POLÍTICOS NA ACADEMIA

  POLÍTICOS NA ACADEMIA Paulo Machado da Costa e Silva, ex-Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 2 – Patrono Alcindo de Azevedo Sodré, falecido Apresento alguns dados biográficos de ilustres cidadãos que, em Petrópolis, também militaram na política local, todos já falecidos. Trata-se da palestra que, sob o título de “Políticos na Academia”, tive a honra de proferir na Sessão Solene de 11 de novembro de 2002. Por pertencerem, simultaneamente, esses ilustres Acadêmicos aos quadros do Instituto Histórico de Petrópolis, entendi, não obstante a pouca valia dessa contribuição, que ela também pudesse interessar à nossa nobre e querida Instituição. Senhoras Senhores Nossa Diretoria, ao organizar a comemoração dos oitenta anos da existência deste sodalício literário, chegou à conclusão de que a melhor forma seria a de relembrar os Acadêmicos, que tanto a ilustraram, tirando-os do esquecimento, agrupados pelas atividades em que se distinguiram. Coube-me, com a pronta anuência de nosso Presidente, solicitar que também merecessem destaque os que se haviam assinalado na área das atividades políticas. É o que pretendo fazer sob o tema de Políticos na Academia. Permitam, porém, que antes diga algumas palavras sobre a nobre arte da Política, tão malvista por tantas distorções e equívocos maquiavélicos observados nos últimos tempos. Chamei-a de “nobre arte”, porque a Política é a difícil arte de gerir as atividades e os interesses da cidade, da pólis e dos seus cidadãos de modo a proporcionar desenvolvimento e progresso da comunidade em favor e no interesse do bem comum dos cidadãos. O bem é, por antonomásia, a perfeição de que é suscetível uma coisa. O bem, especificamente humano, por conseguinte, deve-se procurar, como diz Aristóteles, dentro da “perfeição” que o homem pode alcançar, ou, no dizer de Tomás de Aquino, que segue na esteira de Aristóteles, dentro da “perfeição” essencial ao homem, isto é, na plena realização do ser humano. O homem é homem perfeito na razão e pela razão, conforme as exigências de realização plena da sua natureza. Contudo, sabemos que ele não está indefectivelmente obrigado a conduzir-se de acordo com tais exigências. Esta faculdade de autodeterminação, própria do homem, é precisamente o fundamento da responsabilidade da sua conduta e do fenômeno da moralidade. Ao tratar do bem comum e das ajudas que lhe configuram a essência, não basta pensar no Estado e na comunidade política; é necessário ter presente a família e a nação, a comunidade do município e a profissional, […] Read More

D. PEDRO II – AMERICANISTA

  D. PEDRO II – AMERICANISTA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Silvio Romero, o gigante intelectual de Lagarto, o homem que conhecia a psico-sociologia e a etnologia brasileiras como poucos, disse que a História do Brasil era a história da formação de um tipo novo, pela ação de cinco fatores que produziram a mestiçagem. Todo brasileiro é um mestiço, quanto mais não seja, um mestiço cultural, quando não de sangue, de idéias. Os artífices dessa mestiçagem foram o português, o negro, o índio, o meio físico e a imitação estrangeira. Não se trata evidentemente de uma exclusividade brasileira. Do México à Patagônia, todos são mestiços, entrando aqui e alí em diversas proporções o espanhol, tão ibérico quanto o português, o índio, o negro, o meio físico e a imitação estrangeira. Há chilenos e argentinos que têm a pretensão de se julgarem os grandes europeus da América. Nada mais falso. O elemento africano pode não estar presente nesses dois paises, mas todos os demais ingredientes gritam nas duas vertentes andinas, fazendo desses povos que integram o Cone Sul, tão mestiços quanto peruanos, colombianos, panamenses, guatemaltecos, cubanos, dominicanos, etc. É essa mestiçagem que nos vincula a todos e foi dela que nasceu o espírito ibero-americanista. Somos antes de tudo greco-romanos, aculturados na Península Ibérica e por esta, colonizados em todos os sentidos. Somos também visigodos e mouros. Temos um fundo religioso cristão e nos estribamos nos mesmos fundamentos jurídicos. O índio nos ensinou a lidar com os segredos do nosso meio físico e nos revelou as qualidades alimentícias da mandioca, do milho, da batata, do abacate, da goiaba, da papaia, do caju, do maracujá… E nos disse que a farmácia é a mata. A hamaca ou rede de dormir nos enreda a todos na multiplicidade das fibras empregadas no seu fabrico e nos embala há 500 anos desde o planalto mexicano ao pampa gaúcho. Luis da Câmara Cascudo dedicou-lhe um livro inteiro e Edmundo da Luz Pinto dizia que no trópico é mais importante uma rede que uma estátua em praça pública. A hamaca bem pode ser o símbolo do ibero-americanismo. Somos todos da mesma América de Colombo e de Cabral, de Pizarro e de Duarte Coelho, de Las Casas e de Anchieta, de Manco Capac e de Araribóia, de Bolívar e de José Bonifácio, de Pedro II […] Read More

PRINCESA NA BERLINDA (UMA)

  UMA PRINCESA NA BERLINDA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima As coisas do trono têm nuances que engalanam o poder, tornando-o quase sobrenatural. A pompa dos rituais sacraliza os atos e cria uma aura muito especial ao redor do entronizado. A lei de 26 de agosto de 1826, determinava no seu artigo 1º que o ato solene do reconhecimento dos Príncipes Imperiais, como sucessores do trono, seria celebrado pela Assembléia Geral reunida no Paço do Senado, nos dia e hora que fossem da conveniência de ambas as câmaras. Ato contínuo a lei em exame prescrevia todas as medidas que haveriam de ser tomadas para a realização do ato solene, sem descurar da minuta ou fórmula do instrumento pelo qual se reconheceria o Príncipe ou Princesa Imperial. Correu o tempo. Em 1831 Pedro I abdicava e partia para Portugal, onde haveria de lutar pelos direitos ao trono português de sua filha mais velha, D. Maria da Glória, que se tornaria D. Maria II daquele reino. Em 30 de setembro de 1835, chegou ao Senado e foi logo aprovado nas duas primeiras discussões, o seguinte projeto: “A Assembléia Geral Legislativa decreta: 1º – A Senhora D. Maria II, Rainha de Portugal, tem perdido o direito à sucessão da Corôa do Império do Brasil. 2º – A Senhora D. Januária, filha legítima do senhor D. Pedro I, será reconhecida Princesa Imperial, na forma do art. 15 § 3º da Constituição e da lei de 26 de agosto de 1826 como sucessora do trono do Brasil, depois de S. M. o Imperador, o senhor D. Pedro II, e de sua legítima descendência. Paço da Câmara dos Deputados, 14 de setembro de 1835. Pedro de Araújo Lima, Presidente; Bernardo Belisário Soares de Souza, 1º Secretário; Manoel Paranhos da Silva Vellozo, 2º Secretário”. A terceira e última discussão do projeto de lei, deu-se a 3 de outubro de 1835 e como não houve reparos, coisa rara no legislativo brasileiro, a matéria foi aprovada e subiu à sanção da Regência. A lei nº 91 de 30 de outubro de 1835, firmada pelo Regente Diogo Antonio Feijó sacramentou o projeto vindo do legislativo. Urgia agora a convocação da Assembléia Geral, para que se lavrasse e se firmasse solenemente o instrumento que haveria de reconhecer a Princesa Januária como herdeira do trono brasileiro. Reuniu-se a […] Read More

LEGISLAÇÃO INSUFICIENTE

  LEGISLAÇÃO INSUFICIENTE Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Vem de longa data o mau hábito brasileiro de se começar largo um projeto e de se terminar estreito, quando este vira lei. Em 1845 a Câmara dos Deputados do Império votou uma resolução que determinava no seu artigo 1º: “O governo é autorizado a conceder carta de naturalização, isenta de quaisquer despesas ou emolumentos, aos estrangeiros que tiverem sido contratados como colonos, uma vez que o requeiram e tenham dois anos completos de residência no Império e provem ter bons costumes e viver de honesto trabalho”. A medida tinha enorme alcance, principalmente num país que dependia da mão de obra escrava para quase todos os serviços rurais ou urbanos e que tencionava investir pesado na colonização, para substituir com a velocidade possível o braço servil pelo trabalhador livre, responsável, qualificado, para quem a labuta fosse uma dádiva divina, uma benesse e não um terrível castigo. Como até hoje acontece, já que do Império à República sempre tivemos no legislativo um sistema bicameral, a resolução da Câmara foi encaminhada ao Senado, para ser submetida aos inelutáveis debates. Na ordem do dia da sessão de 27 de maio de 1846, os senadores iniciaram a primeira discussão do tema em apreço. Carneiro Leão, levantou os vários inconvenientes do artigo que se discutia e propôs, para maior agilização do processo e barateamento dos custos, de modo a tornar o projeto vantajoso, que ficasse determinado que todos os colonos que tivessem dois anos de residência no país, ficassem ipso facto considerados cidadãos brasileiros naturalizados. Foi então apoiada a seguinte emenda: “Os estrangeiros que tiverem sido contratados como colonos, e, que tiverem residido no Império dois anos completos e, dentro desse espaço não tiverem cometido crimes, serão considerados como cidadãos brasileiros naturalizados. – Carneiro Leão” Mais simples, abrangente e desburocratizado não era possível. O Senador Saturnino votou pelo artigo e contra a emenda, por entender que a naturalização deveria ser voluntária e não compulsória. O Visconde de Olinda votou pelo artigo, com as seguintes modificações: 1º – que fosse reduzido para um ano o prazo de residência; 2º – que os colonos mencionados fossem agricultores. Pelo adiantado da hora, a discussão ficou adiada, retomando-se o tema a 28 de maio. O Senador Vergueiro, resolveu não concordar nem com a posição de Carneiro Leão, […] Read More

SAINT HILAIRE PARA OS ÍNTIMOS

  SAINT HILAIRE PARA OS ÍNTIMOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima “Ontem li St. Hilaire as pinturas que ele elogia da Matriz do Sabará são do coro e não as da sacristia que aliás pareceram-me melhores. O vigário do Caeté ontem ao jantar disse que uma tia dele tinha sido amiga da irmã Germana milagrosa de que fala St. Hilaire”. “Ontem mostraram-me o pau de jacarandá a que se arrimava o irmão Lourenço e não Fr. quando St. Hilaire o viu aqui”. “Não tem aparecido carneiros e com razão diz St. Hilaire que “les paturages des montagnes de Minas Gerais conviennent parfaitement aux bêtes a l’aine”. St. Hilaire diz que há mais espécies vegetais na Serra do Caraça que na Piedade por ser aquela mais úmida. Na Caraça não dão as plantas tropicais. No alto da serra da Piedade St. Hilaire viu o morangueiro e ceraisto comum (Cerastium vulgatum) e o mouron dos pássaros (stellaria media) plantas européias”. Tais as referências colhidas ao acaso no diário do Imperador D. Pedro II quando de sua viagem a Minas Gerais em março / abril de 1881. Essas tomadas revelam o apreço que tinha o monarca pela obra de Saint Hilaire, que por certo o acompanhava em suas viagens, para que ele pudesse estabelecer parâmetros, fazer cotejos e até contestar informações veiculadas pelo atento e sagaz viajor francês de princípios do século XIX. Lástima que o Imperador não tenha transformado esse seu insistente interesse pela produção intelectual hilairiana em atos concretos no sentido de vulgarizar entre nós os trabalhos de Saint Hilaire dedicados ao universo físico e cultural do centro / sul brasileiro. Se tal tivesse ocorrido, certamente inúmeros males, alguns irreversíveis, teriam sido evitados por nós, principalmente no que toca à agricultura, ao extrativismo, ao meio ambiente e ao patrimônio natural. Lamentavelmente Saint Hilaire só foi traduzido para o português, quando já iam adiantados os novecentos e, mesmo assim, segue sendo um ilustre desconhecido no Brasil, já que de uma parte de sua obra só tomam conhecimento as rodas fechadas de intelectuais, que ainda assim pouco sabem da biografia do autor, e, do seu meio de origem. No arquivo do Departamento do Loiret, sediado em Orleans, França, estão papéis que interessam ao curriculum vitae de Auguste François Cesar Provensal de Saint Hilaire. Sob o nº B 59, existem […] Read More

FELIZ ADENDUM À GEOGRAFIA PETROPOLITANA

  FELIZ ADENDUM À GEOGRAFIA PETROPOLITANA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Julio Ambrozio sem ser médico, tem um dos bisturis mais afiados de quantos já pintaram nestas serras nos últimos cinqüenta anos. Maneja-o com enorme destreza e vai fundo nos problemas, sem ligar a conveniência ou pruridos de quintal, alimentadores dos conchavos domésticos, tão nocivos ao verdadeiro conhecimento nos vários planos da elaboração humana. A santa inquisição tão viva ainda entre nós, jamais contaminou a alma crítica e desfronteirizada de Julio Ambrozio, que mercê de uma boa dosagem de fluidos campistas, segue incólume a psico-sociologia petropolitana no contexto da geografia deste torrão fluminense. Num romance que vai aos intestinos da cidade – No Sereno do Mundo – Ambrozio fala da cloaca O Piabanha, do mundinho desbotado de 16 de Março, das servidões morro acima, trazendo à luz do seu argumento central, temas que merecem debates e profunda investigação, o que nenhum instituto cultural desta urbe ousou ainda fazer, por relaxamento, por preconceito, por privilegiar muita vez assuntinhos em detrimento daquilo que condiciona o comportamento de um povo e que reflete as maneiras de ser, de pensar e de agir da gente que se insere no espaço físico-geográfico chamado Petrópolis. Entre a Esfinge, escrito no princípio do século por Afranio Peixoto, romance em que a primeira parte se desenvolve nestas serras em plena belle époque e NO SERENO DO MUNDO, há um abismo, menos pelo enorme tempo que os separa e muito mais pela distância entre a frivolidade do adventício em vilegiaturas na Avenida Koeler, presente no primeiro e a dura realidade de uma servidão no Valparaiso, flagrante no segundo. A “Geografia Petropolitana” é o próximo passo de Julio Ambrozio na sua escalada em busca do perfil de uma urbe insólita, único caso no Brasil em que tiveram que conviver entre vales estreitos e nos limites dos quarteirões, a Côrte Monárquica e republicana e a colônia, senzala branca no conceito de Peter Welper ou de olhos azuis, conforme Gilberto Felisberto Vasconcellos, o sociólogo do de repente. E, na tangente do ruço e do suicídio de Stefan Zweig, Ambrozio exalta o mineiro na formação étnica de Petrópolis. É o ovo de Colombo. Ninguém havia pensado nisso antes. Nem Alcindo Sodré, nem Paulo Monte, nem Carlos Maul, nem Paula Buarque, nem Antonio Machado, nem os Fróes. A preocupação com […] Read More

AURELIANO COUTINHO – PRÓS E CONTRAS

  AURELIANO COUTINHO – PRÓS E CONTRAS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Há duzentos anos, nascia em Itaipu, hoje atraente bairro de Niterói, Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho, que mais tarde, quase in extremis, receberia do Imperador D. Pedro II o título de Visconde com Grandeza de Sepetiba. Estudou em Coimbra; foi prócer do Império; Senador e Presidente de sua Província entre 1844 e 1848. Morreu na capital fluminense em 1855. Tais os dados marcantes da vida de um incontestável estadista, com enorme folha de serviços prestados à pátria e especialmente à Província do Rio de Janeiro, tendo inclusive o seu nome ligado indelevelmente a Petrópolis. Porém, Aureliano, à testa do governo fluminense, estudado à luz de seus relatórios presidenciais, revela por vezes uma personalidade um tanto contraditória, ora obrando com extrema simplicidade e clareza, demonstrando profundo conhecimento de seu torrão de origem e dos males que o afligiam, ora elaborando no sentido do fantasioso, do hiperbólico, como se estivesse cego diante da realidade palpável. E como comemorar também é criticar, mormente quando a perspectiva temporal permite uma visão de corpo inteiro do homenageado, depuradas todas as paixões, impõe-se o estudo frio e sincero da personalidade de Aureliano Coutinho na condução do governo da Província do Rio de Janeiro, no aurorecer do segundo reinado. Por carta imperial de 1º de abril de 1844, foi nomeado para conduzir os destinos de sua terra natal, tendo deixado a presidência a 3 de abril de 1848. Uma de suas grandes iniciativas foi, através de uma circular enviada às várias câmaras municipais da Província, tentar aferir os anseios e carências das comunas fluminenses em meados dos anos quarenta do século passado. E, as respostas a esse apêlo dão bem um diagnóstico do estado de estagnação e penúria em que viviam os nossos municípios naquela época. No relatório apresentado à Assembléia Provincial em 1º de maio de 1846, o futuro Visconde de Sepetiba deu a conhecer àquela corporação o resultado de sua pesquisa e fê-lo, fazendo de antemão comentário judicioso que valia crítica ao sistema reinante por força da bitoladora de 1824, pouco abrandada, no que concernia às províncias e aos municípios, pelo Ato Adicional de dez anos depois. Dizia ele: “Ou seja pela pouca renda desses corpos meramente administrativos, ou pela dificuldade de se reunirem frequentemente os seus membros, […] Read More

DOIS TRIOS… DOIS DESTINOS

  DOIS TRIOS … DOIS DESTINOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Theobaldo Costa Jamundá é pernambucano de origem, mas catarinense por opção. Vive em Blumenau há muitíssimos anos e, estudioso que é da história, do folclore e da etno-sociologia, tem obra suculenta sobre a região que elegeu para armar sua tenda. Já está na 2ª edição seu livro “Kolonie Blumenau dos Três Doutores” que na sua primeira parte estuda aquilo que ele chama “Trio Amigo da Mata”, que nada mais é que o trio fundamental responsável pelo surgimento e pelo deslanche da colônia germânica do Itajaiaçu. Jamundá se refere a Herman Blumenau, a Fritz Muller e a Emil Odebrecht e ao papel que cada um desempenhou na urdidura de um projeto, que alcançaria pleno sucesso, segundo as metas propostas. O tema fez-me refletir sobre Petrópolis, que tem também suas origens apoiadas num tripé, formado pelo jovem Imperador D. Pedro II, pelo experiente Mordomo Paulo Barbosa da Silva e pelo talentoso e pertinaz Major de Engenheiros Júlio Frederico Koeler. Mas se lá e cá há uma coincidência no número de partícipes no jogo de cena, o mesmo não ocorre com algumas das tendências que nortearam cada uma das colônias, e, nem o perfil dos que criaram Petrópolis e Blumenau obedece às mesmas características. Antes de mais nada, Petrópolis nasceu antes da Revolução de 1848, na França e no mundo germânico, e Blumenau, logo depois. Alvitra Renato de Mello Vianna, ao apresentar o livro de Mestre Jamundá: “A Revolução Democrática de 1848 na Alemanha, sufocada pela nobreza, forçou alguns de seus líderes e simpatizantes a fugirem daquele país. Os imigrantes que vieram antes eram predominantemente das regiões agrícolas e pobres da Alemanha. Faltava-lhes a cultura para conseguir se impor e obter renome além fronteiras. Mas Blumenau, fundada em 1850, teve a felicidade de receber um punhado de homens capacitados, não só a arrancar do solo o sustento de seus familiares, mas também com a competência para angariar a admiração e o respeito que só são devotados àquelas comunidades organizadas dos povos ordeiros e progressistas, que sabem perfeitamente o que querem e lutam tenazmente para consegui-lo”. Afirma Jamundá que os integrantes da Colônia Particular do Dr. Blumenau aprenderam com seus líderes, desde cedo, a ver a mata como aliada e não como inimiga. Por isso eles a devassaram, para […] Read More

D. JOÃO E OS PORTOS DO RECÔNCAVO FLUMINENSE

  D. JOÃO E OS PORTOS DO RECÔNCAVO FLUMINENSE Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Laurenio Lago (Anuário do Museu Imperial, nº 7, 1946), num artigo intitulado “Excursões do Príncipe Regente D. João na Capitania do Rio de Janeiro (1809)”, informa que nos meses de junho e julho daquele ano, o futuro Rei D. João VI empreendeu duas pequenas viagens ao recôncavo fluminense, tocando em dois pontos fundamentais dele, por serem portas de entrada da chamada Serra Acima. A primeira foi direcionada à povoação de Nossa Senhora do Desterro de Tambi, pertencente na altura à freguesia de Santo Antonio de Sá, sede do município do mesmo nome, depois deslocada para Santana do Japuíba e mais tarde para Cachoeiras de Macacu, cidade fluminense ao pé da serra de Friburgo. Tambi, estava, segundo Laurenio Lago a 200 braças do rio Macacu (algo em torno de 500 metros), pelo qual se chegava aos portos do Sampaio e das Caixas, de onde se tomava a direção de Itaboraí, prolongando-se a viagem no rumo da vertente goitacá, ou da de Cantagalo, pela serra da Boa Vista, por caminho difícil e perigoso, de que deu conta John Mawe em seu minudente relato inserido nas “Viagens ao Interior do Brasil”. Hospedou-se D. João em casa do agricultor e Capitão de Ordenanças João de Souza Lobo, que foi de uma fidalguia extrema. Retribuindo as gentilezas recebidas, o Regente, por decreto de 24 de junho do mesmo ano de 1809, promoveu o capitão ao posto de Coronel de Milícias, agregado ao regimento do distrito de Macacu. Era uma praxe, que foi muito típica do Brasil monárquico. Retribuição de boa acolhida, de fidelidade, de serviços prestados, com títulos, honrarias, promoções, comendas… A segunda excursão realizou-se em julho de 1809 e teve como destino o Porto da Estrela, ponto de partida do Atalho do Caminho Novo para as Minas Gerais, em uso desde os anos vinte dos setecentos. Hospedou-se o Príncipe Regente na fazenda da Cordoaria de propriedade do Capitão do Regimento de Milícias do distrito de Inhomirim, João Antonio da Silveira Albernaz, que também recebeu como retribuição pela sua fidalguia, a promoção ao posto de Coronel. Aproveitando a estada na região da Estrela, D. João foi conhecer as obras da calçada de pedra no trecho da serra acima, que buscava o Córrego Seco. Os trabalhos haviam sido […] Read More

ATÉ QUE A MORTE OS LIBERTE

  ATÉ QUE A MORTE OS LIBERTE Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Já os latinos falavam de dias fastos e nefastos; de coincidências venturosas e desafortunadas; de destinos que se cruzam para celebrar a harmonia ou para lamentar a discórdia, a controvérsia, a contradição. Só a morte liberta de verdade os que, durante a vida, por longo ou curto espaço de tempo, experimentaram o cruzamento de seus caminhos para viverem o inferno na terra. E, por isso mesmo, muita vez, só a morte é a coincidência feliz. Prudente José de Moraes Barros, nasceu em Itu a 4 de outubro de 1841, dia consagrado a São Francisco de Assis. Portanto, veio ao mundo muito bem auspiciado. Perdeu o pai tragicamente. Um escravo o assassinou covardemente e pagou com a vida pelo crime que cometera. Estudando na capital da então província de São Paulo, chegou à Faculdade de Direito do Largo de São Francisco em 1859. Colou grau em 1863. Radicou-se então em Piracicaba, montando ali banca de advogado. Filiado ao Partido Liberal, ingressou na política e foi, no antigo regime, várias vezes, presidente da Câmara piracicabana e deputado provincial. Depois do histórico manifesto de 3 de dezembro de 1870, ingressou Prudente de Moares no Partido Republicano e tornou-se um dos principais organizadores da agremiação em São Paulo. E quando a república raiou no horizonte brasileiro, Prudente José de Moraes Barros foi logo nomeado governador de seu Estado natal. Foram onze meses de profícuo trabalho, que contemplou algumas reformas importantes em diversos setores da administração paulista. Presidente da assembléia nacional constituinte, encaminhou com sucesso a elaboração da primeira Carta republicana, afinal promulgada em 24 de fevereiro de 1891. Em junho daquele ano, foi eleito Vice-Presidente do Senado Federal. Em reunião de 25 de setembro de 1893, o Partido Republicano indicou-o, por unanimidade de votos, candidato à presidência da República, para cumprir o quatriênio a iniciar-se em 15 de novembro de 1894. Feriu-se o pleito a 1º de março desse ano e, apesar do desinteresse geral, as urnas consagraram os nomes do paulista Prudente de Moraes para Presidente da República e do baiano Manoel Victorino Pereira, para Vice. O Congresso Nacional, na sessão de 22 de junho de 1894, reconheceu e proclamou os eleitos, que tomaram posse a 15 de novembro, em melancólica cerimônia. Avultavam em Prudente de Moraes […] Read More