O MITO DOS COROADOS Sylvio Adalberto, a convite Em 1500, à época do descobrimento, calcula-se que havia, espalhados por todo o litoral, cinco milhões de índios. Cem anos depois, por volta de 1600, os maiores grupos do litoral, de predominância Tupi, já haviam sido exterminados. No final do século XVI o número de colonos portugueses, ainda não ultrapassava a casa de poucas dezenas de milhares, a que se somava um número crescente de escravos negros e um número indefinido, com enorme capacidade de multiplicação, representado pelos mestiços mamelucos, filhos de portugueses e outros europeus, com mulheres índias, que dentro em pouco seria a maioria da população. A partir dos cruzamentos, os filhos de europeus com índias, identificavam-se geneticamente com os pais e para todos os efeitos, sociais e culturais, não eram índios. Assim os índios brasileiros de tradição Tupi, começaram a desaparecer como povos, na primeira geração de mamelucos, que eram índios, em tudo, na fenotipia, nos hábitos e na língua, transformaram-se, historicamente, nos mais eficazes e irreconciliáveis perseguidores das populações indígenas. Três pestes contribuíram para acelerar o processo de extermínio: as guerras, entre eles e contra o colonizador, a miscigenação e a catequese. A essência da raça brasileira é tipicamente Tupi, a raça predominante. Tudo o que herdamos dos índios é proveniente dos tupis. Somos etnicamente uma raça tupinizada. Até 1725 a língua principal do Brasil era o Tupi, a lusitanização do país, a lingüística, só tem inicio com a chegada dos primeiros escravos. Acredita-se que os euscaras, ou bascos da Europa, provavelmente serviram de massa ancestral aos povos que dominaram esse território. A língua que falavam, o typi, cabeça de geração, é surpreendente. Chamam-se também tapuias, que quer dizer avós. A guerra entre tribos, sua principal ocupação e encarada com tal naturalidade, que fazia parte dos ritos e das celebrações religiosas, era a causa principal da subdivisão das tribos. Invadindo e conquistando, a lei era exterminar os varões e conservar as mulheres e crianças, que representavam a futura força militar e o poder econômico ativo da tribo. A escravidão da mulher já era anterior a todos os costumes e condição inseparável da vida, que a própria natureza, imoral por índole, justificava no panteísmo cruel que alicerça as religiões primitivas, inspiradas na força bruta e na guerra. As mulheres encontravam na tribo outras mulheres na mesma condição de escravas e faziam o serviço pesado, a que eram obrigadas, incompatível […] Read More
PRIMEIRAS BATALHAS ELEITORAIS EM PETRÓPOLIS (AS)
AS PRIMEIRAS BATALHAS ELEITORAIS EM PETRÓPOLIS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Quando Petrópolis se preparava para enfrentar suas primeiras eleições municipais, de modo a ingressar na vala comum das comunas fluminenses em pleno século XIX, a Câmara Municipal de Vassouras levantava a bandeira em busca de um pouco de arejamento na administração dos municípios da Província. Era uma tentativa que, no entanto, não encontrou receptividade nos meios políticos da época e que só lograria êxito depois de consolidada a República. Augusto Emílio Zaluar, sob o título “O Elemento Municipal”, deu conta do arroubo vassourense, na edição de 10 de janeiro de 1858 de “O Parahyba”. Vejamos os lances mais significativos dessa matéria: Tratava-se de um ofício dirigido pela Câmara de Vassouras a todas as demais câmaras fluminenses, solicitando o empenho de cada uma no sentido de obter-se dos poderes provinciais e centrais a municipalização dos impostos da décima urbana, patentes de aguardente, contribuição de polícia e consumo de gado. Cada um desses impostos, dizia Zaluar, “merece uma discussão séria, para provar-se a necessidade e conveniência de sua municipalização e essa discussão terá sem dúvida lugar mais tarde em nossas colunas”. O articulista, de certa forma, agitava a questão da autonomia municipal, que uma década mais tarde seria um dos postulados fundamentais da propaganda republicana. E cobrava o afastamento da política, ou melhor, dos interesses e das manipulações dos políticos, da administração dos municípios. A vida municipal não deveria estar ao alcance das barganhas dos grupos em disputa do poder nas esferas provinciais e nacionais. “Os interesses que as Câmaras Municipais são chamadas a promover, são de natureza a repelirem qualquer ingerência do político na sua direção e, tanto embaraço tem este achado em tomar assento nas cadeiras dos vereadores, que ciosa de tudo quanto possa ser utilizado em favor de seus manejos, lhes tem sorrateiramente cassado todos os mais importantes direitos, deixando-os quase reduzidos a simples administradores de obras, para as quais não há fundos”. E mais adiante: “… o que se quer é que o elemento municipal reganhe a ação que lhe compete”. A primeira Câmara a dar respaldo às postulações da de Vassouras foi a de Paraíba do Sul. Mas, apesar de tanto esforço, fosse na tribuna, fosse na imprensa, fosse nas trincheiras da burocracia, o marasmo e a politicalha impuseram-se cada vez mais […] Read More
CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO BISPO DE PALMAS, O PETROPOLITANO D. CARLOS EDUARDO SABÓIA BANDEIRA DE MELO
CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO BISPO DE PALMAS, O PETROPOLITANO D. CARLOS EDUARDO SABÓIA BANDEIRA DE MELO Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette Comemora-se este ano o centenário de nascimento de Dom Carlos Eduardo Sabóia Bandeira de Melo, primeiro bispo da Diocese de Palmas no Paraná. Dom Carlos Eduardo nasceu em Petrópolis, à Rua Paulino Afonso, em l º de julho de 1902, sendo seus pais o desembargador João Pedro Sabóia Bandeira de Melo e D. Carolina Pinheiro Bandeira de Mello. Dom Carlos Eduardo foi o último filho da numerosa família Sabóia Bandeira de Melo, estimadíssima nos meios sociais petropolitanos, já que seu pai aqui exerceu durante longos anos as altas funções de Juiz de Direito, “deixando seu nome impresso em milhares de corações pela probidade e nobreza de sentimentos, amplamente patenteadas no longo exercício de suas altas funções” (1). Caráter forte e esclarecido, o Dr. João Pedro Sabóia Bandeira de Melo sempre primou pela mais perfeita probidade e imparcialidade no exercício de sua magistratura. Católico convicto, fez grande amizade com os religiosos franciscanos de nossa cidade, chegando a pertencer à Ordem Terceira de São Francisco. (1) Tribuna de Petrópolis, 09 de março de 1948. Dom Carlos Eduardo perdeu o pai com apenas quatro anos de idade e bem cedo sentiu sua inclinação para a vida religiosa, ingressando na Ordem Seráfica. Assim, em 10 de fevereiro de 1911, ingressou no Seminário Seráfico Santo Antônio, em Blumenau, Santa Catarina, onde em seis anos concluiu o Ginásio, entrando em seguida para o noviciado da Ordem Franciscana em Rodeio, no mesmo Estado. Em seguida cursou Filosofia no Convento Bom Jesus, em Curitiba, e logo após Teologia no Convento dos Franciscanos, em Petrópolis, cidade onde foi ordenado sacerdote, em 4 de janeiro de 1925, por Dom Agostinho Benassi, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Foi professor e prefeito do Seminário Seráfico de Rio Negro no Paraná e coadjutor e pregador nas paróquias de rio Negro e Mafra, em Santa Catarina. Eleito definidor provincial da Província da Imaculada Conceição no Brasil, encontrava-se no exercício destas funções, quando, a 1 º de agosto de 1936, foi nomeado administrador apostólico da Prelazia do Senhor Bom Jesus da Coluna dos Campos de Palmas, pelo Papa Pio XI. Foi o segundo prelado de Palmas que abrangia uma área de aproximadamente trinta mil quilômetros, onde habitavam cerca de cem mil almas, entre […] Read More
HOMENAGEM A PEDRO RUBENS
HOMENAGEM A PEDRO RUBENS Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira Repentinamente a palavra da comunicação coloquial e escrita falha inexoravelmente. Por vezes nem o balbucio imperceptível ao ouvido humano sai do imponderável silêncio gelado, o mesmo das alturas do espaço infinito sem atmosfera. Os dedos febris que a mocidade exercitava em rabiscos de caligrafia, que em seguida tomaram de assalto as engenhocas de escrever, e que hoje dedilham os teclados do equipamento informático, não conseguem dobrar as falanges, coitadas, enrijecidas pelo sentimento profundo de espanto e perda total. O vasto dicionário da língua torna-se impotente na busca da terminologia adequada à transmissão de um sentimento pungente que vem lá da recordação de dias de vida e de felicidade, de amor e companheirismo, de dignidade, firmeza e elevado sentimento de fraterna amizade. Quisera encontrar as palavras mais ternas, mais lindas, para falar de você, meu leal amigo, meu sensato companheiro de jornadas profissionais, meu exemplo de coragem e de vida deitada ao próximo sem vacilações ou pensamentos negativos. Se as tivesse agora tentaria dizer que Pedro Rubens Pantolla de Carvalho, que nos deixou na noite de 19 de abril, traduzia o cidadão perfeito, de maravilhosa alma cristã, de sentimentos nobres, de criatura humana acima do trivial limite definidor da bondade magnânima de um coração pronto para servir… Ele excedia qualquer conceituação de lealdade e de amor ao próximo. Pedro Rubens entrou em minha vida no primeiro dia de julho do ano de 1960. É ele, amigo querido, que narra esse encontro em um carta recente que trocamos pela Internet: “Foi assim e é assim desde os meus primeiros momento de trabalho no saudoso Berj quando, naquele dia ensolarado, mas bastante frio, iniciei-me na carreira de bancário através de seus ensinamentos. Daí para a frente, a coisa funcionou mais ou menos como a “corda e a caçamba”. E você, meu primeiro amigo da primeira hora, agindo com sua liderança nata, sempre me empurrando para a frente, fosse no Banco ou fora dele. O tempo rolou. Muitos relógios quebraram, mas de nada adiantou: sempre havia um contando as horas. Chegou a hora da família. Construímos as nossas. As responsabilidades aumentaram pois os filhos não ficam eternamente crianças. E, de repente, diante do espelho, damos conta dos cabelos brancos. Fim de linha. Aposentadoria que chega, mas o trabalho não pára. Aqui e ali, sempre […] Read More
AMANHECER DO SISTEMA VIÁRIO FLUMINENSE (O)
O AMANHECER DO SISTEMA VIÁRIO FLUMINENSE Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Uma das primeiras, senão a primeira legislação sobre temas viários no Império do Brasil, foi a lei de 29 de agosto de 1828, votada pela Assembléia Geral e sancionada por D. Pedro I, que estabelecia em síntese o seguinte: 1º – que as obras que tivessem por objeto promover a navegação dos rios, abrir canais, ou construir estradas, pontes calçadas ou aquedutos, poderiam ser feitas por empresários nacionais ou estrangeiros, por si, ou através de companhias; 2º – que as obras a serem executadas na província da capital do Império, ou que interessarem a mais de uma província, estariam a cargo do Ministério do Império; as que fossem privativas de uma só província, caberiam ao seu Presidente em Conselho; as que se dessem no termo de uma cidade ou vila, seriam da alçada da respectiva Câmara Municipal; 3º – que a cada projeto de obra, deveria corresponder uma planta, um plano e o orçamento das despesas, elaborados por engenheiro ou pessoa que entendesse do assunto, na falta daquele; 4º – que a planta e o orçamento seriam afixados nos lugares públicos, de maneira que os interessados pudessem fazer observações e apresentar reclamações pertinentes ao projeto; 5º – que aprovada a planta, imediatamente abrir-se-ia concorrência pública, dando-se preferência a quem maiores vantagens oferecesse; 6º – que escolhido o empresário, lavrar-se-ia o contrato. Esta era por conseguinte uma lei geral, anterior ao surgimento no cenário brasileiro da Província do Rio de Janeiro, já sem o chamado Município Neutro da Corte, o que somente ocorreu em 1834, depois do Ato Adicional. Em 1835, instalava-se com governo próprio a província fluminense, na sua capital, a Vila Real da Praia Grande, depois Imperial Cidade de Niterói. Das primeiras preocupações do Presidente de Itaboraí e de seus sucessores mais imediatos, foi justamente o sistema viário de uma das mais importantes unidades do Império, em plena expansão da cultura cafeeira. A necessidade do escoamento rápido, eficiente, seguro e a baixo custo da exuberante produção agrícola provincial, impunha um sistema viário inteligente, que em alguns casos, haveria de integrar a periferia de Minas e São Paulo ao Rio de Janeiro, pelos mesmos interesses econômicos. A lei nº 35 de 6 de maio de 1836, que tratava do orçamento da Província para o exercício […] Read More
NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA
NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima No momento em que os chamados revisionistas da História pretendem subverter a ordem das coisas e acanalhar personagens consagradas pelo julgamento sereno de muitas gerações privilegiadas pela perspectiva temporal, para ao mesmo tempo exaltar badamecos oriundos de uma estrumeira qualquer, vale uma reflexão sobre o transcurso neste ano de 1998, do bicentenário do nascimento de D. Pedro I. Não importa o que pensem os tais revisionistas, quase sempre motivados por ideologias pífias e superadas, de que se valem para a satisfação de seus próprios complexos e frustrações. Petrópolis, mais do que qualquer outra cidade brasileira, tem todas as razões para não deixar passar em branco a efeméride, que infelizmente não empolga os portugueses e, ao que tudo indica, também não tem chamado a atenção, no grau em que se esperava, da nossa gente. D. Pedro, quando ainda Príncipe Regente, encantou-se com estas terras, desde que cruzou em março de 1822, na memorável excursão que empreendeu à Vila Rica, para ali fazer serenar os ânimos, exaltados pela efervescência política daquele delicado momento. Temperamental, desabrido, brusco, incoerente, como todo epiléptico, D. Pedro decidiu a viagem de uma hora para outra. Saiu de S. Cristóvão com um mínimo necessário de serviçais e assessores. Simples, sem se preocupar com as agruras do percurso de cerca de 90 léguas, sem cogitar de conforto nos pousos e de recepções pomposas, partiu o futuro Imperador de um golpe e, no mesmo dia em que deixara o Rio de Janeiro, chegou à Fazenda do Padre Corrêa, onde pernoitou. Era a fazenda do Padre Antonio Tomaz de Aquino Corrêa o grande chamariz da chamada Serra Acima, na época em que se deram tais sucessos. Louvada por todos os viajores estrangeiros que por ali passaram no início do século passado, apresentava boas condições de conforto, na simplicidade da casa rural brasileira, ostentando bela produção de frutas e de mantimentos, que faziam o regalo de viajores e tropeiros. D. Pedro não poderia ter escolhido melhor sítio para a sua primeira noite nessa significativa jornada pela Estrada Real de Minas em demanda da Vila Rica do Ouro Preto, com digressão por São João e São José del Rei. E, talvez, naquele primeiro encontro com as terras banhadas pelo Piabanha, na fruição da amenidade do clima e da salubridade reinante […] Read More
RIO BRANCO E A EPOPÉIA DO ACRE
RIO BRANCO E A EPOPÉIA DO ACRE Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette José Maria da Silva Paranhos Júnior, nasceu no Rio de Janeiro, na manhã do dia 20 de abril de 1845, sendo seus pais José Maria da Silva Paranhos, engenheiro militar, jornalista e destacado político do 2 º Reinado e D. Tereza de Figueiredo Rodrigues de Faria Paranhos. Estudou no Imperial Colégio Pedro II, onde, desde cedo, manifestou grande predileção por estudos de geografia, história e desenho, “chegando a compor singelas paisagens, retratos ou caricaturas, a bico de pena, em que chegou a ser bem hábil” (1). (1) BARROS E VASCONCELLOS. Mario de. O Barão do Rio Branco. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1954, p.11 Concluídos seus estudos preparatórios, matriculou-se, em 1861, na Faculdade de Direito de São Paulo, transferindo-se já no 4 º ano para a Faculdade de Direito do Recife, “porque o pai queria que ele conhecesse também o norte do país” (2), onde bacharelou-se em 1866, aos vinte e um anos de idade. (2) RIO BRANCO, Raul do. Reminiscências do Barão do Rio Branco. Rio, 1948 Ainda estudante de Direito escreveu uma memória histórica, intitulada “Esboço biográfico do General José de Abreu, Barão do Serro Largo”, um dos heróis das lutas no Prata, ensaio que lhe valeu a entrada no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, na qualidade de sócio efetivo. Foi professor interino do Imperial Colégio Pedro II, onde lecionou Geografia e História do Brasil, de 23 de abril a 18 de junho de 1868 e Promotor Público, em Nova Friburgo, de 24 de dezembro de 1868 a 12 de fevereiro de 1869, antes de tornar-se deputado geral pela Província de Mato Grosso. Na Câmara destacou-se nos debates sobre as dificuldades do Brasil no Prata e também nos debates sobre a questão abolicionista. Em 1873, adquiriu, com alguns companheiros, o jornal “A Nação”, no qual escreveu magníficos artigos sobre assuntos diplomáticos, até ser nomeado, a 27 de maio de 1876, pela Princesa Isabel, então exercendo a Regência do Império, Cônsul Geral em Liverpool, tendo publicado na ocasião um “completo relatório sobre a navegação e comércio entre o Brasil e os portos de dependência do Consulado Geral do Império em Liverpool, no período de 1876-1877”. Em seguida foi nomeado Delegado do Governo Brasileiro na Exposição Internacional de São Petersburgo, desincumbindo-se tão bem no desempenho desta missão, […] Read More
FREI LEÃO E A IGREJA DE SÃO SEBASTIÃO
FREI LEÃO E A IGREJA DE SÃO SEBASTIÃO Jeronymo Ferreira Alves Netto, Associado Titular, Cadeira n.º 15 – Patrono Frei Estanislau Schaette Ao ensejo das comemorações de mais um aniversário da fundação da Igreja de São Sebastião, no bairro do mesmo nome, é de plena justiça evocar a memória de Frei Leão Hessling, sem dúvida o grande animador de sua construção. Nascido a 21 de novembro de 1897, na Alemanha, veio para o Brasil ainda moço, fazendo seus estudos iniciais, de 1912 a 1918, em Blumenau, Santa Catarina, sendo ordenado sacerdote a 10 de agosto de 1925, em Petrópolis. Exercia suas atividades sacerdotais em Santa Catarina, quando foi acometido por grave enfermidade, vindo, por ordem de seus superiores, convalescer em nossa cidade, no Convento do Sagrado Coração de Jesus. Recuperado, foi-lhe confiada a 21 de março de 1929, a assistência religiosa no Santuário de Santo Antônio do Alto da Serra, então simples Capela, já que sua elevação à dignidade de Paróquia, só ocorreu em 1933, diga-se de passagem, graças aos cuidados que lhe dispensou o zeloso franciscano. Frei Leão desenvolveu intensa atividade pastoral, sendo responsável pela fundação da Liga Católica Jesus, Maria, José, em 8 de outubro de 1933; da Pia União de Santo Antônio; da Escola Paroquial e do Ambulatório de Santo Antônio, que tantos benefícios prestou à população desprovida de recursos. Incansável, percorria todos os recantos de sua imensa Paróquia, que inicialmente abrangia o território que gerou mais tarde a Paróquia de São Norberto e as regiões do Indaiá, Cremerie, Independência, Quarteirão Worms, Grota Funda, Morin, Meio da Serra e outros recantos mais afastados, prestando assistência material e religiosa aos necessitados e enfermos. Em 1953, iniciou uma obra que demonstra muito bem seu espírito empreendedor e sua confiança na proteção divina: a construção da igreja de São Sebastião, no bairro então denominado Indaiá. O citado bairro tem seu desenvolvimento ligado à construção da rodovia Washington Luiz, que liga Petrópolis ao Rio de Janeiro, já que a afluência de trabalhadores para atender à necessidade de mão-de-obra para a construção da mencionada rodovia, foi o grande fator responsável pela ocupação daquela região, antes um pequeno recanto conhecido como Cortiço. Em abril de 1929, segundo ele mesmo informa, Frei Leão Hessiling, então Capelão do Santuário de Santo Antônio do Alto da Serra, foi chamado para prestar assistência a um doente que havia contraído febre na Baixada. A partir daí, toda aquela […] Read More
PONTE DA SERRARIA (A)
A PONTE DA SERRARIA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima No começo era o caos. A travessia dos rios fazia-se em canoas, em pinguelas que nem de longe lembravam as pontes, depois nas famosas barcas de passagem. Exceções havia, é lógico: em Pernambuco, mais especificamente no Recife, as pontes chegaram com os holandeses; em São João del Rei, Minas Gerais, tais obras de arte, em pedra e cobrindo o estreito curso d’água chamado Lenheiro, vieram com o esplendor da mineração no século XVIII, a centúria mineira por excelência. Depois do verdadeiro descobrimento do Brasil, isto é, da chegada da Família Real ao Rio de Janeiro, onde permaneceu por treze anos, teve início o ciclo das pontes com superestrutura e soalho de madeira, que em breve tempo começaram a sofrer o assédio daquelas com superestruturas metálicas, que se firmaram e se disseminaram já no fim do século XIX, e, princípios deste que está por findar-se, até que reinasse o tempo das pontes e viadutos de concreto, cada vez mais sofisticados. Tal a resenha histórica das nossas pontes, tão úteis na travessia dos incontáveis cursos d’água que cruzam nas mais diversas direções essa interminável vastidão brasileira. Bem elucidativo é o decreto de 20 de fevereiro de 1818, que tratando de uma das principais vias de comunicação da capital do Brasil – Reino com a Província de Minas Gerais e adjacências, consignou nas consideranda: “Constando na minha real presença os incômodos que sofrem os viajantes na passagem dos rios Paraíba e Paraibuna, sendo esta feita em barcas ou canoas, principalmente no tempo das cheias destes rios, e querendo facilitar e promover as recíprocas comunicações dos meus vassalos para bem do comércio e agricultura, que não podem prosperar no interior deste vasto Reino sem que se ponham em bom estado as estradas e se construam pontes nos rios que as separam…” Era o governo de D. João VI sensível aos problemas que afligiam o Caminho das Minas Gerais pelos futuros chãos de Petrópolis, então pertencentes às freguesias de Inhomirim e de São José da Serra (depois do Rio Preto). E dessa preocupação, mormente no que concernia ao cruzamento dos rios Paraíba e Paraibuna, nasceu o decreto em epígrafe, que determinava: “Sou servido ordenar que o produto do imposto que até agora se tem cobrado para a obra da Serra da Estrela, […] Read More
COM O BICO N’ÁGUA MORRENDO À SEDE
COM O BICO N’ÁGUA MORRENDO À SEDE Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Não há nesta velha província fluminense região mais bem provida de cursos d’água que a baixada campista. Entretanto, toda essa riqueza hidrográfica praticamente de nada serviu ao longo dos séculos para o desenvolvimento daquela área aparentemente privilegiada. Faltaram, ao fim e ao cabo, recursos e vontade política. A história tem demonstrado que a tecnologia aliada à determinação administrativa é capaz de sobrepujar os grandes obstáculos oferecidos pela natureza. Estão aí os canais de Suez e do Panamá, para confirmar essa verdade inelutável. Num relatório presidencial do ano de 1860, Inácio Francisco Silveira da Motta, então à frente dos destinos fluminenses, afirmava, ao tratar das vias navegáveis de sua província, que Campos dos Goitacazes contava com as seguintes alternativas: 1º – o rio Paraíba, de sua foz até São Fidélis, por onde podiam transitar canoas, barcos e pequenos vapores. Entretanto, as muitas cachoeiras fidelenses, onde justamente o terreno sofre enorme enrugamento, impediam a navegação normal rio acima. Apenas algumas canoas ousavam romper os obstáculos naturais, atingindo a Aldeia da Pedra (Itaocara) e mesmo o Porto Velho, no município de Cantagalo. 2º – o rio Muriaé, afluente do Paraíba pelo lado norte, com apenas 8 léguas (cerca de 50 kms) aproveitáveis para o curso de barcos e canoas. 3º – o rio Preto, afluente do Paraíba do lado sul, com 4 léguas (em torno de 25 kms) navegáveis por canoas no tempo das águas. 4º – os Dois Rios, também tributários do Paraíba pelo sul, permitindo precaríssimo trânsito a pequenas embarcações. 5º – o rio Pomba, também dificultado pelas cachoeiras. 6º – o rio Itabapoana, navegável da foz até 12 léguas (cerca de 75 kms) rio acima. 7º – a lagoa Feia, permitindo navegação em toda a sua circunferência, onde desemboca o rio Ururaí, percorrido por canoas até a lagoa de cima, que também é toda navegável. 8º – o rio Imbé, tributário da lagoa de cima, que carecia na altura de alguns melhoramentos, para permitir o escoamento dos produtos do então vasto município de Cantagalo. 9º – o rio Urubu ou Quimbira, que apesar de curto podia prestar-se à navegação por canoas de médio porte. 10º – o rio Macabu, que fazia a divisa dos municípios de Campos e Macaé, navegável por canoas até os […] Read More