AINDA OS REFLEXOS PSICOSSOCIAIS DO INSTITUTO DA ESCRAVIDÃO Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima A cultura “da lei que não pega” é velhíssima nesses Brasis do salve-se quem puder. Essa marca bem nossa vem do sistema colonial, passou pelo período monárquico e ganhou muita força em todas as repúblicas. O desconhecimento do vastíssimo território brasileiro e das peculiaridades regionais, as dificuldades de comunicação, os diplomas legais feitos ao arrepio da natureza das coisas, a falta de fiscalização e a índole corruptora e corrupta de alguns segmentos da sociedade nacional, tornaram-se suportes suficientes para que “leis não pegassem”, ficando muitas delas em “banho-maria” para no momento oportuno servirem de estribo aos peculatários, chantagistas e achacadores de plantão. No que concerne à escravidão no Brasil, tanto as leis que a protegiam como as que depois se elaboraram em benefício do elemento servil, foram por razões diversas, aqui e acolá ignoradas, desrespeitadas, burladas, muita vez sob a vista grossa da autoridade competente e quase sempre porque os autores dos delitos e das afrontas estavam fora do alcance do braço da coerção e da justiça. E é preciso que se diga que uns que outros diplomas legais aplicáveis ao instituto da escravidão já continham as válvulas de escape indutoras do desrespeito e da burla. Foi assim com as leis que aboliram o tráfico, com as do ventre livre e dos sexagenários e com aquela que extinguiu de um golpe a escravidão no país. Os exemplos são facilmente pinçáveis nos noticiários e anúncios de jornais, nos testamentos e inventários, nas crônicas e manifestos abolicionistas, nas resenhas policiais e até nos relatórios de presidentes de províncias. Não bastassem os insultos à legislação pertinente ao tema em estudo e ainda teriam que ser consideradas as decorrências psicossociais do instituto da escravidão, oriundas em grande parte da multissecular relação senhor/escravo. Na cabeça do senhor, uma vez escravo sempre escravo e até os serviçais ainda que assalariados, incluídos nesse rol os provenientes da política de colonização, eram vistos como se elementos servis fossem, porque o temor reverencial, a subalternidade, a dependência econômico-financeira e o trabalho braçal eram estigmas insuperáveis aos olhos dos que detinham os cordéis do mando, fossem privados ou oficiais. Qualquer africano que fosse apanhado andando ao acaso pelas ruas ou estradas era suspeito de ser escravo e a polícia tinha ordem de capturá-lo […] Read More
CONHECENDO NOSSO PASSADO – HISTÓRIA DA CÂMARA MUNICIPAL SEGUNDO SUAS ATAS
CONHECENDO NOSSO PASSADO – HISTÓRIA DA CÂMARA MUNICIPAL SEGUNDO SUAS ATAS Paulo Machado da Costa e Silva A título de exórdio A partir deste artigo, destinada sua seqüência a estudantes e a curiosos por conhecerem detalhes da história de sua cidade, pretende-se divulgar um pouco do que se pode recolher das Atas da Câmara Municipal de Petrópolis. Dupla é a razão para o que se objetiva salientar neste artigo: a aproximação do primeiro sesquicentenário da Câmara Municipal de Petrópolis e o trabalho que vinha sendo realizado pelo Museu Imperial e pela Câmara Municipal para a preservação e divulgação das Atas da Edilidade petropolitana. Encontramo-nos a apenas três anos do sesquicentenário da instalação da primeira Câmara Municipal de Petrópolis, ocorrida em 17 de junho de 1859. Embora não seja um passado tão distante assim, mas que constitui parte importante da história desta cidade, pode-se afirmar que ele é desconhecido quase totalmente. Importa, portanto, revelá-lo. Pois, trata-se de recuperar o conhecimento de um passado capaz de fazer compreender o presente e de melhor orientar o futuro desta cidade e deste município, pelas preciosas informações de ordem econômica e social, que ele contém. Num trabalho pioneiro, realizado por duas equipes bem entrosadas, uma do Museu Imperial e outra da Câmara Municipal de Petrópolis, foram copiadas, conferidas e analisadas as Atas do Legislativo petropolitano do período do Império, isto é, de 1859 a 1889. Com a presente divulgação também se objetiva prestar homenagem aos promotores e patrocinadores dos dois importantes projetos de natureza cultural, muito bem integrados, e às equipes que, com dedicação e inteligência, souberam torná-lo realidade. O primeiro projeto, o da Preservação das Atas da Câmara Municipal de Petrópolis (1859 – 1896), foi ideado pelo Setor de Documentação e Referência do Museu Imperial, que conserva em seu Arquivo 10 códices dessas Atas. Esta seria a participação do Museu Imperial nas comemorações do sesquicentenário da cidade, em 1993. O segundo projeto é o da Câmara Municipal, induzido pelo Museu, ao se associarem para essa realização. Em 20 de janeiro de 1994, o Presidente da Câmara Municipal, Vereador Marcio Arruda de Oliveira, promulgou a Lei nº 5.110, que instituiu, em caráter permanente, na Câmara Municipal, o projeto Recuperação da Memória Histórica do Legislativo Petropolitano. Nessa Lei ficava autorizada a assinatura de um convênio com o Museu Imperial, se fosse conveniente. Também determinava a inclusão de numerário para o projeto na previsão orçamentária de […] Read More
MEIO AMBIENTE E ECOLOGIA
MEIO AMBIENTE E ECOLOGIA! Aurea Maria de Freitas Carvalho, ex-Associada Titular, Cadeira n.º 4 – Patrono Arthur Alves Barbosa, falecida Meio Ambiente e Ecologia! Duas palavras que se costuma pronunciar muito ultimamente, pois nos deixam com a sensação de modernos e entendidos sobre aquilo que nos faz bem. Entretanto no nosso dia a dia parecemos esquecer o que representam. Acordamos e dirigimo-nos ao trabalho esquecendo-nos que no dia anterior deixamos de mandar regular o carro que está fazendo um “barulhinho” que pode transformar-se num barulho bem incômodo para os outros. E as companhias de ônibus? A maioria, pelo menos, põe nas linhas, carros que não estão em condições, soltando aquela fumaça negra que nos prejudica os pulmões e que, com seu peso, fazem estremecer as construções prejudicando, talvez, os alicerces. Se por acaso temos a sorte de possuir um terreno maior que tenha nem que seja uma faixa de ZPE (Zona de Proteção Especial) queremos logo trocar a classificação do terreno sem nos lembrarmos que o nosso vizinho tem o mesmo direito e vai com certeza pleitear a mesma coisa futuramente e assim vamos acabando com uma grande parte dos terrenos daquela classificação. E que falar dos terrenos que ainda pertencem, em grande parte, à Mata Atlântica e que estão abandonados, sem vigilância e à mercê de quem queira ocupá-los como é o caso do Parque Ecológico, existente na Rua Ypiranga, fonte de ar ainda puro, de plantas e de animais de médio porte e de alguns de cuja existência nem suspeitamos, tão minúsculos eles são, mas que contribuem para o equilíbrio da ecologia. Algumas famílias os ocupam por uma causa justa, como casa e acomodações para pessoas menos favorecidas pela sorte mas, para isso vemos uma solução viável e perfeitamente humana que pode ser posta em prática pela prefeitura pois existem terrenos menos bem localizados e por isso mais acessíveis que ela pode por à disposição dessas famílias como vem fazendo com os desabrigados pelos temporais. Outros procuram o Parque para fins menos nobres como caçar indiscriminadamente, prejudicando a fauna e também a flora com trilhas e clareiras abertas de qualquer maneira. Há também viciados em drogas que usam o parque para entregar-se a esses vícios, e pequenos ladrões que usam-no para esconder seus furtos. Acabo de ler no jornal Tribuna de Petrópolis de 18 de junho, que lá foi encontrado o corpo de um homem assassinado a […] Read More
DECRETO DE CRIAÇÃO DO MUSEU IMPERIAL – (HOMENAGEM, IN MEMORIAM, A ALCINDO SODRÉ)
DECRETO DE CRIAÇÃO DO MUSEU IMPERIAL – (Homenagem, in memoriam, a Alcindo Sodré) Raul Lopes Alcindo Sodré, médico, historiador e um dos mais destacados professores de História da cidade, foi o grande responsável pela criação do Museu Imperial. Nas longas estadias do Presidente Getúlio Vargas em Petrópolis, Alcindo Sodré batalhou junto ao Presidente para que fosse criado o Museu Imperial no ex-Palácio Imperial. Conseguiu seu objetivo e logo após a promulgação do decreto (29-03-1940), foi nomeado seu primeiro diretor. Exerceu-o de 06-04-40 até seu falecimento em 1952. Ele só se afastou da direção do Museu no período de 03-04 a 21-11-1945, para assumir a Prefeitura Municipal de Petrópolis, nomeado pelo então interventor Amaral Peixoto para substituir o Prefeito Márcio de Mello Franco Alves. Após o decreto e a nomeação de Alcindo Sodré, começou a organização e adaptação do prédio para museu e a composição de seu acervo. A inauguração deu-se em 16 de março de 1943. Hoje é o nosso maior patrimônio turístico-histórico-cultural de Petrópolis e não se pode imaginar, hoje, o que seria a nossa cidade sem ele… Como patrimônio nacional é o segundo mais visitado depois de Itaipu. A média anual fica em torno de 240.000 visitantes e hoje tem mais uma atração extra: o show Som e Luz, em seu pátio. Ao publicarmos o decreto, temos que enaltecer e relembrar a figura de seu idealizador e primeiro diretor: Alcindo Sodré, in memoriam. DECRETO-LEI N. 2096- 29 de março de 1940 Cria, na cidade de Petrópolis, o Museu Imperial O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere art.180 da Constituição, decreta: Art. 1º. Fica criado o Museu Imperial, na cidade de Petrópolis. Art. 2º. O Museu Imperial terá por finalidades : a) recolher, ordenar e expor objetos de valor histórico ou artístico referentes a fatos e vultos dos reinados de D. Pedro I e, notadamente, D. Pedro II ; b) colecionar e expor objetos que constituam documentos expressivos da formação histórica do Estado do Rio de Janeiro e, especialmente, da cidade de Petrópolis; c) realizar pesquisas, conferências e publicações sobre os assuntos da história nacional em geral e, de modo especial, sobre os acontecimentos e as figuras do período imperial, assim como da história do Estado Rio de Janeiro e, particularmente, da cidade de Petrópolis. Art. 3º. O Museu Imperial será instalado no antigo Palácio Imperial, na cidade de Petrópolis. Art. 4º. Ficam criados no Quadro […] Read More
OBELISCO
OBELISCO Raul Lopes Obelisco, marco histórico de nossa cidade, não tem recebido a devida atenção que merece. Ouve-se, freqüentemente, que ele é uma homenagem aos colonos que aqui aportaram… Ele só é lembrado no dia da Fundação de Petrópolis, 16 de março, e só homenageiam Koeler e os colonos. Mas será que o motivo principal dele ser erguido foi só esse? Não! O que está faltando é informação. O fato histórico que o criou foi o 1º Centenário da elevação de Petrópolis à categoria de cidade: 27 de setembro (1857-1957). O Obelisco tem 20 metros de altura e em sua base estão afixadas quatro placas de bronze principais: a principal delas fica frontal à Praça D. Pedro e tem os seguintes dizeres: “Este monumento, marco comemorativo do 1º Centenário da elevação de Petrópolis à categoria de cidade (sic), foi mandado construir pelo Prefeito Dr. Flávio Castrioto de Figueiredo Mello, para, perpetuando o nome dos que ajudaram Koeler a construir esta cidade, indicar às gerações futuras, pela contemplação desse passado, o caminho do trabalho, da comunidade e do progresso”. Aí está o completo sentido da existência do Obelisco… Abaixo dessa placa constam os nomes de todas as autoridades presentes à inauguração. Ele foi inaugurado em 29 de setembro de 1957, por ser domingo. O projeto é do engenheiro Glass Veiga e a execução do engenheiro Ellyr Allan Rodrigues. Nas outras três placas, todas do mesmo tamanho, afixadas nas três outras faces da base, estão os nomes dos que ajudaram a construir esta cidade e os nomes dos primeiros colonos alemães que aqui chegaram (de 29/06/45 a 31/01/46). Sobre estas placas há um fato curioso: continham erros de grafia em muitos nomes e até alguns nomes que não eram de colonos. Esses erros permaneceram por 39 anos. Quando foi Prefeito, Sérgio Fadel, o associado do I.H.P., José De Cusatis, conseguiu sensibilizá-lo a mandar corrigir as placas. Foi solicitada a revisão ao associado do I.H.P., Paulo Roberto Martins de Oliveira, pesquisador sistemático da genealogia dos colonos, para apresentar os nomes corretos. Assim foi feito. O Prefeito Sérgio Fadel mandou, então, refundir as placas com as devidas correções e as reinaugurou em 29 de junho de 1996, ainda dentro dos festejos do Sesquicentenário. Nenhuma administração, até hoje, que se saiba, prestou qualquer homenagem à data histórica de 27 de setembro, junto ao Obelisco, como deveria ocorrer! Aqui cabe, com o devido respeito, uma […] Read More
CERTIDÃO DE BATISMO DE PETRÓPOLIS (A)
A CERTIDÃO DE BATISMO DE PETRÓPOLIS Raul Lopes Até o final dos trabalhos da Comissão do Centenário de Petrópolis, havia uma polêmica sobre a verdadeira data da Fundação de Petrópolis: 29 de junho ou 16 de março. A Comissão foi instalada em 05 de setembro de 1937 e funcionou até 12 de novembro de 1939. Foi instituída pelo Ato nº 704 de julho de 1937, pelo então Prefeito Yeddo Fiúza, com a finalidade de “propor ao Governo Municipal as medidas que julgar oportunas e necessárias para o brilho das homenagens a serem projetadas e coligir os dados e documentos que facilitem a elaboração da História da cidade.” (obviamente acabar com a polêmica das datas…) “Foram indicadas 27 pessoas, figuras representativas da cidade e outros residentes fora do Município, mas ligadas a Petrópolis pela atuação pública de seus antepassados, ou, ainda, pelo próprio renome dos convidados.” A coletânea dos trabalhos produzidos foi impressa em sete volumes. Cabe assinalar que o Ato nº 704, que instituiu a Comissão, foi indicação da Câmara Municipal, de cujos “considerandos” destacamos o seguinte trecho: “pela necessidade do poder público tomar iniciativa sobre a História de Petrópolis, bem como cogitar de todas as medidas capazes de dar brilhantismo a esse acontecimento” (o Centenário). Alcindo Sodré, secretário-geral da Comissão, no primeiro volume, apresentou um extenso trabalho sob o título “Fundação de Petrópolis”. Nele foram esmiuçados documentos oficiais e obras que continham referências ao que levou esta região a gerar nossa Petrópolis. Para ilustrar o estudo que definiu a verdadeira data da Fundação de Petrópolis, pinçaremos alguns trechos desse brilhante trabalho. “Durante muitos anos e até fins da década de trinta, a maioria dos que se referiam ao assunto, registrava a data de 29 de junho de 1845, como a data da Fundação de Petrópolis. Entretanto 29 de junho não resiste à análise dos fatos históricos.” “Os jornais da época, o Almanaque Laemmert, o Guia de Petrópolis, de J. Tinoco, levaram Henrique Raffard a escrever o “Jubileu de Petrópolis”, em 1845, repetindo o erro original.” (…) 29 de junho é a data da colonização de Petrópolis, com a chegada da primeira grande leva de emigrantes alemães, mas não a sua fundação como as avaliações de documentos e fatos ocorridos na região confirmam.” (…) Quando o Imperador D. Pedro II assinou o Decreto de 16 de março, ele tinha, apenas, 17 anos e três meses. Eram muito próximos a […] Read More
PENSANDO A CIDADE…
PENSANDO A CIDADE… Maria de Fátima Moraes Argon “A união entre o passado e o futuro está na própria idéia de cidade, que a percorre tal como a memória percorre a vida de uma pessoa e que, para se concretizar, deve conformar a realidade, mas também conformar-se nela. E essa conformação permanece em seus fatos únicos, em seus monumentos, na idéia que temos deles…”.(Aldo Rossi. A arquitetura da cidade. 1995). Petrópolis constitui-se numa referência fundamental pela sua trajetória de cidade fundada e “vivida” por D. Pedro II e, mais tarde, como capital do Estado do Rio de Janeiro a sua paisagem sofreu e sofre uma série de transformações diárias que vão dando lugar a novos “lugares”. Podemos citar, por exemplo, a residência do Barão de Quartim que foi demolida para dar lugar ao Edifício Quartim; a antiga casa onde funcionava a Biblioteca Municipal que deu origem ao prédio do Centro de Cultura Raul de Leoni; o antigo Hotel Max Meyer, atual Edifício Minas Gerais, e os sobrados da Praça D. Pedro II que deram vez ao Edifício Arcádia. Tais mudanças são resultados das exigências, contradições e dos conflitos inerentes à gestão da cidade, lembrando que muitas delas foram e são feitas em nome do progresso e da modernidade. É preciso destacar que estes símbolos da cidade são testemunhos de modos de vida e experiências, e que as imagens são testemunhos desta transformação. Portanto, é preciso que os cidadãos se reconheçam nestes sinais e registros do passado, e não que tenham apenas as lembranças subjetivas, pois isto acaba por conferir aos “donos do poder” e aos especialistas a capacidade exclusiva de decidir sobre os símbolos que devem ou não ser preservados. Em Petrópolis – não diferentemente do que ocorreu em outras cidades – foi consagrado e definido o que era digno de ser preservado e de integrar o patrimônio da cidade – as sedes do poder político, religioso e militar, classes dominantes, com seus feitos e modos de vida. Além dos bens móveis e imóveis e, constituem também o Patrimônio, os documentos escritos e iconográficos (particularmente os de suporte fotográfico). A falta de documentos sobre um determinado grupo ou ação acaba por apagar marcas importantes do cotidiano e da experiência social vivenciada por grandes contingentes da população, que se torna alijada da reflexão para constituir-se em cultura. Cabe ao governo municipal a implantação de projetos que resultem na ampliação de […] Read More
REFLEXOS PSICOSSOCIAIS DO INSTITUTO DA ESCRAVIDÃO
REFLEXOS PSICOSSOCIAIS DO INSTITUTO DA ESCRAVIDÃO Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Ainda hoje fala-se que há escravidão no Brasil, tomada a palavra no seu sentido jurídico e psicossocial. É verdade e se o fato é de se lamentar, não causa espanto àqueles que sabem que há traços culturais que, de tão arraigados na mentalidade dos povos, custam a desaparecer de todo da vida dos mesmos. Por isso é que não se faz cultura, tomado o termo no sentido etnológico, por decreto ou por elaborações legais distantes da realidade palpável das relações humanas. Não seria crível que, depois de mais de trezentos anos do sistema escravista no Brasil, tendo sido o instituto da escravidão uma das coisas mais sérias da vida nacional, pelos grandes interesses econômico-financeiros que envolvia, protegido por um bem trabalhado corpo de leis, quase todo inspirado no direito romano, todas as marcas culturais dessa poderosa instituição desaparecessem do dia para a noite, tão logo fora decretado o fim da escravidão no Brasil. Ora, se os estigmas, usos e costumes teúdos e manteúdos pelo abominável sistema ainda podem ser detectados nos dias que correm, quanto mais em meados do século XIX, numa época em que somente o tráfico de escravos da África para o Brasil havia sido proibido. Nada mais havia que atenuasse os rigores do regime, o que só começaria a acontecer depois do fim da guerra do Paraguai. Naqueles idos, aos olhos do senhor, qualquer serviçal tinha o status de escravo, ainda que a lei distinguisse o elemento servil do braço livre; o escravo do ingênuo ou do liberto pela manumissão. Daí o desprestígio do trabalho braçal nas zonas de maior incidência escravagista. O processo de colonização através do chamamento na Europa de mão-de-obra livre, qualificada e responsável iniciado na segunda década do século XIX e que tinha como uma das finalidades substituir paulatinamente o braço escravo, não mudaria, nem mesmo a longo prazo a mentalidade escravocrata das famílias patrícias, que em geral viam e tratavam os colonos como se escravos fossem. E quantos até hoje ainda procedem desta forma, com relação aos seus empregados, não importa que origem tenham, quase cento e vinte anos depois de ter sido oficialmente abolida a escravidão no Brasil? O colono não mereceu dos contratadores ou locatários de serviços o devido respeito, a mais comezinha consideração. […] Read More
HÁ 150 ANOS NASCIA A UNIÃO INDÚSTRIA
HÁ 150 ANOS NASCIA A UNIÃO E INDÚSTRIA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima A construção da estrada conhecida por União e Indústria, iniciada em abril de 1856 é contemporânea das obras de viabilização da estrada de ferro de Mauá e da ferrovia D. Pedro II, projetos que no tempo em que se deram, completaram-se aqui, confundiram-se ali ou entraram em conflito acolá. Numa perspectiva maior tinham todos como bússola os velhos caminhos coloniais na ligação entre o Rio de Janeiro e o coração das Minas Gerais e como meta a moderna comunicação da capital do Império com o rio das Velhas e por este com o São Francisco. Projetos de integração longitudinal, visando aproximar o centro sul do nordeste brasileiro. Iniciativas de incontestável alcance geográfico, num país que se movia por ilhas por falta de razoável malha viária de alinhavamento das províncias. A estrada que tomou o nome da companhia executora das obras, já estava pensada desde quando as províncias do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, num esforço comum, tentaram realizar o projeto da chamada Estrada do Paraibuna, que, ao fim e ao cabo iria ligar Petrópolis a Ouro Preto, dando passagem a veículos rodantes. Se a província de Minas Gerais tentava tocar as obras com certa celeridade, tal não acontecia com a fluminense, tendo mesmo o Presidente Luiz Antonio Barbosa mandado suspender os trabalhos na seção entre a fazenda do Secretário e a Lage. No relatório de 2 de maio de 1854 o mesmo Luiz Antonio Barbosa afirmava categórico: “Suspendi a construção da ponte sobre o rio Fagundes, porque sendo pequena a consignação e não podendo eleva-la, era em grande parte absorvida pelas despesas com o pessoal da administração e aumentei com essa consignação o número dos trabalhadores empregados na seção entre os rios Paraíba e Paraibuna”. O Presidente da Província do Rio de Janeiro esteve pois trabalhando naquele velho sistema do cobertor curto ou de descobrir um santo para cobrir outro. Na verdade a obra seria da competência do governo geral já que atendia às províncias de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Tanto é verdade que a ponte sobre o rio Paraibuna estava sendo financiada pelos cofres gerais, que também acudiam em parte às despesas feitas pela província fluminense com a seção da estrada aquém Paraibuna, rio que dividia […] Read More
TRAFALGAR
TRAFALGAR Kenneth Light Nelson Good evening Ladies and Gentlemen. This month it will be 200 years since that fateful day when the Royal Navy faced the combined navies of France and Spain, at Trafalgar. This was an event that would have long-lasting repercussions – For France – that was forced to abandon, for the moment at any rate, her plans to invade Britain; For Britain, in addition to avoiding invasion, domination of the seas placed her in a position to eventually face Bonaparte on land – to be able to land troops in Portugal and maintain them continuously supplied by sea. In spite of the Continental blockade, imposed by Bonaparte, England would continue her foreign trade through large scale smuggling and open new markets for her goods, as happened in 1808, in Brazil. For Portugal, two years later invaded by Bonaparte, she would be able to call on her ally to escort her court as it made its way to Brazil. For Brazil – the coming of the royal family was her birth, as a nation. In 1815 her status changed from colony to full nation. A decade later, she would become an independent empire. I am therefore very happy, this evening, to share my knowledge of this event with you. SLIDE A I have divided this presentation into three parts. First the Political scenario, in 1803, followed by the Personal scenario of the battle’s hero – Nelson and, finally, the Battle of Trafalgar. I calculate that this presentation will last some 45 minutes. SLIDE P1 01 Part 1 – The Political Scenario Following a short interlude, war with France was resumed, in 1803. On the Continent, Bonaparte had had total success in defeating all the armies that had tried to contain his ambition to dominate the whole of Europe. Only Russia and England stood in his way. Russia, protected by her immense army, the long communication lines essential to reach her most important cities and her harsh winter weather. England, on the other hand, protected by the fact that she was an island. Invasion of England has always been extremely difficult – Romans and Danes and, more recently, Normans, in 1066, were the only ones to succeed. England watched, with increasing apprehension, as Bonaparte prepared for invasion. A very short distance away, just across the channel, invading forces began to gather. Along the French, Belgian and Dutch coastline […] Read More