Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas

DISCURSOS – SAUDAÇÃO DE RECEPÇÃO AO ASSOCIADO CORRESPONDENTE PAULO REZZUTTI NO IHP

DISCURSOS – SAUDAÇÃO DE RECEPÇÃO AO ASSOCIADO CORRESPONDENTE PAULO REZZUTTI NO IHP Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula Senhora Presidenta do Instituto Histórico de Petrópolis, Maria de Fátima Moraes Argon da Matta, demais membros da Diretoria, Confrades e Confreiras, Senhores e Senhoras: Boa noite a todos! Foi com imensa alegria que recebi o convite da Sra. Presidenta para saudar o novo associado correspondente do Instituto Histórico de Petrópolis, PAULO MARCELO REZZUTTI.  Agradeço publicamente a confiança e a honra. PAULO REZZUTTI graduou-se em Arquitetura e Urbanismo, pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, FEBASP, em 1997, quando apresentou a monografia “Revitalização Urbana de Paranapiacaba – Implantação de um hotel”. Porém, mais do que como arquiteto e urbanista, é como pesquisador, profundamente conhecedor de fontes primárias, biógrafo e escritor que Paulo se destaca, nos cenários nacional e internacional.     Ambas as atividades – a de arquiteto e a de pesquisador –, é bem verdade, nunca deixaram de caminhar juntas. O interesse pela pesquisa histórica não só se acentuou a partir do seu trabalho como arquiteto, como a formação acadêmica é sem dúvida um importante repositório de conhecimento para o desenvolvimento de projetos expositivos, como a curadoria e a expografia da exposição “A São Paulo da Marquesa de Santos: cumplicidade de um cenário”, atualmente em cartaz no Solar da Marquesa de Santos, que integra o Museu da Cidade de São Paulo. Esse feliz reencontro com a trajetória da Marquesa de Santos, que se deu com a assinatura de tão bela exposição inaugurada recentemente, é o coroamento de seu interesse por essa personagem e da pesquisa iniciada há mais de dez anos. Paulo, importante sublinhar, localizou 94 cartas inéditas de d. Pedro I para a marquesa, na Hispanic Society of America, em Nova Iorque. Seu primeiro livro, Titília e o Demonão. Cartas inéditas de d. Pedro I à marquesa de Santos, publicado em 2011, é fruto dessa descoberta, e reúne de forma crítica e comentada essas cartas. Como o ofício do pesquisador é fascinante e ininterrupto, já que novas fontes geram perguntas inéditas, da mesma maneira que documentos conhecidos podem instigar a novas problematizações, no ano seguinte, Paulo lançaria Domitila, a verdadeira história da marquesa de Santos, a primeira biografia de sua autoria. A pesquisa realizada para a escrita deste livro marca também a aproximação de Paulo Rezzutti com o Museu Imperial, onde buscou documentos […] Read More

DISCURSOS – SAUDAÇÃO DE RECEPÇÃO AO ASSOCIADO TITULAR FLÁVIO MENA BARRETO NEVES NO IHP

DISCURSOS – SAUDAÇÃO DE RECEPÇÃO AO ASSOCIADO TITULAR FLÁVIO MENA BARRETO NEVES NO IHP Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula Senhora Presidenta do Instituto Histórico de Petrópolis, Maria de Fátima Moraes Argon da Matta, demais membros da Diretoria, Confrades e Confreiras, Senhores e Senhoras: Boa noite a todos! Foi com imensa alegria que recebi o convite da Sra. Presidenta para saudar o novo associado titular do Instituto Histórico de Petrópolis, FLAVIO MENNA BARRETO NEVES, e gostaria de agradecer publicamente tamanha honra e confiança. Flavio Menna Barreto Neves é carioca, vivendo em Petrópolis desde a década de 1970. É jornalista, com mais de 30 anos de carreira. Trabalhou em jornais, rádio e emissoras de TV. Foi assessor de imprensa do Sebrae; integrou a equipe de comunicação social do governo do Prefeito Rubens Bomtempo, entre 2001 e 2004, exercendo o cargo de secretário-chefe de Gabinete no segundo mandato deste prefeito, de 2005 a 2008, período em que coordenou os trabalhos de implantação do Cefet-Petrópolis. É sócio da Roteiro Produções, empresa que há mais de dez anos se dedica a serviços de comunicação e a projetos culturais com foco em aspectos da História de Petrópolis. Em 2009, lançou o livro “Apostas Encerradas – O Breve Império do Cassino Quitandinha”, primeira obra a contar a história do hotel-cassino. É coautor de “Traços de Koeler – A Origem de Petrópolis a partir da Planta de 1846”, escrito com a nossa confreira Eliane Zanatta. Em 2019, a convite do SESC, assinou a produção executiva da exposição “Memória Quitandinha”, comemorativa de seus 75 anos, a qual possui caráter permanente. Atualmente, se dedica ao projeto de restauração e digitalização do acervo da César Nunes Produções. O confrade Flavio Menna Barreto passa a ocupar a cadeira de nº 24, cujo patrono é o professor Henrique Pinto Ferreira (1883-1948). Cadeira, anteriormente, ocupada por Manoel de Souza Lordeiro, de 1993 a 2008, e, mais recentemente, por Paulo José de Podestá Filho. Assim como o professor Pinto Ferreira, Flavio também não é petropolitano de nascença, já que o patrono nascera em Guimarães, no norte de Portugal. Ambos, porém, adotaram a cidade de Petrópolis para viver e trabalhar. Foram acolhidos pelos petropolitanos, a quem também escolheram como concidadãos. Os dois, ainda que passadas tantas décadas, convergem nos esforços sempre necessários para a salvaguarda e a comunicação da história de Petrópolis. Ambos jornalistas. Flávio por […] Read More

MUSEU NACIONAL

MUSEU NACIONAL Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27- Patrono José Thomáz da Porciúncula Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe   “É preciso formar no Rio uma coleção semelhante das riquezas do Brasil e em cada capital de Província outras das respectivas.” (Diário de D. Pedro II, v. 17, 1876. Museu Imperial). Frases como esta são frequentes na correspondência do imperador D. Pedro II que durante toda a sua vida se dedicou ao estudo das ciências e ao colecionismo de documentos e objetos, dando origem ao seu Museu particular, que funcionou no Paço de São Cristóvão onde nasceu e morou até ser exilado do Brasil. Do exílio, D. Pedro de Alcântara enviou ao procurador da Família Imperial, José da Silva Costa, em 8 de junho de 1891, meses antes de morrer, uma carta doando a sua coleção particular ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Biblioteca Nacional e Museu Nacional. Nela fez um único pedido, que as coleções fossem denominadas “Imperatriz Leopoldina” e “D. Teresa Christina Maria”, em homenagem respectivamente a mãe e a esposa: Sñr. Silva Costa Queira pedir em meu nome ao Visconde de Taunay, Visconde de Beaurepaire, Olegario Herculano de Aquino e Castro, e Dr. João Severiano da Fonseca que separem os meus livros podendo por sua especialidade interessar ao Instituto e h’os entreguem, a fim de serem parte de sua bibliotheca. Esses livros serão collocados em lugar especial com a denominação de D. Thereza Christina Maria. Os que não deverem pertencer ao Instituto offereço-os á Bibliotheca Nacional, que deverá collocal-os também em lugar especial com a mesma denominação. O meu Museu dou-o também ao Instituto Historico, no que tenha relação com a etnographia e a historia do Brasil. A parte relativa ás sciencias naturaes, e á mineralogia sob o nome de “Impera-/triz Leopoldina”, como todos os herbarios, que possão, fica para o Museu do Rio. A corôa imperial, a espada e todas as joias deverão ser entregues, e pertencer á minha filha. Espero que me dê noticias suas e dos seus sempre que possa, e creia na estima affectuosa de D. Pedro d’Alcantara Versailles, 8 de Junho de 1891.   Em seu “ofício de fé”, escrito pouco antes de morrer, menciona a importância do Museu Nacional para o desenvolvimento científico do Brasil e sublinha os seus esforços para a revitalização e modernização da instituição, como a […] Read More

TRAJETÓRIA DE JOÃO VARANDA: EMPREENDEDORISMO E TRABALHISMO NA PETRÓPOLIS REPUBLICANA (1930-1960) (A) – PARTE I

TRAJETÓRIA DE JOÃO VARANDA: EMPREENDEDORISMO E TRABALHISMO NA PETRÓPOLIS REPUBLICANA (1930-1960) (A) – PARTE I Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula De acordo com as novas abordagens historiográficas, o estudo das trajetórias individuais, muito além de pretender exaltar a imagem de determinadas personagens, visa, sobretudo, perceber as conexões de um sujeito histórico com a sociedade na qual esteve inserido, revelando minúcias sobre as relações sociais que, de outra forma, não seriam notadas. É, portanto, neste sentido, que propomos recuperar a trajetória de João Varanda. Nascido em Bicas (MG), em 1913, Varanda chegou a Petrópolis em meados dos anos 1930. Em 1936, fundou a sua primeira empresa, a JVaranda. Nas décadas seguintes, tornou-se um dos maiores empresários da cidade, com dezenas de empreendimentos nos ramos os mais variados, desde o setor de transportes, no qual foi um pioneiro, como proprietário da primeira empresa de ônibus a circular no município, a Rodoviária Sul-Petrópolis, até a imprensa local, com o Jornal O Povo, importante periódico semanal. Nesta ocasião, Petrópolis passava pela recuperação da sua importância no cenário nacional. A presença constante dos Presidentes da República, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, havia atraído novamente para a cidade os holofotes, restaurando-lhe o status que obtivera no período imperial. Por outro lado, desde a década de 1930, ocorria um forte processo de mobilização da classe trabalhadora. Quando João Varanda se estabeleceu em Petrópolis, encontrou uma cidade que passava por intensa renovação política, acompanhada de transformações urbanísticas, presenciando um cenário de acirradas lutas dos operários por direitos e garantias trabalhistas e por melhores condições de trabalho. Assim, como um recorte micro-histórico, por exemplo, a partir das múltiplas ações que ele próprio empreendeu para atender às demandas dos funcionários de suas empresas, como a criação de uma creche-escola e de um centro de atendimento médico, a trajetória de João Varanda torna-se um importante fio condutor para a compreensão do surgimento do trabalhismo e a análise das demandas que pautariam os debates e a conformação da legislação trabalhista, posteriormente. Por outro lado, o seu empreendedorismo esteve relacionando ao processo de industrialização brasileiro, associado à ideia de progresso que baseava, em última instância, as políticas públicas. Neste caso, a atuação de Varanda no ramo dos transportes públicos permite perceber como o incentivo à substituição dos bondes pelo transporte rodoviário dentro do Município, e o paulatino enfraquecimento da importância do trem como […] Read More

VICENTINOS, SEMPRE: MEMÓRIAS DO COLÉGIO SÃO VICENTE DE PAULO

  VICENTINOS, SEMPRE: MEMÓRIAS DO COLÉGIO SÃO VICENTE DE PAULO Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula Recentemente, como tem sido bastante comum nas redes sociais, e a partir da difusão dos aplicativos de mensagem, foi criado um grupo de amigos do Colégio São Vicente de Paulo. Como ex-aluna do São Vicente, e parte deste grupo, saltaram-me aos olhos, e por que não dizer, ao coração, as muitas memórias e laços de amizade que unem aqueles que tiveram o privilégio de estudar neste estabelecimento, que funcionou em Petrópolis, até 1992. Como homenagem àqueles que comigo compartilham imensas saudades e excelentes lembranças dos tempos do São Vicente, e visando divulgar a sua história para os mais jovens, falarei um pouquinho deste colégio que formou gerações não só de petropolitanos, mas de brasileiros vindos de toda parte, enquanto recebeu alunos em sistema de internato, semi-internato e externato. Fundado em 1890 por padres lazaristas, o Colégio São Vicente de Paulo, posteriormente, teve a sua direção transferida para a Ordem Premonstratense, ou Ordem de São Norberto. Ocupou a princípio um prédio na Westphália, na atual Avenida Barão do Rio Branco, e, em 1908, já como uma importante e nacionalmente reconhecida instituição de ensino, mudaria para o Palácio Imperial, de onde só sairia no início da década de 1940. Após o Decreto-Lei do Presidente Getúlio Vargas, de 29 de março de 1940, que criou o Museu Imperial, os cônegos que dirigiam o colégio adquiriram o terreno à Rua Coronel Veiga, nº 550, para a construção do novo prédio que deveria abrigar o São Vicente. Nesta ocasião, era diretor do colégio o cônego Guilherme Adriansen, que se encontrava à frente do educandário há mais de vinte e cinco anos. Para o novo empreendimento foi contratado o engenheiro Eduardo Piragibe da Fonseca, autor da planta do edifício que, além do prédio principal, contava com uma capela, à esquerda, e um salão de estudos e festas, à direita. A construção e a execução das obras ficaram a cargo da firma Graça Couto e Cia Ltda, enquanto a fiscalização de parte dos trabalhos foi realizada por Pedro Niebus, construtor em Petrópolis. Na Rua Coronel Veiga, onde atualmente se encontra o Instituto Teológico Franciscano, o Colégio São Vicente ficaria até o encerramento de suas atividades, apenas dois anos após completar o seu centenário. Em sua trajetória, uma das grandes marcas foi sempre […] Read More

HISTÓRIA E MEMÓRIA NOS 175 ANOS DE PETRÓPOLIS

HISTÓRIA E MEMÓRIA NOS 175 ANOS DE PETRÓPOLIS Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula O historiador francês Pierre Nora já afirmara que “a necessidade de memória é uma necessidade da história”. A comemoração dos 175 anos da criação da Povoação-Palácio de Petrópolis, pelo Decreto Imperial nº 155, de 16 de março de 1843, neste sentido, não deixa de remeter também a uma batalha pela memória, a qual envolveu os mais eminentes intelectuais da cidade nos anos que precederam a celebração do seu centenário, na década de 1940. De um lado, estavam aqueles ligados particularmente ao Instituto Histórico de Petrópolis, e que defendiam o 16 de março como a data da fundação de Petrópolis, liderados por Alcindo de Azevedo Sodré. Do outro lado, encabeçados por Antonio Joaquim de Paula Buarque, ex-prefeito, e a Academia Petropolitana de Letras, os que entendiam que o major Júlio Frederico Koeler era o verdadeiro fundador da cidade e que o 29 de junho de 1845, que marca a chegada dos colonos germânicos, deveria ser escolhida como a data em torno da qual se dariam as festividades do centenário. Anteriormente, em setembro de 1937, havia sido criada, por ato do então prefeito municipal Yeddo Fiúza, a Comissão do Centenário de Petrópolis, tendo como presidente de honra d. Pedro de Orleans e Bragança, príncipe do Grão Pará, composta por um grupo de estudiosos da história de Petrópolis encarregados de pesquisar e escrever sobre as origens da cidade, desde os tempos coloniais (como importante ponto de ligação da variante do Caminho Novo, por onde o ouro extraído das Minas Gerais chegava até o Porto de Magé) –  passando pela compra da Fazenda do Córrego Seco pelo imperador d. Pedro I e, mais tarde, no Segundo Reinado, pelo arrendamento desta mesma fazenda ao major Koeler – até a elevação da povoação à categoria de cidade, em 1857, alcançando os primeiros anos do período republicano, quando foi capital do Estado do Rio de Janeiro, entre 1894 e 1902. Somando-se aos esforços da Comissão do Centenário, há que se sublinhar o empenho pessoal do presidente da República, Getúlio Vargas, e do interventor federal do estado do Rio de Janeiro, Ernani do Amaral Peixoto, para que os festejos obtivessem pleno êxito. No entanto, outras organizações municipais, como a Associação dos Amigos de Petrópolis, fundada pelo coronel João Augusto Alves, e a imprensa local, além […] Read More

LÍDIA BESOUCHET: UMA INTELECTUAL FEMINISTA EM PETRÓPOLIS

LÍDIA BESOUCHET: UMA INTELECTUAL FEMINISTA EM PETRÓPOLIS Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula Em conversa com um amigo escritor, confirmei o que a intuição já apontava: é bastante comum despertarmos o interesse pela trajetória dos estudiosos que nos precederam em relação ao nosso objeto de pesquisa. Este foi precisamente o meu caso com relação à Lídia Besouchet (1908-1997), uma das três mulheres autoras de biografias de d. Pedro II. Antes dela, a historiadora norte-americana Mary W. Williams já havia escrito, em 1937, o seu Dom Pedro the Magnanimous, Second Emperor of Brazil. Completando a tríade feminina em meio a dezenas de biógrafos, Lilia Schwarcz lançou, em 1998, As Barbas do Imperador, que se tornaria uma referência incontornável. O que eu não poderia imaginar, no entanto, é que Lídia Besouchet, que publicou a biografia de d. Pedro II em 1975, e, em versão ampliada, o seu Pedro II e o Século XIX, em 1993, fosse uma das principais combatente pelos direitos das mulheres, na década de 1930, e que tivesse, para além do seu interesse por d. Pedro II, uma importante ligação com a história de Petrópolis. Nascida no Rio Grande do Sul, na adolescência, Besouchet mudou-se para Vitória, no Espírito Santo, onde iniciou sua trajetória intelectual, tornando-se um dos grandes nomes da escrita feminista capixaba, através dos textos que veiculou na revista Vida Capixaba, em cujas colunas desafiava o paradigma de mulher ideal, dedicada ao matrimônio e à maternidade, e questionava a submissão imposta às mulheres pela ordem patriarcal. Formou-se como professora, em 1924, frequentando, mais tarde, o Curso Superior de Cultura Pedagógica, onde teve os primeiros contatos com os ideais da Escola Nova, que, entre outros pontos, defendia a laicidade e o ensino público universal. A partir daí, não tardaria a ampliar seus questionamentos, sobretudo pautada nas leituras socialistas, que a levariam ao pensamento revolucionário e à aproximação com a Juventude do Partido Comunista. Nas rodas intelectuais de esquerda, Besouchet encontraria o seu companheiro, o jornalista Newton Freitas, com quem se mudou para o Rio de Janeiro no final de 1933. Instalados na capital carioca, o casal se dedicou à atividade jornalística e ao engajamento político, aderindo, em 1935, à Aliança Nacional Libertadora (ALN), de cunho progressista e antifascista. Paralelamente à sua militância no PCB e na ANL, onde se envolveu no movimento “Pão, Terra e Liberdade”, Lídia Besouchet atuou […] Read More

DOM PEDRO II: REFLEXÕES SOBRE O MONARCA INTELECTUAL

DOM PEDRO II: REFLEXÕES SOBRE O MONARCA INTELECTUAL Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula Ao contrário das biografias clássicas de d. Pedro II que, além de apontarem para a dualidade entre o monarca e o cidadão, reforçam os epítetos de rei filósofo, erudito e mecenas, as recentes pesquisas fornecem indícios suficientes para a formulação da hipótese de que o imperador pôde contribuir direta e significativamente com a construção do conhecimento, configurando-se, para além do diletante, em um tipo de intelectual característico do último quartel do século XIX. Os seus estudos tradutórios e traduções, como salientam os pesquisadores coordenados pelo linguista Sergio Romanelli, ou a atuação como mestre das suas filhas, as princesas Isabel e Leopoldina, preparando-as para o governo da casa e, sobretudo, do país, como tem mostrado a historiadora Jaqueline Aguiar, por si só, permitiriam situar Pedro II, na acepção das mais recentes abordagens historiográficas, como um intelectual mediador, ou aquele que se dedica a atividades ou práticas de mediação cultural. No caso das traduções, por exemplo, a teoria literária reconhece o processo criativo implícito no trabalho, que não aparece como mero exercício de erudição, mas como uma ressignificação do texto original a partir dos códigos culturais do tradutor. Além disso, ao perfil de estadista mecenas, estudos têm contraposto a importância de Pedro II em uma rede de sociabilidade que envolvia intelectuais de várias partes do mundo, com os quais o imperador não só colaborou, financiando seus projetos, ou enviando amostras que pudessem fundamentar suas teorias, mas debatendo com afinco teses que pautariam um novo paradigma científico. O caso mais conhecido talvez seja o apoio financeiro e moral que deu para a fundação do Instituto Pasteur, criado em 1887, quando a teoria sobre os micro-organismos causava grande desconfiança e contestação. Não à toa, ainda hoje o busto de Pedro II encontra-se instalado na “Sala dos Atos”, no Museu Pasteur, em Paris. No Brasil, d. Pedro II foi um importante agente para a consolidação de dois espaços de pesquisa fundamentados na cultura científica dos últimos decênios do século XIX, relacionado às ciências práticas, ou que pudessem ser, segundo a concepção da época, úteis às conquistas materiais e, em última instância, à modernização do país. Neste sentido, na década de 1870, o imperador atuou diretamente para a fundação da Escola de Minas de Ouro Preto e a reorganização do Museu Nacional, especialmente […] Read More

D. PEDRO II ERA REPUBLICANO?

D. PEDRO II ERA REPUBLICANO? Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula   A pergunta já abordada por importantes veículos de comunicação no país pode parecer paradoxal, para não dizer estapafúrdia, em um primeiro momento, mas para surpresa de muitos, pode-se dar a ela uma resposta afirmativa. Aliás, este questionamento pode ser solucionado sob duplo aspecto. Em sentido estrito, d. Pedro II acreditava, sim, ser a república a mais apurada forma de governo, embora declarasse que o Brasil ainda não estava pronto para ela. Esta concepção vincula-se ao Iluminismo, especialmente a Montesquieu, para o qual, se a população é voltada para a causa pública – a virtude cívica – a ordem deveria ser a republicana. Ainda assim, o próprio Montesquieu defendera a monarquia constitucional moderna como a mais adequada dadas as condições históricas do seu tempo. Esta linha de pensamento não era estranha a d. Pedro II, como podemos exemplificar a partir de um fragmento de seu diário[1], escrito já no exílio, em 5 de janeiro de 1890, portanto, logo após os acontecimentos do 15 de novembro. Ao comentar a opinião de Carlos Leôncio da Silva Carvalho, que havia sido ministro, ocupando a Pasta dos Negócios do Império no Gabinete Liberal de 1878 a 1880, d. Pedro nos permite entrever o seu posicionamento diante dos fatos que levaram à sua deposição: […] Confessa Leôncio de Carvalho que não queria já a república porque o imperador criterioso e verdadeiramente amigo do país aceitava a federação das províncias como disse Saraiva e porque para a república ser o governo do povo pelo povo era preciso primeiro educar e preparar os cidadãos (Minha opinião ficou bem clara quando tratei disso com Saraiva). O ex-imperador … favorecia com inexcedível generosível [sic] generosidade a educação popular. Os fatos cuja responsabilidade pertence aos maus amigos e conselheiros da Coroa precipitaram os acontecimentos. [1] Os diários de d. Pedro II integram o Arquivo da Casa Imperial do Brasil (POB), pertencente ao acervo do Arquivo Histórico do Museu Imperial/Ibram/MinC. Ver BEDIAGA, Begonha (Org.). Diário do Imperador D. Pedro II: 1840-1891. Petrópolis: Museu Imperial, 1999. Em 7 de abril de 1890, o ex-imperador completaria: “Abdicara [sic] como meu Pai se não me achasse ainda capaz de trabalhar para a evolução natural da república.” No ano seguinte, em 4 de junho de 1891, revelou: “(…) não duvidaria aceitar a presidência da república, […] Read More

MARTHA WATTS E O COLÉGIO AMERICANO: UMA EDUCADORA PIONEIRA EM PETRÓPOLIS (PARTE II)

MARTHA WATTS E O COLÉGIO AMERICANO: UMA EDUCADORA PIONEIRA EM PETRÓPOLIS (PARTE II) Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula Grupo de alunos e alunas do Colégio Americano, no Palácio Itaboraí, de propriedade da Igreja Metodista,  no Valparaíso.  Petrópolis. Sem data. Crédito da Imagem: Acervo Arquivo Histórico. Museu Imperial/Ibram/MinC A missionária norte-americana Martha Hite Watts (1845-1909) é reconhecida na História da Educação pelo seu pioneirismo e pelas inovações pedagógicas que propôs. Em 1881, em Piracicaba/SP, fundou o primeiro colégio metodista do Brasil (atual Universidade Metodista de Piracicaba), e revolucionou o ensino ao trabalhar com classes mistas, seja reunindo meninos e meninas, seja por estarem abertas tanto a alunos protestantes quanto católicos. Além disso, introduziu classes de jardim-de-infância, e defendeu a importância dos laboratórios para experimentos científicos, atrelando o conhecimento teórico à verificação prática, um paradigma pedagógico extremamente revolucionário no final do século XIX.[1] [1] ELIAS, Beatriz Vicentini. Inovação Americana na Educação do Brasil. In: Revista Nossa História, n. 23, 2005, p. 81-83 Seu trabalho chamou a atenção de Prudente de Morais (terceiro Presidente da República do Brasil), que à época era Presidente do Estado de São Paulo, e a convidou para assessorar a reforma educacional que visava implementar em seu governo. Ela não aceitou a proposta por considerar mais importante a tarefa de criar outras escolas metodistas e, de Piracicaba, mudou-se para Petrópolis, onde fundou o Colégio Americano, em abril de 1895. A ideia do Colégio Americano em Petrópolis surgiu também como uma resposta às demandas das famílias, particularmente as da elite, que desejavam se refugiar na cidade serrana. Se, no ramo católico, o Colégio Notre Dame de Sion, exclusivo para meninas, transferiu-se para Petrópolis, passando a funcionar no Palácio Imperial (hoje Museu Imperial), do lado protestante, os metodistas compraram o Palácio Itaboraí[2], de propriedade do arquiteto Antonio Januzzi, que havia projetado, na década de 1880, o templo da Igreja Metodista do Catete, no Rio de Janeiro. É muito provável que, desde então, Januzzi tenha estreitado a relação com os metodistas, que culminou com a venda do seu palacete em Petrópolis. [2] Atualmente, o Palácio Itaboraí pertence à Fundação Oswaldo Cruz. O Colégio Americano visava atender a brasileiros e estrangeiros que buscassem o que Martha Watts chamava de “educação liberal, tendo por fim o desenvolvimento moral, intelectual e físico dos alunos”.  Funcionou em Petrópolis, como internato e externato, até o início década de 1920, quando, […] Read More