Francisco José Ribeiro de Vasconcellos

JOAQUIM NABUCO E O AMERICANISMO

JOAQUIM NABUCO E O AMERICANISMO Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima A perspectiva temporal que nos permite examinar com equilíbrio e isenção os fatos históricos, nos leva a divisar nos promissores horizontes do Novo Mundo, à véspera do 5º Centenário do Descobrimento do Brasil, três tipos distintos de americanismo: 1º – o que poderíamos chamar de macro americanismo; 2º – o pan-americanismo; 3º – o iberoamericanismo. O macro americanismo nasceu com a própria América. Que foram os vários cronistas dos tempos coloniais, sempre a esmiuçar tudo quanto o Novo Continente oferecia de exótico, de insólito, de curioso, de interessante, senão americanistas ? Americanistas foram Humboldt, Saint Hilaire, Maria Graham, o Príncipe Maximiliano Wied Neuwied e todos quantos por algum motivo, fossem de onde fossem se interessaram pela América, quer do ponto de vista político e econômico, quer no que toca a parte social e as suas múltiplas facetas culturais; quantos divulgaram os valores americanos; quantos refletiram e escreveram sobre a América, como um todo, do Alaska à Argentina. Tal a chama que vem animando há mais de um século os congressos internacionais de americanistas, desde o primeiro realizado em Nancy, na França, até o 49º que teve lugar em Quito, no Equador, em julho de 1997, estando o 50º marcado para o ano 2.000 em Varsóvia, Polônia. O pan-americanismo, veio à tona no fim do século XIX, como doutrina política de cunho muito lírico, cujas bases foram a bem dizer lançadas no 1º Congresso Pan-americano, realizado em Washington em 1889, justo quando o Brasil passava da Monarquia à Republica. Empolgava esse movimento a idéia de que a América, fosse anglo-saxônica, ibérica, francesa ou holandesa, tinha que buscar os necessários mecanismos que lhe permitissem a união, o congraçamento, e a defesa de seus interesses e de sua integridade, em face do colonialismo europeu e da ingerência de potências européias nos negócios americanos. Era uma doutrina de certo modo utópica, desenvolvida a partir do monroismo e que aos olhos de alguns críticos, principalmente aqueles da América espanhola, como Blanco Fonbona, Ruben Dario, Manuel Ugarte e outros, atribuia erradamente aos Estados Unidos o papel de protetor de todos, de papai grande, solução para os males e agressões eventualmente sofridos pelo Novo Continente. A História já havia demonstrado exatamente o contrário e ainda teria muito a contar para desfazer essa imagem […] Read More

PETRÓPOLIS E SUA MALOGRADA ANEXAÇÃO AO DISTRITO FEDERAL – I

  A Revolta de 6 de setembro de 1893, fazendo da baia da Guanabara espaço de manobra de parte da esquadra sublevada, deixou Niterói vulnerável à sanha revolucionária. O Presidente do Estado do Rio de Janeiro, José Thomaz da Porciuncula, não teve outra alternativa senão transferir a capital fluminense para Petrópolis, primeiro, em caráter provisório, segundo o veredicto da Assembléia Legislativa, em fevereiro de 1894, depois, definitivamente, em outubro do mesmo ano, seis meses após o término da Revolta, quando nenhuma razão justificava a permanência da capital no alto da serra da Estrela. Por quase dez anos, Petrópolis foi o centro do poder no Estado sob as presidências de Porciuncula, Maurício de Abreu, Alberto Torres e Quintino Bocaiúva. E foi justamente este último que se encarregou de levar a capital serra abaixo, depois de renhido pleito na Assembléia, reintegrando Niterói no seu antigo status de caput do Estado. É lógico que tal mudança não se deu sem traumas, sem frustrações, sem ressentimentos, sem perdas e ipso facto sem revanchismos. E houve uma agravante em todo esse quadro: a situação falimentar a que havia chegado o Estado do Rio de Janeiro no fim do desastroso governo de Quintino Bocaiúva, o que coincidiu com a revoada dos políticos no rumo dos novos ninhos niteroienses. O poder na esfera estadual passou a circular no eixo Campos, Macaé, Niterói, Resende, sob a batuta do novo chefe Nilo Peçanha, eleito Presidente do Estado para cumprir um mandato que começaria com muita esperança a 1º de janeiro de 1904. Outro aspecto relevante nessa lamentável circunstância, foi a reforma constitucional de 1903, que acabou por deflagrar um processo de transferência de tributos quando os municípios perderam para o Estado o Imposto de Indústrias e Profissões, tendo sido Petrópolis uma das grandes vítimas dessa nova ordem de coisas, dado que aqui estava situado um dos maiores parques industriais da terra fluminense e um de seus mais expressivos centros de atividades profissionais. Evidentemente que uma crise desse tamanho provocaria reações proporcionais a ela. Um dos aspectos mais interessantes da atitude revanchista tomada por alguns segmentos ressentidos com as perdas de Petrópolis, logo ao alvorecer do século XX, foi a tentativa de federalização do território petropolitano e sua conseqüente desanexação do todo fluminense. Esse movimento teve facetas distintas, não contou com o apoio oficial nem no município, nem no Estado, não apresentou qualquer tipo de proselitismo e foi eminentemente sectorial, […] Read More

QUESTÃO DE LIMITES ENTRE OS ESTADOS DO RIO DE JANEIRO E MINAS GERAIS – II (A)

  Durante os anos oitenta do século passado, o assunto dos limites entre as províncias do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, praticamente desapareceu dos relatórios e dos noticiários. Na fala do Presidente fluminense Antonio da Rocha Fernandes Leão, em 8 de agosto de 1886, ficou consignado o seguinte: “Não tendo na lei do orçamento os meios precisos para levar a efeito aquele trabalho, declarei ao Presidente de Minas em ofício de 11 de junho que oportunamente solicitaria da Assembléia Legislativa Provincial a decretação da verba necessária para a referida verificação, caso não fosse da competência do governo geral manda-la executar”. Conforme se viu até aqui, essa tormentosa e arrastada questão de limites viveu de 1843 até o fim do Império num completo jogo de empurra, dos presidentes das províncias para as respectivas assembléias, que jamais votavam as verbas indispensáveis à demarcação e ao levantamento das plantas; e dos governos provinciais para o central, que por sua vez ouvia o Conselho de Estado, que custava a dar pareceres ou o fazia de forma insuficiente. Mas há um aspecto em tudo isso que não pode ser descurado: o caráter unitário do Império brasileiro, que em grande parte jungia as províncias aos desígnios do governo geral, foi também um dos grandes responsáveis pela não solução em tempo hábil do problema lindeiro no norte fluminense. Afinal, dentro do conceito, do espírito da Constituição de 1824 e da legislação dela decorrente, pouca diferença fazia se esta ou aquela porção do território de uma província estivesse sendo disputado por uma outra. Afinal tudo era Império do Brasil, que jamais deu espaço a qualquer vislumbre de federação. Esse fato não passou desapercebido ao engenheiro Cypriano J. de Carvalho que, em memória apresentada ao Secretário de Obras Públicas e Indústrias do governo Maurício de Abreu, em 1º de agosto de 1897, registrou; “A discriminação das divisas do Estado do Rio de Janeiro, tem constituído, desde muito, uma aspiração dos seus mais ilustres administradores e bem poderia ser hoje uma realidade se maiores houvessem sido em outros tempos, o prestígio e a autonomia provinciais”. Foi com o advento da República e especialmente depois da Constituição Federal de fevereiro de 1891 e da Carta Estadual de abril de 1892, que o tema começou a ser estudado com maior seriedade. Coube ao Presidente José Thomaz da Porciuncula, durante o seu profícuo triênio ( 1892/1894 ), ao criar a Comissão […] Read More

ISOLAMENTO POLÍTICO DE ALBERTO TORRES (O)

O ISOLAMENTO POLÍTICO DE ALBERTO TORRES Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Felisbelo Freyre, esse talento exuberante que Sergipe deu ao Brasil, na sua “História da Revolta de 6 de setembro de 1893”, 1º vol., Rio, 1896, dizia com incontestável propriedade que, desde que o Brasil se tornara independente, a autoridade e a lei, sempre viveram sob a pressão do espírito revolucionário. E para exemplificar, citou alguns casos bem expressivos. Pedro I abdicou, porque as forças de terra, revoltadas no largo do Rocio o levaram a esse gesto extremo; Pedro II abandonou o país por imposição do Governo provisório surgido do golpe de Estado que implantou a República; Deodoro renunciou à presidência do país, em face do movimento revolucionário de 23 de novembro de 1891. Enfatizava o sergipano em 1896, como se adivinhasse o que ainda viria pela frente na história política do Brasil: “E nesse atrito em que elas têm vivido, nesse litígio entre a ditadura e o regime legal, as forças armadas se têm constituído como o fator mais direto, ainda que levadas a isso pela alucinação dos poderes públicos, umas vezes e outras, pela prepotência sobre as liberdades do cidadão e os interesses do país. O fato histórico, porem, é este – por elas têm havido as profundas soluções de continuidade no regime legal. Nunca que nos conste, o elemento civil foi o iniciador e executor destas soluções. Quando muito nelas tem colaborado como agente indireto.” Completando o pensamento de Felisbelo Freyre e adaptando-o à realidade brasileira pós 1964, disse Afonso Arinos no seu “Diário de Bolso”, Rio, Nova Fronteira, 1979: “No Brasil a dinâmica dos governos militares eliminou a consciência de legitimidade em nível nacional, isto é, incorporou a classe política civil a essa perda de consciência. A política passou a ser um exercício de astúcia ou de força, destinado exclusivamente à conquista ou à preservação dos postos onde se exercita o poder (Executivo) ou se desfruta de sua aparência (Legislativo e Judiciário)”. No Estado do Rio de Janeiro, não foi diferente. O Governador Francisco Portela, por ter-se solidarizado com Deodoro no golpe de 3 de novembro de 1891, resignou o cargo sem qualquer resistência no princípio de dezembro daquele ano; quando em fins de 1896, faziam-se as eleições para preenchimento de uma vaga no Senado, o Governo Federal interveio manu militari no […] Read More

RUI  BARBOSA  NA  VISÃO  DE  MARTIN  GARCIA  MEROU

  Com o advento da República, o Brasil acercou-se enormemente das nações hispano-americanas, tendo havido mesmo uma espécie de febre americanista entre nós. Mais do que da Europa, recebemos de nossos vizinhos representantes diplomáticos com enorme bagagem cultural e intensa produção intelectual. Poder-se-ia mesmo dizer, que muitos desses homens, acabavam eventualmente servindo a seus países no exterior, menos pela capacidade de fazer diplomacia, que pelos seus méritos de escritores ou cientistas, maxime no campo das ciências humanas. O argentino Martin Garcia Merou, pode ser considerado um exemplo bem ilustrativo. Nomeado em março de 1894, para servir no Brasil como Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário de seu governo, apresentou credenciais no Rio de Janeiro, em 19 de julho de 1894, já depois de extinta a Revolta da Armada e quase no apagar das luzes do turbulento e sanguinário governo do Marechal Floriano Peixoto. Radicou-se Garcia Merou em Petrópolis, como era comum naquela época e, por quase dois anos conviveu entre nós, ilustrando com sua presença o corpo diplomático aqui sediado. Nos seus momentos de lazer, ao invés de viver a vida um tanto frívola e mundana das rodas da diplomacia, preferiu dedicar-se ao estudo da literatura brasileira, para depois divulgar na imprensa de seu país o resultado de suas investigações, levando ao conhecimento de seus patrícios, figuras de primeira linha completamente ignoradas na área platense e de resto em toda a América de fala espanhola. Na verdade, também nós aqui vivíamos a ignorar os autores hispano-americanas, como se estivéssemos em pólos completamente distintos. Os artigos de Martin Garcia Merou foram publicados em Buenos Ayres, em 1897, numa revista chamada La Biblioteca. Depois, foram reunidos em livro, no ano de 1900, sob o título “El Brasil Intelectual”. É aí que vamos encontrar, entre outros, o longo estudo que fez da personalidade e da obra de Rui Barbosa. O diplomata argentino conheceu Rui Barbosa, quando este voltava do exílio na Inglaterra durante a ditadura de Floriano. Pela mão de Tobias Monteiro, foi levado à bela chácara da rua São Clemente, numa tarde de primavera de 1895. E aí teve uma longa entrevista com o intelectual baiano. Confirmando as judiciosas observações de Humberto de Campos exaradas no seu livro de Crítica, lª série, Garcia Merou, viu em Rui Barbosa, muito mais o literato, o homem de frases candentes, de períodos lapidares, de orações escorreitas, de discursos sonoros e ornamentados, que o ativista político, o […] Read More

ÚLTIMA FRONTEIRA DO GLAMOUR EM PETRÓPOLIS

Última fronteira do glamour em Petrópolis Francisco de Vasconcellos – ex-associado titular, Associado Emérito –  Em 1945 Petrópolis ainda esplendia em luxo e bom gosto, que se derramavam no Hotel Cassino Quitandinha, no Palace Hotel, onde também se jogava, nos saraus da “entourage” getuliana, no Tênis Clube em trânsito para o Petropolitano, na antiga Av. 1º de Março, hoje Roberto Silveira. Foi aí que um grupo de rapazes denominados Mosqueteiros teve a idéia de promover o primeiro baile “Glamour Girl” na cidade. O sucesso da promoção foi tão grande que ela se repetiu nos anos subsequentes, entrando pela década seguinte. Em cada baile havia a eleição da “glamour girl”, valendo a palavra “glamour”, não simplesmente beleza física, mas uma série de atributos que faziam da garota uma pessoa atraente, dona de irresistível magnetismo pessoal. Ocorre que o chamado “glamour” não é uma exclusividade feminina e o termo pode aplicar-se a situações, a momentos, a circunstâncias, a memórias. Vieram-me tais cogitações quando me dei conta do transcurso do centenário de nascimento do Príncipe D. Pedro Gastão de Orleans e Bragança, neste mês de fevereiro de 2013. Na minha paisagem mental ele se me afigura a última fronteira do glamour em Petrópolis. Antes de mais nada teve D. Pedro Gastão a sorte de viver numa época glamourosa, bastando citar os anos cinquenta dos novecentos, uma espécie de recidiva relâmpago da “belle époque”. Mais duas décadas e o mundo começou a barbarizar-se, Brasil no meio, como dizia Joelmir Betting. E dentro desse contexto glamouroso, D. Pedro possuía o seu próprio glamour, inconfundível, oriundo de sua nobreza de caráter, de sua grandeza de espírito, do seu extraordinário bom gosto, de sua elegância no trajar e no trato com as pessoas, de sua simpatia, de sua simplicidade, de seu magnetismo pessoal. Era ele uma referência em Petrópolis, querido de todos que o conheciam e que privavam de sua amizade. Nascido fora do Brasil em virtude do injustificável banimento de sua família, veio ter ao país após a revogação da estúpida medida do governo provisório da República. Radicado em Petrópolis fez do palácio Grão Pará seu domicílio e do palácio Isabel sua trincheira de trabalho. Chefe da Casa Imperial do Brasil serviu ao regime instaurado a 15 de novembro de 1889 presidindo durante anos uma mesa eleitoral no centro da cidade. Com extremo bom humor batizou com o nome de República seu cavalo de estimação. Nada […] Read More

AURELIANO COUTINHO NO CONTEXTO DA PROVÍNCIA FLUMINENSE

AURELIANO COUTINHO NO CONTEXTO DA PROVÍNCIA FLUMINENSE Francisco de Vasconcellos, ex-Associado Titular, Associado Emérito – A Constituição do Império de índole unitária e altamente centralizadora de poder, não contemplava a eleição dos titulares do poder executivo a nível provincial. O artigo 165 da Carta de 25 de março de 1824, estabelecia que em cada província haveria um presidente nomeado pelo Imperador, que poderia remover dito presidente, quando entendesse que assim conviria ao serviço do Estado. O artigo 71 do mesmo diploma legal, reconhecia e garantia o direito do cidadão de intervir nos negócios de sua província. Esse direito seria exercido através de um organismo chamado Conselho Geral da Província, que, de acordo com o artigo 81 tinha por principal objetivo, propor, discutir e deliberar sobre os negócios mais interessantes de cada unidade integrante do Império. Entretanto, o artigo 83, 4º, negava a tais conselhos a prerrogativa de deliberar sobre execução de leis. Para esse efeito tinham eles que se dirigir à Assembléia Geral e ao poder executivo conjuntamente. Como se vê, o sistema era absolutamente fechado e as províncias eram meros satélites do poder central. Mais eis que a lei de 12 de agosto de 1834, mais conhecida como Ato Adicional, substituiu tais conselhos pelas assembléias provinciais. Na segunda parte do artigo 1º da lei em estudo, ficava estabelecido que a autoridade da assembléia legislativa da província em que estivesse a Corte, não compreenderia a mesma Corte e o seu município. Ficava assim criada a província do Rio de Janeiro, cujo caput, pela Lei nº 2 de 26.03.1835 seria a Vila Real da Praia Grande, que recebeu o status de cidade, com o nome de Niterói, a 28 de março daquele mesmo ano. O Ato Adicional alargou sobremodo os poderes das novas assembléias legislativas provinciais, mas manteve a nomeação do Presidente da Província pelo Imperador. Quiçá pela proximidade da capital da província do poder central, da sede do Império, quiçá pela pujança da economia provincial fulcrada nas culturas cafeeira e canavieira, o certo é que, pelo menos nos seus primeiros anos de existência, a Província do Rio de Janeiro contou com presidentes de incontestável tirocínio político, de aguçado tino administrativo, homens que acabaram por brilhar no cenário nacional e até internacional, como verdadeiros estadistas. Joaquim José Rodrigues Torres, proeminente chefe conservador, foi o primeiro dessa galeria de notáveis. Visconde de Itaboraí, por ato imperial de 2 de dezembro de 1854, […] Read More

À MARGEM DE UMA CONFERÊNCIA

À MARGEM DE UMA CONFERÊNCIA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos – associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Bela e comovente a homenagem prestada pelo Ministro Rocha Lagôa, na tarde de 12 de maio do corrente, quando pronunciara no Instituto Histórico de Petrópolis, sua conferência rememorativa dos oitenta anos da morte de Oswaldo Cruz, ocorrida a 11 de fevereiro de 1917, nesta cidade de Petrópolis, Imperial por outorga popular. O Ministro relembrou os feitos e a glória do festejado sanitarista; a repercussão internacional de sua obra em prol do saneamento do Rio de Janeiro, do combate a epidemias e endemias e da criação do Instituto que pelos anos afora haveria de dedicar-se à investigação das doenças tropicais e à produção das correspondentes vacinas e drogas empregadas na erradicação dos agentes dessas mesmas doenças. E, como não podia deixar de ser, o conferencista abordou a presença de Oswaldo Cruz em Petrópolis, notadamente quando, em 1916, fora escolhido pelo então Presidente Nilo Peçanha, para ser o primeiro Prefeito da cidade. Esse tema merece um enfoque especial, pelas sérias implicações políticas que ele embute. À primeira vista, parece ter havido nas hostes partidárias petropolitanas uma enorme resistência à indicação de Oswaldo para o cargo, agravando-se tal estado de coisas a medida que o sanitarista com a saúde cada vez mais claudicante tentava dar rumo ao seu governo e forma ao estupendo plano que engendrara para a sua administração, até o desenlace já no clima carnavalesco de 1917, em que se confundiam os esgares momescos com os apupos da turba a serviço dos eventuais inconformados, à porta do Prefeito quase inanimado. Mas atrás das aparências havia uma série de crises e contrariedades que somente a lupa do exegeta pode identifica. Quando em 1910 caiu o hermogenismo, subindo os moreiristas (partidários de Joaquim Moreira), não só a política como a administração petropolitanas sofreram um grande abalo. E a prova disso está na acirrada batalha que se travou na imprensa local. De um lado os hermogenistas/saerpistas, que tinham como arauto a Tribuna de Petrópolis; do outro os moreiristas que se escudavam no jornal O Comércio. Os seis primeiros anos da segunda década do século foram aqui de incertezas, de longas batalhas pelo poder e de uma certa inércia administrativa, o que se refletiu na vida do município como um todo e, em especial no perímetro urbano do 1º Distrito. E, de […] Read More

PRELÚDIO GETULIANO EM PETRÓPOLIS

PRELÚDIO GETULIANO EM PETRÓPOLIS Francisco de Vasconcellos, Associado Emérito – O novo hóspede do Palácio Rio Negro durante o verão de 1931 seria Júlio Prestes, se o movimento revolucionário 3 de Outubro de 1930 não tivesse triunfado, levando Getúlio Vargas à chefia do governo provisório da Nova República. Enfim, Vargas no Catete, organização do Ministério, acertos múltiplos, apaziguamento de alguns arraiais insatisfeitos com a partilha dos quinhões do poder. Boataria. Incertezas. Vem janeiro de 1931. Petrópolis se inquieta ante a perspectiva de não ter o primeiro mandatário da Nação no comando da saison, como era tradicional na vida da cidade, de Pedro II a Washington Luiz, com pequenos lapsos nos tempos duros de Deodoro e Floriano. A 9 de janeiro, o prefeito Yeddo Fiuza foi ao Catete, para levar a Getúlio a mensagem da Liga do Comércio de Petrópolis, clamando pela presença do Presidente nestas serras, ainda que fosse por pequeno período. A Tribuna de Petrópolis de 18 de janeiro, trazia na íntegra, em nota de primeira página, o resultado da diligência de que se encarregara Fiuza. Eis o texto: “Cabe-me informar à Liga do Comércio, que no dia nove do corrente, cumprindo a missão que me foi dada, fui pessoalmente entregar ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas a mensagem que por intermédio do da classe comercial, a população de Petrópolis fez ao Exmo. Sr. Presidente do Governo Provisório, para que sua estação de repouso fosse feita nesta encantadora e hospitaleira cidade. Recebido no Palácio Guanabara por S. Excia. e depois de fazer-lhe o apelo em nome da população e em nome do governo da cidade, mostrando-lhe a honra e o entusiasmo com que o povo petropolitano o receberá, S. Excia. respondeu-me que recebia o apelo com grande satisfação e provavelmente em fevereiro, depois de resolver as questões relativas ao orçamento e após seu regresso de Minas , virá fazer sua estação de repouso em Petrópolis. Atenciosas saudações. Yeddo Fiuza – Prefeito.” Esse encontro não ficou consignado no “Diário de Getúlio Vargas”, agora (1995) trazido a lume, em dois grossos volumes pela Siciliano/FGV. Está à pág. 41 do 1º volume, no que concerne aos dias 3 a 9 de janeiro de 1931: “Esqueci-me de tomar notas. Várias coisas importantes ocorreram, que não guardo na memória para relatar.” Falou do câmbio, do Banco do Brasil, da liquidação do Banco Pelotense, mas nada disse sobre a visita que lhe fizera Yeddo Fiuza. […] Read More

CENTENÁRIO DA MORTE DO VISCONDE DE TAUNAY (O)

O CENTENÁRIO DA MORTE DO VISCONDE DE TAUNAY Francisco de Vasconcellos, Associado Emérito –  O teuto-riograndense Karl von Koseritz, crítico desabrido e contundente das mazelas do Brasil Império, cronista do Rio e de Petrópolis durante sua viagem de 1.883, foi quiçá o primeiro a fazer um esboço bio-bibliográfico do Visconde de Taunay. Fe-lo em meados dos anos oitenta do século passado, ainda em vida do retratado, através de um opúsculo, cuja segunda edição, existente no Museu Imperial é de 1886. Este folheto fez carreira brilhante e não incorreria em erro quem afirmasse ter sido aquele esboço a fonte de que se socorreram ao longo dos anos, os que intentaram construir a imagem dessa figura singular da intelectualidade brasileira, que recebeu na pia batismal o nome de Alfredo Maria Adriano D’Escragnole Taunay. Alfredo nasceu no Rio de Janeiro aos 22 de fevereiro de 1843. Filho do comendador Felix Emílio Taunay, Barão de Taunay (1795/1881) e de Gabriela Hermínia D’Escragnole Taunay, era neto paterno de Nicolau Antonio de Taunay, que foi um dos fundadores da Academia de Belas Artes. Descendia na verdade de dois velhos troncos da nobreza da França e da aristocracia de espírito daquele país. Menino de muito talento, demonstrando desde cedo múltiplos pendores, tornou-se bacharel em ciências físicas e matemáticas, graduando-se como engenheiro geógrafo em 1863. Tinha então vinte anos e já metido na carreira militar, pois sentara praça em 1861, acabou engajando-se na campanha do Paraguai, tendo participado da histórica e dramática retirada da Laguna, que lhe deu argumento para escrever obra de renome internacional, já que foi traduzida até para o sueco. Fez-se auxiliar direto do Conde D’Eu, já na última fase da guerra e voltou ao Rio de Janeiro coberto de glórias, fazendo jus à medalha do Mérito Militar, que recebeu com todas as honras. Chegou ao posto de major. Foi professor de história e línguas, na Escola Militar. Superada essa fase guerreira, Alfredo D’Escragnole Taunay dedicou-se à política, às letras e às artes. Trabalhou como jornalista, historiador, romancista, crítico, músico e pintor. Em 1869, ingressou no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, de que foi membro dos mais destacados e laboriosos. Em 1874 casou-se com Cristina Teixeira Leite, filha do Barão de Vassouras. Taunay era oficial da Ordem da Rosa e cavaleiro das ordens do Cruzeiro, de Cristo e de São Bento da Aviz. No apagar das luzes do Império, a 6 de setembro de 1.889, […] Read More