ACADEMIA: NOVENTA ANOS

ACADEMIA: NOVENTA ANOS Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Aproxima-se o mês de agosto, deste ano de 2012 e, nele, a data dos 90 anos da fundação da Academia Petropolitana de Letras, organizada a partir de 3 de agosto de 1922. Trata-se de uma das mais antigas academias de letras do País. Os pioneiros que a idealizaram, fundaram e organizaram, sempre são relembrados em cada comemoração anual do aniversário. Coube à “Tribuna de Petrópolis” um papel fundamental na divulgação e apoio a todo o processo, publicando a carta de idealização, as repercussões a cada dia, os noticiários das reuniões, a divulgação de discursos e matérias oficiais. O matutino já abrigava colaborações dos escritores locais, em prosa e verso e a própria direção do jornal – sob Álvaro Machado, na época – tinha comprometimento com a literatura. Era uma imprensa diferente da que hoje admiramos e respeitamos. A cidade era mais tranquila, os moradores menos estressados, havia acompanhamento das atividades sociais das diversas famílias que se conheciam e se respeitavam; as crianças eram crianças e os escolares, em seus uniformes, mesmo que crianças por vezes irreverentes, traziam um comportamento do lar mais respeitoso. Poetas e articulistas honravam as páginas dos jornais, fossem matutinos ou semanais, com poemas, crônicas, contos e alguns, mantendo colunas informativas e críticas. Havia intensa atividade industrial, com operários entrando, almoçando e saindo dos prédios sob o comando dos apitos ou sirenes estridentes; o comércio possuía estabelecimentos tradicionais e comerciantes que todos conheciam e cumprimentavam, enfim, a cidade do verão sazonal vivia os tempos do frio e do calor bem definidos, marcando a encantadora vilegiatura. Menos automóveis e ônibus, muitas bicicletas e casas de aluguel do gostoso e saudável veículo; respirava-se melhor e a grande fumaceira esvoaçante no Município vinha mais das chaminés fabris do que das descargas dos ônibus e automóveis. Dificuldades muitas, racionamentos de gêneros ocasionados pelos conflitos armados externos e, nesse ano da APL, a intensa expectativa dos povos diante do fracasso da Liga das Nações e o rearmamento dos beligerantes humilhados e derrotados. Apesar de tudo, Petrópolis respirava tranquilidade e os sonhadores literatos escreviam suas impressões sobre a vida, poetando sonhos e quimeras. A Academia de Letras aportava à cidade sob o embalo dessa vida em busca de mais sensações e opções de entretenimento. Por coincidência, ela chega no mesmo ano da “Semana de Arte […] Read More

REPRESENTEI MILLÔR

  REPRESENTEI MILLÔR Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira O grande e admirável escritor Millôr Fernandes deixou seu espaço por aqui. Uma falta a ser lamentada para sempre. Foi Millôr uma das mais lúcidas e ferinas inteligências de todos os tempos. Sua pena era admirada, temida, respeitada; enfim, Millôr estava acima de tudo, mesmo nos momentos de graves crises político-institucionais. Ele era capaz de dizer aos poderosos seu pensamento mais oculto, de uma forma que ninguém pudesse contestar ou criticar ou deixar de compreender. E fazê-los enfiar monumentais carapuças. Com sua morte cessa um momento sublime da inteligência brasileira, que nos deu os saudosos Stanislaw Ponte Preta, Don José Cavaca, Chico Anísio, José de Vasconcellos e alguns outros seriíssimos humoristas. Com efeito, o humorismo é o dito mais sério da vida. E Millôr foi o mestre dos mestres do crítico pensamento contemporâneo brasileiro. Tive a ventura de interpretar Millôr, que foi excelente e apaixonado dramaturgo, sem obra extensa na especialidade, mas com textos perfeitos e definitivos de mestre da cena, representados por grandes artistas e elencos de todo o País. Corria o ano de 1981. Na noite de 26 de abril o TEP (Teatro Experimental Petropolitano) esteve no salão da Casa Paroquial de São José do Rio Preto (naquele tempo o 5º Distrito de Petrópolis) para a estreia da peça de Millôr Fernandes “Do Tamanho de um Defunto”, sob a direção de Walter Borges. No elenco estavam eu, no papel do Médico; Vilma Xavier, no da Esposa do Médico; Lúcio Agra, no do Ladrão; e Nélio Borges, no do Policial. Em seguida, a peça foi exibida na Sala Guiomar Novais, no Centro de Cultura, no mesmo espaço hoje ocupado pela Sala-Teatro Afonso Arinos, durante 5 dias (1, 2, 3, 9 e 10 de maio). Prosseguindo na temporada, o “O Defunto…” foi apresentado ao público de Pedro do Rio, no dia 6 de junho, no salão do E. C. Pedro do Rio; e mais, a 13 de junho no Bogari Clube de Cascatinha; a 20 do mesmo mês no Itaipava Tênis Clube, encerrando as representações em Araruama, nos dias 12 e 13 de setembro, inaugurando o Teatro Municipal daquele Município. A peça “Do Tamanho de um Defunto”, de Millôr é um belíssimo texto, de forte efeito dramático, sob uma ironia desconcertante e foi um dos espetáculos mais perfeitos montados pela Teatro Experimental […] Read More

CENTENÁRIO (UM)

  UM CENTENÁRIO Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Sem nenhuma dúvida é o Barão do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos Junior) um dos maiores e mais notáveis brasileiros de nossa História pátria e figura de merecido conceito internacional, passados exatos cem anos do seu falecimento (10 de fevereiro de 1912). Felizmente ao Barão tem sido conferido o destaque que merece, aparecendo sua efígie em algumas emissões de nossa moeda circulante, como, no momento, na moeda de cinquenta centavos. Seu nome figura na denominação de artérias urbanas monumentais em dezenas de cidades brasileiras, com menção especial à capital do Estado do Acre, no coração político-administrativo das terras incorporadas ao País graças à diplomacia do chanceler no seu encontro com plenipotenciários bolivianos, em Petrópolis, na assinatura do “Tratado de Petrópolis” (17 de novembro de 1903). Seu campus maior de trabalho, o Itamarati, tem-no presente permanentemente na lembrança, respeito e exemplo, mantendo memória, objetos em valioso acervo de sua vida, aberto à admiração e respeito de qualquer cidadão. Petrópolis, que foi seu refúgio, sua chancelaria na serra, mudou para Rio Branco a Avenida Vestfália. A casa onde residiu e firmou o tratado do Acre, funciona hoje como uma escola, belo e adequado destino ao imóvel histórico tão precioso. É preciso que se empreste à casa uma atenção de restauração e preservação com dignidade, como ela merece e a História de Petrópolis e do Brasil anseiam. Pensando no resgate da data do centenário da morte do grande chanceler e, também, de homenagem ao poeta Sylvio Raphael, retirei do pó da gaveta literária do escritor petropolitano por adoção, Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos (Sylvio Raphael era o seu pseudônimo literário) o livro “Suprema Dor”, mantido em originais manuscritos e fi-lo editar, em tiragem especial, fora do comércio, pela Sumaúma, que realizou belo trabalho gráfico. Capa do manuscrito, também elaborada pelo autor Distribuindo os exemplares, renovo as lembranças da Petrópolis do início do século XX, ao tempo em que homenageio o Barão do Rio Branco e seu compungido e apaixonado poeta, o qual, com sentimento incrível, traduziu a vida e obra de Rio Branco em primoroso e longo poema, onde a forma/”fôrma” poética é puro sentimento, respeito, consideração, a par de perfeito poema de largo mérito literário. Foto de Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos e autógrafo do pseudônimo “Suprema Dor” foi escrito nas noites […] Read More

ACADEMIA PETROPOLITANA DE LETRAS – 88º ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO

  ACADEMIA PETROPOLITANA DE LETRAS – 88º ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Na próxima terça-feira, dia 03 de agosto, é o 88º aniversário de fundação de nossa querida APL. Por isso, a coluna de hoje será inteiramente dedicada à sua história. Reproduziremos trecho do discurso proferido pelo Acadêmico Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos, um de seus fundadores, proferido no dia 03 de agosto de 1942, quando a Academia completava 20 anos. Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos (a partir do acervo do autor) São palavras do Acadêmico Joaquim Heleodoro: “Nasceu a então Associação Petropolitana de Ciências e Letras, mais tarde simplesmente Associação de Ciências e Letras e hoje Academia Petropolitana de Letras em 3 de agosto de 1922. Foram seus idealizadores um punhado de pessoas, ainda jovens e que sonharam dotar Petrópolis de um Centro de Cultura Intelectual, não somente das letras, mas também abrangendo a ciência e a arte, em suas múltiplas manifestações. Poucos anos antes, refulgira no céu petropolitano um astro de primeira grandeza: o Círculo de Imprensa. Mas passara como um meteoro. Surgira amparado pelos mais eminentes vultos do jornalismo e de letras destas serras, esparzira a mancheias os raios de uma fulguração invulgar, mas desde logo empalideceu e desapareceu na noite do passado. João Roberto D’Escragnolle, aquele ancião de espírito juvenil que todos conhecemos e admiramos e que, embora enfermo, com os movimentos tolhidos por insidiosa paralisia, era uma oficina viva de energia criadora, fora um dos seus idealizadores. Para ele não era possível conceber que tantos homens ilustres e tantas energias moças que formavam o Círculo de Imprensa o tivessem deixado perecer. E resolveu reorganizar o Círculo de Imprensa. Não mais uma associação, uma obra de muitos, mas o esforço de um só, dele D’Escragnolle. E então montou o Círculo numa saleta da então Pensão Petrópolis, depois Hotel Savóia (atual Edifício Marchese). Ali, em torno de uma mesa, reunia ele todos os dias os jovens que gostavam de brincar com as letras e os homens que já sabiam manejá-las.Havia ali livros e jornais à disposição de todos e, melhor ainda, o conselho e estímulo de sua palavra amiga. D’Escragnolle não era rico. Não possuía, mesmo, nenhum bem de fortuna. Todo esse seu idealismo saía-lhe grandemente pesado. Entretanto, dava-se por imensamente feliz, se esse seu sacrifício fosse compensado com a frequência cotidiana do Centro. […] Read More

ORIGEM E DENOMINAÇÃO MORIN

  ORIGEM E DENOMINAÇÃO MORIN Guilherme Eppinghaus Quanto a origem da denominação MORIN ao bairro da zona sul da cidade de Petrópolis é possível afirmar sem receio de errar, que ela tem procedência no sobrenome do Major da Guarda Nacional da corte e cidade do Rio de Janeiro, Antônio João Morin, que, ainda no tempo de Koeler, adquiriu 5 prazos com frente na estrada que atravessava o Quarteirão, conhecida a seguir como Caminho do Morin. Quanto aos números dados aos prazos em apreço, têm eles os seguintes: 2626, 2627, 2628, 2629 e 2631 com área total de 2.365,00 braças quadradas, o que corresponde a 11.446,60m². Quanto à finalidade principal da compra, ao que tudo indica, pretendia ter uma propriedade de recreio, com a compensação das despesas de custeio imprescindíveis a esse fim. Vejamos, em resumo, os dados, que constam nas páginas 155 e 156, publicados no Volume I dos Trabalhos da Comissão do Centenário de Petrópolis, em 1938. O Major Antônio João Morin instalou em terras do Palatinato Superior, uma fazendinha provida principalmente de árvores frutíferas, dispondo também de pastagens que alugava, recebendo animais a trato. A estrada que atravessava o quarteirão foi se tornando conhecida como o caminho do MORIN. O nome ampliou-se, dominou o bairro e quase estendeu-se ao rio, cujo nome é Palatino que até hoje conserva. Na publicação intitulada “Toponímia Urbana de Petrópolis”, exaustiva e muito útil trabalho do historiador Gabriel Kopke Fróes e seu dedicado e eficiente colaborador Tito Livio de Castro, verifica-se que a Prefeitura Municipal em 1922, denominou Avenida General Marciano Magalhães a artéria que corta o bairro. Esta via de comunicação tem hoje muitas ramificações, entre elas ruas, vilas e caminhos, como a Almirante Aristides Mascarenhas, e Augusto Severo, a Coronel Batista da Silva, a Dr. Públio de Oliveira, a Pedro Ivo, a Bezerra de Menezes, a Cristina, a Dr. Sérvulo Lima, a Gabriel José de Barros, a Prof. Eugênio Werneck e na parte alta, a Lugano, a Locarno, a St. Moritz, a Lucerne e a Neuchatel. Por uma publicação de 28-11-1884, o Major Morin fez questão de frisar que adquiriu a propriedade por compra a foreiros, não a recebendo portanto a qualquer outro título. Quanto a sua existência, nasceu em 2-12-1794 e faleceu em 14-02-1886; viveu assim 92 anos. Seus herdeiros, em 1891, venderam os 5 prazos; os adquirentes foram: Cipriano de Souza Freitas, Manoel da Costa Franco, Luiz de Freitas […] Read More

RESGATES PETROPOLITANOS

  RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima JEAN BAPTISTE BINOT, nascido em 1810 na França, chegou ao Brasil em 1836. Em 1848 instalava-se em Petrópolis com a sua primeira chácara onde passou a cultivar flores e hortaliças. Como Saint-Hilaire, foi sobretudo amigo das plantas e da natureza. Pode-se afirmar com segurança que Binot foi o primeiro ecólogo de Petrópolis, o pioneiro no combate à devastação indiscriminada das matas que, na sua exuberância tropical guarneciam as encostas da urbe nascente, protegendo os mananciais, evitando o assoreamento dos rios e ipso facto minimizando a força das enxurradas. Foi também Binot um defensor intransigente do plano Koeler, inconformado com as primeiras agressões sofridas por ele e que se agravaram ao longo dos anos, da Monarquia à República. Sobre Koeler disse Binot em vibrante artigo publicado em “O Parahyba”, edição de 23 de dezembro de 1858: “De carater firme, de vontade inabalavel, bom para as famílias laboriosas, duro e severo para os preguiçosos, era preciso que, bom ou mau grado, tudo se submetesse às suas ordens que não tinham outro fim que o interesse geral da colônia. Tomou-o a morte no começo de todos os grandes trabalhos, que foram esboçados por ele, mas que ficaram suspensos ou paralizados durante muitos anos. Depois de sua morte o progresso da colônia começou a diminuir em razão da má direção que tomou a sua administração.” Adquirindo terrenos no Retiro de São Tomaz e São Luiz, Binot criou ali uma nova chácara que se tornara famosa já no decorrer dos anos sessenta dos oitocentos pelas hortaliças que produzia e pelas estufas onde eram cultivadas inúmeras variedades de flores, entre elas a orquídea. São da lavra de Jean Baptiste Binot o projeto e a execução dos jardins do Palácio Imperial de Petrópolis, onde avultam até hoje inumeráveis essências tropicais. Um outro francês de nomeada no ramo da jardinagem, Auguste Glaziou foi suplantado por Binot nessa feliz concorrência. Alcindo Sodré em artigo sobre Jean Baptiste Binot, publicado no vol. VI dos Trabalhos da Comissão do Centenário de Petrópolis, 1943, trouxe importante informação acerca da primeira chácara do horticultor francês nesta urbe. Ouçamo-lo: “A sua primeira propriedade adquirida em 13 de fevereiro de 1848 foi no Quarteirão Nassau, terreno constituído por 2.428 braças e situado onde se encontra a residência do professor Afrânio Peixoto.” A chácara tinha […] Read More

RESGATES PETROPOLITANOS

  RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Filipe Faulhaber foi dessas figuras raras de colono petropolitano. Até onde puderam chegar as pesquisas genealógicas, atestam os documentos que Filipe descendia de Alban Faulhaber, que morreu por volta de 1565 na região de Ulm, sul da Alemanha. Nesta cidade nasceu aos 5 de maio de 1580 e faleceu em 1635 o matemático e astrônomo Johannes Faulhaber. Hans Mathaus Faulhaber (1601 / 1683) foi engenheiro e matemático. O pai de Filipe Faulhaber já nasceu na região do Hessen-Darmstadt. Chamava-se Philipp Heinrich Faulhaber e veio ao mundo em 1812 na aldeia de Gross Winternheim, próxima à margem esquerda do Reno, a leste da cidade de Bingen. Casado com Barbara Neidmann, nascida em 1809, teve sete filhos, dos quais cinco nascidos na Alemanha. Em 1846, com mulher, sogra e filhos pequenos, migrou para o Brasil para instalar-se na recém fundada colônia de Petrópolis. Filipe, o mais velho, tinha na altura 11 anos. Aqui, F. H. Faulhaber recebeu em aforamento o prazo de terras n.° 2445 do quarteirão Vila Tereza, localizado entre a Estrada Normal da Estrela, atual Rua Tereza e o Rio Palatino, em cuja margem passava a antiga estrada para Minas, correspondente nos dias que correm a um trecho da Rua Dr. Sá Earp. Neste prazo estabeleceu-se como fabricante de carruagens e seges, pois era carpinteiro de profissão. Foi membro atuante da comunidade evangélica de Petrópolis. Vítima de um ataque cardíaco faleceu aqui a 9 de março de 1857. Em 12 de abril de 1866 findava seus dias sua mulher Barbara. Nascido na mesma aldeia paterna aos 15 de setembro de 1835, Filipe, após a morte do pai assumiu a direção da fábrica de seges, mantendo-a próspera até o fim de sua existência. Foi testemunha da evolução de Petrópolis, participando ativamente de seu progresso econômico, social e político. Foi decano dos comerciantes e industriais da cidade; foi um dos fundadores do extinto clube Cecilie Verein e do Deutscher Saengerbund Eintracht, que depois da segunda guerra passou a atender por Coral Concórdia; como figura de prôa da comunidade evangélica foi um dos responsáveis pela construção da torre do tradicional templo da Avenida Ipiranga. Filipe Faulhaber não ficou alheio à vida político-administrativa desta urbe. A 14 de outubro de 1894 foi eleito pelo voto popular Juiz de Paz, integrando assim a Assembléia […] Read More

RESGATES PETROPOLITANOS

  RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Historiografar no atacado, é fácil; falar sobre figurões de extensa bibliografia, é mamão com açúcar. Difícil é tirar das profundas do esquecimento público as figuras locais, tratá-las no varejo e resgatar-lhes a memória, por vezes repleta de elementos edificantes, elos de uma corrente maior que une o tempo ao espaço. A alóctones e autóctones deve Petrópolis os seus dias de grandeza, de elegância, de “glamour”, de progresso material e espiritual. Alguns deles estão entronizados em praça pública, ou têm seus nomes expostos ostensivamente à entrada dos logradouros. Mas quantos há que ficaram nos desvãos da história, esquecidos numa gaveta, num armário ou numa sepultura sem lápide? É hora de exumar a memória dessa gente e fazê-la ressuscitar para o conhecimento dos viventes de hoje e da posteridade. Falemos de Ricardo Narciso da Fonseca que faleceu nesta cidade aos 17 de abril de 1912, aos 87 anos, depois de ter nela vivido quase sete décadas. Morreu no mesmo 1912 que levou ao túmulo o Barão do Rio Branco, o Visconde de Ouro Preto e Quintino Bocaiúva. Ricardo Narciso da Fonseca era pernambucano, nascido em 1825, no mesmo ano em que viera ao mundo o Imperador D. Pedro II. Mal saído da adolescência, veio para o Rio de Janeiro e, aos 19 anos, com a saúde abalada, subiu a Serra da Estrela para tentar recuperá-la. Corria o ano de 1844. A casa grande da fazenda do Córrego Seco estava ocupada pelo Major Julio Frederico Koeler, que então cuidava do projeto Petrópolis. O jovem Ricardo enquanto buscava a cura para os seus males tentava ocupar-se com alguns misteres. Segundo Antonio Machado ele trabalhou na reconstrução da estrada de Minas no trecho entre o Itamarati e Pedro do Rio; depois dirigiu um rancho de tropeiros no Alto da Serra e finalmente veio explorar o mesmo negócio no entorno da sede da fazenda do Córrego Seco. No contato com o Major Koeler, Ricardo Narciso da Fonseca foi tomando gosto pelo plano que estava criando a nova urbe serrana e, em pouco tempo o pernambucano tornava-se um dos principais colaboradores do Major. Desvio de rios, arruamento, plantio de árvores, preservação das encostas, em todos estes misteres fez-se presente o espírito incansável e otimista de Ricardo Narciso da Fonseca. Foi escrivão da Colônia de Petrópolis. No […] Read More

RESGATES PETROPOLITANOS

  RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Há anos um mistério encobre uma das facetas mais significativas da imprensa petropolitana. Quem sabe a publicação desta matéria não proporcionará o deslinde da questão? Recapitulemos. Em março de 1857 começou a circular nestas serras, à véspera da emancipação política da urbe, o jornal “Mercantil” de Bartolomeu Pereira Sudré. Em dezembro daquele mesmo ano, pela mão de Augusto Emilio Zaluar veio a furo o periódico “O Parahyba”. Aquele viveu até 1892; este morreu em fins de 1859. A coleção d ‘ “O Parahyba”, graças ao espírito lúcido e com enorme visão de futuro do colono e vereador Felipe Faulhaber, está depositada na Biblioteca Municipal de Petrópolis, reunida em dois grossos volumes. Os números do “Mercantil” de 1876 a 1892 também estão encadernados e integram o acervo da mesma Biblioteca, embora com algumas falhas, em virtude do empenho do jornalista Thomaz Cameron, que antes de morrer em 1909, destinou sua coleção de periódicos à instituição em epígrafe. Então perguntar-se-á: Onde foram parar os números do “Mercantil” de 1857 a 1875? Até hoje não consegui obter uma resposta convincente. Há muitas informações desencontradas, mas a triste verdade é que o mistério permanece. A Biblioteca Municipal não os tem. O mesmo acontece com as Bibliotecas Nacional e do Museu Imperial. Onde teriam ido parar tão preciosos documentos que poderiam reconstituir a vida petropolitana da década de sessenta e parte da de setenta do século XIX? Será que esses jornais integram ainda alguma coleção privada, algum acervo de família? Deparou-se-me uma pista ao estudar a figura insigne de Frederico Damcke, que foi contemporâneo de Julio Frederico Koeler, testemunha ocular da fundação de Petrópolis e escrivão da colônia. Encontrei na Biblioteca do Museu Imperial recortes da “Tribuna de Petrópolis” colhidos nas edições de 22 de novembro de 1959 e de 1° de janeiro de 1960. São transcrições de matérias de autoria de Frederico Damcke veiculadas durante o ano de 1857 pelo jornal “Mercantil”. No final do longo artigo que a “Tribuna de Petrópolis” trouxe a furo em 1° de janeiro de 1960, lê-se em letras garrafais: “COLEÇÃO DO JORNAL “O Mercantil” ANO DE 1857 PERTENCENTE AO ARQUIVO WALTER BRETZ.” Parece ficar claro que o arquivo do jornalista e escritor Walter João Bretz, falecido em 29/10/1944, possuía, entre outros documentos, a coleção do jornal “Mercantil”, […] Read More

FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS (A) – O DECRETO DE 16 DE MARÇO DE 1843 E OUTROS DOCUMENTOS DO MESMO ANO

  A FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS – DECRETO DE 16 DE MARÇO DE 1843 E OUTROS DOCUMENTOS DO MESMO ANO Henrique Carneiro Leão Teixeira Filho Dentre os principais fundadores de Petrópolis foi o Major Koeler, incontestavelmente, o grande realizador senão o próprio inspirador da fundação da cidade. E esta afirmação está longe de ser gratuita: alicerça-se em bons e convincentes documentos. Com efeito, desde o Decreto de 16 de Março de 1843, que em verdade foi o marco inicial, a pedra angular sobre a qual levantou-se Petrópolis, surge o nome de Julio Frederico Koeler em todos os atos governamentais ou administrativos tocantes à transformação da Fazenda do Córrego Seco na povoação que serviu de berço à cidade. Nada se fez, provam os documentos, sem a direta participação do Major Koeler. Com ele lavra-se o contrato de arrendamento da velha Fazenda, constante da escritura de 27 de julho de 1843, onde se mencionava textualmente o “Decreto de S. Majestade”, de 16 de março daquele ano, e em cujo art. 15º exigia-se do arrendatário Koeler, para o fiel cumprimento do contrato, “a hypotheca de seus bens, havidos e por haver”. E nesse instrumento, convém notar, já se aludia ao nome da cidade a ser construída, ao impor-se ao arrendatário, no art. 10º, o levantamento gratuito da “planta da FUTURA PETRÓPOLIS, e do Palácio e suas dependencias”. Do mesmo modo, em outras cláusulas e nas prescrições estabelecidas nas “condições” complementares ao contrato, fixavam-se, desde logo, as regras ou normas a serem seguidas e observadas na cidade nascente, prescrevendo-se obrigações relativas aos futuros proprietários (foreiros), e também concernentes aos alinhamentos, cercas, muros, “portões elegantes” (textual), nivelamentos, indivisibilidade dos lotes mínimos (prazos), arborização, calçadas de alvenaria, primeiras edificações, sem esquecer, quanto a estas, recomendações de asseio e de estética, inclusive recuo obrigatório relativamente às estradas. E planejava-se toda essa obra, que inda hoje seria considerada grandiosa, e à qual se daria o nome de urbanismo, contratando a sua imediata execução com um engenheiro competente, ao qual se conferiam poderes cada vez mais amplos e do qual se exigiam garantias reais. Tudo isso iniciava-se em 1843; tudo isso começava a fazer-se sob a chefia suprema de Koeler, estipulando o aludido contrato, em termos explícitos, os casos em que o arrendatário agiria qual representante direto da Mordomia, com poderes suficientes para dirimir dúvidas entre foreiros e intrusos, e bem assim aqueles em que a Casa Imperial não prescindiria […] Read More