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THE TRANSFER OF THE PORTUGUESE CAPITAL AND COURT TO RIO DE JANEIRO – 1807-1808

  THE TRANSFER OF THE PORTUGUESE CAPITAL AND COURT TO RIO DE JANEIRO 1807-1808 Kenneth Henry Lionel Light, associado efetivo, titular da cadeira n.º 1, patrono Albino José da Siqueira 2008 will go down in Brazilian history for 2 special reasons: the bicentenary of the transfer of the Portuguese court and capital to Rio de Janeiro and the year that saw a major change to the Prince Regent’s image. Following the severe losses suffered at Trafalgar, Napoleon decided, in 1806, that: if his ships were to be blockaded in their ports, then he would prevent British goods from entering France and all countries under his control. This was critical news for Britain, as she depended on exports for her economic strength needed, for instance, to sustain the expensive war against the French Emperor. It must have been obvious to the Portuguese State Council – made up of intelligent and experienced men – that sooner or later Napoleon would be making demands on her: to close the one remaining gap in his Continental commercial shield. Portugal, at that time, was ruled by the Prince Regent D. João, as his mother – the Queen – had become insane. As Portugal was an absolute monarchy, the State Council had but advisory powers. In July 1807, preparations began for a possible journey to Brazil. Ordering the return to the Tagus, those ships patrolling near the straits of Gibraltar against pirates; sending orders to the Viceroy in Brazil, prohibiting the departure of merchant ships – D. João was foreseeing the French invasion, Negotiating an agreement with Britain: to provide an escort, as Portuguese war ships would be transformed into passenger ships and so could not defend themselves if attacked. These careful and lengthy preparations are not compatible with the word ‘flight’, so often used; it was a deliberate, well-conceived strategy that met with total success. The crossing of her frontier by French and Spanish troops, the blockade of Lisbon by a British squadron and the news from Paris, quoting what Napoleon would do to his family, left him without options. On November 29 1807, he set sail for Brazil with his family and court. The studies completed by the author, during the last 15 years, have enabled historians – after 200 years – to have access to original documentation that finally unravel details of the voyage. Discovery of the log books of those British ships […] Read More

TRANSFERÊNCIA DA CAPITAL E DA CORTE PORTUGUESAS PARA O RIO DE JANEIRO – 1807-1808 (A)

  A TRANSFERÊNCIA DA CAPITAL E DA CORTE PORTUGUESAS PARA O RIO DE JANEIRO – 1807-1808 Kenneth Henry Lionel Light, associado efetivo, titular da cadeira n.º 1, patrono Albino José da Siqueira Quando a história do Brasil for escrita, o ano de 2008 será lembrado particularmente por dois motivos: o bicentenário da transferência da capital e da corte portuguesas para o Rio de Janeiro, e o ano que registrou uma significativa mudança na imagem do príncipe regente D. João. Após as severas perdas sofridas na batalha de Trafalgar, Napoleão decidiu em 1806 que, se seus navios continuassem sendo bloqueados nos seus próprios portos, ele então impediria a entrada de manufaturados ingleses na França e em todos os territórios sob o seu domínio. Para a Inglaterra, esta notícia foi crítica, pois ela dependia da exportação para manter a sua saúde econômica, necessária, por exemplo, para custear a dispendiosa guerra contra o Imperador francês. Deveria ter sido bastante óbvio para o Conselho de Estado Português – composto de homens inteligentes e bem preparados – que mais cedo ou mais tarde, Napoleão o pressionaria para fechar a última brecha no seu escudo comercial do Continente. Naquela época, reinava em Portugal, o Príncipe regente D. João – no lugar de sua mãe, a Rainha D. Maria I, que tinha se tornado incapaz. Como Portugal era uma monarquia absoluta, o papel do Conselho era meramente aconselhador. Em julho de 1807, deu-se início aos preparativos para uma possível jornada ao Brasil: chamando de volta para o Tejo os seus navios que estavam patrulhando o estreito de Gibraltar contra piratas; enviando ordens ao Vice-Rei proibindo a partida de qualquer navio mercante – D. João estava prevendo a invasão de seu país pelos franceses; negociando um tratado com a Inglaterra, para a mesma providenciar uma escolta, pois a esquadra de guerra portuguesa seria transformada em uma esquadra de navios de passageiros e, sendo assim, não teriam condições de se defenderem caso fossem atacados. Estes cuidados e preparos demorados, não são condizentes com o uso da palavra ‘fuga’, tantas vezes usada por historiadores; foi uma estratégia propositada, bem concebida, e que obteve total sucesso. A invasão de suas fronteiras pelos exércitos da França e da Espanha, o bloqueio de Lisboa por um esquadrão britânico e a notícia, chegada de Paris, citando o destino que Napoleão tinha reservado para a sua família, deixaram D. João sem opções. No dia 29 […] Read More

RECORDANDO JOÃO DE DEUS CAMPOS FILHO

  RECORDANDO JOÃO DE DEUS CAMPOS FILHO Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima No ano em que se comemora o septuagésimo aniversário da fundação do Instituto Histórico de Petrópolis, transcorre o centenário da imprensa diária nesta cidade, feito alcançado pela já secular “Tribuna de Petrópolis”, em 1º de janeiro de 1908. Ao iniciar-se a segunda década do século XX, esta urbe experimentou verdadeira explosão no setor jornalístico, onde despontavam profissionais de grosso calibre, a maioria oriunda do Rio de Janeiro com seu formidável cabedal de conhecimentos, com sua experiência nos grandes periódicos da Capital Federal, com sua natural influência nos meios de comunicação da época. Entre estes alinhavam-se Gregório de Almeida e o Conde Afonso Celso de Assis Figueiredo. Mas havia também a prata da casa na qual se inseria a figura original e irrequieta do jovem João de Deus Campos Filho. Era então redator da “Tribuna” o jornalista Álvaro Moraes que, em parceria com João Roberto d’Escragnole, imaginou criar nestas serras um Círculo de Imprensa, que haveria de aglutinar os homens que aqui labutavam nos diversos periódicos em circulação. Em agosto de 1916 a idéia começou a tomar forma, ao mesmo tempo em que aparecia aqui a revista literária “A Serrana” de propriedade de Júlio Muller, tendo como secretário Álvaro Machado. Álvaro Moraes, de cuja coragem e espírito crítico ninguém duvidava, ousou consignar estas palavras no primeiro número da revista em apreço: “Petrópolis é o túmulo de todas as boas iniciativas e, as que dizem respeito às letras, dessas, nem falar é bom! Há muito que se proclama que não há nesta cidade vida artística ou literária, apesar dos atrativos que ela oferece. A esse propósito é tradicional a má fama de Petrópolis. Para faze-la esquecer, transformando-a num centro modesto, embora, de atividade artística, esta cidade da politicagem e das intriguinhas e invejas pessoais, torna-se preciso um trabalho longo e persistente, é mister que saibam os escolher com aplausos todas as belas iniciativas que surjam, encorajando e estimulando os seus promotores. É necessário em suma que mudemos de rumo”. Era o mote do grande projeto que estava a caminho e que já contava com importantes adesões. Em 1º de setembro de 1916, no salão da Sociedade Beneficente Petropolitana, deu-se a reunião do grupo fundador do Círculo de Imprensa. Álvaro Moraes explicou em rápidas palavras os fins da […] Read More

REPENSANDO O FUTURO DE PETRÓPOLIS

  REPENSANDO O FUTURO DE PETRÓPOLIS Antônio Eugênio Taulois Com esse título, o Sr. Ebenézer Anselmo, Instrutor de Motivação Pessoal, publicou no último dia 30, nessa página da Tribuna, um extenso artigo, com uma avaliação crítica sobre o futuro de nossa cidade, valorizando com desconfiança, as tradições e o passado petropolitano. Ele interpretou fotos dos idos de 1920-30, afirmando que só se viam casas pobres, em Petrópolis, ruas estreitas e mal cuidadas, carros com manivelas na frente do motor, pessoas simples e mal vestidas, sem demonstrarem a menor ação e progresso. E arrematou, afirmando que Petrópolis precisa acordar, porque o saudosismo exagerado propõe o atraso, o antigo, a manutenção do velho, do ultrapassado. Por isso Petrópolis tem fábricas fechadas, combustível caro, poucos empregos e não tem um grande shopping, um conjunto de supermercados concorrendo entre eles, no centro da cidade. São considerações surpreendentes para um Motivador Pessoal, que deve formar opiniões. Ele não valoriza o nosso passado porque desconhece a nossa história e o sentido de sua preservação. È bom saber que, naquela época, 1920-30, as casas e ruas petropolitanas não eram tão miseráveis, pois a cidade foi escolhida pelo recém-criado Rotary Clube do Rio de Janeiro, uma entidade que reúne profissionais destacados na comunidade, para sediar o segundo Rotary Clube da região do Rio. Essa opção poderia facilmente, ter sido por Botafogo, Copacabana, Tijuca ou São Cristovão, todos, importantes bairros do Rio de Janeiro. As grandes fábricas de Petrópolis foram fechadas, principalmente, porque a moderna fiação para tecelagem usava fios sintéticos, incompatíveis com a umidade da serra. Nenhuma cidade de porte médio, tem supermercados no seu centro, por causa do movimento de cargas. Especialmente Petrópolis, que nasceu espremida entre montanhas e rios. Koeler entendeu bem essa dificuldade e a fez tão pitoresca. Sem pretensões a megalópolis, também não cabem no seu centro big-shoppings. Dizia Le Corbisier, “… as cidades são finitas.”. O Sr. Ebenézer conclui que “… manter a cidade bonita é muito pouco, pois é necessário crer, sonhar e buscar o nosso desenvolvimento, para enfraquecermos e esvaziarmos as cidades vizinhas. Ao passado, basta o nosso respeito, ao futuro, o nosso suor”. É uma afirmação espantosa. Nenhuma teoria econômica preconiza um desenvolvimento pontual, que diferencie comunidades, instabilizando a convivência entre elas. No seu comentário, o articulista também mistura desenvolvimento, riqueza e pobreza com combustível caro, desemprego, preços injustos e lucros exorbitantes, numa avaliação simplista de uma questão bem mais […] Read More

SAUDAÇÃO À PROFESSORA MARIA DA GLÓRIA RANGEL SAMPAIO FERNANDES

  SAUDAÇÃO À PROFESSORA MARIA DA GLÓRIA RANGEL SAMPAIO FERNANDES Francisco Marcos Rohling Jeronymo Ferreira Alves Netto, associado titular, cadeira nº. 15, patrono Frei Estanislau Schaette A professora Maria da Glória Rangel Sampaio Fernandes nasceu na cidade do Rio de Janeiro, sendo seus pais o Dr. José Sampaio Fernandes e Dona Íris Rangel Sampaio Fernandes, pessoas de profunda vida espiritual, firmeza de caráter e fidelidade cristã. Maria da Glória fez seus estudos iniciais, pré-escolar, ensino fundamental e médio, no Colégio Santa Catarina de Petrópolis. Em 1952 concluiu o Bacharelado em Letras Neolatinas, na Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e, no ano seguinte, a Licenciatura, pela mesma Universidade. Seu curriculum vitae é rico, expressivo e dignificante. Tem o Curso de Mestrado em Educação pela Universidade Autônoma de Guadalajara, vários cursos de Especialização, destacando-se os de Literatura Francesa Contemporânea, Literatura Francesa Clássica e Fonética Francesa, pela Universidade de Paris, além de inúmeros trabalhos publicados em revistas especializadas, nacionais e estrangeiras. É, ainda, membro titular de várias associações culturais e educacionais; sua participação em congressos e seminários, no Brasil e no exterior, tem sido uma constante. Pelos relevantes serviços prestados à Educação, foi agraciada com o título de Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, pela Assembléia Legislativa de nosso Estado; medalha do mérito universitário, pelo Conselho Universitário da Universidade Católica de Petrópolis e medalhas do mérito militar, nos graus de Oficial e Comendador. Uma vida inteiramente voltada para a Educação. A professora Maria da Glória é fundadora de nossa antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em 1954, sendo atualmente o mais antigo membro do corpo docente da Universidade em exercício. No decorrer destes 50 anos de serviço à UCP, exerceu com brilho invulgar atividades docentes e administrativas. Foi professora de Língua e Literatura Francesa, Teologia Moral, Ciências Morais e Religiosas, chefe do Departamento de Língua e Literatura Francesas, membro da Câmara de Avaliação de Títulos, Diretora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Diretora do Instituto de Artes e Comunicação, Diretora Geral da Pós-Graduação, Pró-Reitora Comunitária, membro do Conselho da Rádio UCP e Reitora por 12 anos (1987 a 1999). Na docência, manteve sempre contato muito estreito com seus alunos, animando-os com a força vigorosa de seu espírito, enriquecendo-os com o cabedal imenso de seu saber, em comunicação formal e informal, edificando-os com sua vida exemplar, certa de que, se as palavras podem comover, os […] Read More

ABREU E LIMA, O BRASILEIRO QUE FOI GENERAL DE SIMON BOLÍVAR – TRAÇOS DE SEU PERFIL

  ABREU E LIMA, O BRASILEIRO QUE FOI GENERAL DE SIMON BOLÍVAR – TRAÇOS DE SEU PERFIL MILITAR Cláudio Moreira Bento, associado correspondente O presente artigo focaliza a vida e obra do brasileiro Inácio Abreu e Lima, general de Simon Bolívar, filho de Pernambuco que, depois de concluir seu curso de cinco anos na Academia Real Militar (1812-16) no Largo de São Francisco no Rio de Janeiro, envolveu-se como Capitão do Regimento de Artilharia em Recife na Revolução Pernambucana de 1817, junto com seu pai, Padre Roma, que foi executado na sua frente em Salvador. Obrigado pelas circunstâncias, deixou o Brasil e se apresentou a serviço da Independência da Grã Colômbia (Panamá, Colômbia, Venezuela e Equador), onde se destacou como Chefe de Estado-Maior de diversos líderes ente os quais Simon Bolívar, sendo o único a possuir um curso numa Academia Militar, e tendo retornado ao Recife em 1831, onde teve destacada atuação política e jornalística. SUMÁRIO Significação histórica do General Abreu e Lima na Venezuela A falsa imagem de Abreu e Lima, uma interpretação A real imagem de Abreu e Lima A falsa visão ultrapragmática de Abreu e Lima Traços do perfil militar de Abreu e Lima Soldado do Regimento de Artilharia de Pernambuco Matrícula na Academia Real Militar em 1812 No 1º Ano Matemático da Academia Real Militar – matérias No 2º Ano Matemático – matérias No 3º Ano Matemático – matérias No 1º Ano Militar – matérias No 4º Ano Matemático da Academia Real Militar – matérias Comparação da formação de Caxias e de Abreu e Lima Indefinições no itinerário de Abreu e Lima, 1816-17 O martírio do Padre Roma segundo seu filho Abreu e Lima Capitão Abreu e Lima a serviço da Grã-Colômbia A primeira missão de Abreu e Lima na Grã-Colômbia Atuação na conquista da ponte de Boyacá Abreu e Lima, herói de Porto Cabello Prenúncio de Guerra Civil na Grã-Colômbia A Guerra Civil na Grã-Colômbia Comandante da Brigada Pacificadora do Rio Hacha Fé de Oficio do general brasileiro de Bolívar Retorno de Abreu e Lima ao Brasil A opinião de Abreu e Lima sobre a Guerra do Paraguai Uma explicação para a duração prolongada da Guerra do Paraguai Conclusão General José Ignácio Abreu e Lima (1774-1869) (Foto IHGB Lata 48, nº1) Significação Histórica de Abreu e Lima na Venezuela O historiador Vamireth Chacon na obra – Abreu e Lima – General de Bolívar. Rio de […] Read More

INSTITUTO HISTÓRICO QUER SER A MEMÓRIA DE PETRÓPOLIS (O)

  INSTITUTO HISTÓRICO QUER SER A MEMÓRIA DE PETRÓPOLIS (O) Ruth Boucault Judice O título parece pretencioso. Mas analisando veremos que o tempo do verbo quebra a dúvida. Não dissemos é, e sim quer ser. Constatamos tristemente que nossa memória está fraca e, além disso, subdividida. Esparsa entre órgãos municipais, federais e particulares. Alguma coisa escrita, muita coisa contada e outras, na memória de nossos pesquisadores e dos velhos contadores de casos. Antigamente… começam eles; ou no tempo do… em sucessão desordenada, as idéias vêm aparecendo em forma de história, ou “casos”. Quanta coisa interessante! E tudo isso correndo o risco de se perder, se não começarmos a organizar, cadastrar, pesquisar, arquivar, informar, criar enfim uma Memória. É a nossa proposição como presidente do Instituto: começar a ser a Memória de Petrópolis. É o nosso primeiro passo para a conscientização da nossa gente por seus valores. Tudo posto no papel, em forma de imagem, de crônica, de narração, começa a ser de fato, acervo. Acervo de usos, costumes, fatos curiosos, arte em geral, arquitetura em particular, folclore. Vamos nos dar conta que já temos um passado histórico, digno de preservação. A minha proposição foi bem aceita pela diretoria da TRIBUNA DE PETRÓPOLIS e melhor ainda pelos membros do Instituto que se prontificaram, cada um na sua área e na sua especialização, dentro de seus conhecimentos, a escrever um artigo semanal, nessa coluna que a TRIBUNA nos oferece. É mais um passo dentro de toda programação que estamos fazendo. O jornal é um veículo próximo do público, que entra indiferentemente dentro de todos os lares, sejam eles pobres ou ricos, cultos ou incultos, independente de ideologias e partidos. Nada mais neutro nem mais próprio para ser nosso instrumento, veículo de nossa cultura. Começaremos hoje informando sobre o próprio Instituto. Foi fundado a 24 de setembro de 1938, portanto anterior a fundação do Museu Imperial, que só surgiu em decorrência do decreto de 29 de março de 1940, e só foi instalado mais tarde, quando o prédio foi liberado pelo Colégio São Vicente de Paulo, no atual endereço. Sua ata de instalação foi solene feita no salão nobre da Municipalidade. Em seguida (por volta de 1939) passam a se reunir no Museu Histórico, com sede no Palácio de Cristal. Até então, suas reuniões eram feitas no Arquivo do Museu Imperial. Depois de nossa posse na presidência do Instituto Histórico, a primeira providência […] Read More

MEU VOTO EM PEDRA PRETA

  MEU VOTO EM PEDRA PRETA Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Recebi pela internete um “abaixo assinado contra um Supermercado ao lado da Catedral”. Quando a população se organiza e pede socorro, é porque algo de anormal está acontecendo. Esse assunto já andou nos jornais, nas reuniões de nossos administradores, depois adormeceu, e, estou vendo que continua vivo. Os habitantes de uma cidade são seus verdadeiros donos, devem pois, ser ouvidos por seus dirigentes. A quem cabe a definição desse assunto? Aos burocratas que chefiam as instituições, ou ao homem que labuta nas cidades, que trabalha, cria, e se forma nelas? Não há dúvida que são os segundos que devem ser ouvidos, principalmente quando vivemos numa democracia. Isso já acontecia na Grécia antiga, quando seus habitantes resolviam problemas como esse, votando na Ágora (praça) central. Uma pedra branca era sim (aprovando) e uma preta não (reprovando). Hoje quero votar com a pedra preta dizendo não à construção de um supermercado na Rua 13 de Maio. E você, qual é seu voto? Analise minhas justificativas. Por que a Rua 13 de Maio é importante para Petrópolis? Vejamos. Ela começa na Av. Koeler, o eixo principal do Centro Histórico; é entorno da Catedral e da Casa da Princesa Isabel, ambas tombadas. Termina no começo da Av. Rio Branco, próximo à casa do Barão de Mauá, ao lado do Palácio de Cristal, ambos tombados por sua importância. O Palácio de Cristal é o ponto máximo da arquitetura do Ferro (século XIX), não só na cidade, como no Brasil, pois, além de ser um dos mais antigos pré-moldados do país, ainda é monumento histórico. Todos sabemos que foi um presente do Conde d´Eu para a Princesa Isabel. Encomendado na França, em Saint-Sauveur-les-Arras, veio desmontado para Petrópolis, em 1884. Hoje ele é para Petrópolis o que a Tour Eiffel é para Paris! A casa do Barão de Mauá (visconde no fim da vida) além de sua arquitetura harmônica de um neoclássico de quem conhecia bem o classicismo, foi a última residência de um dos maiores industriais, se não o maior do século XIX, no Brasil. Entre muitas e muitas coisas feitas por ele, uma foi o financiar a guerra do Paraguai para o Brasil. Na outra extremidade temos a casa da Princesa Isabel, que não vale só por toda história que representa, é também um […] Read More

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DO IPHAN

  CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DO IPHAN Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Senhor Presidente Como discípula e amiga do Prof. Alcides Rocha Miranda, fundador do Núcleo do IPHAN – Brasília e um dos fundadores da Faculdade de Arquitetura de São Paulo e da Universidade de Arquitetura de Brasília, – que infelizmente já não se encontra mais entre nós – tomo a liberdade de escrever-lhe essas considerações. O Prof. Alcides acompanhou de perto o meu trabalho de preservação em Petrópolis antes, durante e depois de eu ser presidente do Instituto Histórico. E uma frase sua impulsiona-me até hoje, (mesmo aos 80 anos) a lutar por essa cidade “sui generis” no que diz respeito à arquitetura do século XIX e da própria Revolução Industrial. De uma feita, disse-me ele: “Ruth, você está vendo Petrópolis de uma forma que nenhum de nós tinha visto antes. Não pare, siga sua pesquisa”. Senhor Presidente, depois de 30 anos estudando a arquitetura de Petrópolis, digo-lhe com toda a convicção a que meus estudos me levaram. É impossível para um profissional do IPHAN que conheça bem a cidade não entender o que está acontecendo com o terreno da Rua Treze de Maio. Como V.Sa. não vive aqui, permita-me explicar-lhe. Na sua origem a “Ville des Palmiers”, como era conhecido o belo chalé da família Grandmasson, com um jardim cheio de palmeiras, preenchia cem por cento do terreno, que tinha sua frente voltada para a Av.Ipiranga. Depois de vendido, o imóvel foi demolido, já nos nossos dias, e construíu-se o que lá está, voltado para a Rua Treze de Maio. Pena que nem mesmo o IPHAN, naquela época, – tão empolgado com o excelente barroco brasileiro -, não se tenha dado conta que Petrópolis era um paradigma do século XIX, que também merecia proteção. Tenho certeza que teria proibido a demolição de um dos mais belos endereços da cidade. Pouca coisa restou, pelo Brasil a fora, desse século tão rico em arquitetura! Nós, petropolitanos, ainda possuímos essa jóia de arquitetura, que não pode, de forma alguma, desaparecer e muito menos ser minimizada pela presença de construções que nada têm a ver com sua realidade. Por isso brigamos por ela. Para que não se repita, nos nossos dias, o que aconteceu quando foi vendido pela primeira vez. No caso específico do terreno da Rua Treze de Maio, conhecedores dessa […] Read More

CASA D’ANGELO

  CASA D’ANGELO Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia As coisas se dividem em: animadas e inanimadas. Quando animadas, têm vida e podem ser móveis ou semoventes. Quando inanimadas são imóveis e insensíveis. Eu, Casa D’Angelo, sou inanimada e imóvel! Verdade. Mas até onde, e como? Não entendo, pois estou sentindo. Sinto o abandono dos Homens, sinto o descaso das autoridades, que me dizem: “estão agindo”. Mas agindo como? Em que velocidade? Já comecei a perder minhas características. Estou sendo despida, modificada, despersonalizada talvez. Está na hora de pedir socorro. Preciso de todos e de cada um. Se nasci coisa, hoje sou tradição, alma de uma cidade centenária, um pedaço do passado de toda a Petrópolis. Por isso talvez esteja “sentindo”. Já conto história, vocês querem ver? Fui fundada em 24 de dezembro de 1914. Era véspera de Natal. A população da cidade não era grande, mas quantos bolos e doces vendi. Comecei enfeitando as mesas natalinas. E como nasci? Querem saber? O português Valentim Aguiar, dono de uma confeitaria no ponto onde me encontro, sentia-se velho e sem herdeiros. Só tinha um sobrinho que sabia ele, não ser capaz de continuar o seu negócio. Lembrou-se dos irmãos D’Angelo, italianos de nascimento, mas que vieram para o Brasil por volta dos 12, 13 anos. Eram cinco irmãos; trabalhadores; começaram com uma vida dura. Eram engraxates, carregadores e, sobretudo, responsáveis. Foi assim que o velho Aguiar permitiu que eu nascesse. Facilitou-lhes a venda da Confeitaria. E lá foram eles: João D’Angelo, Donato D’Angelo, Domingos, Alexandre e Nicola D’Angelo. Cada um especializou-se em algo que fosse útil ao conjunto. João D’Angelo, tinha como esposa D. Titã (ainda viva, que nos informa), pai do grande ortopedista, Donato, era o administrador. Só aparecia na loja às tardes. Donato foi aprender marcas e paladares de vinhos alemães, franceses, etc, para poder atender aos paladares mais exigentes. Domingos passou a ser doceiro. Foi aluno de Giuseppi Salvatori, cozinheiro do Copacabana Palace. Criou os caramelos D’Angelo, conhecidos em quase todo Brasil. Enquanto fui deles, estava tranqüila. Os doces eram finos e atendiam bem a nossa clientela. Alexandre ficou com as frutas; frutas essas que vinham também de fora, não eram só brasileiras. Havia frutas até de Nova Zelândia. Nicola ficou com os salgados. Que presunto, vendíamos então! Vinha importado, embalado em latas. Faltava alguém para entregar a nossa […] Read More