Nelson de Sá Earp

POSSE DE NELSON DE SÁ EARP

  POSSE DE NELSON DE SÁ EARP Nelson de Sá Earp Sr. Presidente, Dr. Claudionor de Souza Adão Srs. Membros da Mesa Meus Consócios Senhoras e Senhores Obrigam-me os meus quinze minutos a uma inexorável síntese. A ela serei obediente. Resumidamente, acodem-me 1º – agradecer a honra com que me recebem os meus ilustres colegas deste colendo Instituto, reverenciando a generosidade com que acolhem um simples promitente cultivador das verdades históricas da minha e nossa queridissima terra petropolitana. Passo a servo incondicional desta Casa. 2º – declarar que prometo cultuar a História, isto é, prometo cultivar a memória de todos os fatos e acontecimentos que edificaram e edificam a honra de nossa terra. Não só as memórias passadas, as lembranças pretéritas, mas trazer à recordação os ideais futuros, revertê-los ao presente, torná-los vida, ativos, atuantes. A esperança é também memória, mas memória daquilo que se deseja do futuro realizar. E as aspirações do que está para vir, senhores historiadores, são parte do vosso e de meu futuro trabalho. Não é tradição desta Casa o saudosismo, mas antes, tirar do passado as lições do que se projeta para o amanhã. Esta Instituição é celeiro do progresso, e o é por tradição. E abraço a vossa admirável causa. Que mais posso dizer em tão escasso tempo? Para mim, esta noite é uma aurora. Em lugar do famoso “Anoitece” do venerando e célebre Raimundo Corrêa, o mestre dos mestres parnasianos, ao cantar, nos seguintes termos, o crepúsculo, quando o sol em chamas esbraseado se recolhe e diz, ANOITECE, assim descrito: Esbraseia o Ocidente na agonia O sol … Aves em bandos destacados Por céus de oiro e púrpura raiados Fogem … Fecha-se a pálpebra do dia … Delineam-se, além, da serrania Os vértices da chama aureolados. E em tudo, em tôrno esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia … Um mundo de vapores no ar flutua … Como uma informe nódoa, avulta e cresce A sombra à proporção que a luz recua … A natureza apática esmaece … Pouco a pouco, entre as árvores a lua Surge trêmula, trêmula … Anoitece. Em lugar desse belíssimo “Anoitece”, eu ousaria, modesta e canhestramente, mas desejoso de traduzir os meus sentimentos de esperança e júbilo, parafrasear o insigne e incomparável mestre, – e não sei se o consigo – dizendo, então, como mais apropriado a este instante de aspirações mais altas, AMANHECE (fazendo-o nos seguintes termos) […] Read More

ESBOÇO HISTÓRICO DA SOCIEDADE MÉDICA DE PETRÓPOLIS

  ESBOÇO HISTÓRICO DA SOCIEDADE MÉDICA DE PETRÓPOLIS Nelson de Sá Earp Não pretendo neste esboço histórico fazer um registro cronológico dos eventos da Sociedade Médica de Petrópolis, nem tão pouco uma lista de estatística rigorosa dos acontecimentos de que foi autora nesses 60 anos de sua existência. Proponho-me apenas, numa visão retrospectiva, constatar se a SM cumpriu finalidades a que se propôs, guardando num fluxo de iniciativas sucessivas, o veio norteador de seu sentido. Percorri, numa leitura dinâmica, as atas que registram suas atividades. Somam cerca de 947 ocorrências registradas, de 1923 até 1983. Dessas ocorrências, 747 foram devidamente inscritas em atas, lavradas com especial apuro e esmero. É de se louvar os senhores secretários médicos que as escreveram. As demais ocorrências foram transportadas para os livros de presença, contendo, na quase totalidade de suas inscrições, apenas os títulos dos assuntos tratados. As atas e os livros de presença, foram por mim numeradas de 1 até 947, começando em 15 de julho de 1923, data da 1ª sessão da Sociedade, e terminando em 22 de agosto de 1983. De 1 até 747, a numeração corresponde às atas, e, depois, aos livros de presenças. Com esses dados foi possível erguer uma visão globalizada da vida da Sociedade, que encerra, implicitamente os princípios que regeram sua vida até nossos dias, suas realizações e seu indubitável progresso. Demarquei certos fatos mais significativos, fixando-os dentro dos períodos dos seus múltiplos presidentes, cujos nomes vão surgindo aos poucos, na medida desta descrição. Desculpo-me das omissões incontáveis, tal o número imenso de citações a que estaria obrigado se eu pretendesse um trabalho completo, impossível numa síntese despretenciosa como a que apresento. Assim como os raios luminosos e divergentes de um espelho côncavo levam, num caminho reverso ao centro luminoso de onde emanam, e de onde projetados não são mais que a expressão desdobrada daquele núcleo luminoso – assim também, a expressão atual da nossa SMP, em sua estrutura orgânica e operacional, não é mais do que a manifestação desabrochada do núcleo inicial de sua existência. Já em seu estado embrionário, a Sociedade continha em gérmen toda a complexidade que hodiernamente sustenta. O relato puro e simples de sua organização atual é a descrição de um organismo social diferenciado em vários departamentos, cada um com sua função específica. Tais departamentos, já nos primórdios existiam e acabaram por se constituírem em órgãos diferenciados. São cinco esses departamentos: […] Read More

SUBLIME ATO DE FÉ (UM) – A Morte de D. Pedro de Orleans e Bragança em 29-1-1940

  UM SUBLIME ATO DE FÉ – A MORTE DE D. PEDRO DE ORLEANS E BRAGANÇA EM 29-1-1940 Nelson de Sá Earp, ex-Associado Titular, falecido Quando chegamos à casa da Família Imperial, D. Pedro iniciava os seus últimos momentos que muito rápidos seriam. Deitado sobre um grande sofá, logo na sala de entrada de sua casa, repousando a cabeça sobre uma grande almofada, agasalhado por um cobertor em desalinho, o colarinho aberto, a gravata apenas afrouxada, conservando ainda o laço feito, D. Pedro, agonizante, dava mostras de que não previra para aquele dia o acidente que iria roubar-lhe a vida em poucos minutos. Homem de fé absoluta, conhecendo que esse dia podia chegar a qualquer momento, D. Pedro mantinha sua alma em estado de contínua união com Deus. Sabia assegurada a vida eterna. Por isso, não temia a morte e à vida terrena dava o sentido cristão de prova e de peregrinação, a qual vida abandonaria a qualquer momento não sem saudades e profundo sentimento, pois muito amoroso era o seu coração de esposo e pai, mas, que compreendia dever ser vivida com entusiasmo e com alegria até o fim. Não era apegado a vida natural, embora essa lhe fosse relativamente fácil e cheia de venturas. Preferia encerrá-la naturalmente, embora encurtada de alguns anos, do que arrastar-se artificialmente, egoisticamente, numa velhice onde iria avultar a imobilidade, a tristeza e o acabrunhamento. Passava pela terra para ir para o céu. Importava pouco saber o momento da viagem quando tinha a certeza de que a qualquer instante poderia realizá-la tranquilamente. Tinha sua consciência tranquila, por isso, o espectro da morte jamais o atormentou. Poderia vir a qualquer momento, que estaria preparado. E assim aconteceu. Reunida toda a família, momentos antes, gozando do prazer de um espetáculo cinematográfico, palpitando os corações na leveza de um divertimento ameno e simples, em que tudo respirava vida e movimento, ei-los instantes depois achegados em volta do querido chefe que agoniza. A subitaneidade do mal os confunde por um instante. No entretanto, o senso da realidade, a firmeza da fé, a vida sobrenatural pulsante naqueles corações, não os abandona naquela hora trágica, chocante, imprevista. O fato natural da luta entre as forças da vida e da morte, por eles presenciada dolorosamente, não suplantou a realidade sobrenatural. Notava-se em todos a exata compreensão da gravidade do momento. A confiança, a fé, dominaram até o fim. Não houve gritos, […] Read More

FRAGMENTO DA HISTÓRIA DA MEDICINA EM PETRÓPOLIS (UM) – A assistência Hospitalar – Hospital de Santa Teresa – O Dr. Hermogênio Silva

UM FRAGMENTO DA HISTÓRIA DA MEDICINA EM PETRÓPOLIS – A assistência Hospitalar – Hospital de Santa Teresa – O Dr. Hermogênio Silva Nelson de Sá Earp, ex-Associado Titular, falecido Ao ingressarmos no Instituto Histórico de Petrópolis, ainda no decurso deste ano de 1988, aos poucos dias de nossa admissão, foi-nos proposta a honrosa incumbência de escrever um estudo sintético da história da medicina petropolitana, havendo conhecimento de que estávamos nos dedicando a uma pesquisa exatamente sobre tal assunto. Mas, como resumir ou sintetizar uma pesquisa mais profunda, se ela está ainda em meio? Pensamos, então, ser mais condizente com a exatidão por nós mesmo exigida de um trabalho histórico, apresentar apenas uma das partes, já elaboradas, de nossa futura colaboração. Escolhemos uma das fases mais decisivas, até agora, da história hospitalar de nosso Município, incluindo os papéis nela desempenhados pela Municipalidade, pela direção do Hospital de Santa Teresa, e pelo Dr. Hermogênio Pereira da Silva, quando este exercia o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Petrópolis. Tudo isto, num momento do ano de 1904, quando era iminente o fechamento do Hospital de Santa Teresa, único estabelecimento hospitalar do Município, de propriedade do Governo do Estado do Rio de Janeiro. É de se notar, desde logo, a linha de evolução da história do Hospital de Santa Teresa, aqui apenas esboçada, que, de certa maneira, reflete os vários modos por que pode ser administrado o bem comum da assistência hospitalar de uma cidade. O bem comum de uma sociedade politicamente organizada e os seus vários serviços, de um modo geral, podem ser dirigidos sob a responsabilidade única do poder público, ou pode ser provido por entidades particulares devidamente autorizadas e controladas pelo mesmo poder público e particular, em que a direção suprema cabe a autoridade pública. Num momento em que se discute vivamente a célebre questão da socialização ou da privatização dos serviços dedicados ao bem comum, o exemplo da história do Hospital de Santa Teresa, com seus cento e doze anos de experiência, pode servir muito bem como lição para ajudar a esclarecer sobre como proceder em relação àquela relevante questão. E parece que a vivência do Hospital fala a favor da privatização. É que, até hoje, o Hospital privatizado, a serviço da comunidade, produziu sempre frutos opimos, úteis a prestimosos, baseados na dedicação de uma Congregação religiosa católica, como é a Congregação das Irmãs de Santa Catarina, responsável até […] Read More