CONVERSAÇÕES COM A ATMOSFERA AQUÁTICA Júlio Ambrozio, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 30, Patrono – Monsenhor Francisco de Castro Abreu Bacelar Monsenhor Bacelar A partir de hoje, de maneira curiosa, passarei a ocupar a cadeira de número 30 desta Instituição. O patrono dessa cadeira, Francisco de Castro Abreu Bacelar – Monsenhor Bacelar – minhoto nascido em Fafe, faz lembrar a ubiqüidade luso-brasileira, quase ia dizendo, a presença mineira em terras petropolitanas. O meu antecessor, professor Pedro Rubens Pantolla de Carvalho, fez a sua graduação em geografia. Corografia e mineiridade, substantivos que falam de uma parte da minha escrita. Francisco de Castro Abreu Bacelar, um ano antes de sua morte, foi nomeado Monsenhor Protonotário e Camareiro de Sua Santidade o Papa. Religioso, provavelmente, senhor de grossa fortuna, como eclesiástico foi grande empreendedor: senhor de terras no município do Carmo – dono da fazenda de Santa Fé, construindo aí a Estação de Bacelar, da Estrada de Ferro Leopoldina -, dedicou-se com êxito à agricultura, vendendo, após alguns anos, essas terras aos seus sobrinhos. Proprietário de terras em Petrópolis, Monsenhor Francisco Bacelar foi o responsável por dois exemplares da arquitetura neoclássica de Petrópolis: construiu na antiga rua D. Afonso, casa que, posteriormente, pertenceria à família Franklin Sampaio; dono de boa parte dos terrenos à margem da rua que leva agora o seu nome, construiu o prédio hoje pertencente à Universidade Católica de Petrópolis. Monsenhor Bacelar, além de participar da comissão administrativa do Hospital Santa Thereza e do antigo asilo Santa Isabel, auxiliou o Padre Siqueira na construção e sustento do asilo do Amparo. Morreu Bacelar em Poços de Caldas, MG, aos seis de novembro de 1884, como administrador da Irmandade da Santíssima Trindade. Pedro Rubens Pantolla de Carvalho Pedro Rubens Pantolla de Carvalho, diferente de Bacelar, tem data conhecida de nascimento – sete de setembro de 1940; filho de professores e ele mesmo professor, nasceu em Paraíba do Sul, cidade próxima da confluência dos rios Paraibuna, Piabanha e Paraíba do Sul – Três Rios – região que Getúlio Vargas, em algum momento, denominaria de “esquina do Brasil.” O menino Pedro Rubens veio para Petrópolis cursar o segundo grau, graduando-se, após, em geografia pela UCP. Incorporou-se, em seguida, nos quadros dessa Universidade, chegando a pró-reitor administrativo. Já o seu amigo de toda a vida, professor Joaquim Eloy dos Santos, em emocionado necrológio, fala do privilégio da convivência com o professor Pedro Rubens de Carvalho, […] Read More
DESCASO POR UM MOMENTO
DESCASO POR UM MONUMENTO Raul Ferreira da Silva Lopes, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 32, Patrono – Oscar Weinschenck, falecido Palácio de Cristal! Muito já escreveu – e até se lutou – sobre o descaso por que vem sofrendo, administração após administração, o nosso importante monumento: o Palácio de Cristal. Reformar ou restaurar? Haverá diferença entre estas duas soluções? Alguns já o fizeram, maquiando com massa e tinta as feridas corrosivas da ferrugem, sem nada mais fazerem. Restaurar é que é fundamental. A tecnologia metalúrgica e a solda modernas têm meios de restaurar, sem adulterar o visível, a estrutura de ferro e afins. Essa estrurura não pode ser remendada com ofensas à sua originalidade. E essa originalidade é que o coloca com um importante e valioso monumento de nossa cidade e também um monumento de nossa cidade e também um monumento internacional, porque sua origem está na grande Revolução Arquitetural dos séculos XVIII/XIX, donde ele foi projetado e executado. Sobre este assunto, com a finalidade de avivar – e quem sabe, até sensibilizar a quem de direito – vamos rememorar o fato e a época da qual se originou o Palácio de Cristal. Pesquisando na “História da Arte” de Germain Bazin, do Museu do Louvre, destacamos um capítulo destinado à Revolução Arquitetural (págs. 400 a 406). Vamos resumir os fatos que nos ligam a eles pelo nosso monumento. “A técnica do ferro, com o desenvolvimento de sua tecnologia durante a Revolução Industrial, começou a colocá-lo na aplicação em construções de pontes, gares, edifícios industriais, na Inglaterra, em fins do século XVIII. Depois penetra na arquitetura de habitação com o Pavilhão Brigthon, concepção de John Nash, onde o ferro é empregado com tijolo (1816-1820).” “Após essa experiência bem sucedida, surgiu o famoso e majestoso Palácio de Cristal – tipo estufa – da Exposicão Universal de 1851, inteiramente de vidro numa armadura de ferro, onde se realizava o ideal de uma arquitetura transparente.” Este Palácio infelizmente, mais tarde, foi destruído pelo fogo. Aqui cabe uma observação: Porque a Inglaterra, mãe da Revolução Industrial, não o recuperou? Pelo simples fato de que teria de maquiá-lo com materiais modernos prostituiria a concepção original e seus materiais de época, tirando-lhe todo o valor histórico como exemplar de uma era, logo eles que são os criadores da nova ciência: a Arqueologia Industrial. “Por volta de 1850, inicialmente com pequenos projetos esporádicos, a arquitetura de ferro desenvolveu-se […] Read More
SIDNEY SMITH – THE HEROIC SAILOR
SIDNEY SMITH…..THE HEROIC SAILOR Kenneth Henry Lionel Light, Associado Titular, Cadeira n.º 1 – Patrono Albino José de Siqueira Brazilian historians have heard of Admiral Sir Sidney Smith principally and, almost exclusively, because of his participation in the journey of the Royal Family of Portugal to Brazil, in 1807-08. During that period he led the squadron that kept station off the coast of Portugal. Subsequent to the arrival of the Royal Family, he became the first commander-in-chief, during two years, of the naval base established in Rio de Janeiro. Whilst in Brazil he became interested in helping D. Carlota Joaquina in her ambition to rule a country of her own – Argentina. Abundant correspondence in the Imperial Museum, from him in French and from her in Spanish, testifies to this ambition. But this period of a little over two years was, perhaps, the quietest in his agitated life. A national hero in England whilst still alive, his accomplishments were the theme for many productions in the variety theatres of that time. His name was sung and recited in verse, in numerous pamphlets published in London, and distributed throughout the land. No other naval commander, with the exception of Nelson killed at the Battle of Trafalgar, received so much glory so soon. Yet, whilst the hero Nelson was recognized as such on a scale never before or afterwards seen, the same did not happen to Sidney Smith. Nelson was remembered by a statue on a majestic pedestal in one of London’s most important squares. His mortal remains were buried in St. Paul’s Cathedral – a rare honour. His funeral procession was led by the six royal dukes and thirty two admirals! As he had no legitimate descendents, the honours and pecuniary reward went to his brother, William; in addition to being created an earl, he was given £99,000 to buy a suitable estate and an annual pension of £5,000 in perpetuity. These values today would be £4 million and £200,000 respectively. England was slow to officially recognize Sidney Smith’s triumphs. Other countries – Portugal, the Ottoman Empire, the Kingdom of Two Sicilies and Sweden – recognized his contribution and decorated him. Only in 1838, at the age of 74 and two years before his death, the young Queen Victoria made him Grand Cross of the Order of the Bath – at last he was an English knight!! The last few […] Read More
SIDNEY SMITH – UM MARINHEIRO HERÓI
SIDNEY SMITH – UM MARINHEIRO HERÓI Kenneth Henry Lionel Light, Associado Titular, Cadeira n.º 1 – Patrono Albino José de Siqueira Historiadores brasileiros conhecem Sir Sidney Smith principalmente, e quase que exclusivamente, pela sua participação na jornada da Família Real Portuguesa ao Brasil, em 1807-8, porque nesta época ele comandava o esquadrão da costa de Portugal. Foi também, logo após a chegada da família real, e durante dois anos, comandante da base naval inglesa estabelecida por ele no Rio de Janeiro. Enquanto no Brasil, ele se empenhou em ajudar D. Carlota Joaquina nas suas pretensões de conquistar um território próprio para reinar, no caso, a Argentina. Volumosa correspondência dele para ela em francês e dela para ele em espanhol, atesta esta ambição segundo pesquisa realizada no arquivo do Museu Imperial. Este período de pouco mais de dois anos, foi talvez, o período mais calmo da sua vida tumultuada. Herói nacional na Inglaterra, enquanto ainda vivo, suas façanhas serviam de tema para os teatros de variedade da época. Seu nome era cantado e recitado em verso nos inúmeros panfletos impressos em Londres e distribuídos por todo o país. Nenhum outro comandante naval, à exceção de Nelson morto na batalha de Trafalgar, teve tanta glória, tão cedo. No entanto, enquanto o herói Nelson teve um reconhecimento talvez nunca antes nem depois superado, o mesmo não aconteceu com Sidney Smith. Vejamos, Nelson foi lembrado com uma estátua, num majestoso pedestal, colocado numa das principais praças de Londres. Seus restos mortais foram enterrados na catedral de S. Paulo – uma distinção reservada a poucos – após uma procissão liderada pelos 6 duques da família real e por 32 almirantes! Como não tinha descendente legítimo, seu irmão William recebeu as honras e a recompensa pecuniária: um marquesado, £99,000 para comprar uma propriedade e uma pensão anual de £5,000 em perpetuidade. Em valores atuais, isso significaria US$ 6 milhões e US$350.000 respectivamente! A Inglaterra tardou em reconhecer oficialmente os feitos de Sidney Smith, embora governos estrangeiros (Portugal, o Império Otomano, as Duas Sicílias e a Suécia) reconheceram a sua contribuição e condecoraram-no. Somente em 1838, portanto com 74 anos e 2 anos antes de falecer, recebeu da jovem Rainha Vitória o merecido título da Grã-Cruz da Ordem do Banho – finalmente, tornou-se um sir inglês. Morreu em Paris, onde viveu os últimos anos de sua vida, e foi enterrado numa sepultura simples no cemitério […] Read More
AINDA O NOSSO TEATRO!
AINDA O NOSSO TEATRO! Ruth Boucault Judice, Associada Titular, Cadeira n.º 33 – Patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Você já pensou se acordasse amanhã e soubesse que trocaram o nome de Petrópolis, da sua cidade querida? Que susto você levaria. Por que outro nome? Em seguida, viriam as justificativas. Não nos interessam os “porques”. Que volte o nome antigo. Que se restabeleça o equilíbrio das coisas. Uff! Ainda bem que isso não aconteceu. Foi apenas um susto. Já dizia Shakespeare – What is in a name? De fato, o que há num nome que nos faz tão possessivos por ele? Quando nascemos nosso nome é escolhido por nossos pais. Passamos a responder por ele, ainda sem avaliar quanto nos será caro. Não gostamos nem quando os descuidados nos chamam provisoriamente por outro nome… Você mesmo vai moldando o nome que lhe deram, com suas habilidades, com sua inteligência, com sua simpatia enfim, com sua vivência e dele nunca vai querer se desligar. Imagine você mais velho, saindo de uma clínica estética, depois de uma grande plástica para remoçar e quando saísse lhe mudassem o nome, um nome novo que combinaria melhor com sua nova aparência. Como você protestaria… Surgiriam as justificativas – sempre as há – mas nada justifica a mudança do nome original. É o que está acontecendo com nosso Teatro Municipal… Está fazendo 70 anos. Passou por uma grande operação ou em linguagem técnica, por uma restauração completa. Nesse momento que a administração se empenha em devolver para a cidade o teatro que jazia abandonado, sugere, andando na contramão da Preservação, a mudança do seu nome. Resolução tomada em cima de justificativas inconsistentes. Fossem elas consistentes também haveria protestos. É o que estamos vendo na cidade. São artigos de jornais, protestos e principalmente discordância da Preservação, que hoje já é Ciência e que diz: – preservar é guardar todos os valores herdados do passado. Não interessa restaurar um prédio histórico se lhe tiramos o que ele têm de mais precioso que é o nome. Infelizmente, no Brasil ainda vivemos mudando o nome das coisa, sejam elas edifícios, ruas ou praças. Assim nunca resgataremos completamente o passado. Ainda bem que o povo de cidades tradicionais como a nossa tem sensibilidade. Somos uma Cidade Imperial. Há que conservar os nomes imperiais que herdamos. Por isso mesmo, através do Instituto Histórico, mudamos o antigo nome de nossa rua […] Read More
CAPELA DOS CORRÊAS E SUA SUCESSORA (A)
A CAPELA DOS CORRÊAS E SUA SUCESSORA Raul Ferreira da Silva Lopes, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 32, Patrono – Oscar Weinschenck, falecido (Resumo) Não havia nas terras da Serra da Estrela nenhuma capela que atendesse os anseios religiosos de quem por ali vivia. Estamos falando dos meados do século XVIII; Ana do Amor de Deus era proprietária da Fazenda Rio da Cidade e casou-se com Manoel Antunes Goulão que recebeu as terras, por carta de sesmaria, que confrontavam com a dela; com a união foi aumentado o latifúndio do casal. Ana consagrara o seu nome à devoção do Amor de Deus. Os dois tornaram-se, por conseqüência, responsáveis pela difusão do culto à Virgem, na região das glebas do Piabanha. Como não havia nenhuma capela na região serrana, Manoel Antunes requereu, a quem de direito, licença para erigir uma capela com a faculdade de usar a pia batismal e tomou a Santa Virgem como padroeira, sob a invocação do Amor de Deus. Foi construída e benzida e tornou-se a primeira capela levantada “nas amáveis terras da Serra da Estrela”. Não está muito claro nos escritos este assunto. Deduz-se que essa primeira capela foi erguida modestamente na fazenda Rio da Cidade e só depois passou para a casa da fazenda dos Corrêas, pois sua colocação, privilegiada, às margens da Estrada dos Mineiros, a tornaria mais acessível à veneração da Virgem. Nela se ampliaram depois os ofícios religiosos com a realização da lei do matrimônio e teve, também, a regalia do Santíssimo Sacramento. “O altar era suntuoso, de madeira burilada, e a imagem de Nossa Senhora do Amor Divino foi talhada num só bloco de pesadíssima madeira. Era realmente um precioso exemplar de estatuária religiosa artística, de uma perfeição de detalhes inimitável”. Ajoelharam-se a seus pés senhores e modestos escravos das fazendas que formariam, depois, a maior parte do nosso município, bem como os forasteiros e autoridades que por ali passavam. Em 1823, o marechal Cunha Mattos, hóspede cinco dias na fazenda, deixou escrito em seu diário, a seguinte referência: “ao lado da casa do padre Corrêa existia uma belíssima capela com perfeitas imagens de santos, e um lindo presépio. Esse presépio, armado em local engenhosamente preparado, possuía dimensões que excediam do vulgar.” “As numerosas figuras, de gesso e de madeira artisticamente trabalhada, foram, aos poucos, depois que a fazenda entrou em decadência, tomando destino ignorado”. D. Pedro I e família, que […] Read More
ANJOS DE INHOMIRIM (OS)
OS ANJOS DE INHOMIRIM Paulo Roberto Martins de Oliveira, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 10 – Patrono Carlos Grandmasson Rheingantz, falecido Este breve relato histórico, que ora apresento, inicia-se a partir de 13 de junho de 1845, quando desembarcaram na Capital da Província do Rio de Janeiro, as primeiras levas dos colonos germânicos, com destino à Petrópolis. Os primeiros colonos, embora com certas dificuldades, chegaram razoavelmente bem ao topo da Serra da Estrela, no dia 29 de junho. Porém, os que desembarcaram no Rio de Janeiro, a partir de meados do mês de julho, foram os que mais sofreram, pois muitas famílias tiveram perdas irreparáveis ao longo do percurso, até chegarem à povoação de Petrópolis. O sofrimento que havia sido bem grande, durante a viagem marítima para o Brasil, intensificou-se a partir do momento do desembarque no porto do Rio de Janeiro, pois não havia boas instalações para acomodar tantas pessoas que, em várias embarcações, chegavam seguidamente uma das outras. Após passarem pelo período de quarentena, nos depósitos superlotados e mal acomodados da Imperial Cidade de Niterói, as famílias dos colonos germânicos seguiam viagem para o Porto da Piedade, em Magé e deste local, em pequenas embarcações, subiam o Rio Inhomirim (aproximadamente 7,5 Km), até alcançarem o Porto denominado de Nossa Senhora da Estrela. Muitas famílias ficaram temporariamente instaladas junto ao porto fluvial da Estrela e arredores, até que houve vagas para que pudessem acomodá-las mais adiante, ou seja, nas antigas instalações da Fábrica de Pólvora, na Raiz da Serra. Neste local, permaneciam até que pudessem seguir viagem e chegarem à tão sonhada Imperial Colônia de Petrópolis, embora esta também acumulasse inúmeros problemas de acomodações para receberem tantas famílias na recente povoação. Durante o tempo de permanência das famílias nos abrigos improvisados, surgiram inúmeros problemas relacionados à alimentação, ao asseio e à saúde, o que gerava um grande mal-estar e descontentamentos por todos, principalmente no que fazia respeito às doenças, que reinavam na Baixada Fluminense, provocadas geralmente pelo intenso calor, como a febre do tifo e as diarréias. O atendimento médico era precário e faltavam medicamentos, ocasionando a perda de muitas vidas, sendo a maioria as das frágeis crianças. Todos os corpos eram transportados para o único cemitério da região, que situava-se na Freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim, no terreno da Igreja Matriz. Devido ao grande número de falecimentos de crianças (algumas dezenas), o local de sepultamento, […] Read More
BANGUE-BANGUE PETROPOLITANO
BANGUE-BANGUE PETROPOLITANO Júlio Ambrozio, ex-Associado Titular, Cadeira n.º 30, Patrono – Monsenhor Francisco de Castro Abreu Bacelar Vinte anos de exposição agropecuária. É de arromba! Da esquerda à direita, ou vice-versa, há duas décadas o Poder executivo de plantão mobiliza suas forças para promover a barbárie. Um terreiro, ano após ano, reservado como região sazonal e privilegiada da indústria cultural. Nem o pretexto de uma feira agropecuária é justificável. O bairro Caxambu e os distritos não legitimam a existência de uma festa petropolitana que deixa implícita a falsa idéia de vida econômica, social e cultural arraigada à criação de gado grosso, embora não deva ser esquecido a lida com a cavalaria. Eu não sei dizer, por exemplo, se o Departamento de Engenharia da UCP gerou algum estudo sobre o carro-de-boi, tal como o encontrei em universidade federal mineira. O agroboy – outro exemplo -, embora esquizofrênico personagem holywoodiano, achável em Barretos, Ribeirão Preto, Goiânia, não medra no interior da jeunesse dorée serrana. O arrabalde petropolitano – zona típica de subúrbio, com seus espaços vazios, áreas alargadas e de construções baixas – é a franja rural-urbana, ou a cercania hortigranjeira do município. Fora da tradição, o resto é plágio, diria o madrilês Ortega y Gasset. A novidade, não sendo espúria, necessariamente dialoga com a geografia cultural. Não existe problema no comparecimento do gado vacum e cavalar, servindo – principalmente para as crianças – como mostra do campo para a urbana Petrópolis. Não se trata também de simples alteração do nome da exposição. O grave é a presença superior desses animais em relação à dos legumes, penosas e hortaliças, valendo toda a feira como acabado mostruário da ausência de vínculo essencial com a realidade provinciana; alienação que, torcendo a franja rural-urbana em benefício do country – o pop-rural norte-americano -, pretende construir, no saloon e nos rodeios, o passado petropolitano e brasileiro acoplados ao faroeste, tempo pretérito estadunidense sobretudo engenhado pelo cinema de Hollywood – John Ford, Raoul Walsh, Anthony Mann, John Huston, Howard Hawks, e tantos outros. Vinte anos vive mal disposta com Monteiro Lobato e Camara Cascudo a exposição agropecuária. Pão e circo. Da mesma forma que o alimento, a diversão está vinculada, desde sempre, às exigências da vida cotidiana. O circo faz parte de todos nós. A mesma engrenagem que produz objetos para serem consumidos e trocados, proporciona entretenimento para serem digeridos como alimentos. Tal como os objetos, […] Read More
IMPORTÂNCIA DO DOCUMENTO NA CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA – O EXEMPLO DE GAGO COUTINHO E SACADURA CABRAL
IMPORTÂNCIA DO DOCUMENTO NA CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA – O EXEMPLO DE GAGO COUTINHO E SACADURA CABRAL Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva Imagino que os senhores me vissem desembarcando no Galeão, na manhã do dia dezoito (18) de março de 1999. Iriam perceber em mim os sinais de alguém transtornado, uma face afogueada, reações impacientes, uma só idéia fixa, olhos rútilos, um andar apressado mal contido. Parecia um fugitivo ou quem quisesse dali desaparecer rapidamente a ocultar alguma coisa. Tudo se explica, no entanto, pela ânsia que trazia em mim de estudar meticulosamente um tesouro, achado sem procura, e que incluíra na pequena bagagem usada na curta viagem a Portugal para resolver questões de papéis da família. De fato, carregava na mala uma publicação que o Instituto Hidrográfico da Marinha portuguesa graficamente executou em junho de 1998, para integrar o importante conjunto de realizações destinadas a compor a famosa Expo 98 da capital lusitana. Eu encontrara o exemplar na livraria do Museu de Marinha em Lisboa. Tratava-se do “Relatório da Viagem Aérea, Lisboa-Rio de Janeiro – Efectuada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral”, “30-3-922, 17-6-922”. Com grande interesse sempre ouvira falar e lera esparsamente a respeito do vôo pioneiro português. Possuía agora o que possivelmente seria o texto de maior relevo sobre o assunto. Para uma platéia como a do Instituto Histórico de Petrópolis não é necessário demonstrar que não há História sem documentos; não é preciso apontar os critérios de valoração crítica de documentos segundo a origem, os propósitos autênticos ou meramente retóricos, o contexto social de surgimento e de efeitos; não é indispensável discorrer quanto a fontes primárias, classificações, categorias etc. Basta aqui e nesta oportunidade ressaltar o aspecto de que o escrito, para além de todas as notícias, imaginações, exaltações e dramatizações, fundamenta a História porque se comprovou verdadeiro pelos resultados concretos alcançados e publicamente conhecidos. Estava e continua em minhas preocupações ser imperativo criar na cultura petropolitana bases sólidas de amor aos documentos e às regras de interpretação deles, especialmente nesta cidade que é privilegiada pelo acervo com que conta e inadvertidamente, apesar das muitas vozes não ouvidas, vai perdendo, quase sem disto ter consciência. Por tais motivos, e não só por curiosidade pessoal, o Relatório me fascinou. Moderno o bastante para ser bem lembrado o fato a que se refere, […] Read More
RIOS DA CIDADE DE PETRÓPOLIS – ORIGEM DOS NOMES
RIOS DA CIDADE DE PETRÓPOLIS – ORIGEM DOS NOMES Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva As explicações sobre a composição do quadro abaixo estão no texto com o título Rios Da Cidade De Petrópolis – Curso E Esquema Do Recebimento Dos Afluentes E Origem Dos Nomes, separado deste apenas em decorrência da diversidade de formatação. Nome do afluente Bacia do Origem do Nome Almeida Torres Quitandinha José Carlos Pereira de Almeida Torres, Visconde de Macaé, Senador, Conselheiro do Imperador e do Estado, Ministro do Império e da Justiça. Alpoim Piabanha Francisco José dos Reis Alpoim, engenheiro militar como Koeler, chefe do 4º Distrito de Obras Públicas da administração fluminense. Aureliano Quitandinha Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho, Presidente da Província, mais tarde Visconde de Sepetiba. Avé-Lallemant Piabanha Alexandre Avé-Lallemant, dentre os vários membros da família, possivelmente foi o homenageado, porque engenheiro como Koeler e Cônsul de Lubeck. Está enterrado em Petrópolis, onde faleceu. Cascata Piabanha Designação popular mais antiga do que Petrópolis. Cavalcanti Quitandinha Antonio Francisco de Paula e Hollanda Cavalcanti de Albuquerque, Conselheiro do Estado, Visconde de Albuquerque, Ministro da Guerra e da Marinha. Cemitério Quitandinha Designação derivada do fato de o curso d’água passar próximo ao cemitério (tanto o antigo, região da Igreja do Sagrado Coração de Jesus e do Convento dos Franciscanos, como o novo). Cesar Palatino ? Delamare Piabanha Nome de família, na grafia De Lamare, para a qual Koeler ingressou pelo casamento. Os irmãos Joaquim Raymundo e Rodrigo De Lamare eram na época da fundação de Petrópolis fidalgos cavalheiros da casa imperial. Garganta ou Caixa d’Água Palatino Designação popular. Caixa d’Água porque serviu ao abastecimento da cidade por algum tempo. Gusmão Palatino José Manoel Carlos de Gusmão, Camarista e amigo de D. Pedro II, Estribeiro-mor, Guarda-roupa de S. M. Itamarati Piabanha Designação popular anterior a Petrópolis Koeler Quitandinha Designação derivada do fato de o curso d’água passar pelas terras da chácara de Júlio Frederico Koeler, na Terra Santa Laemmert Quitandinha Eduardo Laemmert, fundador com seu irmão Henrique da tipografia e livraria Laemmert e do Almanaque do mesmo nome, Cônsul de Baden no Rio de Janeiro. Limpo Palatino Antonio Paulino Limpo de Abreu, Ministro do Império, da Justiça e dos Estrangeiros, Presidente do Senado, Visconde de Abaeté. Lomonosoff Palatino Serge de Lomonosoff, diplomata, Ministro Plenipotenciário da Rússia. Meyer Piabanha Vários com este sobrenome. Dentre eles, João Meyer foi quem conduziu a primeira leva de colonos do Rio a Petrópolis e […] Read More