AO AMIGO CALAU Fernando Antônio de Souza da Costa, Associado Titular, Cadeira n.º 19 – Patrono Galdino Justiniano da Silva Pimentel Na parte da manhã tenho o hábito de recitar o terço e a Liturgia Diária. E na manhã de quinta-feira, ainda não havia terminado a leitura do Evangelho Segundo São João e a campainha do telefone tocou . Era a colega de turma Julia Shaefer que estava na linha. É um prazer renovado cada contato com essa amiga que por mais de quarenta anos preservo na lembrança e no coração já que fizemos parte da mesma turma da Faculdade de Direito da Universidade Católica de Petrópolis desde 1970. E logo ao bom dia e pedido e notícias de ambas as partes veio a informação que causou perplexidade e silêncio: nosso amigo Calau ou Carlos Alberto da Silva Lopes faleceu na madrugada desta quinta – feira! Nesse momento a voz estremeceu, ficou rouca, cessou tudo. Aos poucos fomos nos inteirando e nos cientificamos do velório realizado na Câmara Municipal de Petrópolis de cuja Casa do Legislativo Municipal Calau Lopes fora Vereador e Presidente, com sepultamento às 17h. Pois é, amigo Calau, nós que por tantas vezes em grupo estudamos nos tempos universitários, convivemos com seu jeito alegre, sua eloqüência, aprendemos a admirar o artista, o político, o pensador, o sociólogo, o idealista que trazia na bagagem tantos atributos, planos e projetos a realizar. Sua transição é mais uma lição a que exercitemos a simplicidade, a humildade, a vigilância e o amor à vida porque não nos cabe determinar a hora do dormicio, mas sim ao Criador de todas as coisas e criaturas. Tudo passa, estamos aqui temporariamente, somos meros usufrutuários desta terra e por mais que saibamos disso reincidimos sempre, talvez por nossa fragilidade humana e limitações advindas do pecado adâmico ou original. Uma irreparável lacuna se abre junto a nossos Colegas Advogados que está a completar 37 anos de formatura e, sucessivamente na política, Instituições Culturais a exemplo do Instituto Histórico de Petrópolis, Terceira Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil onde era Conselheiro, nos movimentos teatrais e artísticos, enfim, uma voz se cala e um vazio toma conta do universo. Resta-nos a certeza da vida eterna prometida por Jesus Cristo na presença da doce Mãe dos Céus aos pés da Cruz e que “há um tempo certo para todas as coisas debaixo do céu. Tempo de nascer, tempo […] Read More
AQUELE QUE FICA
AQUELE QUE FICA Joaquim Eloy Santos Olha ai, Calau, em que prebenda você meteu a todos! E a Petrópolis! E à Cultura! Você sempre foi previsível dentro do imprevisível da vida. Agora quebrou tudo, saindo da vida no meio do sarau. Não ouviu metade do concerto embora tenha organizado toda a programação, agitado os artistas, divulgado o evento, quebrado lanças para sua realização. Sua previsibilidade, que navegava dentro do mais puro entusiasmo, no seio mais doce de impressionante coragem, no meio da indiferença e da descrença, diuturnamente acompanhada por gestos largos e gargalhadas sonoras, está num silêncio que rasga nossa alma de incredulidade. Tinha que ser assim, como foi? O artista deixar o proscênio num repente, num espanto de remexer os sentimentos, em meio ao personagem iluminado pelo seu talento e sua alegria contagiante? A vida cobra muito caro do coração que a sustenta, trazendo nas hordas do imponderável o manto da tristeza e a roupagem cênica da tragédia. O Teatro da existência temporal não devia ser assim, com interpretações tão rascantes de tremores, quanto de risos fáceis, nesse palco da vida acortinado pelo contra-regra absoluto, a morte. Calau Lopes fica espalhafatosamente no coração de Petrópolis, em cujas montanhas ecoarão para todo o sempre sua verve extraordinária, seu talento pela amizade, seu destemor no trato das questões de honra, um de seus bens mais caros e por ele defendido mesmo sob pressões de criaturas humanas que jamais chegariam – nem chegaram e nem chegarão – à sua impressionante vocação para o clímax da interpretação sempre correta, justa, maravilha de sua personalidade que se entregava aos projetos, aos amigos, à Cultura, à Política, ao labor funcional e burocrático, aos sonhos mais elevados que arrancavam de seu peito um entusiasmo que arrasava qualquer vírus da descrença. A imagem passada por Calau, para mim, era a de um cavaleiro daqueles enlatados das Cruzadas, imponente com seu escudo e lança investindo contra as injustiças, mesmo que, em dados momentos, os moinhos quixotescos não cedessem sob suas arremetidas, em rastros de pureza destemida; quando pedia a palavra, era um Cícero estonteando as cabeças senatoriais do Fórum Romano em suas catilinárias ouvidas pela extensão das grandes platéias sem pios de reprimendas ou contestações; na liça guerreira era Alexandre, o grande ou Júlio César, nos embates das estratégias perfeitas; quando no palco, dominava a cena, prendia as platéias aos seus magníficos personagens; quando administrador, por detrás […] Read More
SÍMBOLO DE CULTURA E ARTE
SÍMBOLO DE CULTURA E ARTE Fernando Antônio de Souza da Costa, Associado Titular, Cadeira n.º 19 – Patrono Galdino Justiniano da Silva Pimentel A Escola de Música Santa Cecília completou 117 anos de profícua existência. Sua fundação data de 16 de fevereiro de 1893. É um patrimônio artístico e cultural em pleno funcionamento. Ela tem como fim basilar a manutenção do ensino musical e outras manifestações de arte e cultura. Principalmente aqueles militantes nas diversas Instituições culturais, artísticas e benemerentes, têm plena consciência das dificuldades que as permeiam. E neste diapasão dirigimos os aplausos à tão insigne Escola, símbolo de idealismo e elevado senso de servir, pois conta com homens da mais alta envergadura, pela estatura moral, cultural e dedicação ao magistério e ao apostolado do servir. Seguem em sua íntegra o mandamento de Cristo no “amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo.” Petrópolis e a música não se cansam de louvar e agradecer ao Maestro Paulo Carneiro, que por seus méritos, recebeu em vida, dentre outros lauréis a “Grande Medalha de Ouro” concedida por S.A.I.R. Imperador Dom Pedro II. Nomes da maior relevância e abnegação ajudaram a constituir e a prosseguir a magnífica obra cultural, artística e social. Ponho em relevo alguns nomes não seguindo uma ordem, nem época, penitenciando-me desde já a não inclusão de outros tantos merecedores dos encômios e reverências, mas que constituem a senda de mecenas e bravos Anjos Tocheiros que iluminaram e fazem refulgir a magnífica obra cultural e artística, dentre eles Reinaldo Antônio da Silva Chaves, Walter Eckhardt, Sanctino Carneiro, filho do Maestro Paulo Carneiro, que abriu mãos de todos os bens do pai, notadamente os instrumentos musicais e a própria Escola, a insigne pianista Madalena Tagliaferro (aluna do maestro fundador), compositor Cesar Guerra Peixe, o maestro, compositor e pesquisador Ernane Aguiar, Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos, Joaquim Eloy Duarte dos Santos e o irmão Paulo Santos (ex-Presidentes), Professores Deoclécio Damasceno de Freitas, Adelaide Carneiro, João B. Pires, Maria S. Carvalho, João Baptista Maul, Francisco Chaffieli, Dr. Paula Buarque, a extraordinária caricaturista e intelectual Nair de Teffé Hermes da Fonseca, seu atual Presidente Dr. Mauro Carneiro Senna, o Corpo Docente e Discente atual e equipe de funcionários que honram a nobre Arcádia Cultural, dentre os quais a Senhora Ângela Badaró, merecedores do demorado abraço e aplausos porque juntos a seu fundador, co-fundadores, Diretores, benfeitores e ex-presidentes, […] Read More
PLANO KOELER (O)
O PLANO DE KOELER Guilherme Pedro Eppinghaus A escolha do tema foi imposta pela dúvida levantada sobre o alvorecer da história de Petrópolis. Se, por vezes, escritores tratam com benevolência figuras e fatos da história, fugindo assim à realidade, outros há que aplicam a malevolência, praticando um mal por vezes irreparável. A história de Petrópolis sofreu, lamentavelmente, os efeitos da malignidade, a que interesses inconfessáveis davam campo e medraram os males como cresce a erva daninha. A própria chegada dos colonos foi manchada por correspondência atribuída ao Pastor Stroele e publicada. Nela não foram poupadas as autoridades brasileiras, nem houve moderação ao descrever inverdades que atingiram Koeler, os colonos e suas famílias. O plano de Koeler foi também criticado, houve referências a planos anteriores que fracassaram, não houve restrições na aplicação da maldade e inúmeras inverdades foram inventadas. É indispensável que sejam expurgados os erros, inclusive os consequentes de comentários referentes a esta ou aquela imprevisão, feitos apressadamente. Só a análise tranquila coloca tudo nos devidos lugares, e é o que neste conjunto de apreciações será tentado, com as deficiências e falta de autoridade que o culto e distinto auditório suprirá, com a benevolência que o caracteriza. Falar sobre a data que hoje comemoramos seria repetir o que muitos ilustres historiadores já descreveram, como resultante de suas pesquisas e dos conhecimentos legados também através das recordações dos velhos colonos e seus descendentes. Entretanto, dentro dos limites razoáveis, é bom referir que, depois das acidentadas travessias dos imigrantes, tem início o trabalho concreto das realizações. Como muito bem escreveu Alcindo Sodré, no capítulo “Quando Petrópolis amanhecia”, publicado em 1950 na Revista do Instituto Histórico de Petrópolis: “Petrópolis nasceu com a construção do Palácio Imperial”. O Major Koeler concebera o plano que serviria de orientação à formação e desenvolvimento da cidade que hoje conhecemos como original entre os demais. Ao examinar as realizações que obedeceram o projeto, os documentos que regularam o crescimento com as condições de uso e a legislação geral então vigente, conclui-se que o plano previa, com antevisão de mais de um século, a dilatação horizontal da cidade, expandindo-se pelo vale do rio Piabanha e seus afluentes para montante e, em futuro para ele ainda remoto, para jusante do maior rio que banha o Município. É de admitir-se é, aliás, certo que, não fora o acidente ocorrido em 1847 que teve como conseqüência a morte de […] Read More
BREVE HISTÓRICO DA CATEDRAL SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA
BREVE HISTÓRICO DA CATEDRAL SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA Jeronymo Ferreira Alves Netto, associado titular, cadeira nº. 15, patrono Frei Estanislau Schaette Pelo Decreto de 16 de março de 1843, que foi, no dizer do saudoso historiador Alcindo Sodré, “a certidão de batismo, o ato oficial e político, que promoveria a criação de Petrópolis” (1), quis o Imperador determinar desde logo o levantamento de seu primeiro templo católico, sob a invocação de São Pedro de Alcântara, padroeiro do Império e seu próprio patrono. Em conseqüência, na planta elaborada pelo Major Júlio Frederico Koeler, em 1846, ficou reservado, conforme disposição do Decreto Imperial, o terreno onde deveria ser edificado o referido templo, isto é, uma área triangular compreendida entre as atuais avenidas Tiradentes e Ipiranga e a Rua Raul de Leoni. Tratava-se de uma obra grandiosa que demandava tempo e avultados recursos, por isto os atos religiosos católicos, segundo nos informa Fróes “eram realizados numa sala preparada para tal fim no antigo barracão de obras provinciais, na Rua do Imperador” (2), até que ficou resolvida a construção de uma pequena Capela provisória, na Rua da Imperatriz, em frente ao Palácio Imperial, inaugurada em 1848 e que funcionaria como Matriz até 1925. D. Pedro II, “enquanto durou o seu permanente contato com Petrópolis, manifestou sempre, por atos e ações, o seu interesse pelo culto católico na sua querida cidade” (3). Assim, a 12 de março de 1876, por ocasião das comemorações da data natalícia da Imperatriz D. Tereza Cristina que, no dia 14 daquele mês, completava 54 anos, num pavilhão anteriormente armado no morro do Belvedere, o Internúncio Apostólico, Monsenhor Luís Bruschetti, coadjuvado pelos padres Nicolao Germain e Theodoro Esch, celebrou missa e procedeu a sagração do terreno. (1) SODRÉ, Alcindo. D. Pedro II e a Paróquia de Petrópolis. Vozes de Petrópolis, setembro-outubro, 1946, p. 649. (2) FRÓES, José Kopke. A Velha e a Nova Matriz de Petrópolis. Tribuna de Petrópolis, 30 de novembro de 1985, 2º Caderno. (3) SODRÉ, Alcindo, op. cit., p. 649. Compareceram à cerimônia o Imperador D. Pedro II, o Conde D’Eu e a Princesa Isabel, os ministros da Fazenda, Justiça e do Império, respectivamente Barão de Cotegipe, José Bento da Cunha Figueiredo e Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque; o Presidente da Província, Conselheiro Pinto Lima; o Presidente da Câmara Municipal, Paulino Afonso Pereira Nunes, todos os vereadores petropolitanos e a Irmandade do S.S. de São Pedro de […] Read More
ERA DOURADA DOS TRANSPORTES PÚBLICOS (A)
A ERA DOURADA DOS TRANSPORTES PÚBLICOS Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “Para entrar no seu quarto eu ía de noite para a rua e voltava quando julgava minha família adormecida. Era um corredor de acústica traiçoeira: o menor ruído estrondava como a queda de um móvel. Tirava os sapatos na escada e ficava parado diante da porta do quarto, à espera do momento exato de abrí-la e de entrar. Esse momento, às vezes demorado e supliciante, era quando o bonde entrava no desvio defronte da loja na Avenida XV, e cobria todos os rumores com um chacoalhar de ferragens e um diálogo destabocado entre passageiros, motorneiro e condutor. Aí eu abria bruscamente a porta e penetrava (…)” (Pongetti, Henrique, O Carregador de Lembranças, Editora Pongetti, Rio de Janeiro, 1971). A história dos deslocamentos de ‘massa’ na cidade de Petrópolis por empresas privadas possui suas operações processadas pela primeira década do século XX, quando justamente em 1910 (18.10), inaugurou-se o serviço de auto-ônibus entre a Estação da Leopoldina e a Cascatinha. Primeiro, no gênero, a ser executado no município, observando-se que o transporte de terceiros e operários para a Cascatinha promoveria alta rentabilidade econômica (Fróes, Gabriel). A princípio a elite de moradores que se deslocavam era composta por privilegiados, pois as tarifas eram altas para o poder aquisitivo do operariado, mas com o aumento do número de coletivos, o transporte iniciou sua consolidação, que logo foi abalada pela chegada dos bondes (Verão em Petrópolis). Outros pequenos empresários passaram também por conta própria e risco a se estabelecer no setor, sem constituir empresas legalmente autorizadas, transferindo capitais de suas operações comerciais, muitos destes de lojas. Estes eram favorecidos pelos poderes públicos, com o estabelecimento imediato das concessões para a atividade e pelas agencias bancárias ‘sedentas’ de participar com créditos e associações para a aquisição ou locação de veículos, ou em muito para confecção de carrocerias, nos tradicionais artesãos carpinteiros alemães, como os Bade (Silveira, Oazinguito F.). Até mesmo o Hotel da Independência, assim como outros, passou a explorar o transporte, principalmente a partir do terminal centro da estação ferroviária da Leopoldina, conduzindo clientes em uma época onde o fluxo de visitantes e hóspedes da cidade eram intensos em seu veraneio e fuga de epidemias. Por outro lado, inúmeras foram também nas primeiras décadas do século as propostas de empresários do […] Read More
DESTINO EM TRILHA RETA
DESTINO EM TRILHA RETA Joaquim Eloy Santos O turismo em Petrópolis depende exclusivamente de seu povo e da vontade política dos detentores do poder. O povo precisa ser educado no respeito aos bens culturais e incentivado ao poder de polícia, como guarda vigilante da ainda rica herança patrimonial. Sua ação estará deitada ao interesse público e a denúncia que fizer, deve ter fundamento no coração de petropolitano, na visão de futuro e no amor à terra que é dos descendentes. É a sobrevivência que está em jogo, de tudo e de todos, disciplinado o destino turístico-cultural a essa brigada de defensores-agentes da preservação ambiental, cultural, patrimonial, enfim, a herança que recebemos e devemos passar aos que chegam, sejam naturais, sejam adotados. De passagem, a aplicação de rígida xenofobia quanto aos invasores do negócio fácil (as drogas, por exemplo) e aos geradores da violência e do desamor, fatores enfraquecedores da auto-estima. Preservando e explorando os bens herdados, mantendo-os dignos do foro de civilização, estaremos garantindo a autonomia futura de nosso recanto e seu desenvolvimento como um lugar bom para viver. Também deve ser norte de projetos turístico-culturais imediatos e objetivos, a reabilitação de personagens de nossa história, através de novos bens a serem edificados, bem como a criteriosa identificação dos topônimos urbanos, como existe em cidades que já acordaram para essa galinha-dos-ovos-de-ouro. Não deixar a política de resultados imediatistas sobrepor-se ao destino municipal e porque a ganância especulativa não pode agigantar-se acima das legítimas aspirações em favor de nosso futuro. Por muitos anos tenho batido em algumas teclas, sob apoio da imprensa atenta e de pessoas de sentimento cívico, no sentido de ampliar as ofertas turísticas e duas conquistas necessitam ter apoio político imediato e sensibilidade objetiva e que são: 1) um monumento à Princesa Isabel, nos moldes dos modernos Carlos Drummond de Andrade, em Copacabana e Brigitte Bardot, em Búzios, e outros já instalados em alguns pontos do país. A Princesa Isabel seria representada em escultura de tamanho natural, tirada de uma fotografia na qual acha-se sentada, com duas amigas, no Palácio de Cristal; a escultura marcaria uma grande atração para os visitantes e os habitantes do Município; 2) Brigadeiro Eduardo Gomes, petropolitano nato, morador da cidade, grande nome da Aeronáutica Brasileira, herói de nossa história, que ainda não possui qualquer homenagem no Município (corrijam-me, se estou equivocado), que mereceria uma estátua em tamanho natural e seu nome em […] Read More
CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO DR. DÉCIO JOSÉ DE CARVALHO WERNECK
CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO DR. DÉCIO JOSÉ DE CARVALHO WERNECK Jeronymo Ferreira Alves Netto, associado titular, cadeira nº. 15, patrono Frei Estanislau Schaette Comemoramos este ano o centenário de nascimento do Dr. Décio José de Carvalho Werneck, um dos mais destacados educadores de nosso tempo, que soube encantar com a clareza da exposição e a lucidez de suas idéias. Educador no sentido autêntico da palavra, a quem todos procuravam recorrer em busca de sua orientação sensata e equilibrada. Nascido em Petrópolis, a 23 de março de 1910, era filho de Aristides Werneck e Elazir de Carvalho Werneck, dos quais recebeu uma sólida formação moral e religiosa e uma esmerada educação. Seus estudos iniciais foram feitos no antigo Colégio Werneck e no Colégio Pinto Ferreira, dois dos mais conceituados estabelecimentos de ensino de nossa cidade. Posteriormente, bacharelou-se em Direito pela Faculdade Nacional de Direito. Preferiu, no entanto, não advogar. A banca profissional não o atraiu. Escolheu a carreira docente, tornando-se um pedagogo e um didata admirável. Em Petrópolis lecionou no Colégio Plínio Leite e no Liceu Fluminense, deixando nos mesmos a marca de seu talento e de sua admirável capacidade didática. Em 8 de março de 1938, foi nomeado pelo então Presidente Getúlio Vargas, Inspetor Federal de Estabelecimentos de Ensino Secundário. Neste mesmo ano, tornou-se um dos sócios fundadores do Instituto Histórico de Petrópolis, do qual foi um dos grandes animadores. Profundo conhecedor da legislação de ensino, desempenhou as funções de Inspetor Federal com dedicação e rara competência, atuando muito mais como orientador e conselheiro, junto às escolas, que como um simples fiscal do Ministério da Educação e Cultura. Em 1940, com seus sócios Carmem Saavedra e Thomaz da Câmara, fundou o Colégio Padre Antônio Vieira, um dos mais conceituados estabelecimentos de ensino do Rio de Janeiro, que iniciou suas atividades em 1941 e continua funcionando até os dias atuais. Seu amor pela Universidade Católica de Petrópolis, manifestou-se desde a primeira hora. Durante o ano de 1954, orientou, como Inspetor Federal, os primeiros passos de nossa Faculdade de Direito. No ano seguinte integrou os quadros de nossa Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, como professor no curso de História, lecionando, inicialmente, História Antiga e Medieval e, posteriormente, Didática Especial, Introdução aos Estudos Históricos e História das Idéias Políticas, Econômicas e Sociais. Paralelamente, integrou o Conselho Técnico Administrativo da referida Faculdade. Foi um dos fundadores e organizadores de nossa Escola de […] Read More
PETRÓPOLIS E SEUS TIPOS URBANOS
PETRÓPOLIS E SEUS TIPOS URBANOS Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga Hoje é muito comum contemplarmos pelo centro de Petrópolis uma mulher de óculos, morena, magra, portando uma imensa mala, vagando perdida pelas ruas da cidade, olhos perdidos no horizonte, caminhando por uma cidade completamente invisível para ela. Os jovens a chamam de “Maria da mala”. Histórias são contadas pelos cantos, como a de que teria perdido um filho em viagem e que aguarda seu retorno. Outros vagueavam pelo universo da cidade e somente em um momento de rompante demonstram suas personalidades, doentias, esquizofrênicas ou apenas carinhosas e comunicativas em seu trajeto. O careca que caminha por quilômetros e quilômetros dentro da cidade é tachado de louco. Ele pede às pessoas dinheiro em troca de levar o lixo, e assusta pela sua forma de andar e por seus olhos perdidos porém caçadores. Dizem que é membro de importante família. Outro caminha com seu caderno, ora com um guarda-chuva… São tantos os representantes deste universo paralelo ao nosso e do qual não tomamos conhecimento, pelo contrário, nos permitimos apossar pelo medo ou pelo asco. São personagens que encontramos em nosso cotidiano, visto pela maioria na atualidade como párias, que não possuem registro ou famílias e por tal se tornam invisíveis ao nosso universo considerado ‘normal’. Indivíduos excluídos socialmente desprovidos de qualquer vinculação ao cosmo social. Uma jornalista em 1999 produziu uma série de crônicas pelo jornal Zero Hora de Porto Alegre, que lhe valeu o Prêmio Esso de Jornalismo regional. Reportagens sobre registros urbanos dos personagens que habitam a paisagem social de Porto Alegre, seu mundo invisível. Lembrei-me de haver visualizado algo comum em minhas pesquisas no passado-recente de nossa cidade, mais precisamente em meados dos anos 50, e vasculhei minhas anotações quando encontrei a presença do jornalista Silvio de Carvalho retratando os personagens de sua época pela cidade em sua revista Vida Serrana (1954). Silvio que discorria sobre uma variedade de assuntos, não se furtou jovem ainda, em retratar o cenário invisível urbano de nossa cidade. Claro que os personagens não eram em grande número e envelheceram presentes em nosso cenário ao final do século XX. “Papa-ovo”, “Bem-te-vi”, “Tiê”, célebres figuras de nosso cotidiano por algumas décadas. Que serviram de troça para alguns adolescentes ou mesmo adultos, que corriam atrás de crianças que freqüentemente promoviam brincadeiras. “Papa-ovo” era o […] Read More
PETRÓPOLIS CIDADE DE KOELER E DE TODOS NÓS
PETRÓPOLIS CIDADE DE KOELER E DE TODOS NÓS Fernando Antônio de Souza da Costa, associado titular, cadeira n.º 19, patrono Galdino Justiniano da Silva Pimentel Benditas sejam as mãos do Criador ao encrustar esta jóia em meio às colinas! Creio, sobretudo, não caia uma folha sequer que não esteja pré-determinado, por isso providencial que o Senhor de todas as coisas e pessoas conduzisse até nós a sensibilidade, arte e a competência dos empreendedores, talentosos, dedicados e queridos colonos alemães, dos quais esta Imperial Cidade se ufana. Não desejo aprofundar-me quanto ao aspecto meramente histórico, mas dar voz e vez ao coração. Em rápido lampejo pincei de Gênesis, Capítulo 12 Versículos 1-3, quando Deus fala a Abrãao: “deixe sua terra, sua família e casa de seus pais e vá para onde eu lhe mostrar, farei de você uma grande nação…”. Parafraseando este belo enunciado bíblico, penso tenha ocorrido o mesmo, reservando-nos a sorte de podermos ser presenteados com a primeira leva de imigrantes que estiveram trabalhando na abertura da estrada do meio da Serra, a seguir vieram para a Fazenda do Córrego Seco, em 1837. O destino destes pioneiros era Sidney, na Austrália, mas devido às péssimas condições de viagem interromperam o trajeto e resolveram permanecer no Rio de Janeiro. Ali, foram recrutados pelo engenheiro Köeler “para trabalhar nos melhoramentos da Serra da Estrela”, assim relatou o insigne Professor Rabaço às fls. 78 – História de Petrópolis e ainda nos dão conta os arquivos históricos do nosso Instituto, a imprensa, arquivo Nacional e historiadores: A Fazenda do Córrego Seco, atual cidade de Petrópolis, foi adquirida em 1830, por Dom Pedro I, do sargento-mor José Vieira Afonso, com a intenção de mandar construir um palácio que, nos meses de verão, abrigaria a Família Imperial. Contudo, o projeto de construção do palácio só se realizaria anos depois, no reinado de D. Pedro II. O início da obras exigia o uso de mão-de-obra em grandes escalas. Resolver esta questão implicava em decidir entre a contratação de trabalhadores livres, ou a utilização do trabalho escravo, predominante no Brasil. A decisão do Imperador recaiu sobre a contratação de mão-de-obra livre. Para tanto, foi assinado, em 16 de Março de 1843, um decreto-lei através do qual D. Pedro II autorizava ao “Mordomo Paulo Barbosa da Silva” a arrendar a fazenda do Córrego Seco ao Major dos Engenheiros Júlio Frederico Köeler, pela quantia de um conto de […] Read More