MORTE DO MINISTRO SUGHIMURA (A)

A MORTE DO MINISTRO SUGHIMURA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Em 1906 Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919) cumpria seu último ano de mandato como Presidente da República. O Rio de Janeiro no embalo da reforma de Pereira Passos pretendia tornar-se a Paris do Trópico. Petrópolis esplendia como capital diplomática em torno do carismático Barão do Rio Branco (1845-1912), Ministro das Relações Exteriores, que fizera de sua casa na Westfália sucursal do Palácio Itamarati. O glamour fazia a festa na “belle époque” petropolitana. Porém, já no fim da “saison” uma triste notícia correu pelos quatro cantos da cidade. No dia 19 de maio falecera o Ministro Plenipotenciário do Japão junto ao governo brasileiro. Chamava-se ele FUKISHI SUGHIMURA e fora vítima de uma paralisia bulbar. Apesar dos esforços dos médicos drs. Modesto Guimarães e Hilário de Gouvêa, o homem não resistiu. Contava, na altura, 59 anos. O snr. Miura, secretário da legação japonesa, apressou-se em comunicar o fato ao Barão do Rio Branco, a D. Julio Tonti, Núncio Apostólico e decano do corpo diplomático em Petrópolis e ao governo japonês. O ilustre Ministro havia deixado viúva e seis filhos. Como não havia onde cremar o corpo do extinto, conforme o desejo da família ficou decidido que o mesmo seria sepultado no cemitério São João Batista no Rio de Janeiro, prestando o governo brasileiro toda a assistência e todas as homenagens do estilo, de acordo com as devidas providências tomadas pelo Barão do Rio Branco. Quem era o Ministro Saghimura Tratava-se de um trabalhador incansável que ainda jovem dedicara-se ao jornalismo e às letras em seu país, sendo também um expert em filosofia chinesa. Na carreira diplomática, além dos seus bons ofícios prestados ao Ministério das Relações Exteriores, foi secretário da legação japonesa na Coreia e no Canadá. Foi nomeado Ministro Plenipotenciário no Brasil em 1905 e, em um ano provocou um avultado movimento nas relações entre o Mikado e o governo brasileiro. Mantinha o Ministro japonês uma rotina pesada de trabalho. Era um homem essencialmente pragmático. Consoante o depoimento de alguns de seus contemporâneos em Petrópolis, levantava-se às 5 horas da manhã e depois de um breve passeio pelas ruas centrais da cidade, dirigia-se ao seu gabinete para cuidar dos assuntos da legação. Após o almoço tirava um cochilo e voltava à faina só voltando à casa ao cair […] Read More

MÁRIO, BANDEIRA E PETRÓPOLIS

MÁRIO, BANDEIRA E PETRÓPOLIS Leandro Garcia, Professor de Teoria Literária da UFMG e membro titular da Academia Petropolitana de Letras   A Cidade Imperial sempre atraiu poetas e escritores das mais diferentes tendências literárias. Acho que o primeiro “culpado” disso foi o próprio D. Pedro II, pois sabemos do incentivo que o imperador dava às artes e ao pensamento. Deixo o séc. XIX e passo a falar da passagem (ou não) de certos modernistas pela nossa cidade, especialmente Mário de Andrade e Manuel Bandeira. Mário foi um polígrafo, um correspondente contumaz. De toda a sua criação, chama atenção o seu “gigantismo epistolar”, como ele declarou a Carlos Drummond de Andrade. Bandeira foi o poeta de Pasárgada, o poeta que imprimiu lirismo às situações mais corriqueiras: o sabonete Araxá, a cantiga “Cai cai balão” etc. Bandeira era habitué em Petrópolis, por muitos anos foi proprietário de uma casa na Rua Mosela 350. Em fevereiro de 1923, Bandeira soube das intenções de Mário em passar o carnaval daquele ano no Rio de Janeiro. Estava em Petrópolis para fugir do calor carioca, como ele relata em carta de 2/2/1923: Está um calor tão forte lá embaixo que não lhe posso prometer de descer: far-me-ia muito mal. Não me animo a pedir-lhe que venha até cá com prejuízo do que determinou ver e fazer no Rio. Mas a minha moral interesseira sugere-me baixinho que lhe seria agradável conhecer Petrópolis no recolhimento dos seus convales úmidos, conveniente de aqui dormir uma noite fresca depois dos dias exaustivos da capital canicular e expositora. Mário passou o carnaval daquele ano no Rio de Janeiro, encantou-se e se envolveu completamente na folia carioca, e não veio visitar Bandeira aqui em Petrópolis. Na carta que enviou ao amigo, no final de fevereiro, justificou sua ausência: Meu Manuel… Carnaval!… Perdi o trem, perdi a vergonha, perdi a energia… Perdi tudo. […] Fui ordinaríssimo. Além do mais: uma aventura curiosíssima. Desculpa contar-te toda esta pornografia. Mas… que delícia, Manuel, o Carnaval do Rio! Que delícia, principalmente, meu Carnaval! […] Manuel, diverti-me 4 noites inteiras e o que dos dias me sobrou do sono merecido. E aí está porque não fui visitar-te. O relato de Mário é cômico, e ele não resistiu ao mundanismo dionisíaco do Rio de Janeiro, moralmente inflamado e despudorado ao longo dos dias dedicados às farras do Momo. Mário não veio a Petrópolis. Em compensação, as folias carnavalescas lhe […] Read More