HOMENAGEM JUSTÍSSIMA A PAULO BARBOSA DA SILVA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Há cem anos a Câmara Municipal de Petrópolis prestava justíssima homenagem a Paulo Barbosa da Silva, ocasião em que, no salão nobre da Casa fora entronizado o busto do homem que soube com habilidade e clarividência costurar o projeto Petrópolis a partir de decreto Imperial de 16 de março de 1843. A “Tribuna de Petrópolis” de 4 de março de 1913 dava conta de que no escritório do “Jornal do Comércio” do Rio de Janeiro estava exposto o busto em mármore do Conselheiro Paulo Barbosa da Silva. A peça ofertada por D. Francisca Barbosa de Oliveira Jacobina, viúva do Dr. Antonio Araujo Ferreira Jacobina, deveria ser entregue à Câmara Municipal de Petrópolis pelo Dr. Castro Barbosa, prestigioso médico no Rio de Janeiro. Numa sessão solene realizada pela Municipalidade petropolitana, foi o busto do Mordomo e Conselheiro inaugurado a 6 de março de 1913, ocasião em que o mesmo Dr. Castro Barbosa pronunciou longo discurso falando da vida e da obra do homenageado. Na presidência da Câmera, por coincidência, havia um outro Barbosa, Arthur Barbosa, que nenhum parentesco parecia ter com o Mordomo. A ele coube fazer a locução de agradecimento à generosa oferta. O busto de Paulo Barbosa da Silva foi introduzido no recinto da cerimônia pelo Barão de Santa Margarida, Fernando Vidal Leite Ribeiro, que por muitos anos presidiu o Clube dos Diários e que era uma das figuras mais representativas da sociedade que veraneava em Petrópolis e, por Joaquim Pinto de Carvalho, tradicional comerciante de fazendas na atual rua Washington Luis, vereador e juiz de paz. A “Tribuna de Petrópolis” de 7 de março de 1913 publicou na íntegra o discurso do Dr. Castro Barbosa, do qual destaco alguns tópicos bem significativos, para marcar tão auspicioso acontecimento. Depois de um palavroso exórdio ao gosto da época, o orador, ferindo o tema que o levara à tribuna assim se houve: “Paulo Barbosa da Silva, Julio Frederico Koeler e D. Pedro II, João Caldas Vianna e Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho, são todos dignos da mais profunda estima pelos atos múltiplos que praticaram e dos quais resultou surgir no planalto sulcado pelos afluentes do Piabanha, formando uma verdadeira árvore fluvial, a bela cidade cuja imagem fica gravada na memória de todos que a […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS [PADRE SIQUEIRA]
RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Quem passa pela antiga Avenida 1º de Março, hoje Roberto Silveira, não pode ficar alheio ao imenso edifício que aglutina elementos neoclássicos e da chamada arquitetura do ferro, onde se abriga desde as últimas décadas do século XIX a Escola Doméstica de Nossa Senhora do Amparo, com relevantíssimos serviços prestados à sociedade petropolitana, especialmente aos menos contemplados pela fortuna material. Mas, se o prédio e a obra social não escapam aos sentidos e à sensibilidade dos que transitam por aquele logradouro, talvez a maioria destes e de tantos outros moradores e frequentadores desta urbe não saiba que por detrás de tudo aquilo estivesse a figura dinâmica, corajosa e humanitária de um sacerdote franzino e doente, que morrera antes de ver completamente realizado o seu sonho. Refiro-me ao Padre Siqueira, nascido em Jacareí, no Vale do Paraíba paulista a 10 de julho de 1837 do casal Miguel Nunes de Siqueira e Claudina Maria de Andrade. Fora ordenado em 1863 e ao iniciar-se a Guerra da Tríplice Aliança, partiu para o teatro da luta, onde tornou-se capelão de 7º Batalhão de Voluntários da Pátria. Sua débil constituição física não lhe permitira ficar por muito tempo no desempenho de suas funções religiosas. Doente, já atacado pela tuberculose, voltou à terra natal, vindo em seguida viver na Corte, sendo ai acolhido por D. Ana Leocádia da Cunha Moreira Guimarães, que vivia gostosamente em sua chácara nas Laranjeiras. Essas preciosas informações são de Antonio Machado, que nos anos trinta, sob o pseudônimo de João Fernandes, tantos serviços prestou à historiografia petropolitana, publicando o resultado de suas pesquisas nesta “Tribuna de Petrópolis”. D. Leocádia era sobrinha do Padre Corrêa, filha de D. Archangela, tendo herdado da mãe a altivez, a energia e a alma caridosa e fidalga. Consta ter sido ela a grande animadora do Padre Siqueira no rumo de execução do projeto que se tornaria realidade em Petrópolis, com o nome de Escola Doméstica de Nossa Senhora do Amparo. Preocupada coma saúde do sacerdote D. Ana Leocádia ofereceu a este, a Fazenda da Olaria, mais tarde residência oficial do Major, depois Coronel José Cândido Monteiro de Barros. Numa época em que a tuberculose era tratada com clima, cama e comida, a Olaria, hoje Castelo de São Manoel, era o local próprio para prolongar a […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS [QUINTINO BOCAIÚVA]
RESGATES PETROPOLITANOS Francisco de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Quintino Bocaiúva foi o tema da palestra que entretive no Instituto Histórico de Petrópolis, na noite de 11 de junho do corrente, no ensejo do transcurso do primeiro centenário do falecimento do último Presidente do Estado do Rio de Janeiro a governar desde Petrópolis. Contei na altura com a grata presença de uma neta do homenageado, a Sra. Ana Maria Bocaiúva de Miranda Jordão, que enriqueceu a palestra com uma série de dados oportunos e interessantes. Lá estava também o veterano associado do I.H.P. Arthur Leonardo Sá Earp, com a sua fleugma habitual, ele que é bisneto de Hermogênio Pereira da Silva e de Arthur de Sá Earp, dois desafetos declarados de Quintino Bocaiúva e que lhe fizeram dura oposição durante seu triênio à frente dos destinos do Estado (1901/1903). E uma vez mais ficou claro e evidente que o tempo é um santo remédio para aplacar as paixões, para permitir a reflexão isenta e serena dos fatos, para colocar as coisas nos seus devidos termos, permitindo que a História refulja na sua inteireza e veracidade. E ali estavam dois descendentes de polos completamente opostos, de forças que se repeliam no passado, em perfeita harmonia, irmanados numa justa celebração de uma das figuras mais proeminentes da vida pública brasileira, tentando melhorar o seu perfil e recuperar a sua imagem na moldura petropolitana. Não esteve na minha cogitação falar da vida civil do homenageado, nascido no Rio de Janeiro em 4 de dezembro de 1836, batizado na Igreja da Lampadosa e falecido na mesma cidade aos 11 de julho de 1912; também não esteve na minha alça de mira o macro Quintino Bocaiúva, pois a sua atuação a nível nacional já está suficientemente bem documentada nos dois grossos volumes que o Senado Federal vem de publicar. O que me levou à tribuna foi o Quintino no âmbito fluminense e mais especificamente em Petrópolis, como jornalista, nos anos cinquenta dos oitocentos, depois como Presidente do Estado no início do século XX. Quintino Bocaiúva chegou a Petrópolis aos 21 anos de idade e aqui empregou-se no jornal “O Parahyba” de Augusto Emilio Zaluar, periódico infelizmente, de vida efêmera, já que circulou de 1857 a 1859. Talento inato para o jornalismo tornou-se redator da folha e nela publicou diversas matérias com seu nome por baixo. Tinham […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS [VAN ERVEN]
RESGATES PETROPOLITANOS Francisco de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima De Utrecht a Samambaia, passando por Cantagalo, eis a trilha que pontua a saga dos VAN ERVEN na terra fluminense. Foi em 1824 que chegou ao então imenso Município de Cantagalo o engenheiro João Batista van Erven. Trazia a mulher, Maria Cecilia Carolina Auwen, e, dois filhos nascidos em Utrecht, Jacob e João. Jacob dedicou-se à administração das enormes fazendas do Barão de Nova Friburgo, um dos principais cafeicultores da Província do Rio de Janeiro e empresário de sucesso no setor das estradas de ferro. João, que nascera em 1803 e que chegara a Cantagalo com 21 anos, depois de passar duas décadas na companhia dos pais, viera ter a Petrópolis, onde se metera em empreendimentos agrícolas, que infelizmente lhe proporcionaram escasso retorno. Como Jean Baptiste Binot, João van Erven era um defensor da natureza petropolitana e um estudioso das potencialidades da lavoura, tanto no Município de Petrópolis quanto no todo fluminense. Segundo informações fidedignas, João van Erven publicou em 1864 nas páginas do “Mercantil” uma série de artigos sob o título “A lavoura em nosso País”. Antonio Machado, escrevendo sobre as velhas fazendas de Petrópolis no vol. IV dos “Trabalhos da Comissão do Centenário”, informava, que João van Erven, por volta de 1872, dedicava-se na Engenhoca à criação de gado e à lavoura. A Engenhoca era parte integrante do Retiro de São Tomaz e São Luiz, cujo proprietário e senhorio direto era o então Major José Candido Monteiro de Barros, que de fato, conforme depoimentos de alguns de seus descendentes, arrendara aquelas terras ao batavo, que se tornara brasileiríssimo e petropolitano. Entretanto João van Erven não prosperou na Engenhoca, apesar de seus ingentes sacrifícios para produzir em terras pobres e pouco vocacionadas para as atividades agro-pastoris. Devolveu a herdade ao arrendante e a convite deste foi abrigar-se na Fazenda da Olaria, residência oficial do Major Monteiro de Barros, a pequena distância da Engenhoca, onde mais tarde erguer-se-ia o Castelo de São Manoel. E na Olaria, João van Erven, na idade e 72 anos, faleceu a 8 de abril de 1875. Foi sepultado no Cemitério Municipal. A 10 de abril de 1875, um periódico que não pude identificar por falta de elementos, de onde a família van Erven extraiu o recorte, anotava: “Durante a enfermidade que o roubou aos seus numerosos amigos, […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS [BARÃO DE PEDRO AFONSO]
RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima O Barão de Pedro Afonso foi luminosa estrela que encantou o Brasil da segunda metade do século XIX às primeiras décadas dos novecentos. Chamou-se Pedro Afonso Franco e foi o único Barão de Pedro Afonso, título que lhe fora outorgado por Decreto de 31 de agosto de 1889. Nasceu em Paraíba do Sul aos 21 de fevereiro de 1845 e faleceu no Rio de Janeiro em 5 de novembro de 1920. Formou-se em Medicina na velha Faculdade do Rio de Janeiro e foi especializar-se na Universidade de Paris. Clínico de nomeada na Corte não se ateve ao seu consultório, somente. Tornou-se professor e sanitarista. Fundou e dirigiu o Instituto Vacínico Municipal do Rio, embrião do Instituto Oswaldo Cruz. Em 1887 dirigiu a Saúde Pública, estabelecendo produtiva parceria com o também médico e sanitarista Visconde de Ibituruna. Na Santa Casa de Misericórdia conseguiu produzir pela primeira vez no Brasil a vacina contra varíola. Numa frase curta e muito ilustrativa, disse Pedro Nava, que o Barão foi “médico de péssimo gênio e ilustre memória”. (in Chão de Ferro – Memórias/3, Rio, 1976) Pedro Afonso Franco foi dos grandes cirurgiões do Rio de Janeiro de seu tempo, quando qualquer intervenção cirúrgica representava alto risco de vida. Obteve sucesso retumbante na carreira, em 1896, ocasião em que extraiu cálculos biliares do Presidente Prudente de Moraes, que se afastara do cargo por longo período, até restabelecer-se de todo já em março de 1897. O Barão também salvou a vida do Ministro do Chile Villamil Blanco, que já vislumbrava o atestado de óbito ante moléstia que parecia incurável. Mas como ninguém consegue colher somente flores na vida profissional, o Barão de Pedro Afonso não fugiria à regra. Ele era médico da confiança do Marechal Hermes da Fonseca. Quando do acidente sofrido por D. Nair de Teffé Hermes da Fonseca nas proximidades da Engenhoca, em Corrêas, durante o carnaval de 1915, o primeiro médico a ser chamado para acudir a acidentada, foi o Dr. Arthur de Sá Earp, que fez o seu diagnóstico e prescreveu o tratamento. No dia seguinte foi chamado à Engenhoca, onde D. Nair encontrava-se em absoluto repouso, o Barão de Pedro Afonso, que depois do exame de praxe, contrariou a avaliação e as prescrições do Dr. Sá Earp. E como era ele o […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS [ERNESTO FERREIRA DA PAIXÃO]
RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima ERNESTO FERREIRA DA PAIXÃO, eis um nome que honra a medicina, a política e as letras petropolitanas. Rebento desta terra, nascido no dia de Natal de 1866, trazia do berço as luzes do saber. Seu pai, José Ferreira da Paixão, era o dono do colégio deste nome, eminente pedagogo, que trouxera o menino Ernesto ao pé de si, até torná-lo apto a prestar preparatórios, que lhe garantiram o ingresso na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se formou em 1890. Não se deixou ofuscar pelo brilho das ofertas profissionais que o prenderiam à Capital Federal. Voltou à sua terra e aqui abriu consultório, aberto a todas as classes sociais. Fez da Medicina um sacerdócio, aliás obrigação comezinha dos que realmente levam a sério o juramento de Hipócrates. Teve Ernesto Paixão vasta clientela e gozou do melhor conceito entre seus pares. Dirigiu o Hospital Santa Teresa com eficiência e espírito humanitário. Abolicionista, fez campanhas memoráveis, angariando fundos para a libertação do elemento servil, antes da abolição total do nefasto instituto da escravidão. Foi no início da República Intendente Municipal nesta urbe, distinguindo-se pelo seu equilíbrio e bom senso. Nunca foi um político rancoroso, desses que perseguem o poder pelo poder. Apenas servia-se dele para prestar os melhores serviços à comunidade petropolitana. Formado dentro dos melhores padrões humanistas, Ernesto Ferreira da Paixão tinha menos de vinte anos quando estampou seus primeiros artigos no “Mercantil”, folha que se editou nestas serras de 1857 a 1892. Quando da morte de Victor Hugo, o jornal em epígrafe ocupou toda a primeira página da edição de 27 de maio de 1885 com matérias alusivas à vida e à obra do grande escritor francês. Ernesto Paixão, nos seus dezenove anos incompletos atendeu ao chamado do periódico, fazendo publicar vibrante artigo sobre o autor de “Os Miseráveis”. Bem ao estilo da época e coerente com os arroubos da juventude, escreveu Paixão: “Victor Hugo, o deus da literatura, despiu o invólucro de mortal e tomou lugar no sólio da imortalidade. Assim o foi; porque a matéria que o circundava era impotente para resistir à força das chispas, que o gênio – aninhado em seu cérebro – irradiava por ela”. Quando o “Mercantil” deixou de circular, cedendo espaço à “Gazeta de Petrópolis”, o grande jornal da Capital do […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS [JOSÉ FERREIRA DE SOUZA ARAÚJO]
RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima JOSÉ FERREIRA DE SOUZA ARAÚJO, mais conhecido como Ferreira de Araújo, foi das maiores expressões do jornalismo brasileiro das últimas três décadas do século XIX. Era respeitado internacionalmente e gozava de imenso prestígio entre seus colegas, nacionais e estrangeiros. Foi durante anos redator chefe da “Gazeta de Notícias” do Rio de Janeiro, jornal de significativa circulação, em que colaboravam os mais eminentes homens de letras do fim da monarquia ao princípio da república. Ferreira de Araújo faleceu na então Capital Federal aos 21 de agosto de 1900. Sobre ele disse a “Gazeta de Petrópolis” em sua edição de 23 do mesmo mês e ano: “Grande espírito, iluminado sempre pelo sol de uma inteligência superior, talento de eleição, alma aberta para todas as ações generosas, abraçando num volver de olhos todos os cometimentos elevados, encarando todas as questões que se agitavam no país com uma clarividência de inspirado, Ferreira de Araújo era a organização jornalística mais perfeita que existia no Brasil”. Era verdadeiramente um espírito eclético, pois escrevia quase simultaneamente sobre política, sobre economia, sobre questões internacionais e também sobre literatura, teatro, lingüística, etc. Fazia humor e arriscava folhetins que faziam a festa de seus leitores assíduos. Mantinha na “Gazeta de Notícias” seções curiosíssimas que se chamavam “Macaquinhos no Sótão”, “O Mosquito”, “As Balas de Festim”, “Jornal do Ausente”. Aparecia freqüentemente sob os pseudônimos de “Lulu Sênior”, “José Telha” e “A”. Ferreira de Araújo, abraçou algumas causas de incontestável relevância, pondo desinteressadamente sua pena flamante a serviço dos mais condoreiros ideais. Foi assim que dedicou-se de corpo e alma à campanha abolicionista, tendo recusado a condecoração que o Ministro João Alfredo lhe ofertara. Ferreira de Araújo colaborou em 1897 na “Revista Brasileira”, de cujo corpo redacional saíram os fundadores da Academia Brasileira de Letras. Fazia o jornalista comentários políticos, focando os grandes temas do governo conturbado de Prudente de Moraes. Nesta urbe viveu alguns anos Ferreira de Araújo e aqui chegou a escrever para a “Gazeta de Petrópolis”, o grande órgão de imprensa da então capital do Estado. Nas “Palestras Literárias” que fez inserir nas edições da “Gazeta de Petrópolis” de 1897 deu provas cabais de seus profundos conhecimentos lingüísticos. Vinte anos depois da morte de José Ferreira de Araújo, começou a tomar forma nestas serras a Associação de Ciências e […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS [JOAQUIM DUARTE MURTINHO]
RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Joaquim Duarte Murtinho, cuiabano de origem e radicado no Rio de Janeiro, das grandes figuras brasileiras na República Velha, ligou seu nome a Petrópolis, especialmente ao Itamarati, onde por muitos anos desfrutou das delícias de sua chácara, nos longos verões belepoqueanos. O Quarteirão Itamarati surgiu em 1885, sendo as primeiras escrituras objetivando os prazos ali criados, de novembro do mesmo ano (apud Guilherme Auler). O major José Inocêncio de Oliveira Matos adquiriu em 28 de maio de 1887 os prazos de terra de ns. 3.303 a 3.307 do referido Quarteirão. Consoante ainda Guilherme Auler, situavam-se tais terrenos perto do marco dos Sete Caminhos, fazendo testada para a estrada geral. Em 19 de fevereiro de 1889 os prazos foram vendidos a Carlos Frederico Travassos que, a 7 de junho de 1898, os transferiu ao Dr. Joaquim Duarte Murtinho. Murtinho morreu em novembro de 1911. Herdou a chácara o Dr. Francisco Murtinho, isto já em 1913. Em 9 de junho de 1924, o imóvel foi transferido ao casal Hermenegildo e Laurinda Santos Lobo, ela sobrinha de Joaquim Murtinho, que passara à história social do Rio de Janeiro como a “Marechala da Elegância”, conforme João do Rio. E é justamente por causa do centenário da morte do Dr. Joaquim Duarte Murtinho e por sua estreita ligação com esta urbe, que resolvi resgatar a história desse cidadão brasileiro, com relevantes serviços prestados à sua pátria. Nasceu ele em Ciuabá, MT, a 7 de dezembro de 1848 e faleceu no Rio de Janeiro a 18 de novembro de 1911. Formou-se em engenharia pela antiga Escola Central, hoje Escola Nacional de Engenharia. Doutorou-se em medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro, onde foi professor. Foi médico homeopata de nomeada. Na vida pública Joaquim Murtinho foi um grande executivo. Durante o governo de Prudente de Moraes (1894/1898) ocupou a pasta da Indústria, Viação e Obras. Assumindo a Presidência da República Manoel Ferraz de Campos Sales, a 15 de novembro de 1898, foi Murtinho convidado para ser Ministro da Fazenda. Tempos bicudos, economia desorganizada, inflação, enorme dívida interna, descrédito no exterior. Era significativo o desfio e o Dr. Murtinho o aceitou, tendo carta branca para agir com mão de ferro, ainda que grossos interesses fossem contrariados. E ele impondo austeridade ao seu trabalho, meteu mãos à obra. Atacou […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS
RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima JEAN BAPTISTE BINOT, nascido em 1810 na França, chegou ao Brasil em 1836. Em 1848 instalava-se em Petrópolis com a sua primeira chácara onde passou a cultivar flores e hortaliças. Como Saint-Hilaire, foi sobretudo amigo das plantas e da natureza. Pode-se afirmar com segurança que Binot foi o primeiro ecólogo de Petrópolis, o pioneiro no combate à devastação indiscriminada das matas que, na sua exuberância tropical guarneciam as encostas da urbe nascente, protegendo os mananciais, evitando o assoreamento dos rios e ipso facto minimizando a força das enxurradas. Foi também Binot um defensor intransigente do plano Koeler, inconformado com as primeiras agressões sofridas por ele e que se agravaram ao longo dos anos, da Monarquia à República. Sobre Koeler disse Binot em vibrante artigo publicado em “O Parahyba”, edição de 23 de dezembro de 1858: “De carater firme, de vontade inabalavel, bom para as famílias laboriosas, duro e severo para os preguiçosos, era preciso que, bom ou mau grado, tudo se submetesse às suas ordens que não tinham outro fim que o interesse geral da colônia. Tomou-o a morte no começo de todos os grandes trabalhos, que foram esboçados por ele, mas que ficaram suspensos ou paralizados durante muitos anos. Depois de sua morte o progresso da colônia começou a diminuir em razão da má direção que tomou a sua administração.” Adquirindo terrenos no Retiro de São Tomaz e São Luiz, Binot criou ali uma nova chácara que se tornara famosa já no decorrer dos anos sessenta dos oitocentos pelas hortaliças que produzia e pelas estufas onde eram cultivadas inúmeras variedades de flores, entre elas a orquídea. São da lavra de Jean Baptiste Binot o projeto e a execução dos jardins do Palácio Imperial de Petrópolis, onde avultam até hoje inumeráveis essências tropicais. Um outro francês de nomeada no ramo da jardinagem, Auguste Glaziou foi suplantado por Binot nessa feliz concorrência. Alcindo Sodré em artigo sobre Jean Baptiste Binot, publicado no vol. VI dos Trabalhos da Comissão do Centenário de Petrópolis, 1943, trouxe importante informação acerca da primeira chácara do horticultor francês nesta urbe. Ouçamo-lo: “A sua primeira propriedade adquirida em 13 de fevereiro de 1848 foi no Quarteirão Nassau, terreno constituído por 2.428 braças e situado onde se encontra a residência do professor Afrânio Peixoto.” A chácara tinha […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS
RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Filipe Faulhaber foi dessas figuras raras de colono petropolitano. Até onde puderam chegar as pesquisas genealógicas, atestam os documentos que Filipe descendia de Alban Faulhaber, que morreu por volta de 1565 na região de Ulm, sul da Alemanha. Nesta cidade nasceu aos 5 de maio de 1580 e faleceu em 1635 o matemático e astrônomo Johannes Faulhaber. Hans Mathaus Faulhaber (1601 / 1683) foi engenheiro e matemático. O pai de Filipe Faulhaber já nasceu na região do Hessen-Darmstadt. Chamava-se Philipp Heinrich Faulhaber e veio ao mundo em 1812 na aldeia de Gross Winternheim, próxima à margem esquerda do Reno, a leste da cidade de Bingen. Casado com Barbara Neidmann, nascida em 1809, teve sete filhos, dos quais cinco nascidos na Alemanha. Em 1846, com mulher, sogra e filhos pequenos, migrou para o Brasil para instalar-se na recém fundada colônia de Petrópolis. Filipe, o mais velho, tinha na altura 11 anos. Aqui, F. H. Faulhaber recebeu em aforamento o prazo de terras n.° 2445 do quarteirão Vila Tereza, localizado entre a Estrada Normal da Estrela, atual Rua Tereza e o Rio Palatino, em cuja margem passava a antiga estrada para Minas, correspondente nos dias que correm a um trecho da Rua Dr. Sá Earp. Neste prazo estabeleceu-se como fabricante de carruagens e seges, pois era carpinteiro de profissão. Foi membro atuante da comunidade evangélica de Petrópolis. Vítima de um ataque cardíaco faleceu aqui a 9 de março de 1857. Em 12 de abril de 1866 findava seus dias sua mulher Barbara. Nascido na mesma aldeia paterna aos 15 de setembro de 1835, Filipe, após a morte do pai assumiu a direção da fábrica de seges, mantendo-a próspera até o fim de sua existência. Foi testemunha da evolução de Petrópolis, participando ativamente de seu progresso econômico, social e político. Foi decano dos comerciantes e industriais da cidade; foi um dos fundadores do extinto clube Cecilie Verein e do Deutscher Saengerbund Eintracht, que depois da segunda guerra passou a atender por Coral Concórdia; como figura de prôa da comunidade evangélica foi um dos responsáveis pela construção da torre do tradicional templo da Avenida Ipiranga. Filipe Faulhaber não ficou alheio à vida político-administrativa desta urbe. A 14 de outubro de 1894 foi eleito pelo voto popular Juiz de Paz, integrando assim a Assembléia […] Read More