INSTITUTO HISTÓRICO QUER SER A MEMÓRIA DE PETRÓPOLIS (O) Ruth Boucault Judice O título parece pretencioso. Mas analisando veremos que o tempo do verbo quebra a dúvida. Não dissemos é, e sim quer ser. Constatamos tristemente que nossa memória está fraca e, além disso, subdividida. Esparsa entre órgãos municipais, federais e particulares. Alguma coisa escrita, muita coisa contada e outras, na memória de nossos pesquisadores e dos velhos contadores de casos. Antigamente… começam eles; ou no tempo do… em sucessão desordenada, as idéias vêm aparecendo em forma de história, ou “casos”. Quanta coisa interessante! E tudo isso correndo o risco de se perder, se não começarmos a organizar, cadastrar, pesquisar, arquivar, informar, criar enfim uma Memória. É a nossa proposição como presidente do Instituto: começar a ser a Memória de Petrópolis. É o nosso primeiro passo para a conscientização da nossa gente por seus valores. Tudo posto no papel, em forma de imagem, de crônica, de narração, começa a ser de fato, acervo. Acervo de usos, costumes, fatos curiosos, arte em geral, arquitetura em particular, folclore. Vamos nos dar conta que já temos um passado histórico, digno de preservação. A minha proposição foi bem aceita pela diretoria da TRIBUNA DE PETRÓPOLIS e melhor ainda pelos membros do Instituto que se prontificaram, cada um na sua área e na sua especialização, dentro de seus conhecimentos, a escrever um artigo semanal, nessa coluna que a TRIBUNA nos oferece. É mais um passo dentro de toda programação que estamos fazendo. O jornal é um veículo próximo do público, que entra indiferentemente dentro de todos os lares, sejam eles pobres ou ricos, cultos ou incultos, independente de ideologias e partidos. Nada mais neutro nem mais próprio para ser nosso instrumento, veículo de nossa cultura. Começaremos hoje informando sobre o próprio Instituto. Foi fundado a 24 de setembro de 1938, portanto anterior a fundação do Museu Imperial, que só surgiu em decorrência do decreto de 29 de março de 1940, e só foi instalado mais tarde, quando o prédio foi liberado pelo Colégio São Vicente de Paulo, no atual endereço. Sua ata de instalação foi solene feita no salão nobre da Municipalidade. Em seguida (por volta de 1939) passam a se reunir no Museu Histórico, com sede no Palácio de Cristal. Até então, suas reuniões eram feitas no Arquivo do Museu Imperial. Depois de nossa posse na presidência do Instituto Histórico, a primeira providência […] Read More
MEU VOTO EM PEDRA PRETA
MEU VOTO EM PEDRA PRETA Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Recebi pela internete um “abaixo assinado contra um Supermercado ao lado da Catedral”. Quando a população se organiza e pede socorro, é porque algo de anormal está acontecendo. Esse assunto já andou nos jornais, nas reuniões de nossos administradores, depois adormeceu, e, estou vendo que continua vivo. Os habitantes de uma cidade são seus verdadeiros donos, devem pois, ser ouvidos por seus dirigentes. A quem cabe a definição desse assunto? Aos burocratas que chefiam as instituições, ou ao homem que labuta nas cidades, que trabalha, cria, e se forma nelas? Não há dúvida que são os segundos que devem ser ouvidos, principalmente quando vivemos numa democracia. Isso já acontecia na Grécia antiga, quando seus habitantes resolviam problemas como esse, votando na Ágora (praça) central. Uma pedra branca era sim (aprovando) e uma preta não (reprovando). Hoje quero votar com a pedra preta dizendo não à construção de um supermercado na Rua 13 de Maio. E você, qual é seu voto? Analise minhas justificativas. Por que a Rua 13 de Maio é importante para Petrópolis? Vejamos. Ela começa na Av. Koeler, o eixo principal do Centro Histórico; é entorno da Catedral e da Casa da Princesa Isabel, ambas tombadas. Termina no começo da Av. Rio Branco, próximo à casa do Barão de Mauá, ao lado do Palácio de Cristal, ambos tombados por sua importância. O Palácio de Cristal é o ponto máximo da arquitetura do Ferro (século XIX), não só na cidade, como no Brasil, pois, além de ser um dos mais antigos pré-moldados do país, ainda é monumento histórico. Todos sabemos que foi um presente do Conde d´Eu para a Princesa Isabel. Encomendado na França, em Saint-Sauveur-les-Arras, veio desmontado para Petrópolis, em 1884. Hoje ele é para Petrópolis o que a Tour Eiffel é para Paris! A casa do Barão de Mauá (visconde no fim da vida) além de sua arquitetura harmônica de um neoclássico de quem conhecia bem o classicismo, foi a última residência de um dos maiores industriais, se não o maior do século XIX, no Brasil. Entre muitas e muitas coisas feitas por ele, uma foi o financiar a guerra do Paraguai para o Brasil. Na outra extremidade temos a casa da Princesa Isabel, que não vale só por toda história que representa, é também um […] Read More
CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DO IPHAN
CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DO IPHAN Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Senhor Presidente Como discípula e amiga do Prof. Alcides Rocha Miranda, fundador do Núcleo do IPHAN – Brasília e um dos fundadores da Faculdade de Arquitetura de São Paulo e da Universidade de Arquitetura de Brasília, – que infelizmente já não se encontra mais entre nós – tomo a liberdade de escrever-lhe essas considerações. O Prof. Alcides acompanhou de perto o meu trabalho de preservação em Petrópolis antes, durante e depois de eu ser presidente do Instituto Histórico. E uma frase sua impulsiona-me até hoje, (mesmo aos 80 anos) a lutar por essa cidade “sui generis” no que diz respeito à arquitetura do século XIX e da própria Revolução Industrial. De uma feita, disse-me ele: “Ruth, você está vendo Petrópolis de uma forma que nenhum de nós tinha visto antes. Não pare, siga sua pesquisa”. Senhor Presidente, depois de 30 anos estudando a arquitetura de Petrópolis, digo-lhe com toda a convicção a que meus estudos me levaram. É impossível para um profissional do IPHAN que conheça bem a cidade não entender o que está acontecendo com o terreno da Rua Treze de Maio. Como V.Sa. não vive aqui, permita-me explicar-lhe. Na sua origem a “Ville des Palmiers”, como era conhecido o belo chalé da família Grandmasson, com um jardim cheio de palmeiras, preenchia cem por cento do terreno, que tinha sua frente voltada para a Av.Ipiranga. Depois de vendido, o imóvel foi demolido, já nos nossos dias, e construíu-se o que lá está, voltado para a Rua Treze de Maio. Pena que nem mesmo o IPHAN, naquela época, – tão empolgado com o excelente barroco brasileiro -, não se tenha dado conta que Petrópolis era um paradigma do século XIX, que também merecia proteção. Tenho certeza que teria proibido a demolição de um dos mais belos endereços da cidade. Pouca coisa restou, pelo Brasil a fora, desse século tão rico em arquitetura! Nós, petropolitanos, ainda possuímos essa jóia de arquitetura, que não pode, de forma alguma, desaparecer e muito menos ser minimizada pela presença de construções que nada têm a ver com sua realidade. Por isso brigamos por ela. Para que não se repita, nos nossos dias, o que aconteceu quando foi vendido pela primeira vez. No caso específico do terreno da Rua Treze de Maio, conhecedores dessa […] Read More
CASA D’ANGELO
CASA D’ANGELO Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia As coisas se dividem em: animadas e inanimadas. Quando animadas, têm vida e podem ser móveis ou semoventes. Quando inanimadas são imóveis e insensíveis. Eu, Casa D’Angelo, sou inanimada e imóvel! Verdade. Mas até onde, e como? Não entendo, pois estou sentindo. Sinto o abandono dos Homens, sinto o descaso das autoridades, que me dizem: “estão agindo”. Mas agindo como? Em que velocidade? Já comecei a perder minhas características. Estou sendo despida, modificada, despersonalizada talvez. Está na hora de pedir socorro. Preciso de todos e de cada um. Se nasci coisa, hoje sou tradição, alma de uma cidade centenária, um pedaço do passado de toda a Petrópolis. Por isso talvez esteja “sentindo”. Já conto história, vocês querem ver? Fui fundada em 24 de dezembro de 1914. Era véspera de Natal. A população da cidade não era grande, mas quantos bolos e doces vendi. Comecei enfeitando as mesas natalinas. E como nasci? Querem saber? O português Valentim Aguiar, dono de uma confeitaria no ponto onde me encontro, sentia-se velho e sem herdeiros. Só tinha um sobrinho que sabia ele, não ser capaz de continuar o seu negócio. Lembrou-se dos irmãos D’Angelo, italianos de nascimento, mas que vieram para o Brasil por volta dos 12, 13 anos. Eram cinco irmãos; trabalhadores; começaram com uma vida dura. Eram engraxates, carregadores e, sobretudo, responsáveis. Foi assim que o velho Aguiar permitiu que eu nascesse. Facilitou-lhes a venda da Confeitaria. E lá foram eles: João D’Angelo, Donato D’Angelo, Domingos, Alexandre e Nicola D’Angelo. Cada um especializou-se em algo que fosse útil ao conjunto. João D’Angelo, tinha como esposa D. Titã (ainda viva, que nos informa), pai do grande ortopedista, Donato, era o administrador. Só aparecia na loja às tardes. Donato foi aprender marcas e paladares de vinhos alemães, franceses, etc, para poder atender aos paladares mais exigentes. Domingos passou a ser doceiro. Foi aluno de Giuseppi Salvatori, cozinheiro do Copacabana Palace. Criou os caramelos D’Angelo, conhecidos em quase todo Brasil. Enquanto fui deles, estava tranqüila. Os doces eram finos e atendiam bem a nossa clientela. Alexandre ficou com as frutas; frutas essas que vinham também de fora, não eram só brasileiras. Havia frutas até de Nova Zelândia. Nicola ficou com os salgados. Que presunto, vendíamos então! Vinha importado, embalado em latas. Faltava alguém para entregar a nossa […] Read More
CASA DO BARÃO PEDE SOCORRO (A)
A CASA DO BARÃO PEDE SOCORRO Ruth Judice Rua Souza Franco 590. É o meu endereço. Sou a casa comprada pelo Barão de Oliveira Castro, em Petrópolis. A República já estava estabelecida. Os imperadores estavam exilados na Europa. Foi quando me engalanei. Virei vip. Passei a ser a “casa do barão”; das reuniões festivas, das noites iluminadas a lampiões. Casa, com as varandas concorridas, onde a baronesa servia chás e biscoitos nas tardes amenas de verão. O Barão fazia questão de exibir-me, mostrando minha arquitetura que era o que de mais novo se fazia na Europa. Eu era o seu orgulho, pois era o progresso entrando na construção civil. – C’est le dernier cri – dizia ele, com um sorriso maroto por sentir-se o proprietário de solar de construção tão avançada. O Barão, que trabalhava no Rio e que subia de trem todos os dias, vinha sempre com amigos. Todos com guarda-pós para protegê-los do carvão que a “Maria Fumaça” expelia com intensidade, na sua morosa subida para Petrópolis. Chegava na pequena Estação, onde um coche já o esperava para conduzi-lo até a Souza Franco. Nos fins de semana, os elegantes veranistas, de cartola e bengala, desfilavam a pé ou o nas vitórias ainda com suas rodas de madeira, onde uma parelha de cavalos bem nutridos conduzia damas enluvadas que vinham sempre acompanhadas. O desfile era contínuo. Não só para verem a mim, como a outros bens da cidade, que fora o abrigo da Família Imperial no verão e que nesse fim de século ainda se mantinha intacta. E como eu era bem tratada! Pensei que fosse durar a vida toda, tal era o empenho em conservar-me, nas pinturas das paredes, na proteção aos lambrequins de ferro, verdadeiras rendas que decoram minhas varandas, nas duas escadas em curva, à moda do Renascimento. Por elas, o barão recebia suas visitas. Naquela época eu era um mimo, coquete, cheirosa, enfeitada, pois representava o máximo da Arquitetura Belle Époque ou Anos Dourados! Era o chique da Europa e em Petrópolis era o progresso na Rua Souza Franco. Dizem os entendidos, que sou o melhor protótipo da Revolução Industrial na cidade, aplicada às residências. Venho atrás do Palácio de Cristal, nosso exemplo máximo. Como todas as construções petropolitanas, sou híbrida. Meu inspirador conhecia bem a Arquitetura do século XIX, da qual Petrópolis é uma das poucas cidades no Brasil que ainda possui grande […] Read More
MENS SANA IN CORPORE SANO
MENS SANA IN CORPORE SANO Ruth Judice Ainda em São Paulo onde nasci e estudei tive a boa sorte de ser interna num colégio excepcional; Colégio Stafford. Eduquei-me sob esse lema: “Mente sã em corpo são”! Já faz muito tempo, ainda nos anos 40. A máxima de Juvenal (Sátiras, X, 356) lembrava que o homem sábio só pede aos céus a saúde da alma aliada à saúde do corpo. Atualizando, hoje diríamos: que a saúde do corpo é essencial para a saúde do espírito. Estudávamos muito, todo o alicerce do que sou hoje surgiu ali. Ao mesmo tempo praticávamos esportes. Numa época em que as alunas de alguns colégios de freira ainda eram obrigadas a tomar banho de camisola, nós aprendíamos a nadar numa piscina nossa. Jogávamos tênis, fazíamos atletismo com competições, dentro do interesse de cada aluno. Mas a ginástica, três vezes por semana, era obrigatória. Porque os colégios fugiram dessa diretriz? Quando a educação, no Brasil, voltará a ser o principal esteio da formação dos jovens? É neles que o país tem que investir. A intenção primordial deveria ser ilustrar a mocidade, mas ao mesmo tempo introduzir o esporte no seu currículo. O esporte preenche o vazio que faz o jovem procurar a droga. Estamos acompanhando, com maior ou menor atenção as Olimpíadas que estão acontecendo na Grécia, onde elas nasceram em 776 a.C. Quem está mais atento e já acompanha há mais tempo, já se perguntou alguma vez, porque os Estados Unidos conseguem tantas medalhas. De onde vem essa pujança? Para mim a resposta é uma só. Vem dos colégios, das high schools, e amadurece nas Universidades. E não pára por aí. As Universidades se confrontam, nas diversas modalidades de esportes. Daí, é um pulo para os Campeonatos do Mundo e deles para o maior confronto entre os desportistas – As Olimpíadas. (Por favor, sempre no plural e não no singular como ouvimos a cada minuto nas transmissões de televisão!) Olimpíadas são sinônimos de: os Jogos Olímpicos. Olimpíada no singular, é o espaço compreendido entre duas Olímpiadas. Consulte seu Houaiss ou Buarque de Holanda. Como dizia, o segredo americano vem daí. E por que não começar por Petrópolis, onde já temos tantas Faculdades? Senhores candidatos a prefeito. Vamos estimular o hábito do esporte nos colégios públicos. Criar nossas próprias Olimpíadas, com competições constantes. Novos dirigentes da U.C.P, não seria talvez mais um recurso para levantar nossa […] Read More
AINDA O NOSSO TEATRO!
AINDA O NOSSO TEATRO! Ruth Boucault Judice, Associada Titular, Cadeira n.º 33 – Patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Você já pensou se acordasse amanhã e soubesse que trocaram o nome de Petrópolis, da sua cidade querida? Que susto você levaria. Por que outro nome? Em seguida, viriam as justificativas. Não nos interessam os “porques”. Que volte o nome antigo. Que se restabeleça o equilíbrio das coisas. Uff! Ainda bem que isso não aconteceu. Foi apenas um susto. Já dizia Shakespeare – What is in a name? De fato, o que há num nome que nos faz tão possessivos por ele? Quando nascemos nosso nome é escolhido por nossos pais. Passamos a responder por ele, ainda sem avaliar quanto nos será caro. Não gostamos nem quando os descuidados nos chamam provisoriamente por outro nome… Você mesmo vai moldando o nome que lhe deram, com suas habilidades, com sua inteligência, com sua simpatia enfim, com sua vivência e dele nunca vai querer se desligar. Imagine você mais velho, saindo de uma clínica estética, depois de uma grande plástica para remoçar e quando saísse lhe mudassem o nome, um nome novo que combinaria melhor com sua nova aparência. Como você protestaria… Surgiriam as justificativas – sempre as há – mas nada justifica a mudança do nome original. É o que está acontecendo com nosso Teatro Municipal… Está fazendo 70 anos. Passou por uma grande operação ou em linguagem técnica, por uma restauração completa. Nesse momento que a administração se empenha em devolver para a cidade o teatro que jazia abandonado, sugere, andando na contramão da Preservação, a mudança do seu nome. Resolução tomada em cima de justificativas inconsistentes. Fossem elas consistentes também haveria protestos. É o que estamos vendo na cidade. São artigos de jornais, protestos e principalmente discordância da Preservação, que hoje já é Ciência e que diz: – preservar é guardar todos os valores herdados do passado. Não interessa restaurar um prédio histórico se lhe tiramos o que ele têm de mais precioso que é o nome. Infelizmente, no Brasil ainda vivemos mudando o nome das coisa, sejam elas edifícios, ruas ou praças. Assim nunca resgataremos completamente o passado. Ainda bem que o povo de cidades tradicionais como a nossa tem sensibilidade. Somos uma Cidade Imperial. Há que conservar os nomes imperiais que herdamos. Por isso mesmo, através do Instituto Histórico, mudamos o antigo nome de nossa rua […] Read More
COM A FACA E O QUEIJO NAS MÃOS
COM A FACA E O QUEIJO NAS MÃOS … Ruth Boucault Judice, Associada Titular, Cadeira n.º 33 – Patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Todos nós temos uma história a contar sobre algo que herdamos de nossos pais, de nossos avós, de uma tia, enfim, de alguém. Seja um retrato, uma jóia, uma imagem, uma casa….bens maiores, bem menores….todos são preciosos para nós. Lembro-me de alguém que herdou uma imagem de São Miguel Arcanjo, com cavalo e espada, completo, no seu colorido bizarro. Mas… o cavalo era branco e ele não gostava de cavalos brancos. Mandou pintá-lo de preto. Para ele, o chapéu do Santo era feio. – “Não gosto dizia, vou comprar-lhe um mais bonito”. Foi dito e logo feito. São Miguel ganhou um chapéu de palha – “mais bonito e mais moderno ” nas palavras do herdeiro.- “Por que essa espada tão grande, nos nossos dias, que ninguém mais usa espada, vou trocar por uma metralhadora portátil, mais moderna, impõe mais respeito”. E o pobre do Santo teve que carregar a pesada metralhadora, com o mesmo semblante, que se possível fosse, agora, seria de espanto ! Depois de algum tempo, nosso amigo guardava ainda com carinho a herança herdada. Mas, já não tinha um São Miguel. Tinha um arremedo do Santo, danificado aqui e ali, por causa das inúmeras intervenções. Nosso amigo não soube preservar seu patrimônio. Imaginem se herdássemos uma cidade ! A cidade de Petrópolis, por exemplo. Nascida do sonho de um imperador (Pedro I) realizada pelo desejo de outro (Pedro II), planejada por Koeler que se mostrou tão sensível com sua beleza e a programou tão bem. Hoje a cidade tem seu centro histórico tombado, seus rios, suas matas sob proteção. Fica um pouco mais difícil descaracterizar, se houver o apoio da municipalidade para fazer cumprir a lei. Apesar disso, pouco vemos a municipalidade agir nesse sentido. Quanto já mudou a cidade que herdamos de nossos antepassados ! Nós mesmos já sentimos a diferença entre a Petrópolis de hoje e a de nossa infância. Quantos de nós conheceram e andaram de bonde em Petrópolis, bonde esse que nunca deveria ter saído de nossas ruas. Nada mais típico para uma cidade do século XIX. Quando teremos um prefeito com a mesma coragem do que acabou com eles, para trazê-los de volta, pelo menos no centro histórico ? Foi preciso criar-se a lei do entorno […] Read More
IGREJAS NEOGÓTICAS DE PETRÓPOLIS (AS)
AS IGREJAS NEOGÓTICAS DE PETRÓPOLIS Ruth B. Judice, Associada Titular, Cadeira n° 33, Patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Antes de entrar no assunto peço vênia para um explicação prévia. Sentimos que o turismo, em Petrópolis, começa a interessar a gregos e troianos; pessoas cultas, interessadas na história do período imperial do Brasil, e pessoas apenas curiosas em conhecer a cidade imperial. Enfim o gancho é sempre o nosso passado que desperta interesse. Está na hora de criar mais informações sobre o assunto. Há anos (20) pesquiso a arquitetura de Petrópolis e há uns 5 anos surgiu a idéia de passar para o papel as conclusões a que cheguei. Com esforço, lentamente, pois o pior obstáculo é o financeiro, consegui, sem auxílio algum, editar o – Palácio de Cristal e, se Deus quiser, breve estarei com As Igrejas neogóticas, no prelo. É sobre elas que quero lhes falar hoje. Dei o nome de Guias Turísticos ao conjunto de 10 diferentes livros que estou programando. Aos dois, seguir-se-ão: Os Chalés, Os Casarões e a Arquitetura Palaciana. Palácio de Cristal: comecei com a Revolução Industrial, para inserir no seu contexto, o nosso Palácio que surgiu nessa época. Só entendendo a própria Revolução Industrial, entenderemos a importância do nosso Palácio de Cristal e a necessidade de preservá-lo. Igrejas: comecei com a origem das Igrejas cristãs explicando o plano basilical, chegando ao românico para atingir a sua evolução, ou seja o gótico. Isto posto, fica mais fácil explicar o neogótico de nossas Igrejas. Analisei, não apenas a Catedral, que é a mais importante, mas que não é a única. Falei da Igreja São Vicente de Paula (Westphalia) Igreja Evangélica, Santo Antônio, Coração de Jesus, e Sant’Ana e São Joaquim. Começaremos nossa palestra com a origem das igrejas cristãs no ocidente. A filosofia do cristianismo não começou com Cristo, mas sim multo antes do seu nascimento com seus profetas, que não pregaram apenas no ocidente, mas também no oriente. Passaram pela Grécia pagã e pela Síria. Fugindo das cadeias do Himalaia, seguiam as caravanas nos desertos, e, percorriam com elas o caminho da seda. Assim, evitavam o Mar Mediterrâneo onde havia obstáculos, tais como piratas e tempestades. Sabe-se que chegaram até a China e parece, terem chegado à Índia. Cristo nasceu sob o domínio de Tibério e depois d’Ele, em Roma, os cristãos eram perseguidos e até jogados às feras no Coliseu, por […] Read More
DISCURSOS – INÍCIO GESTÃO 1983 – Ruth Boucault Judice
DISCURSOS – INÍCIO GESTÃO 1983 Ruth Boucault Judice, Associada Titular, Cadeira nº 33 – Consócios Amigos, Se o relatório final da minha gestão, 81-82, foi de pessimismo, foi de uma realidade tristemente constatada, quero trazer com essas palavras na minha re-eleição, gentilmente solicitada por vocês, palavras de otimismo, usar o sinal positivo numa época de tantas cargas negativas! Como já disse fizemos pouco no primeiro biênio. Mas esse pouco, já foi alguma coisa. E pouco é mais do que nada, é o começo, talvez algo de peso. Pois tudo tem seu começo. E já começamos. Vamos retomar o passado e elaborar o presente. Quero contar com a cooperação de todos, por menor que seja vai somar no nosso computador. E ficará registrada para que cada um se conscientize do que pode fazer e qual, de fato, tem sido sua colaboração. Temos no momento uma secretária, gentilmente cedida pelo Museu Imperial, estagiária capacitada e que, se seguir conosco como aspiramos, será de grande valor, pois será o elo entre os nossos vai-e-vem atropelados e as nossas realizações. A pedidos, mudamos nossas reuniões de 6ª para 5ª feira às 17h45, para que terminem impreterivelmente às 19h. Em cada reunião depois de discutidos os assuntos em pauta, teremos sempre a exposição de algum tema cultural, exposto por qualquer sócio ou por algum convidado escolhido na reunião anterior. Chegamos a fazer isso com algum sucesso, no ano passado. Temos uma programação elaborada, já com o auxílio de nossa secretária. Vou apresentá-lo agora a vocês e em seguida às autoridades arroladas no caso. Se tivermos aprovação geral, ou alguma modificação, enfim, depois de acertados, faremos com que as decisões sejam cumpridas. PROJETO – A viabilização do Museu na Casa Cláudio de Souza comportando: Setor de Teatro, Música Brasileira e Literatura Brasileira. – Com exposição permanente: – Referente à música, teatro, literatura, etc… – Casa Cláudio de Souza aberta a visitação. – Exposições temporárias: – Iconográficas; – Comemorativas – Referentes a pesquisas realizadas sobre assuntos de música, teatro. Petrópolis e história em geral. Atividades no local, para as seguintes clientelas: – Comunidade e público em geral: – Pequenos concertos; diurnos e noturnos; – Palestras; – Concursos; – Cursos; – Lançamento de livros. – Alunos de 1º e 2º graus: – Teatro; – Música; – Literatura; – História da Arte e Preservação de Patrimônio. Teríamos assim um funcionamento permanente na Casa Cláudio de Souza: – Museu – Pró-Memoria; […] Read More
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