Ruth Boucault Judice

DISCURSOS – FINAL DO MANDATO DE 1981 A 1982 – Ruth Boucault Judice

  DISCURSOS – FINAL DO MANDATO DE 1981 A 1982 Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Consócios Amigos, 2 de dezembro de 1982! Chegamos ao fim do nosso mandato de 2 anos. Pouco fizemos, sei disto. Mas… pouco é mais do que nada e o começo de muito. Por isso, sempre vale a pena começar. O Instituto comemorou todas as festividades enumeradas pelo estatuto, condignamente. Assim se sucederam os: 16 de Março, 29 de Junho, 29 de Setembro. Terminamos hoje em 2 de dezembro, quando entrego a vocês que me depositaram confiança, o meu cargo de Presidente. Admitimos alguns sócios, entre eles: Evany Rita Noel – sócio efetivo Wolfran Spitzner – sócio correspondente (Alemanha) Hubert Knauber – sócio correspondente (Alemanha) Pimentel Wing – sócio correspondente José Kana Matta – sócio correspondente Começamos a nossa gestão, como já relatamos no final do ano passado, mudando para a Casa de Cláudio de Souza, gentilmente cedida pelo Museu Imperial, na pessoa do Prof. Lacombe. De início, no 2º andar mal instalados, com um pouco de barulho para nossas reuniões. Hoje já descemos para o térreo, onde as reuniões correm com mais calma e onde temos mais possibilidades de conforto. Conseguimos uma caixa postal de nº. 90.472 que colocamos à disposição dos interessados e onde recebemos as assinaturas gratuitas da Tribuna de Petrópolis e do Jornal de Petrópolis. Usamos por algum tempo o Jornal de Petrópolis com crônicas comparativas sobre Petrópolis: Ontem e Hoje. Criamos na Tribuna, uma seção nossa, que ainda continua ativa com o título – O Instituto Histórico que ser a Memória de Petrópolis – com a contribuição de alguns membros do Instituto, (aproveito agora para estender o convite a todos que tiverem um recado a dar sobre a nossa cidade, quer do seu passado, do seu presente e mesmo do seu futuro). Dirijam-se a nossa secretária com os possíveis assuntos para palestras. Será mais fácil organizar depois. O nosso consócio, Carlos Rheingantz tem publicado, no mesmo jornal, seu artigo Quem povoou Petrópolis, que desperta grande interesse em toda população. Tivemos preciosas palestras sobre as nossas coisas, a nossa história através dos sócios Prof. Vicente Tapajós, Dr. Eppinghaus, Prof. Froes, Dr. Claudionor de Souza Adão além da palestra de âmbito maior do Prof. Gunter Weimer sobre arquitetura alemã promovida por SPHAN e IHP e Clube 29 de Junho e também Centro de […] Read More

DISCURSOS – NOVO MANDATO – METAS – Ruth Boucault Judice

  DISCURSOS – NOVO MANDATO – METAS Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Amigos consócios, Aceitei continuar meu mandato por mais dois anos. Por que? Eu mesma não sei dizer ao certo. Porque não tinha intenção de aceitar. Não viso glórias, status, viso apenas realização, e o saldo não foi tão positivo quanto desejei. Talvez por isso mesmo tenha aceitado. É um desafio para mim mesma. Sou tinhosa. Os desafios me atraem. Comecei alguma coisa, quero continuá-la e vê-la frutificar para que não se perca. Houve quem perguntasse pelo nosso plano de trabalho. Não pude responder então por dois motivos: 1º – Porque todo trabalho precisa ser lastreado por dinheiro e nós não temos verbas, a não ser a anuidade dos nossos sócios, que pouco soma. 2º – Porque houve programação, inclusive com sugestões dos próprios sócios que assistiram assíduos às reuniões mensais. Por isso, nesses dois anos anteriores, a minha maior preocupação foi criar possibilidades de verbas. E continuarei na mesma linha. Meta n.º 1 – Revista do Instituto de n.º 3, que está sendo impressa, e já vamos pensar na n. º4. Pediria aos sócios que quiserem participar que dêem seu nome, o título de seu trabalho à nossa secretária Márcia. Receberemos os artigos até o final de junho impreterivelmente. Meta n.º 2 – Através de nossa prefeitura, reativar o centro de pesquisas históricas que é feita com a mesma P.M.P. e com a Universidade Católica de Petrópolis. Reorganizar a comissão encarregada desse setor, exigir dela produção e participação prévia de seus trabalhos. Acho que o prudente também seria que todos os trabalhos, antes de serem impressos, passassem pelas nossas reuniões, para sugestões talvez, e também avaliação do que se está publicando em nome do nosso Instituto. Meta n.º 3 – Preservação de Patrimônio, como guardiões da cultura de nossa cidade; não podemos ver de braços cruzados o nosso patrimônio ecológico, cultural e arquitetônico ir progressivamente desaparecendo sem uma atuação mais enérgica de nossa parte. Temos que estar presentes, opinar, reagir quando necessário e sobretudo fiscalizar. Teremos que aguardar a retomada dos estudos sobre o Zoneamento e Uso do Solo e voltar a participar tão ativamente quanto da primeira vez. É um trabalho honesto, de peso, que precisa de nosso apoio. Precisaremos continuar com o trabalho cuidadoso de conscientização do patrimônio, por seus proprietários. E dos mesmos, é preciso […] Read More

DEZESSEIS DE MARÇO DE 1982

  DEZESSEIS DE MARÇO DE 1982 Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Autoridades presentes, Prezados consócios, Meus senhores, minhas senhoras 16 de março de 1982! Hoje é aniversário de nossa Petrópolis. Primeiro aniversário depois de ter sido transformada em Cidade Imperial pelo decreto federal de 25 de junho de 1981. Culminância de todos os anseios de uma população, que em pesquisa recente, disse sim à preservação do seu patrimônio na expressiva porcentagem de 90,4%. Houve uma mudança legal, mas … nenhuma mudança real. A nossa experiência e os conhecimentos adquiridos nos mostram, não só na História da Humanidade, como na História das Artes e no nascimento e evolução da Técnica, que nada acontece de repente. Todos os fatores históricos ou técnicos passaram por um processo primeiro de estudo, seguido de conclusões, mutações, para chegar ao estágio de maturação. E a nossa Petrópolis não fugiu à regra. Nasceu com D. Pedro I, comprando a Fazenda do Córrego Seco em 1830. Seguiu com D. Pedro II, que arrendou a fazenda ao major Julio Frederico Koeler e separou para si, um terreno para seu palácio de verão; nosso atual Museu Imperial. Aos moldes europeus, D. Pedro II encomendou um projeto de urbanismo, o primeiro do Brasil, um projeto de arquitetura e futuramente os trabalhos de um paisagista Jean Baptiste Binot. Evolui na República, quando o nosso primeiro presidente, o Marechal Deodoro da Fonseca, seguindo a trilha do ex-imperador começou a passar seus verões aqui a partir de 1890. O endereço de Deodoro ainda não era o Palácio Rio Negro, mas sim o número 57 da Av. General Osório. Até a capital federal mudar-se para Brasília, era Petrópolis no verão, a capital provisória. Vinham para cá os presidentes, com pequenas exceções, as embaixadas e toda a “entourage” dos mesmos. O Palácio Rio Negro se abria; os palacetes da Av. Koeler festivamente se arrumavam para receber seus proprietários; os hotéis, que eram em maior número que hoje, se enchiam do vai-e-vem alegre dos veranistas, que fugiam do verão carioca, para a amenidade do nosso clima. E hoje? O verão é de fato representativo para o comércio? Para a municipalidade, enfim, para toda a cidade? Temos que reconhecer que já não é o mesmo. Por que? Numa cidade imperial que fica apenas a 1 hora e pouco do Rio, com clima excelente, tendo todos os requisitos para […] Read More

JORGE BOUÇAS – EX-PRESIDENTE DO IHP

JORGE BOUÇAS – EX-PRESIDENTE DO IHP Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Era janeiro de 1981. Eu ia assumir a presidência do Instituto Histórico de Petrópolis. As reuniões ainda aconteciam no Museu Imperial. Cheguei assustada. Diante da minha “pequenez” teria a grandeza da elite cultural da cidade? Fim de tarde. Numa sala pouco iluminada, sentados em torno de uma mesa comprida, pessoas circunspectas que eu conhecia mal, (mais tarde, como me foram queridas!). Numa extremidade, eu, ligeiramente trêmula. Na outra, tão longe de mim, – Jorge Bouças – o então Presidente, com um sorriso cúmplice, pois fora ele que me colocara naquela situação! Quantos anos se passaram. Hoje, aqui estou escrevendo sobre esse grande amigo que se foi. Jorge Coelho Bouças nasceu em 23 de agosto de 1919. Aluno do São Bento, formou-se em Ciências Jurídicas na tradicional Faculdade de Direito da Rua do Catete. Iniciou sua vida de trabalho no Observador Econômico e Financeiro, revista fundada e editada por seu pai Valentin Fernandes Bouças, o introdutor do Sistema Olerite no Brasil – precursor dos computadores de hoje. A partir de 1964 fixou residência em Petrópolis, cidade que muito amou e onde seus filhos foram criados. Candidatou-se a Prefeito 2 vezes. Ingressou no Instituto Histórico em 27 de março de 1976. Foi seu Presidente de 1977 a 1980. Faleceu no dia 27 de setembro de 1994. Foi um dos pesquisadores do “Caminho do Ouro”, junto com Luiz da Silva Oliveira, nosso consócio, tendo até filmado esse roteiro. Como Presidente levou para o Instituto a preocupação com a preservação de Petrópolis. Volta-me à retina a mesma mesa comprida, a sala na penumbra, eu, já segura como Presidente do Instituto. O sorriso cúmplice, agora, é o meu que parece dizer: – Valeu Jorge. Você tinha razão. Foi muito gratificante presidir nosso Instituto. É ele, que por meu intermédio, presta-lhe hoje suas homenagens.

DISCURSOS – DEPOIMENTO PARA O TRABALHO DA FUNDREM – Ruth Boucault Judice

  DISCURSOS – DEPOIMENTO PARA O TRABALHO DA FUNDREM – 29/11/1981 Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Pediram-me um depoimento sobre os trabalhos realizados em Petrópolis para o Zoneamento da cidade e o Uso do solo. Penso, em sã consciência, que mais que um depoimento, posso dar um testemunho do que foi realizado. Participei de praticamente todas as reuniões, informei-me de tudo. Opinei, concordei e discordei quando necessário. Vi sair destas reuniões o projeto final, a conclusão do que seria necessário para, preservar essa Cidade Imperial! Hoje, tomo conhecimento de críticas, de que a lei é restritiva, que há erros, e pasmem senhores, que é uma lei elitista! Como elitista, se foi de nossas reuniões que surgiu a idéia de estímulo a construção de vilas; de proteção ao patrimônio fabril, que é muito importante; de proteção à arquitetura popular, em especial às vilas operárias? Mas essas pessoas que hoje atacam, tiveram como eu, as portas abertas para opinar, criticar e até contribuir. Pena que tenha havido omissões, que são sempre as geradoras de críticas sem fundamento. A primeira reunião que compareci, fui sem ser convidada, como simples cidadã. Chegou ao meu escritório (Firma Construtora) um convite do Sindicato da Construção Civil para o meu sócio que é engenheiro, participar de uma reunião com a turma da FUNDREM que já vinha estudando paulatinamente o zoneamento da cidade. Fui, de curiosa. O convite não era para mim. Mas eu era petropolitana de coração, residindo na cidade por mais de 30 anos, queria saber de seu destino. Gostei das diretrizes do trabalho, vi que era coisa séria e que seria válido perder tempo com ele. Voltei à próxima reunião e daí em diante, passei a ser convidada como Presidente do Instituto Histórico, cargo que eu até hoje ocupo. Interessei-me enormemente porque, eu que sou professora de História da Arte, conhecedora dos preceitos modernos de Preservação, fiquei feliz ao ver como os técnicos da FUNDREM e os membros da SPHAN estavam atualizados no assunto, já expurgado dos erros do passado, quando nesse Brasil só se pensava em salvar o que era colonial ou barroco. Começamos juntos: eles com as técnicas e nós – moradores da cidade, com a vivência da mesma – a procurar um denominador comum que preenchesse a necessidade urgente dessa cidade que também é industrial, mas que tinha todo um patrimônio ambiental, […] Read More

DISCURSOS – FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS – 16 DE MARÇO DE 1981 – Ruth Boucault Judice

  DISCURSOS – FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS – 16/03/1981 Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia 16 de março de 1843! Neste dia nascia Petrópolis. Com um privilégio: o de receber em 1845 uma leva de famílias alemãs para sua colonização. Com Petrópolis nascia também a sua História, cantada e louvada por vários oradores em muitas oportunidades como esta. Não serei redundante. Quero falar hoje sobre nossa Petrópolis atual. Uma cidade de clima excepcional a poucos quilômetros do Rio, de topografia rara, incrustada na Serra dos Órgãos entre morros de verdes abundantes e toda direcionada pelos rios que a decoram. Nasceu como fazenda imperial, de um Imperador amante das artes, da cultura e do progresso. Por isso Petrópolis é paradigma de arquitetura do final do século XIX. O ecletismo e o produto da Revolução Industrial, que eram estilos vigentes na Europa, na época de D. Pedro II vieram para cá de encomenda, como foi o caso do Palácio de Cristal (comprado pelo Conde D´Eu). Tais estilos estão presentes nas estruturas metálicas de nossas antigas fábricas que vinham da Bélgica. No recortado dos chalés (já produtos das primeiras máquinas tico-tico) construídos em harmonia com a paisagem. No neo-classicismo da arquitetura palaciana, do qual a Casa da Câmara é flagrante exemplo, não só na sua fachada de ordem jônica como na sua decoração adequada, onde estão presentes os raios de Júpiter, os colares de pérolas, as linhas de óvulos, as palmetas e volutas, enfim toda a gama de modernatura neo-clássica. Importante também sua arquitetura popular de inspiração eclética, além dos neo-góticos das igrejas do começo do século. Tudo isso foi fruto da inspiração de um imperador. Quis ele somar à colonização germânica, o plano urbanístico de um alemão, o Major Koeler, resultando desses somatórios a nossa cultura local, um verdadeiro patrimônio de artes, usos e costumes que brotaram desse amalgama do brasileiro com o alemão, na Serra. Depois disto, com o advento da República, passou a ser, no verão, sede dos presidentes e das embaixadas. Nasceu nobre e sobreviveu assim. Mas nunca se esqueceu do seu colono, do bravo lavrador que lavrou a primeira terra da cidade recém-formada. Isto está patente nos quarteirões que ainda guardam seus nomes de origem – Bingen, Westefalia, Ingelheim, Mosela, Siméria e tantos outros; lembra-se também dos primeiros operários oriundos das famílias germânicas, formando mão-de-obra de grande especialização, haja visto […] Read More

DISCURSOS – RE-INSTALADO O INSTITUTO HISTÓRICO DE PETRÓPOLIS – 13 DE MARÇO DE 1981 – Ruth Boucault Judice

  DISCURSOS – RE-INSTALADO O INSTITUTO HISTÓRICO DE PETRÓPOLIS – 13 DE MARÇO DE 1981 Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia O Instituto Histórico que vinha funcionando no arquivo do Museu imperial acaba de mudar-se para a casa de Cláudio de Souza, na Praça Rui Barbosa, instalando lá sua sede própria. Certo que a sede ainda não é própria, que a casa foi cedida pelo Museu Imperial, mas, já é o primeiro passo de autonomia que tentamos dar. A primeira sessão no novo endereço não será tão solene quanto a da inauguração em 2 de dezembro de 1938, quando: “A primeira directoria effetiva, sócios, intellectuaes e pessoas gradas após a solenidade” aparecem numa foto antiga da “Pequena Illustração”. Sem receita própria ainda, pouco podemos fazer. Nossas finalidades estão voltadas para criar receita. A partir daí as realizações virão. Temos a consciência que somos a Memória de Petrópolis. Nossa pretensão é pois cadastrar essa Memória, não só para consultas presentes, como pra que fiquem guardadas para o futuro. Instalado o Instituto Histórico de Petrópolis – 11-12-1938 A data de 2 de Dezembro comemorativa do nascimento do grande monarca que por meio século presidiu os destinos de seu país, foi celebrada com a instalação do Instituto Histórico de Petrópolis, criado sob os auspícios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Presidiu os trabalhos o prefeito Dr. Cardoso de Miranda, que empossou a primeira diretoria eleita para o biênio 1939-1940 e assim organizada: presidente. Dr. Henrique Leão Teixeira; vice, Dr. Paulo Rudge; orador, Dr. Pedro Calmon; 1º secretário, Dr. Alcindo Sodré; 2º, Sr. Antonio Machado; tesoureiro, Sr. Gabriel Fróes; e bibliotecário, Sr. Walter Bretz. Comissão de Contas: Sr. Magalhães Bastos, Professora Germana Gouvêa e Dr. Paulino de Souza. Comissão de História: Dr. Wanderley de Pinho, Dr. Aristides Werneck e Dr. Rangel Pestana. Comissão de Estatutos e Admissão de Sócios: Drs. Ascânio Pimentel, Cláudio Ganns e Américo Lacombe. Ao dar início à sessão o Dr. Leão Teixeira prestou homenagens póstumas aos Drs. Francisco Figueira de Mello e Crissiuma Filho, recentemente falecidos, ambos ex-prefeitos do município, com seus nomes ligados às celebrações do momento. Falou depois sobre a fundação do Instituto e seus fins, lendo a seguir, bela página de sua autoria, sobre o repatriamento dos despojos dos monarcas que Petrópolis recebeu genuflexa. Apresentou depois o Dr. Pedro Calmon, que prendeu a atenção da assistência enlevada com […] Read More

CARTA AO PREFEITO

  CARTA AO PREFEITO Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Petrópolis, 20 de agosto de 1986 Exmo. Sr. Prefeito […] de Petrópolis Dr. Paulo José Alves Rattes Exmo. Sr. No momento em que a Câmara Municipal acaba de rejeitar o veto de V. Excia. ao decreto 506, é oportuno o Instituto Histórico de Petrópolis reiterar-lhe o seu aplauso pela atitude que tomou em defesa de nossa cidade. Com aquela atitude V. Excia. tentou proteger a nossa arquitetura, representada por exemplos neo-clássicos, ecléticos, além de produtos da Revolução Industrial. Não se esqueceu V. Excia., que manter a cidade o mais parecida com o que existe ainda hoje, no primeiro distrito, representa propiciar à sua população melhor qualidade de vida. Que por falta de infra-estrutura básica, um crescimento impensado no Centro, seria altamente prejudicial ao Homem que nela habita, inclusive trazendo-lhe problemas para a saúde; que o aumento de circulação no seu centro comercial seria concorrer para o caos. Acreditamos que a constatação dessas verdades alertou V. Excia., acertadamente, para a necessidade urgente da descentralização de Petrópolis. É o que concluímos de sua intenção de mudar, com a máxima urgência, o centro administrativo da Prefeitura para Itaipava. Sentimos sua preocupação em resolver o problema através dos estudos que já estão sendo executados. Pensamos em uníssono, que aí está a solução: crescer para os distritos. O Instituto Histórico diante dos últimos acontecimentos na Cidade, uma vez mais, toma sua posição preservacionista, não se esquecendo, porém, que Petrópolis é uma cidade viva e por isso mesmo dinâmica, que continua a crescer. O grande desafio dos administradores atuais está em saber conciliar a preservação com o crescimento. Essa é a virtude que queremos continuar aplaudindo na sua administração.

AINDA – A COR DO MUSEU IMPERIAL

  AINDA – A COR DO MUSEU IMPERIAL Ruth Judice Nós que somos preservadores, amantes desta cidade, estudiosos de sua arquitetura, quando lemos que o Museu Imperial ia ser pintado de outra cor, paramos para pensar. Analisando sob o ponto da Preservação como Ciência, tudo certo. Pesquisar o passado de um bem e fazê-lo retornar cem por cento, à sua origem, seria o lógico. Foi, certamente, o que levou o atual Diretor do Museu, profundo conhecedor do assunto, a pensar na mudança. Por outro lado, qual a situação atual do Palácio de D. Pedro II? Bem conservado, pintura em rosa intenso, cor adequada pois não “agride” (termo técnico) ao conjunto e ainda realça sua inspiração neoclássica, com os detalhes na cor branca. Há quase meio século ele está no tom que o vemos e que já espalhamos em fotos coloridas, pelo mundo. Segundo Dom Pedro Carlos de Orléans e Bragança, membro da família imperial, “esta é sua cor, desde que virou Museu Imperial”. O povo sempre o viu assim e foi nesta cor que aprendeu a amá-lo. Todos sabemos que o Museu foi a residência de verão do Imperador Pedro II. E muitos sabem que a família imperial ainda reside na cidade em diferentes endereços. Um deles é o Palácio do Grão Pará que abrigou o príncipe Dom Pedro Gastão até sua morte recente. Quem não se lembra dele, sempre montado no seu cavalo Tony, trotando pela Av. Ipiranga, ou seguindo o rio na R. da Imperatriz? Alguns entre nós certamente ouviram uma pessoa do povo cumprimentando-o: – Bom dia “seu” Príncipe – ao que ele retribuía sorrindo: – Bom dia! Pois foi ele que nos contou, numa das suas visitas, comentando quantas residências e sedes públicas usaram a mesma pintura do Museu. Dizia que isto lhe dava muita satisfação, porque fora ele que criara a cor com um fabricante de tintas. O fabricante, em atenção a Dom Pedro batizara a cor de – Rosa Grão Pará. Usemos o bom senso. Este é um fato que tem que ser levado a sério. Dom Pedro era a própria tradição viva, circulando entre nós. Tivera o bom gosto de ir ao fabricante, “criar” uma cor e perpetuá-la como uma característica quase que exclusiva da cidade! Não podemos, de repente, trocá-la sem pelo menos ouvir a população. E essa já se pôs na defensiva, já foi para os jornais, já discutiu nos bares […] Read More

PREFEITO E BOMBEIRO (O)

  O PREFEITO E O BOMBEIRO Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Recentemente, vi um quadro na televisão que me tocou muito! O prefeito de uma pequena cidade italiana, abraçado com um bombeiro e os dois chorando! Qual a causa desse pranto? Acontecera um tremor de terra que danificara muito a torre da igrejinha românica, da cidade. Enquanto bombeiros e pedreiros procuravam dar ordem ao caos e escorar a torre… novo tremor. Esse agora levou de roldão toda a igreja. No gesto dos dois cidadãos, quanta sensibilidade pelo passado. Lado a lado, com a mesma dor pela perda, um homem comum e o representante maior na hierarquia da cidade! Que vontade me deu, que cada petropolitano pudesse ver aquela imagem e que se desse conta que nós petropolitanos também temos que desenvolver a sensibilidade e o carinho pelo que herdamos de nossos antepassados. Lá, era a arquitetura da Idade Média que eles queriam preservar. Aqui… é o produto da Revolução Industrial que nos chegou às mãos. Séculos diferentes, idades diferentes, mas o mesmo sentido de preservação. Nós, ainda temos muito que caminhar! Outro fato contundente, diametralmente oposto, ficou na minha memória. Sou paulista. Cheguei a Petrópolis em 1942, ainda estudante. Conheci a beleza dessa cidade ímpar, sua história, sua arquitetura, que me empolgaram. Logo, logo comecei a estudar a cidade para melhor entendê-la. Paralelamente fiz o curso de História das Artes e da História da Arquitetura (foram 10 anos de estudo) em seguida, cursos de preservação. Já adulta, comecei a monitorar cada edifício importante que ainda conheci. Alguns deles tinham acabado de ser jogados abaixo. Mas eu agia sozinha, completamente desgarrada, pois não tinha elos ainda na cidade e nem uma instituição a apoiar-me. “Uma andorinha só, não faz verão”. O que mais me marcou, pois já tinha completa conscientização do valor de nossa arquitetura, foi o desaparecimento da Fábrica Cometa. Já sabia então que Petrópolis não tinha nada de colonial, como se dizia por aqui ? “Isso é colonial, vamos salvar o que resta de colonial na nossa cidade. Vamos construir um atendimento ao turista em estilo colonial”. Impropriedades de quem não conhecia estilos de arquitetura. Sabia eu que Petrópolis era sim uma cidade produto da Revolução Industrial. E, sabia mais da importância de suas fábricas, algumas já quase centenárias, naquela época. Pois bem, saí um fim de semana, para […] Read More