da Fazenda do Córrego Seco ao major de Engenheiros Júlio Frederico Koeler, reservando-se uma área central para que nela se edificasse o Palácio Imperial, assim como uma povoação que, pela Portaria de 08 de julho de 1843, recebeu a denominação de Petrópolis, ou “Cidade de Pedro”. Isto não retira do dia 29 de junho seu grande significado, pois ele identifica a data em que, verdadeiramente, chegaram os colonos que iniciaram a obra da implantação aqui, nas terras dos Índios Coroados, de uma nova colonização. Contudo, antes, muito antes, nossa região já tinha história e ela começa quando após o descobrimento do Brasil os portugueses, desejosos de alargarem o domínio de sua pátria, embrenharam-se pelo sertão, após o reconhecimento e primeiras explorações da costa atlântica. Segundo pesquisas e depoimento de Henrique José Rabaço, meu saudoso e ilustre colega na Universidade Católica de Petrópolis e patrono da cadeira nº 22 que ocupo em nosso IHP, foi no longínquo ano de 1531 que Martin Afonso de Souza, buscando prescrutar o interior da terra recém descoberta e, eventualmente, alargar os dominios portugueses, mandou alguns tripulantes penetrarem para o interior. Segundo o historiador, o “Diário de Navegação” de Martin. Afonso diz que esses exploradores regressaram. trazendo reluzentes seixos do Alto da Serra. Muitos estudiosos levantaram a hipótese […] Read More

TIRADENTES, EXPOENTE MÁXIMO DE CIVISMO

  Com muita honra recebi do Prof. José De Cusatis, a difícil tarefa de exaltar a memória de Tiradentes, neste abril de 1997, quando se completa mais um aniversário de sua morte. Honra por ser Tiradentes o expoente maior do civismo no Brasil, mas difícil por estar diante dos ilustres membros do Instituto Histórico de Petrópolis, vários meus ex-professores nos bancos escolares, que ainda hoje, me orientam, com seus conselhos na Escola da Vida e pela presença de tão ilustres convidados. Todos, sem exceção, com mais capacidade e conhecimento que a minha humilde pessoa, o que me deixa com o coração repleto de preocupação e expectativa. Mas, apesar das minhas limitações, com a benção de Deus, tentarei não decepcionar, tantos que em mim confiam. Nem manchar a memória deste verdadeiro herói nacional: Tiradentes. Todo período de transição é rico em acontecimentos que contribuem decisivamente para transformar a história da humanidade. E o momento em que dos escombros da velha ordem se ergue uma nova. O Século XVIII foi um desses períodos. Um século de transição da velha ordem monárquica – absolutista, mercantilista e estamental – para a nova ordem liberal burguesa. Foi a “Era das Revoluções”, “O Século das Luzes”. No aludido século ocorreram o incremento das idéias filosófico-liberais burguesas (Iluminismo), a Revolução Industrial, a Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa, revoluções que dinamitaram os alicerces do Antigo Sistema Colonial, destruindo-o. O Iluminismo, questionava o despotismo monárquico o os privilégios da nobreza e do clero e defendia os princípios da liberdade, igualdade e fraternidade. Defensores do liberalismo econômico, questionavam o mercantilismo, o pacto colonial e o intervencionismo estatal na economia e defenderam a livre iniciativa, a divisão internacional do trabalho e o livre comércio internacional. Em síntese, tanto os filósofos iluministas quanto os economistas liberais questionavam as bases do Antigo Sistema Colonial. O Pensamento liberal povoava as mentes de idéias libertárias e emancipacionistas. As 13 Colônias inglesas da América do Norte, sob influência liberal, foram as pioneiras no processo emancipacionista do continente americano. A independência, declarada em 1776, foi o grande exemplo de que era possível libertar-se de uma metrópole européia. A influência dessa independência pioneira foi extremamente marcante no processo que se desencadeou em todo o continente. Entretanto, o que de fato simbolizou o fim da velha ordem foi a Revolução Francesa de 1789. Essa importante revolução, ocorrida no centro propagador de idéias liberais, resultou não só […] Read More