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FREI LEÃO E A IGREJA DE SÃO SEBASTIÃO

FREI LEÃO E A IGREJA DE SÃO SEBASTIÃO Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette Ao ensejo das comemorações de mais um aniversário da fundação da Igreja de São Sebastião, no bairro do mesmo nome, é de plena justiça evocar a memória de Frei Leão Hessling, sem dúvida o grande animador de sua construção. Nascido a 21 de novembro de 1897, na Alemanha, veio para o Brasil ainda moço, fazendo seus estudos iniciais, de 1912 a 1918, em Blumenau, Santa Catarina, sendo ordenado sacerdote a 10 de agosto de 1925, em Petrópolis. Exercia suas atividades sacerdotais em Santa Catarina, quando foi acometido por grave enfermidade, vindo, por ordem de seus superiores, convalescer em nossa cidade, no Convento do Sagrado Coração de Jesus. Recuperado, foi-lhe confiada a 21 de março de 1929, a assistência religiosa no Santuário de Santo Antônio do Alto da Serra, então simples Capela, já que sua elevação à dignidade de Paróquia, só ocorreu em 1933, diga-se de passagem, graças aos cuidados que lhe dispensou o zeloso franciscano. Frei Leão desenvolveu intensa atividade pastoral, sendo responsável pela fundação da Liga Católica Jesus, Maria, José, em 8 de outubro de 1933; da Pia União de Santo Antônio; da Escola Paroquial e do Ambulatório de Santo Antônio, que tantos benefícios prestou à população desprovida de recursos. Incansável, percorria todos os recantos de sua imensa Paróquia, que inicialmente abrangia o território que gerou mais tarde a Paróquia de São Norberto e as regiões do Indaiá, Cremerie, Independência, Quarteirão Worms, Grota Funda, Morin, Meio da Serra e outros recantos mais afastados, prestando assistência material e religiosa aos necessitados e enfermos. Em 1953, iniciou uma obra que demonstra muito bem seu espírito empreendedor e sua confiança na proteção divina: a construção da igreja de São Sebastião, no bairro então denominado Indaiá. O citado bairro tem seu desenvolvimento ligado à construção da rodovia Washington Luiz, que liga Petrópolis ao Rio de Janeiro, já que a afluência de trabalhadores para atender à necessidade de mão-de-obra para a construção da mencionada rodovia, foi o grande fator responsável pela ocupação daquela região, antes um pequeno recanto conhecido como Cortiço. Em abril de 1929, segundo ele mesmo informa, Frei Leão Hessiling, então Capelão do Santuário de Santo Antônio do Alto da Serra, foi chamado para prestar assistência a um doente que havia contraído febre na Baixada. A partir daí, toda aquela […] Read More

PONTE DA SERRARIA (A)

A PONTE DA SERRARIA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima No começo era o caos. A travessia dos rios fazia-se em canoas, em pinguelas que nem de longe lembravam as pontes, depois nas famosas barcas de passagem. Exceções havia, é lógico: em Pernambuco, mais especificamente no Recife, as pontes chegaram com os holandeses; em São João del Rei, Minas Gerais, tais obras de arte, em pedra e cobrindo o estreito curso d’água chamado Lenheiro, vieram com o esplendor da mineração no século XVIII, a centúria mineira por excelência. Depois do verdadeiro descobrimento do Brasil, isto é, da chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, onde permaneceu por treze anos, teve início o ciclo das pontes com superestrutura e soalho de madeira, que em breve tempo começaram a sofrer o assédio daquelas com superestruturas metálicas, que se firmaram e se disseminaram já no fim do século XIX, e, princípios deste que está por findar-se, até que reinasse o tempo das pontes e viadutos de concreto, cada vez mais sofisticados. Tal a resenha histórica das nossas pontes, tão úteis na travessia dos incontáveis cursos d’água que cruzam nas mais diversas direções essa interminável vastidão brasileira. Bem elucidativo é o decreto de 20 de fevereiro de 1818, que tratando de uma das principais vias de comunicação da capital do Brasil – Reino com a Província de Minas Gerais e adjacências, consignou nas consideranda: “Constando na minha real presença os incômodos que sofrem os viajantes na passagem dos rios Paraíba e Paraibuna, sendo esta feita em barcas ou canoas, principalmente no tempo das cheias destes rios, e querendo facilitar e promover as recíprocas comunicações dos meus vassalos para bem do comércio e agricultura, que não podem prosperar no interior deste vasto Reino sem que se ponham em bom estado as estradas e se construam pontes nos rios que as separam…” Era o governo de D. João VI sensível aos problemas que afligiam o Caminho das Minas Gerais pelos futuros chãos de Petrópolis, então pertencentes às freguesias de Inhomirim e de São José da Serra (depois do Rio Preto). E dessa preocupação, mormente no que concernia ao cruzamento dos rios Paraíba e Paraibuna, nasceu o decreto em epígrafe, que determinava: “Sou servido ordenar que o produto do imposto que até agora se tem cobrado para a obra da Serra da Estrela, […] Read More

COM O BICO N’ÁGUA MORRENDO À SEDE

COM O BICO N’ÁGUA MORRENDO À SEDE Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Não há nesta velha província fluminense região mais bem provida de cursos d’água que a baixada campista. Entretanto, toda essa riqueza hidrográfica praticamente de nada serviu ao longo dos séculos para o desenvolvimento daquela área aparentemente privilegiada. Faltaram, ao fim e ao cabo, recursos e vontade política. A história tem demonstrado que a tecnologia aliada à determinação administrativa é capaz de sobrepujar os grandes obstáculos oferecidos pela natureza. Estão aí os canais de Suez e do Panamá, para confirmar essa verdade inelutável. Num relatório presidencial do ano de 1860, Inácio Francisco Silveira da Motta, então à frente dos destinos fluminenses, afirmava, ao tratar das vias navegáveis de sua província, que Campos dos Goitacazes contava com as seguintes alternativas: 1º – o rio Paraíba, de sua foz até São Fidélis, por onde podiam transitar canoas, barcos e pequenos vapores. Entretanto, as muitas cachoeiras fidelenses, onde justamente o terreno sofre enorme enrugamento, impediam a navegação normal rio acima. Apenas algumas canoas ousavam romper os obstáculos naturais, atingindo a Aldeia da Pedra (Itaocara) e mesmo o Porto Velho, no município de Cantagalo. 2º – o rio Muriaé, afluente do Paraíba pelo lado norte, com apenas 8 léguas (cerca de 50 kms) aproveitáveis para o curso de barcos e canoas. 3º – o rio Preto, afluente do Paraíba do lado sul, com 4 léguas (em torno de 25 kms) navegáveis por canoas no tempo das águas. 4º – os Dois Rios, também tributários do Paraíba pelo sul, permitindo precaríssimo trânsito a pequenas embarcações. 5º – o rio Pomba, também dificultado pelas cachoeiras. 6º – o rio Itabapoana, navegável da foz até 12 léguas (cerca de 75 kms) rio acima. 7º – a lagoa Feia, permitindo navegação em toda a sua circunferência, onde desemboca o rio Ururaí, percorrido por canoas até a lagoa de cima, que também é toda navegável. 8º – o rio Imbé, tributário da lagoa de cima, que carecia na altura de alguns melhoramentos, para permitir o escoamento dos produtos do então vasto município de Cantagalo. 9º – o rio Urubu ou Quimbira, que apesar de curto podia prestar-se à navegação por canoas de médio porte. 10º – o rio Macabu, que fazia a divisa dos municípios de Campos e Macaé, navegável por canoas até os […] Read More

CONTROVÉRSIA (UMA) – O MASSACRE DOS INDIOS PURIS DE RESENDE, ITATIAIA, PORTO REAL, QUATIS, BARRA MANSA E VOLTA REDONDA ETC ???

UMA CONTROVÉRSIA – O MASSACRE DOS INDIOS PURIS DE RESENDE, ITATIAIA, PORTO REAL, QUATIS, BARRA MANSA E VOLTA REDONDA ETC ??? Cláudio Moreira Bento, Associado Correspondente Em Ecos das comemorações dos 200 anos de Resende divulgado pelo Portal Agulhas Negras da Resenet, no item Questões controversas contestávamos a versão de terem sido massacrados índios puris pelos primeiros habitantes dos municípios que um dia integraram Resende. Contestação com apoio na análise das fontes históricas em que apoiamos nosso ensaio Os puris da vale do Paraíba fluminense e paulista in: Migrações do Vale do Paraíba. São José dos Campos: UNIVAP, 1994, que publicou os Anais do XII Simpósio de História do Vale do Paraíba, promovido pelo IEV. Trabalho republicado pela Academia Itatiaiense de História (ACIDHIS), em Volta Redonda: Gazetilha, 1995. Tese que reproduzimos na revista Resende 200 anos editada pela CAT Editora etc. Trabalhos que sugerimos ao leitor e pesquisador interessados no tema que os consultem. Estudo básico este, para contestar o que afirmou em 1a mão Joaquim Norberto de Souza e Silva em sua Memória documentada das aldeias de índios da Província do Rio de janeiro, a p. 207 do n. 14 da RIHGB, ano 1854, p.71/230 e que completou no n. 15 do citado ano. Memória que apresentou na Sessão Magna do IHGB de 15 dez 1852. Aliás magnífico trabalho em seu conjunto . Fonte de 2a mão, não calcada em fontes históricas, como se verá e na qual buscou apoio o Dr. João Maia, em seu excelente e basilar livro Do Descobrimento do Campo Alegre até a criação da Vila de Resende e a p. 15, de sua 2a edição para afirmar : “Á peste de bexigas (varíola) levada ao seio das tabas dos Puris, como meio eficaz para reduzí-los “. (eliminá-los). Eis o trecho de Joaquim Norberto cuja fidedignidade constestaremos: ‘” O ousado Sargento–mor Joaquim Xavier Curado, depois general e Conde de Duas Barras, transportando-se aos campos infestados de Puris, formou um corpo (tropa militar) com seus moradores” (de Resende atual). E completa com uma consideração imprudente para um historiador e gravíssima por não comprovada; “Ainda hoje (1852) se relata à tradição, as maiores atrocidades cometidas em vingança contra os atentados dos índios ( puris? botocudos ? Ou puris e botocudos ? ) e acusa a peste das bexigas (varíola) levada ao seio das tabas puris como um meio eficaz de reduzi-los ( elimina-los ). O horror de […] Read More

DETALHES INTERESSANTES SOBRE O PLANO DE KOELER

  DETALHES INTERESSANTES SOBRE O PLANO DE KOELER Carlos Oliveira Fróes, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 18 – Patrono Gabriel Kopke Fróes 1. O PLANO DE KOELER O Plano de Koeler para edificação de uma Colônia de Estrangeiros na Serra da Estrella, foi extremamente amplo e muito bem estruturado. Cobria todos os setores prioritários indispensáveis à formação e desenvolvimento de uma comunidade serrana. Esse “plano” não consistiu apenas de uma “idéia”. Ele realmente existiu na forma de “um opúsculo”, conforme garantiu Araújo Porto Alegre, em seu artigo publicado na edição de 19.VI.1859 de “O PARAHYBA”, no qual atribuiu, categoricamente, sua autoria a Koeler. Infelizmente tal “opúsculo” foi extraviado! No presente trabalho, iremos enfocar, apenas, alguns detalhes do Plano Koeler – original – julgados interessantes, os quais constaram da parte do Projeto de Urbanização referente às obras públicas e ao Imperial Palácio de Verão. Como base confiável, iremos nos reportar à “Planta de Petrópolis – 1846”, levantada e desenhada pelo próprio Koeler (*), cuja análise poderia nos orientar acerca das intenções do seu autor quanto ao traçado inicial das ruas, canais de retificação dos rios, praças, caminhos coloniais, quarteirões, Imperial Palácio de Verão, Igreja Paroquial, Cemitério, alguns prédios públicos e outros gerais e, finalmente, quanto à locação dos prazos, tanto nas duas Villas, como nos onze quarteirões primitivos. (*) E também: o Decreto de 16.III.1843; a Escritura de arrendamento da Imperial Fazenda Córrego Secco ao MJ-ICE J. K. Koeler de 26.VII.843; e os termos adicionais de 26.VII.1843 e 30.X.1843, estabelecendo as “condições com que se aforam terras da Fazenda de SMI denominada Córrego Secco 2. O TERRITÓRIO ABRANGIDO NO PLANO DE KOELER E SUA FORMA DE OCUPAÇÃO O primeiro detalhe interessante que resolvemos abordar foi a divisão territorial imaginada por Koeler para implementação do seu plano. Contava ele com a Fazenda Quitandinha – adquirida por ele em 1841 – e com a contígua Imperial Fazenda do Córrego Secco que arrendara em 1843. Essas duas propriedades formavam uma considerável área com cerca de 8.250.000 braças quadradas. Tal área, considerada como um todo em seu projeto, foi dividida em dois setores: o de Villas – Imperial e Thereza – e no de Quarteirões – Palatinato Inferior, Palatinato Superior, Rhenania Inferior, Rhenania Central, Castellania, Simmeria, Nassau, Mosella, Ingelheim, Bingen e Westphallia. Nitidamente, Koeler imaginara um setor urbano formado pelas Villas e um setor suburbano – ou colonial – formado pelos Quarteirões. As vias de comunicação […] Read More

BRASILEIROS ILUSTRES EM PETRÓPOLIS

  HERMES RODRIGUES DA FONSECA Hermes Rodrigues da Fonseca nasceu na Vila de São Gabriel, na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, a 12 de maio de 1855, sendo seus pais o Capitão Hermes Ernesto da Fonseca e D. Rita Rodrigues Barbosa da Fonseca. Em maio de 1866, com onze anos de idade, veio para o Rio de Janeiro em companhia da mãe e dos irmãos. Na capital do Império foi matriculado, em 1867, no Colégio Saint-Louis do padre Jules Janrard, permanecendo apenas um ano neste educandário, já que, no ano seguinte, ingressava no Imperial Colégio Pedro II. Com o consentimento do pai, sentou praça no 1 º Batalhão de Artilharia a Pé, para, em 1872, ingressar na Escola Militar da Praia Vermelha, cujo curso completou, “ com serena regularidade e nos padrões comuns” (1). (1) FAGUNDES, Umberto Peregrino Seabra. Justiça Histórica ao Marechal Hermes da Fonseca. In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, julho/setembro de 1984, p.69. A 17 de dezembro de 1877, casou-se com sua prima, D. Orsina Francione da Fonseca, filha de seu tio o Cel. Pedro Paulino da Fonseca, união que perdurou até 30 de novembro de 1912, quando a mulher faleceu. Sua carreira militar foi rápida e brilhante. Em 1876, recebeu as insígnias de 2 º Tenente, posto em que permaneceu até 1879, quando foi promovido a 1 º Tenente, contando antigüidade para ser elevado a Capitão, em 1881. Nove anos mais tarde, ou seja, em 1890, foi promovido a Major por serviços relevantes e, em outubro do mesmo ano, a Tenente Coronel por merecimento, ascendendo ao posto de Coronel quatro anos mais tarde, a General de Divisão, em 1905 e a Marechal em 6 de novembro de 1906, por ato do Presidente Rodrigues Alves. Hermes da Fonseca ocupou muitos cargos de grande responsabilidade durante sua carreira militar. Assim, foi Ajudante de Ordens de Sua Alteza o Conde D’Eu, durante a Comissão de que este foi incumbido pelo governo Imperial, nas Províncias do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Comentando sua nomeação para tão alto cargo, assim se pronunciou Seabra: “Não a faria o Conde D’Eu sem ter para isso motivos especiais, ligados à personalidade do oficial sobre o qual incidia” (2). (2) FAGUNDES, Umberto Peregrino Seabra. Op. Cit., p.69. Durante a preparação do movimento de 15 de novembro de 1889 e após a instalação da […] Read More

LICEU DE ANGRA DOS REIS (O)

O LICEU DE ANGRA DOS REIS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Somos um país sui generis e bastante paradoxal. Contrariando velho brocardo jurídico, quase sempre podemos o mais e raramente o menos. Tivemos uma Escola de Belas Artes, antes de termos um ensino primário regular e uniformemente disseminado. Na colônia, éramos proibidos de saber, de publicar periódicos, de editar livros. A Universidade era para uns raros privilegiados e estava bem distante da bolsa comum. Para chegar lá, era preciso atravessar o oceano, acercar-se do Mondego e subir a colina de Coimbra. O veterano e austero edifício coimbrão, mais parecia um castelo, sobranceiro ao burgo. Fortaleza inexpugnável, a não ser para uns poucos ungidos pela fortuna, ou por uma parcela do direito divino, privativo dos reis. Independentes, no grito e no papel, tivemos duas faculdades, já no fim dos anos vinte do século XIX. Mas o ensino primário seguia uma choldra e o secundário era uma nebulosa. Alcançamos, nós fluminenses, o status de província, em 1835, desligados que fomos do chamado Município Neutro da Corte. Em 1839, governava o nosso torrão, Paulino José Soares de Souza, grande prócer do Império, tronco de frondosa árvore de ilustres conterrâneos. A 13 de abril daquele ano, último da Regência, ele sancionava a lei de nº 143, que no seu artigo 1º, rezava: “O Seminário de Jacuecanga fica ereto em liceu provincial.” Dava-se assim um passo gigantesco na implantação do ensino secundário na Província do Rio de Janeiro. Jacuecanga, pertencente ao município de Angra dos Reis, tinha assim a glória de tornar-se berço dessa iniciativa pioneira. As cadeiras, da nova instituição de ensino, vinham discriminadas no artigo 2º da lei em apreço: primeiras letras e gramática portuguesa, gramática latina, grego, francês e inglês, retórica e poética, filosofia racional e moral, matemática, geografia e história. O artigo 15 da lei 143 dizia que o liceu seria transferido o mais breve possível, de Jacuecanga para Angra dos Reis, ficando o Presidente da Província autorizado a localizá-lo no Convento de São Bernardino. Para sair da utopia do texto legal para a dura realidade de uma província carente de tudo, apesar dos vultosos lucros propiciados pela cultura cafeeira, o liceu angrense teve que gramar penoso caminho. O convento de São Bernardino era apenas uma promessa difícil de ser realizada. João Caldas Vianna, no seu relatório […] Read More

AMICUS PLATUS SED MAGIS AMICA VERITAS

  Este provérbio latino é geralmente empregado quando se quer dizer que, por mais importante que seja a fonte de uma citação, deve-se antes de tudo buscar conhecer e aderir-se à Verdade. Platão foi figura ímpar na Filosofia grega mas, nem por isso, devemos acatá-lo indiscutivelmente. A verdade é o que vale. Às vezes. Platão podia não estar com a razão, isso sendo assim com todos os filósofos. Na História, tenta-se obter a verdade através da documentação fidedigna – sobretudo textual – mas também, em grande parte, naquilo que um dos historiógrafos franceses modernos costuma denominar “documento-monumento”, i.e., uma fonte relacionada à mentalidade dos homens da época histórica do fato em questão, resultando em fator imprescindível de análise mais criteriosa e menos anacrônica da História. Deve-se tentar “filtrar” na interpretação da História visões ideológicas inflamadas, expressadas muitas vezes o mais banalmente possível, como por exemplo em minúsculos programas de televisão, em filmes da indústria de cinema e mesmo em opiniões avulsas de professores. É muito comum em nossos dias transmissores de calúnias soltarem afirmações das mais absurdas, como se falassem “ex cathedra”, principalmente quando querem deslustrar – por falta de patriotismo e sentimentos do gênero – as grandes figuras do nosso Brasil-Império, nossos ícones sagrados. Um deles é naturalmente D. Pedro I, o Fundador do Brasil! Houve quem o chamasse de traidor!!! Traidor? E por que? Porque teria pago com nosso dinheiro a dívida de Portugal à Inglaterra? É fácil abrir a boca e chamar alguém de traidor, jogando um fósforo em palha seca para fazer um incêndio, pois a “palha seca” é, infelizmente, a ignorância de nosso Povo, que a República se encarregou de promover. É fácil acusar gratuitamente, sem explicar o contexto histórico. Depois do gesto de “panache”, quase quixotesco, às margens do Ipiranga (7 de Setembro de 1822), foi que o Imperador D. Pedro I, nos seus 9 anos de reinado, propriamente elaborou a nossa Independência: criando um Governo brasileiro, organizando a Marinha e o Exército Imperiais, outorgando uma Constituição, em 1824 – considerada por muitos juristas um verdadeiro “primor” -, expulsando as tropas portuguesas e conseguindo diplomaticamente o reconhecimento internacional da soberania do Império do Brasil, principalmente pelas grandes potências do Velho Continente. Uma vez contextualizada a Europa de então pelo Congresso de Viena (1815) e a Santa Aliança, não é difícil compreender que as grandes nações só reconheceriam nossa Independência depois que Portugal o fizesse. […] Read More

CARÁTER PETROPOLITANO (O)

O CARÁTER PETROPOLITANO Gabriel Kopke Fróes, Fundador, Patrono da Cadeira n.º 18 1 – Introdução Quem, como nós, por dever de ofício, se vir obrigado, algum dia, a compulsar os velhos jornais petropolitanos, certamente se surpreenderá com muita coisa curiosa e pitoresca que irá encontrar à margem da procurada. Foi o que aconteceu conosco, há algum tempo, quando, à cata de datas para “Efemérides Petropolitanas”, percorremos, página por página, todos os jornais de cêrca de cem anos da Biblioteca Municipal. Animados com a parceria que nos propuzera Alcindo Sodré, querido e sempre lembrado amigo, para continuação da obra por êle iniciada, não conseguimos fugir, então, ao diletantismo de relacionar fatos e coisas que nos despertaram a atenção, ainda que sem interêsse direto para “Efemérides Petropolitanas”. Anotámos, assim, acontecimentos que, embora, como já foi dito, de relativo interêsse histórico, são, contudo, realmente curiosos, uns pela comicidade, outros pelo pitoresco e outros ainda pelo imprevisto ou violência que encerram. Pois é de tais acontecimentos, uns já conhecidos dos estudiosos da nossa história, mas outros, ao que pensamos, inéditos, que vamos tratar. Reunindo-os e divulgando-os, é nossa intenção facilitar, através dêles, a análise do feitio moral do povo petropolitano. Mas, poderão servir também como contribuição ao folclore petropolitano que é pobre e desconhecido. O petropolitano é tido, geralmente, por povo frio e triste, o que, na verdade, aparenta ser. Mas, estranhamente, êsse mesmo povo tem repentes que, não raro, o hão levado a extremos não verificados alhures. Décio Cesário Alvim, o saudoso cantor das coisas da cidade, em imagem feliz, comparou o povo de Petrópolis, nos seus arrebatamentos, ao rio Piabanha que, de hábito, tão pequenino e humilde, se transforma, quando irado, em avalanche que nada respeita e tudo destrói. E deu-nos, então, êstes magníficos versos: A “ENCHENTE” Deslisa o Piabanha em calmo leito, Seguindo seu destino para mar … Contorna aqui, ali segue direito, Sua eterna canção a descantar … Da verdura da serra, rasga o peito, Para a sêde das matas aplacar … E as matas são, a um tempo, causa e efeito Dessas águas que correm sem cessar! … Mas, de súbito, as águas se revoltam, As barrancas mergulham e a cidade Tôda pujança do seu rio sente … Cedem barreiras e comportas soltam … É o Piabanha indômito que invade, É a força incontrastável de uma “enchente” Petrópolis, 31 de dezembro de 1934. 2 – Humor Já houve, nesta […] Read More

CÂMARA MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS: O PRIMEIRO PRESIDENTE E O ATUAL

  CÂMARA MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS: O PRIMEIRO PRESIDENTE E O ATUAL Daniela de Souza Costa Jaqueline de Medeiros Brand Maria de Fátima Moraes Argon, associada titular, cadeira n.º 28, patrono Lourenço Luiz Lacombe O prof. Paulo Machado da Costa e Silva, no capítulo IV – Petrópolis e sua Câmara Municipal, do livro Conhecendo Petrópolis: aspectos históricos e geográficos, edição especial, diz que: “Quando for escrita a história completa das atividades da Câmara Municipal de Petrópolis e da vida e da atuação daqueles muitos homens ilustres do passado e do presente, que foram e são os vereadores, a própria história do Município ganhará nova compreensão e nova significação”. E ainda: “este trabalho pretende dar breves informações sobre a evolução da Câmara Municipal nas várias fases de sua existência e incentivar a que pesquisadores desvendem minudências importantes do seu existir”. Acreditamos que o primeiro passo importante e decisivo para isso foi dado quando o Museu Imperial, em 1993, idealizou um projeto de preservação das atas conservadas no seu acervo (são 10 códices do período de 18/6/1859 a 31/12/1889 e de 30/11/1892 a 27/2/1896) e convidou a Câmara Municipal para ser sua parceira nesse empreendimento. Desse contacto surgiu um convênio entre as duas instituições e, ainda, levou a Câmara a instituir pela Lei 5.110, de 20 de janeiro de 1994, o Projeto Recuperação da Memória Histórica do Legislativo Petropolitano. Motivadas pelo nosso trabalho, como membros da equipe do Projeto Atas da Câmara Municipal de Petrópolis, e estando Petrópolis comemorando seus 140 anos de elevação à categoria de cidade, resolvemos iniciar uma série de biografias de vereadores e de funcionários da Câmara. Consideramos importante resgatar a história do passado, mas também preservar a de hoje, por isso elegemos, para dar início a essa série, o 1º presidente da Câmara Municipal Albino José de Sequeira e o atual Nelcyr Antônio da Costa. ALBINO JOSÉ DE SEQUEIRA Petrópolis, elevada à categoria de cidade, pela lei nº 961, de 29/09/1857 só teve sua Câmara instalada em 17/06/1859, isto porque as duas primeiras eleições foram anuladas, tendo sido considerada válida a terceira, de 13/3/1859. A presidência da Câmara Municipal coube ao vereador mais votado Amaro Emílio da Veiga, no entanto por ser militar da ativa não pôde assumi-la. Sendo imediato em votos Albino José de Sequeira que assume o cargo durante toda a legislatura. Um primeiro dado interessante deste vereador é que o seu nome aparece, em toda a […] Read More