Oazinguito Ferreira da Silveira Filho

FARDA, UNIFORME E O HISTÓRICO DA CIDADE

  FARDA, UNIFORME E O HISTÓRICO DA CIDADE Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “O seu corpo, em que está inscrita uma história, casa-se com a sua função, quer dizer, uma história, uma tradição, que ele nunca viu senão encarnada em corpos ou, melhor, nessas vestes habitadas por um certo habitus” (Bordieu, Pierre. O Poder Simbólico, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1998, p.88) Muitos confundem farda com uniforme, mas tecnicamente, farda não é uniforme. Uniforme é apenas uma composição de peças de um vestuário que visam à padronização visual de determinado grupo, de uma classe ou profissão. Já a farda possui não somente conceito assim como uma dimensão completamente diferente de uniforme. Farda é por constituição um símbolo, representativo na maioria da instituição a que pertence. Identifica-se por uma história composta por valores de uma instituição maior como o Estado ou a própria representatividade da soberania de um povo. Farda é a projeção da autoridade institucional, de suas forças militares e policiais. Ao ingressar em uma instituição militar o homem ou a mulher torna-se herdeiro de um conjunto simbólico identificador da instituição. Esse é composto por práticas e discursos, expressos em cerimônias, símbolos e pelo dia-a-dia institucional (Schactae, Andréa Mazurok). Para o imaginário histórico petropolitano, inúmeros são os registros presentes em declarações pela imprensa ou na própria literatura local do século XIX e no século XX. Tais como os registros do garbo dos petropolitanos que se apresentavam no Tiro de Guerra nas primeiras décadas do século XX, ou na presença, inclusive fotográfica que alguns membros da Guarda Nacional se apresentavam em reuniões (O Mercantil), talvez como forma de ostentação ou mesmo de opressão, autoritarismo. Fotos nos arquivos do Museu Imperial dos inspetores de quarteirões, autoridades policiais garbosas e de profundo relacionamento e demonstração de segurança com as comunidades. No imaginário dos moradores, a presença do guarda noturno com seu tradicional apito e farda. Até mesmo o imaginário colonial apresentou-se por intermédio dos viajantes, no realce das fardas alemãs que alguns ainda guardavam, e segundo declarações vez por outra apresentava às comunidades por onde passavam, o que traduzia-se em respeito. Assim como, a tradição já estava estabelecida com a presença dos ‘Dragões’ que acompanhavam o Imperador e sua família em suas constantes viagens à cidade, principalmente nos anos 70 e 80 do século XIX (O Mercantil). As fotos de Haack apresentam […] Read More

CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS – O PREFEITO DEMISSIONÁRIO E OS CONFLITOS DE RUA – 1934

  CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS – O PREFEITO DEMISSIONÁRIO E OS CONFLITOS DE RUA – 1934 [1] Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “Cabe-me informar à Liga do Comércio, que no dia nove do corrente, cumprindo a missão que me foi dada, fui pessoalmente entregar ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas a mensagem que por intermédio do da classe comercial, a população de Petrópolis fez ao Exmo. Sr. Presidente do Governo Provisório, para que sua estação de repouso fosse feita nesta encantadora e hospitaleira cidade. Recebido no Palácio Guanabara por S. Excia. e depois de fazer-lhe o apelo em nome da população e em nome do governo da cidade, mostrando-lhe a honra e o entusiasmo com que o povo petropolitano o receberá, S. Excia. respondeu-me que recebia o apelo com grande satisfação e provavelmente em fevereiro, depois de resolver as questões relativas ao orçamento e após seu regresso de Minas , virá fazer sua estação de repouso em Petrópolis. Atenciosas saudações. Yeddo Fiuza – Prefeito.”( Tribuna de Petrópolis, 18 de janeiro, 1931) O texto reproduzido da Tribuna de Petrópolis procura destacar a importância concedida pelo interventor recém-nomeado para Petrópolis, Yêddo Fiúza, quando de sua visita ao presidente para entregar-lhe a carta da Liga de Comércio, solicitando que Vargas continue a presentear a cidade com a sua visita como fizeram os demais Presidentes da Republica em seu veraneio que o antecederam. Semelhante, exalta a importância que Fiúza devotava ao mesmo, e que faria politicamente com que fosse seu esteio administrativo nesta nova empreitada [2]. [1] Ensaio publicado na primeira pagina do segundo caderno em 21 de janeiro de 1984 [2] Tanto o recorte como o parágrafo inicial foram inseridos posteriormente à publicação. Petrópolis foi, durante o período republicano, palco de inúmeros movimentos que, pela sua intensidade, se transformaram em verdadeiros conflitos, por vezes até sangrentos. Sendo os mesmos, até o presente momento não estudados. Motivos? Talvez possam ser explicados pelo comportamento e visão tradicionalista germânico que tenha invadido nossos estudos históricos locais, ou simplesmente porque os mesmos fatos possam reabrir cicatrizes ainda existentes no seio de determinados grupos sociais que, durante décadas, mantiveram sob sua tutela a comunidade petropolitana. Mas, o indubitável é que quando os fatos forem cientificamente pesquisados à luz das ciências, talvez possa determinar questões de vital importância como o da paralisação de nossos movimentos econômicos, […] Read More

MEMÓRIA PETROPOLITANA PELOS GUIAS E PELA CARTOFILIA

  MEMÓRIA PETROPOLITANA PELOS GUIAS E PELA CARTOFILIA Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “O movimento das cidades foi tema dos fotógrafos desde o início da história da fotografia. Contudo o surgimento do cartão-postal, em fins do século XIX, faz da cidade o seu tema principal. As novas edificações, prédios públicos e privados, jardins, praças, ruas e avenidas das “cidades modernas” foram temas privilegiados pelos fotógrafos em muitos países.” (Lôbo, Mauricio Nunes) Há mais de década tenho procurado reavaliar os instrumentos de pesquisas objetivando reavaliar minhas investigações sobre a história local, processo que se acentuou com a leitura dos texto de Carl Schorske, (Schorske, 1979) e evoluiu ao final dos anos 90 com os extratos de Peter Burke (Burke,1985), sobre especificidades da história cultural. Passei a coletar dados sobre curiosidades e materiais diversificados, principalmente sobre a imprensa e fotos diversas sobre eventos ocorridos na cidade os quais até mesmo a própria imprensa não noticiara. Porém, o perfil de avaliação dos procedimentos de pesquisa segundo a metodologia da Nova História Cultural e sua aplicação no que tange ao contexto da história local tornou-se uma resposta aos novos desafios historiográficos aos quais meus ensaios se integravam, uma nova discussão do cultural presente em uma cidade que segundo Burke poderia “…sugerir ênfase em mentalidades, suposições e sentimentos”. No campo das representações, uma de suas faces interpretativas, a NHC me atraiu para as formas como se apresentava Petrópolis para viajantes e/ou visitantes nas primeiras décadas do século XX. Em 1983, no Arquivo Municipal, havia me detido para avaliar a infinidade de “guias” que representavam a cidade. Um verdadeiro modismo das primeiras décadas do século XX, onde cada guia esmerava-se em produzir o mais completo roteiro da cidade. Era o espírito da ‘belle époque’ que alimentava as representações e conduziam ao pleno imaginário. De apresentação gráfica soberba para a época, estes guias apresentavam uma cidade paradisíaca, de beleza estonteante na serra, descrevendo a cidade como o mais belo encrave europeu das serras brasileiras. Os serviços apresentados nos guias eram os que fixavam o centro da cidade como uma vitrine, uma “mercadoria”, para viajantes extasiados na época. Não devemos negar que na realidade criava-se uma representação distorcida do que era verdadeiramente a própria cidade. No contexto geral, uma cidade operária, pobre, com uma população periférica astronômica para a época, se comparada ao do próprio sítio histórico […] Read More

CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PETROPOLITANA: ESTADO, NACIONALIZAÇÃO E SISTEMA EDUCACIONAL

  CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PETROPOLITANA: ESTADO, NACIONALIZAÇÃO E SISTEMA EDUCACIONAL Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “…Não escapará, decerto, às luzes superiores de v. Exa. Quanta influencia isso (a criação de uma escola de primeiras letras) pode ter sobre os costumes, e quanto importa ir destruindo o uso exclusivo da linguagem alemã.” (Fernandes Pinheiro, Presidente da Província do Rio Grande do Sul, 1825, p.274, in Willens, Emilio, 1946, Brasiliana, INL/MEC) Este fragmento de documento do então Presidente da Província do Rio Grande do Sul, espelhava o temor que os brasileiros possuíam já em 1825 pela presença do imigrante europeu, principalmente do alemão no território brasileiro. Uma rejeição clara ao processo de imigração que se iniciava em terra brasileira, principalmente em uma região onde não se acusava forte presença escravista, não estando portanto sujeita a lenta política de organização do processo de produção brasileira tendo por base a mão-de-obra do imigrante em detrimento da substituição do tradicional escravismo. O assunto em discussão neste ensaio, não é somente a questão da “política de nacionalização” do ensino local, isto é, petropolitano, mas também a presença do Estado brasileiro na área de educação em Petrópolis no século XIX, assim como a questão da “pseudo” ameaça política que a imigração pudesse oferecer à integridade do Estado Imperial brasileiro ou de sua sociedade, possibilitando uma intervenção do Estado na questão educacional na região de colonização e imigração alemã em Petrópolis. Outra questão que também será abordada é a presença do ensino privado e de suas possíveis características inovadoras, assim como de um projeto de ensino técnico gerado em uma espécie de cooperativa pelos colonos em Petrópolis. INTRODUÇÃO De um modo geral quando abordamos a história da educação observamos que a temática “intervenção” do Estado, ou como pode tecnicamente ser designada, “ingerência” nas questões da educação pública não é uma novidade histórica. Lorenzo Luzuriaga já apontava sua presença desde o século XVI na Europa. Mas se compreendido precisamente como realmente uma ingerência do próprio Estado, neste caso os registros históricos podem ser mais precisamente avaliados a partir do século XVIII, sendo estes em sua maioria relacionados à evolução dos processos político-sociais no contexto da elaboração dos Estados Nacionais contemporâneos e na construção da instrução pública a partir da Revolução Francesa (Luzuriaga, 1959). No Brasil, a origem do processo educacional repousa no ensino confessional “conversor” que […] Read More

DE BANCO DE PETRÓPOLIS A BANCO DO BRASIL

  DE BANCO DE PETRÓPOLIS A BANCO DO BRASIL Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga Poucos dos que transitam pela área conhecem a importância do ‘corredor financeiro’ de nossa ‘antiga avenida’ que se organizou pelas primeiras décadas do século XX em Petrópolis e que foi de supremo valor não somente para as empresas petropolitanas que se destacavam, assim como para toda a região fluminense. Nossa operária cidade possuiu uma das mais importantes redes bancárias do interior do Estado, que acompanhava um desenvolvido parque industrial que era premiado em diversas exposições industriais tanto nacionais como internacionais. Assim, a história do garboso edifício de n.º 940/50, onde funciona atualmente o Banco do Brasil, iniciou-se em 1928, como Banco de Petrópolis. O prédio esquinado com a Rua Alencar Lima e Imperador, testada de 35m, portador de estilo arquitetônico eclético, foi construído pela empresa bancária “Sociedade Cooperativa de Responsabilidade Limitada Banco de Petrópolis”, cujo presidente no período foi Osório de Magalhães Salles, proeminente banqueiro e comerciante fluminense estabelecido em Petrópolis, principal quotista e diretor do magazine “Petrópolis Crédito Móvel”, que possuía sede na Rua Paulo Barbosa e filial na então Avenida XV de Novembro. O projeto do prédio data de 1926, desenvolvido pelo engenheiro civil J. Glasl Veiga, sendo construído por Adriano Rodrigues Pinheiro para o local onde funcionara o tradicional Hotel Bragança de muitas histórias no período da ‘belle époque’ petropolitana, principalmente na transição dos século XIX para o XX, que foi demolido em 1924, abrindo espaço para construção até mesmo de uma rua como a Alencar Lima e a construção de um conjunto de prédios também de estilo eclético como os que eram característicos dos anos 20 em nossa cidade. Devemos registrar que o marco comemorativo da inauguração da ‘Estrada Rio-Petrópolis’, hoje tão pouco lembrado na região das Duas Pontes, também foi de autoria de Glasl Veiga e do professor Leopoldo Campos, segundo informações de Gabriel Fróes. Veiga também foi autor do projeto da Igreja de São Sebastião erguida com tanto zelo pelo lendário Frei Leão, que cuidou dos abandonados trabalhadores da Rodovia que se ‘abrigaram’ desamparados nas regiões do Quitandinha e do São Sebastião com suas famílias. O Banco de Petrópolis, construtor do prédio em tema do nosso ensaio, foi a primeira casa bancária fundada no município petropolitano e que teve suas atividades encerradas em 1931 e seu patrimônio imobiliário levado […] Read More

ERA DOURADA DOS TRANSPORTES PÚBLICOS (A)

  A ERA DOURADA DOS TRANSPORTES PÚBLICOS Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “Para entrar no seu quarto eu ía de noite para a rua e voltava quando julgava minha família adormecida. Era um corredor de acústica traiçoeira: o menor ruído estrondava como a queda de um móvel. Tirava os sapatos na escada e ficava parado diante da porta do quarto, à espera do momento exato de abrí-la e de entrar. Esse momento, às vezes demorado e supliciante, era quando o bonde entrava no desvio defronte da loja na Avenida XV, e cobria todos os rumores com um chacoalhar de ferragens e um diálogo destabocado entre passageiros, motorneiro e condutor. Aí eu abria bruscamente a porta e penetrava (…)” (Pongetti, Henrique, O Carregador de Lembranças, Editora Pongetti, Rio de Janeiro, 1971). A história dos deslocamentos de ‘massa’ na cidade de Petrópolis por empresas privadas possui suas operações processadas pela primeira década do século XX, quando justamente em 1910 (18.10), inaugurou-se o serviço de auto-ônibus entre a Estação da Leopoldina e a Cascatinha. Primeiro, no gênero, a ser executado no município, observando-se que o transporte de terceiros e operários para a Cascatinha promoveria alta rentabilidade econômica (Fróes, Gabriel). A princípio a elite de moradores que se deslocavam era composta por privilegiados, pois as tarifas eram altas para o poder aquisitivo do operariado, mas com o aumento do número de coletivos, o transporte iniciou sua consolidação, que logo foi abalada pela chegada dos bondes (Verão em Petrópolis). Outros pequenos empresários passaram também por conta própria e risco a se estabelecer no setor, sem constituir empresas legalmente autorizadas, transferindo capitais de suas operações comerciais, muitos destes de lojas. Estes eram favorecidos pelos poderes públicos, com o estabelecimento imediato das concessões para a atividade e pelas agencias bancárias ‘sedentas’ de participar com créditos e associações para a aquisição ou locação de veículos, ou em muito para confecção de carrocerias, nos tradicionais artesãos carpinteiros alemães, como os Bade (Silveira, Oazinguito F.). Até mesmo o Hotel da Independência, assim como outros, passou a explorar o transporte, principalmente a partir do terminal centro da estação ferroviária da Leopoldina, conduzindo clientes em uma época onde o fluxo de visitantes e hóspedes da cidade eram intensos em seu veraneio e fuga de epidemias. Por outro lado, inúmeras foram também nas primeiras décadas do século as propostas de empresários do […] Read More

PETRÓPOLIS E SEUS TIPOS URBANOS

  PETRÓPOLIS E SEUS TIPOS URBANOS Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga Hoje é muito comum contemplarmos pelo centro de Petrópolis uma mulher de óculos, morena, magra, portando uma imensa mala, vagando perdida pelas ruas da cidade, olhos perdidos no horizonte, caminhando por uma cidade completamente invisível para ela. Os jovens a chamam de “Maria da mala”. Histórias são contadas pelos cantos, como a de que teria perdido um filho em viagem e que aguarda seu retorno. Outros vagueavam pelo universo da cidade e somente em um momento de rompante demonstram suas personalidades, doentias, esquizofrênicas ou apenas carinhosas e comunicativas em seu trajeto. O careca que caminha por quilômetros e quilômetros dentro da cidade é tachado de louco. Ele pede às pessoas dinheiro em troca de levar o lixo, e assusta pela sua forma de andar e por seus olhos perdidos porém caçadores. Dizem que é membro de importante família. Outro caminha com seu caderno, ora com um guarda-chuva… São tantos os representantes deste universo paralelo ao nosso e do qual não tomamos conhecimento, pelo contrário, nos permitimos apossar pelo medo ou pelo asco. São personagens que encontramos em nosso cotidiano, visto pela maioria na atualidade como párias, que não possuem registro ou famílias e por tal se tornam invisíveis ao nosso universo considerado ‘normal’. Indivíduos excluídos socialmente desprovidos de qualquer vinculação ao cosmo social. Uma jornalista em 1999 produziu uma série de crônicas pelo jornal Zero Hora de Porto Alegre, que lhe valeu o Prêmio Esso de Jornalismo regional. Reportagens sobre registros urbanos dos personagens que habitam a paisagem social de Porto Alegre, seu mundo invisível. Lembrei-me de haver visualizado algo comum em minhas pesquisas no passado-recente de nossa cidade, mais precisamente em meados dos anos 50, e vasculhei minhas anotações quando encontrei a presença do jornalista Silvio de Carvalho retratando os personagens de sua época pela cidade em sua revista Vida Serrana (1954). Silvio que discorria sobre uma variedade de assuntos, não se furtou jovem ainda, em retratar o cenário invisível urbano de nossa cidade. Claro que os personagens não eram em grande número e envelheceram presentes em nosso cenário ao final do século XX. “Papa-ovo”, “Bem-te-vi”, “Tiê”, célebres figuras de nosso cotidiano por algumas décadas. Que serviram de troça para alguns adolescentes ou mesmo adultos, que corriam atrás de crianças que freqüentemente promoviam brincadeiras. “Papa-ovo” era o […] Read More

COMMERCIO (O): O DESAFIO DE UMA NOVA IMPRENSA PETROPOLITANA

  O COMMERCIO: O DESAFIO DE UMA NOVA IMPRENSA PETROPOLITANA Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “Há muito que o público e o commercio desta cidade têm enraizada a convicção de que a Companhia Leopoldina, com incrivel descaso pelos interesses vitaes de Petrópolis, não procura jámais attender aos justos reclamos que se lhe dirigem. Isto é tanto mais de notar-se, quanto, por engodo áqueles de quem aufere fabulosos lucros, envolvendo nelle o mais flagrante desrespeito ás nossas leis, a poderosa empreza assume para com o governo da União compromissos que não cumpre. E a prova temo-la na já tristemente celebre reducçao de tarifas, que ella assegurou faria em troca de favores, não poucos, recebidos na presidencia Nilo Peçanha. Já se vão dois annos quasi, e nada fez ainda, nem o fará, talvez.” (Cia. Leopoldina, in O Commercio, pg.01, n.º 01, 03-12-1911) A corajosa denúncia em uma das manchetes do novíssimo semanário contra a poderosa Cia., acompanha o mal-estar presente na própria comunidade pela constatação em notas de outros jornais do período. A péssima prestação de serviços da única empresa a fazer o transporte entre o Rio e Petrópolis. Monopólio de serviços e preços exorbitantes não se apresentam como exclusividade da contemporaneidade como podemos observar: O COMMERCIO continuava sua denúncia: “…agora ella cuida em transferir a sua estação de cargas para o Palatinato… e não seremos nós que o conteste…ela faz o que precisamente contrarie o interesse público”, “…grandes desvantagens e sérios prejuízos para os comerciantes pois o Palatinato fica muito distante do centro da cidade”. No centro localizavam-se os armazéns e depósitos de muitas empresas, e semelhante movimento seria desastroso para a economia local. O COMMÉRCIO, foi um jornal criado por Ticiano Tocantins, que se intitulava diretor do mesmo e Álvaro Martinho de Moraes, seu redator, e cuja biografia já foi tratada em ensaio anterior. O jornal teve seu inicio em 1911 (03/12), e seu fim, pelo que observamos dos números existentes na Biblioteca Municipal em 1929 (12/07). Sua redação localizava-se a principio na Avenida Ipiranga, no número 918, possivelmente casa do próprio Ticiano. Mais tarde transferiu-se para um endereço comercial na Rua Paulo Barbosa, 182. Ticiano Teixeira Tocantins As características enunciadas em seu primeiro número eram “Órgão Comercial, noticioso e literário, de publicação semanal, informativo, com social e anúncios comerciais”. Quanto ao tamanho, proporcionalmente aos dias atuais, o jornal […] Read More

PROJETO HISTORIOGRÁFICO PETROPOLITANO (UM)

  UM PROJETO HISTORIOGRÁFICO PETROPOLITANO Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga Completamos este ano exatamente três décadas de criação de um desaparecido “ente” petropolitano, o “Centro de Pesquisa de História” (CEPEH), da Universidade Católica de Petrópolis. Centro que foi fruto de convênio firmado em 05 de dezembro de 1969, entre o Museu Imperial, Instituto Histórico de Petrópolis, Universidade Católica de Petrópolis e Prefeitura Municipal de Petrópolis, sob orientação do prof. Jeronymo Ferreira Alves. Ele ocorreu justamente na época em que a repressão policial se apresentava de forma acentuada na cidade. Época em que professores ou se demitiram ou se afastaram por serem perseguidos por simples suspeições ideológicas, tais como, Francisco Falcon, Cyro Flamarion Cardoso em 1965, entre outros. Porém idéias sedimentaram-se e um louvável trabalho de organização na implantação de novas orientações, de atualizadas perspectivas às retenções históricas petropolitanas ocorreu, apesar de sangrias e perseguições. Mas com a criação deste Centro, realizou-se um projeto pelos então professores-pesquisadores: Maria Amélia Porto Migüeis, Nazira Murad, José Henrique Rabaço e José Ribeiro de Assis, seguindo orientações metodológicas da professora da UFF, Universidade Federal Fluminense, Amélia Maria de Souza. O produto resultante deste projeto intitulou-se “Considerações Sobre a Historiografia Petropolitana”, um levantamento estatístico de fôlego sobre toda produção histórica realizada e publicada no município petropolitano desde o século XIX, e que foi publicado pela Gráfica da UCP, criada para publicação de trabalhos científicos e segundo autorização dos conveniados em 1975. Trabalho historiográfico que carece de continuidade. Mas, não seria a única obra-prima em historiografia editada em Petrópolis. Outra com menor rigor da técnica arquivística, porém fruto das anotações e observações de um museólogo petropolitano, comprometido com o propósito da indexação, ocorreu em publicação pelo anuário do Museu Imperial também nos anos 70, tendo por base a documentação petropolitana presente no próprio Museu. Publicação que até bem pouco tempo era utilizada como índex para a grande maioria dos pesquisadores leigos da imprensa por sua praticidade e generalização sobre os mais variados assuntos a serem pesquisados sobre Petrópolis. Um trabalho em que Geraldo Camargo com grande paciência costurara por décadas, servindo de complemento após a produção dos volumes da Comissão do Centenário de 1957. Não somente uma relação de notas de publicações como também relações produzidas pelos antigos bibliotecários da Biblioteca Municipal. Porém, desde os anos 90 um trabalho de levantamento histórico, dados, biografias e crônicas […] Read More

MEMORIAL DE MARIA COMPRIDA: OU SERIA O “SACI PERERÊ DA MARIA COMPRIDA” UMA PROSTITUTA?

  MEMORIAL DE MARIA COMPRIDA: OU SERIA O “SACI PERERÊ DA MARIA COMPRIDA” UMA PROSTITUTA? Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “Em toda África Ocidental, a crença na ação constante dos antepassados falecidos assume uma força incalculável… sente-se a presença contínua deles; os indivíduos são persuadidos de que eles velam pela casa, que estão diretamente interessados em todos os assuntos da família e em suas propriedades, que fornecem colheitas abundantes e garantem a fecundidade…” (G. Parrinder, La Religion em Afrique Occidentale, p.139, in, As Culturas e o Tempo, Editora Vozes/Edusp) É habitual que a pesquisadores sempre ocorra curiosidade por denominações criadas para elementos que compõem o universo geofísico, principalmente quando o são de nosso relevo. Assim, montanhas, morros, rios e outros tiveram a etimologia das palavras que as compõem, pesquisadas e, muitas vezes, explicadas, pois surgia, por vezes, como resultado da visita de viajantes ou exploradores, cristãos, em sua maioria, para comemorar dias santificados, ou como contemporaneamente por reflexo do cotidiano das sociedades que lhe são próximas. Um ex-aluno, hoje excursionista, chamou nossa atenção para o nome de um dos pontos culminantes de Petrópolis, considerado por alguns especialistas em escaladas como o segundo maior monumento monolítico do mundo, por sua condição. Falamos do “Pico da Maria Comprida”, e que também representa uma das mais importantes elevações do Estado do Rio de Janeiro. O pico localiza-se em Araras, erguendo-se a uma altitude de 1.926 metros, e podendo ser seu cume alcançado por caminhada. Mas sua parede sul, ao que parece nunca foi escalada, existindo uma só via conquistada na face norte. A verticalidade e grandiosidade da face sul foram fatores que conduziram a maioria dos alpinistas, profissionais ou amadores, a desistirem de se aventurar em suas paredes. A via pode ter cerca de 900 metros, podendo segundo alpinistas ser a maior do Brasil. Precisamente no momento em que fui inquirido, não me ocorreu razão para a denominação, mas procurei justificar historicamente, que poderia ser um fato do contexto social da própria região, e que iria pesquisar melhor, pois isto nos remeteria talvez a uma investigação até de ordem social, já que de ordem histórica, até onde me recordava nada existia, principalmente, quanto a viajantes do século XIX. Seria “Maria Comprida” uma das moradoras, sitiante ou até fazendeira da área de Araras no século XIX? Lembrei-me de, quando do levantamento do arquivo […] Read More