PETRÓPOLIS NA GUERRA DO PARAGUAI Jeronymo Ferreira Alves Netto, associado titular, cadeira nº. 15, patrono Frei Estanislau Schaette Da Guerra do Paraguai (1865-1870), sem dúvida o maior conflito militar ocorrido na América do Sul, participaram inúmeros petropolitanos, natos ou por adoção, pertencentes à Guarda Nacional ou ao Corpo de Voluntários da Pátria. A Guarda Nacional, cumpre lembrar, foi criada pelo Padre Diogo Antônio Feijó, quando Ministro da Justiça da Regência Trina Permanente, em 18 de agosto de 1831. Foi instituída com o escopo de defender a Constituição, a liberdade, a independência e a integridade do Império; manter obediência às leis, conservar ou estabelecer a ordem e a tranquilidade pública; auxiliar o Exército de linha na defesa das praças, fronteiras e costas. No dizer de Gustavo Barroso, a Guarda Nacional “foi uma instituição militar que, à exceção de seus derradeiros anos de decadência, prestou relevantes serviços ao país, como reserva do Exército” (1). Tomou parte em inúmeras campanhas internas, assegurando a manutenção da ordem, mas foi na Guerra do Paraguai que ela mais se destacou, mobilizada pelo Decreto n.º 3.383. A Guarda Nacional só foi extinta pelo artigo 22, do Decreto n.º 13.040, de 29 de maio de 1918. Os Corpos de Voluntários da Pátria foram criados pelo Decreto n.º 3.371, de 7 de janeiro de 1865, do Governo Imperial, buscando aumentar o número de soldados no Exército Brasileiro, que no início da guerra era considerado inferior ao número de soldados do Exército Paraguaio. Na ocasião, a solução encontrada pelo governo brasileiro “foi apelar para a tradicional magnanimidade do povo brasileiro, pacífico e tolerante, mas sempre pronto a derramar generosamente seu sangue em momentos de crise nacional, predisposto a assegurar com seu prestimoso concurso a integridade da pátria” (2). Em consequência, o apelo do governo brasileiro ao voluntariado “despertou uma verdadeira cruzada patriótica, contribuindo para que o exército ativo que, em 1865, era de aproximadamente 18.320 homens, atingi-se, no ano seguinte, a elevada cifra de 67.365 homens e, em 1869, 82.271 homens” (3). (1) BARROSO, Gustavo. História Militar do Brasil. Cia. Editora Nacional, São Paulo, 1938. (2) DUARTE, Paulo de Queiroz. Os Voluntários da Pátria na Guerra do Paraguai. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército Editora, 1981, p.200. (3) SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador. São Paulo, Companhia das Letras, 1998, p.303. Segundo nos informa Bretz, “o Governo Imperial, pelo Decreto n.º 919, de 27 de fevereiro de 1852, […] Read More
POSSE DE NELSON DE SÁ EARP
POSSE DE NELSON DE SÁ EARP Nelson de Sá Earp Sr. Presidente, Dr. Claudionor de Souza Adão Srs. Membros da Mesa Meus Consócios Senhoras e Senhores Obrigam-me os meus quinze minutos a uma inexorável síntese. A ela serei obediente. Resumidamente, acodem-me 1º – agradecer a honra com que me recebem os meus ilustres colegas deste colendo Instituto, reverenciando a generosidade com que acolhem um simples promitente cultivador das verdades históricas da minha e nossa queridissima terra petropolitana. Passo a servo incondicional desta Casa. 2º – declarar que prometo cultuar a História, isto é, prometo cultivar a memória de todos os fatos e acontecimentos que edificaram e edificam a honra de nossa terra. Não só as memórias passadas, as lembranças pretéritas, mas trazer à recordação os ideais futuros, revertê-los ao presente, torná-los vida, ativos, atuantes. A esperança é também memória, mas memória daquilo que se deseja do futuro realizar. E as aspirações do que está para vir, senhores historiadores, são parte do vosso e de meu futuro trabalho. Não é tradição desta Casa o saudosismo, mas antes, tirar do passado as lições do que se projeta para o amanhã. Esta Instituição é celeiro do progresso, e o é por tradição. E abraço a vossa admirável causa. Que mais posso dizer em tão escasso tempo? Para mim, esta noite é uma aurora. Em lugar do famoso “Anoitece” do venerando e célebre Raimundo Corrêa, o mestre dos mestres parnasianos, ao cantar, nos seguintes termos, o crepúsculo, quando o sol em chamas esbraseado se recolhe e diz, ANOITECE, assim descrito: Esbraseia o Ocidente na agonia O sol … Aves em bandos destacados Por céus de oiro e púrpura raiados Fogem … Fecha-se a pálpebra do dia … Delineam-se, além, da serrania Os vértices da chama aureolados. E em tudo, em tôrno esbatem derramados Uns tons suaves de melancolia … Um mundo de vapores no ar flutua … Como uma informe nódoa, avulta e cresce A sombra à proporção que a luz recua … A natureza apática esmaece … Pouco a pouco, entre as árvores a lua Surge trêmula, trêmula … Anoitece. Em lugar desse belíssimo “Anoitece”, eu ousaria, modesta e canhestramente, mas desejoso de traduzir os meus sentimentos de esperança e júbilo, parafrasear o insigne e incomparável mestre, – e não sei se o consigo – dizendo, então, como mais apropriado a este instante de aspirações mais altas, AMANHECE (fazendo-o nos seguintes termos) […] Read More
MEMORIAL PARA A MARECHAL DEODORO (UM)
UM MEMORIAL PARA A MARECHAL DEODORO Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga Mais conhecida até a fundação da povoação como caminho dos mineiros, a estrada passou a incorporar a nomenclatura urbana de Dona Tereza quando após o planejamento urbano de Koeler ganhou a denominação que a acompanharia até o final do século XIX, Rua Princesa Dona Januária. Observamos que não existia a passagem do Alto da Serra para o Morin (atual Padre Feijó), assim sendo o trajeto pesado de carroças e tropas de muares, corria por toda a Rua de Dona Tereza até o centro do então vilarejo, passava à frente da Fazenda do Córrego Seco até que atravessava o citado córrego continuando sua viagem pela Estrada dos Mineiros. Após a proclamação do sistema republicano que fecha o ciclo monárquico em nosso país, o processo branco de ‘desmonarquização’ por que foi atingida a cidade, conduziu a novas denominações em suas ruas, e atingiu a Dona Januária que passou a ostentar a denominação do chefe maior do movimento, Rua Marechal Deodoro, assim como da principal via na qual desaguava, que deixou de ser Rua do Imperador, para envergar a data do movimento, Avenida XV de Novembro. No ano de 1857, justamente ano da elevação de Petrópolis a cidade, segundo descrições de Gabriel Fróes, um dos maiores cronistas históricos de Petrópolis, foi aberta ao trânsito a nova ponte situada em frente a Rua Princesa Dona Januária, que segundo este era o tradicional ‘…desembocadouro de carros e passageiros que se dirigiam a cidade’. Antes se prolongava a viagem até o encontro dos rios, onde de outra ponte de madeira se passava ao lado oposto seguindo viagem para as Minas Gerais. A construção da referida ponte fazia parte do projeto de urbanização de Koeler para a principal via da cidade. Não podemos dizer que as obras estivessem concluídas, pois ainda levaram mais alguns anos, mas mesmo assim a cidade se tornava passo a passo o ‘cartão postal do Imperador’, digno de registro daquele que foi o mais importante fotógrafo da Corte, Klumb, que fotografou em 1865 a entrada da Rua Princesa Dona Januária e de uma de suas mais importantes casas comerciais da época na esquina (prédio onde atualmente possuímos a Farmácia Brasil), e de alguns habitantes da mesma região que para esta posaram. Outro registro fotográfico processou-se mais tarde a partir do […] Read More
DISCURSOS – DEPOIMENTO PARA O TRABALHO DA FUNDREM – Ruth Boucault Judice
DISCURSOS – DEPOIMENTO PARA O TRABALHO DA FUNDREM – 29/11/1981 Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Pediram-me um depoimento sobre os trabalhos realizados em Petrópolis para o Zoneamento da cidade e o Uso do solo. Penso, em sã consciência, que mais que um depoimento, posso dar um testemunho do que foi realizado. Participei de praticamente todas as reuniões, informei-me de tudo. Opinei, concordei e discordei quando necessário. Vi sair destas reuniões o projeto final, a conclusão do que seria necessário para, preservar essa Cidade Imperial! Hoje, tomo conhecimento de críticas, de que a lei é restritiva, que há erros, e pasmem senhores, que é uma lei elitista! Como elitista, se foi de nossas reuniões que surgiu a idéia de estímulo a construção de vilas; de proteção ao patrimônio fabril, que é muito importante; de proteção à arquitetura popular, em especial às vilas operárias? Mas essas pessoas que hoje atacam, tiveram como eu, as portas abertas para opinar, criticar e até contribuir. Pena que tenha havido omissões, que são sempre as geradoras de críticas sem fundamento. A primeira reunião que compareci, fui sem ser convidada, como simples cidadã. Chegou ao meu escritório (Firma Construtora) um convite do Sindicato da Construção Civil para o meu sócio que é engenheiro, participar de uma reunião com a turma da FUNDREM que já vinha estudando paulatinamente o zoneamento da cidade. Fui, de curiosa. O convite não era para mim. Mas eu era petropolitana de coração, residindo na cidade por mais de 30 anos, queria saber de seu destino. Gostei das diretrizes do trabalho, vi que era coisa séria e que seria válido perder tempo com ele. Voltei à próxima reunião e daí em diante, passei a ser convidada como Presidente do Instituto Histórico, cargo que eu até hoje ocupo. Interessei-me enormemente porque, eu que sou professora de História da Arte, conhecedora dos preceitos modernos de Preservação, fiquei feliz ao ver como os técnicos da FUNDREM e os membros da SPHAN estavam atualizados no assunto, já expurgado dos erros do passado, quando nesse Brasil só se pensava em salvar o que era colonial ou barroco. Começamos juntos: eles com as técnicas e nós – moradores da cidade, com a vivência da mesma – a procurar um denominador comum que preenchesse a necessidade urgente dessa cidade que também é industrial, mas que tinha todo um patrimônio ambiental, […] Read More
CENTENÁRIO DE NELSON DE SÁ EARP (O)
O CENTENÁRIO DE NELSON DE SÁ EARP Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Quem sai aos seus não degenera, diz o velho ditado popular. Foi exatamente o que ocorreu com Nelson de Sá Earp. Na linha materna era ele neto de Hermogênio Pereira da Silva, o homem que deu envergadura político-administratriva a Petrópolis no início da República. Médico oftalmologista, foi várias vezes vereador entre 1892 e 1910, elegendo-se quase sempre Presidente da Câmara, à época com funções executivas. Com uma visão extraordinária da vida pública, jamais inaugurou uma obra, simplesmente entregava-a à população, pois estava no estrito cumprimento de seu dever. E não foram poucas as suas realizações nos quase vinte anos em que esteve à frente dos destinos petropolitanos. Pelo flanco paterno Nelson de Sá Earp era neto de Arthur de Sá Earp, misto de baiano e escocês, com estágio nas Minas Gerais e pouso definitivo em Petrópolis, onde também exerceu a medicina, foi Vereador e Presidente da Câmara, notabilizando- se pelo ambicioso plano de obras que executou na primeira década do século XX. Interessante notar que os médicos brasileiros sempre revelaram significativa eficiência e muita sensibilidade quando engajados na administração pública. Médicos foram Juscelino, A.C.M., Pedro Ernesto, Hermogênio Pereira da Silva, Arthur de Sá Earp, pai e filho, Joaquim Moreira, Oswaldo Cruz, Paula Buarque, Mário Pinheiro e também Nelson de Sá Earp. Ungido pela Santa Cruz nasceu Nelson nesta cidade aos 3 de maio de 1911. Foi aluno do Colégio São Vicente de Paulo. Estudou Medicina no Rio de Janeiro e ali poderia ter feito carreira brilhante. Contrariando preceito milenar, preferiu ser profeta em sua terra. Ainda na década de trinta dos novecentos firmou- se como clínico em sua cidade. Naquele tempo baldaram-se-lhe os arroubos políticos barrados pelo Estado Novo, ditadura braba que durou de 1937 a 1945. Com a redemocratização do país a partir de 1946 afloraram em Nelson de Sá Earp os desejos de servir a seu povo como político e administrador. Ia assim cumprir a segunda vocação de seus troncos familiares. E Nelson elegeu-se Vereador, foi Presidente da Câmara, confiando-lhe Petrópolis a Prefeitura em 1958. Fui um de seus eleitores na primeira eleição de que participei na vida. E desde então passei a acompanhar de perto a sua eficiente e brilhante trajetória de médico e de homem público. Não obstante tão absorventes […] Read More
FARDA, UNIFORME E O HISTÓRICO DA CIDADE
FARDA, UNIFORME E O HISTÓRICO DA CIDADE Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “O seu corpo, em que está inscrita uma história, casa-se com a sua função, quer dizer, uma história, uma tradição, que ele nunca viu senão encarnada em corpos ou, melhor, nessas vestes habitadas por um certo habitus” (Bordieu, Pierre. O Poder Simbólico, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1998, p.88) Muitos confundem farda com uniforme, mas tecnicamente, farda não é uniforme. Uniforme é apenas uma composição de peças de um vestuário que visam à padronização visual de determinado grupo, de uma classe ou profissão. Já a farda possui não somente conceito assim como uma dimensão completamente diferente de uniforme. Farda é por constituição um símbolo, representativo na maioria da instituição a que pertence. Identifica-se por uma história composta por valores de uma instituição maior como o Estado ou a própria representatividade da soberania de um povo. Farda é a projeção da autoridade institucional, de suas forças militares e policiais. Ao ingressar em uma instituição militar o homem ou a mulher torna-se herdeiro de um conjunto simbólico identificador da instituição. Esse é composto por práticas e discursos, expressos em cerimônias, símbolos e pelo dia-a-dia institucional (Schactae, Andréa Mazurok). Para o imaginário histórico petropolitano, inúmeros são os registros presentes em declarações pela imprensa ou na própria literatura local do século XIX e no século XX. Tais como os registros do garbo dos petropolitanos que se apresentavam no Tiro de Guerra nas primeiras décadas do século XX, ou na presença, inclusive fotográfica que alguns membros da Guarda Nacional se apresentavam em reuniões (O Mercantil), talvez como forma de ostentação ou mesmo de opressão, autoritarismo. Fotos nos arquivos do Museu Imperial dos inspetores de quarteirões, autoridades policiais garbosas e de profundo relacionamento e demonstração de segurança com as comunidades. No imaginário dos moradores, a presença do guarda noturno com seu tradicional apito e farda. Até mesmo o imaginário colonial apresentou-se por intermédio dos viajantes, no realce das fardas alemãs que alguns ainda guardavam, e segundo declarações vez por outra apresentava às comunidades por onde passavam, o que traduzia-se em respeito. Assim como, a tradição já estava estabelecida com a presença dos ‘Dragões’ que acompanhavam o Imperador e sua família em suas constantes viagens à cidade, principalmente nos anos 70 e 80 do século XIX (O Mercantil). As fotos de Haack apresentam […] Read More
CONDE DE RESENDE, O FUNDADOR DO ENSINO MILITAR ACADÊMICO NAS AMÉRICAS E DO ENSINO SUPERIOR CIVIL NO BRASIL EM 1792 E O CRIADOR DA CIDADE E MUNICÍPIO DE RESENDE EM 1801
CONDE DE RESENDE, O FUNDADOR DO ENSINO MILITAR ACADÊMICO NAS AMÉRICAS E DO ENSINO SUPERIOR CIVIL NO BRASIL EM 1792 E O CRIADOR DA CIDADE E MUNICÍPIO DE RESENDE EM 1801 Cláudio Moreira Bento, associado correspondente Conde de Resende – o criador da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho em 1792, e do Município de Resende em 1801 Focalizaremos o 2° Conde de Resende, Tenente-General D. José Luiz de Castro, que foi o 13° Vice-Rei do Brasil (1790-1801). Autoridade máxima do Brasil, que deu foro de vila, em seu governo, a uma única povoação e por ele especialmente escolhida. Vila que, desde 1801, passou a denominar-se, em sua honra e homenagem, Resende, e seus filhos nela nascidos, ou de coração, de resendenses. No último caso, filho de coração, decorrência do cosmopolitismo de Resende, que possui as suas mais profundas raízes no povoamento por mineiros, fluminenses, paulistas e até gaúchos da primitiva povoação de N. S . da Conceição do Campo Alegre da Paraíba Nova, descoberta e fundada, em cerca de 1744, por bandeira partida das minas esgotadas da Alagoa da Airuoca, em Minas, sob a liderança do Tenente-Coronel do Regimento de Auxiliares de Mogi das Cruzes/ Jacareí, em São Paulo, Simão da Cunha Gago. Campo Alegre por ser a região de Resende e imediações, então, uma belíssima, ampla e fértil clareira predestinada à pecuária, assentada sobre planície terciária. Clareira ampla em planície incrustada na Mata Atlântica dominante ao seu redor, e que viria a ser devastada para ceder lugar ao ciclo do café no Brasil que teve início aqui em Resende. Terras hoje ocupadas pela pecuária. Quando o Conde de Resende assumiu como vice-rei, a atividade econômica no Campo Alegre se intensificara a partir da abertura do Caminho Novo, em 1778, ligando por terra o Rio a São Paulo (pela antiga Rio – São Paulo) e integrando Resende atual na economia nacional e rompendo, por via de conseqüência, o isolamento da mesma. O café havia surgido em Resende muito promissor. O esgotamento do ouro em Minas provocou uma migração mineira para a atividade pecuária no Campo Alegre. A movimentação do anil, do café, do açúcar, exigiu mulas para transportá-las, o que marcaria a presença de gaúchos tropeiros de mulas, circunstância que chegou ao ponto de Resende consumir 1.800 mulas ano, para movimentar a plantação de café, e escoá-la inicialmente para o Rio, por terra, e depois até Angra […] Read More
O QUE ESTÁ FALTANDO
O QUE ESTÁ FALTANDO Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Pronto, ai está, falta pouco para a terra-de-ninguém se instalar em Petrópolis. Desde há muito – e põe muito nisso – não se vê a ação repressora de quem de direito municipal contra os abusos que se avolumam a cada dia. Temos uma Guarda Municipal, destinada a zelar pelos prédios e bens urbanos públicos. Pelo menos para tal mister foi criada e sacramentada. Infelizmente o dito corpo se preocupou muito mais em se estruturar como corporação do tipo militar, negaceando a função básica, que apenas exige guardas municipais em tempo integral nas ruas, diante dos bens mais caros para a cidade. Sem essa de folga em fins de semana e nas horas mortas, como direito de outros funcionários públicos. O serviço de vigilância deve ser permanente com tábua de plantões cumprida à risca e com eficiência. Um exemplo é o olho vesgo para a rapaziada que fica horas em seus esqueites quebrando calçadas e degraus na área da Câmara Municipal. O calçamento de pedra está cheio de buracos, o mármore da escadaria de acesso ao Palácio Amarelo com vários pedaços faltando e os degraus estão raspados em toda a sua extensão, com perda do polimento e feiamente ásperos. A última dessa turma foi a grafitação horrorosa e nada artística nas paredes da Catedral de Petrópolis, obrigando os responsáveis pelo templo orgulho da arquitetura e da história da Cidade a ameaçar a gótica estética com um gradeamento. É aquela história de afirmar-se que os cidadãos bons estão presos nas grades que rodeiam suas casas e os meliantes soltos em carnavais de atos e gestos de desafio e impunidade. Parece um retorno aos tempos medievais, do cercamento das cidades com elevados muros e portões de segurança máxima para evitar as hordas dos inimigos daquela civilização. Uma das armas eficientes – e todos conhecem – é a inibição através do policiamento ostensivo. De outra sorte, nada se poderá fazer e a coisa vai piorando de pior para muito pior. Fico imaginando – em loucura tétrica – a Avenida Koeler murada de ponta a ponta para resguardar o casario do vandalismo… Ai. Poderia desfiar mechas inteiras de argumentos sobre o horror que a inconsequência vem instalando no Município, livremente, com poucas vozes de reclamos e indignações, sob uma política errada (ou seriam as cabeças […] Read More
DISCURSOS – FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS – 16 DE MARÇO DE 1981 – Ruth Boucault Judice
DISCURSOS – FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS – 16/03/1981 Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia 16 de março de 1843! Neste dia nascia Petrópolis. Com um privilégio: o de receber em 1845 uma leva de famílias alemãs para sua colonização. Com Petrópolis nascia também a sua História, cantada e louvada por vários oradores em muitas oportunidades como esta. Não serei redundante. Quero falar hoje sobre nossa Petrópolis atual. Uma cidade de clima excepcional a poucos quilômetros do Rio, de topografia rara, incrustada na Serra dos Órgãos entre morros de verdes abundantes e toda direcionada pelos rios que a decoram. Nasceu como fazenda imperial, de um Imperador amante das artes, da cultura e do progresso. Por isso Petrópolis é paradigma de arquitetura do final do século XIX. O ecletismo e o produto da Revolução Industrial, que eram estilos vigentes na Europa, na época de D. Pedro II vieram para cá de encomenda, como foi o caso do Palácio de Cristal (comprado pelo Conde D´Eu). Tais estilos estão presentes nas estruturas metálicas de nossas antigas fábricas que vinham da Bélgica. No recortado dos chalés (já produtos das primeiras máquinas tico-tico) construídos em harmonia com a paisagem. No neo-classicismo da arquitetura palaciana, do qual a Casa da Câmara é flagrante exemplo, não só na sua fachada de ordem jônica como na sua decoração adequada, onde estão presentes os raios de Júpiter, os colares de pérolas, as linhas de óvulos, as palmetas e volutas, enfim toda a gama de modernatura neo-clássica. Importante também sua arquitetura popular de inspiração eclética, além dos neo-góticos das igrejas do começo do século. Tudo isso foi fruto da inspiração de um imperador. Quis ele somar à colonização germânica, o plano urbanístico de um alemão, o Major Koeler, resultando desses somatórios a nossa cultura local, um verdadeiro patrimônio de artes, usos e costumes que brotaram desse amalgama do brasileiro com o alemão, na Serra. Depois disto, com o advento da República, passou a ser, no verão, sede dos presidentes e das embaixadas. Nasceu nobre e sobreviveu assim. Mas nunca se esqueceu do seu colono, do bravo lavrador que lavrou a primeira terra da cidade recém-formada. Isto está patente nos quarteirões que ainda guardam seus nomes de origem – Bingen, Westefalia, Ingelheim, Mosela, Siméria e tantos outros; lembra-se também dos primeiros operários oriundos das famílias germânicas, formando mão-de-obra de grande especialização, haja visto […] Read More
BARÃO DE LANGSDORFF E A SUA TENTATIVA DE PROMOVER A IMIGRAÇÃO ALEMÃ NA FAZENDA DA MANDIOCA (O)
O BARÃO DE LANGSDORFF E A SUA TENTATIVA DE PROMOVER A IMIGRAÇÃO ALEMÃ NA FAZENDA DA MANDIOCA Antônio Eugênio de Azevedo Taulois, associado efetivo, titular da cadeira n.º 29, patrono Luiz da Silva Oliveira SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO 2. O BARÃO DE LANGSDORFF 3. A FAZENDA DA MANDIOCA 4. A TENTATIVA DE IMIGRAÇÃO 4.1 A contratação de imigrantes na Alemanha 4.2 A viagem para o Rio de Janeiro 4.3 As questões financeiras 4.4 O malogro da tentativa. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 5.5 A Fazenda da Mandioca era um centro de estudos da natureza 5.6 As causas do fracasso da colonização alemã 5.7 A importância cultural da obra do Barão de Langsdorff BIBLIOGRAFIA 1.0 INTRODUÇÃO A partir de 1820, no fundo da Baía da Guanabara onde começava a subida da Serra da Estrela, ao longo do Caminho Novo que conduzia tropeiros ao interior das Minas Gerais, foi feita uma expressiva tentativa de colonização estrangeira pelo Barão de Langsdorff, na sua Fazenda da Mandioca, com noventa e quatro imigrantes, vindos especialmente da Alemanha para essa empreitada, visando o cultivo de novas espécies e a introdução de modernas técnicas agrícolas entre nós. No momento em que o Brasil surgia como nação, despertando a cobiça e a curiosidade no cenário internacional, o alemão Georg Heinrich von Langsdorff (fig 1), a serviço do império russo, onde era conhecido como Grigory Ivanovitch Langsdorff, se destacava não só pela audácia e cultura, mas, principalmente, pela sua infatigável capacidade de organização e trabalho, como ficou demonstrado nas espantosas expedições científicas que realizou pelo interior do Brasil. Estudou e reuniu cerca de 300.000 itens representativos da natureza e da gente brasileira entre os anos de 1813 e 1828 e os enviou à Academia de Ciências da Rússia, da qual era membro. Pretendia dedicar o restante da sua vida ao estudo desse acervo, o que representaria uma significativa contribuição para o conhecimento das coisas brasileiras, porém, paradoxalmente, os fortes laços que ligaram o Barão a nossa terra e a nossa gente e que marcaram profundamente a sua vida foram, ao mesmo tempo, a razão da sua glória e a “via crucis” que o anulou para a ciência e para a sociedade. A Abertura dos Portos, em 1808, e as surpreendentes facilidades concedidas aos cientistas estrangeiros que vieram para o Brasil após o término das campanhas napoleônicas fizeram com que viajantes franceses, alemães, austríacos e ingleses invadissem o interior do país, não […] Read More