TERTÚLIAS DE HUMBERTO DE CAMPOS E MANOEL BONFIM EM CORRÊAS

  Corrêas, janeiro de 1928. No Hotel D. Pedro, instalado no velho casarão do Padre Corrêa, dois grandes intelectuais brasileiros, estão alí hospedados em busca de tranqüilidade e refrigério. São eles, o maranhense Humberto de Campos, membro da Academia Brasileira de Letras, dono de enorme bagagem literária e o sergipano Manoel José Bonfim, historiador, pedagogo e sociólogo, com incursões pelo americanismo e pelas raízes nacionais. Corrêas dos anos vinte, não era o arrabalde pretencioso e acanalhado de hoje, onde pedestres e veículos de toda a espécie disputam a exiguidade dos logradouros e a única ponte que liga a povoação à estrada União Indústria. Em 1928, aquilo era um lugar de repouso e de cura, com suas chácaras aprazíveis, seu comércio modesto, sua população rarefeita, seu silêncio profundo, apenas cortado pelo ruido do trem do Norte, que ligava Petrópolis a Três Rios e a São José do Rio Preto. Antonio Machado, que fora comerciante de fumo no Rio de Janeiro, estabelecera na estrada setecentista do Padre Antonio Thomaz de Aquino Corrêa, o hotel D. Pedro, que depois transformar-se-ia em sanatório, dada a grande procura do clima de Corrêas pelos tuberculosos, sempre esperançosos de cura, numa época em que esta somente se operava por milagre. Pois foi justamente nesse hotel D. Pedro, que Humberto de Campos e Manoel Bonfim, trocaram figurinhas nos dias 16 e 17 de janeiro de 1928. Humberto Campos, nascido no Maranhão em 1886, era já autor consagrado, com vasta bibliografia dos contos humorísticos à crítica literária. Ademais, ele era dado a registrar suas memórias, genêro aliás que o haveria de consagrar post mortem, com a divulgação do seu “Diário Secreto”. Foi na primeira série de sua “Crítica”, livro de 1933, que encontrei o registro de sua tertúlia com Manuel Bonfim, na aprazibilidade coreense, num ensaio sob o título “Nossa Formação Étnica”. E Humberto Campos começa assim o seu discurso: “Consultando o meu diário inédito, relativo ao ano de 1928, encontro essas anotações: Segunda feira, 16 de janeiro – Entre os hóspedes do hotel ( Hotel D. Pedro em Corrêas), um há tão bisonho quanto eu, mas que toma a iniciativa de aproximar-se de mim. É Manuel Bonfim, sociólogo e historiador, autor d’América Latina, obra cuja documentação histórica me espantou, quando há vinte e dois anos, adolescente ainda, alí no interior do Ceará. Humberto de Campos passa então a descrever o pedagogo e historiador sergipano, nascido em Aracajú em […] Read More

MORTE DO SÍTIO (A)

A MORTE DO SÍTIO Francisco de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima   De Petrópolis a Barbacena, somos todos tributários do Caminho Novo, elos dessa mesma corrente que há mais de duzentos anos nos une de maneira total e irreversível. Lamentavelmente, entretanto, essa linha mestra que nos aglutina a todos, não tem merecido, da parte dos pesquisadores e estudiosos, a atenção que merece. É pequena ainda a bibliografia referente a tão instigante tema. Não querem, os que pensam insuladamente, extrapolar os limites de seu quintal e consideram mesmo, desperdício de tempo e de espaço em jornais e livros, qualquer tipo de elaboração de caráter mais abrangente, abarcante, ecumênico. A cultura não é municipal, mas universal com cheiros, sabores, contornos, regionais. Faz parte – propus num dos números da revista do I.H.P. – o estudo integrado, sistemático e metódico das histórias de Petrópolis e de Juiz de Fora, tendo reiterado a proposta quando do Colóquio comemorativo do sesquicentenário da colonização germânica nestas serras, em junho/julho de 1995. Agora, um tema novo se nos apresenta, tema nacional, que tem origem em Santa Catarina, passa pelo Rio de Janeiro, para eclipsar-se nos arredores de Barbacena, o que poderia ter ocorrido em Corrêas, também reduto de tuberculosos, quando clima, cama e comida eram a base do tratamento. Mas Corrêas não tinha ainda um sanatório na verdadeira expressão do termo, quando se deram os fatos a serem aqui esmiuçados. O isolamento perfeito estava, então, numa das dobras da Mantiqueira, a cerca de 10kms de Barbacena, na direção da história Borda do Campo. E foi para lá que viajou em desespero de causa o poeta e escritor catarinense João da Cruz e Souza, das maiores expressões do simbolismo brasileiro, morto no Sítio, à época município de Barbacena, aos 19 de março de 1898. Tinha apenas 36 anos, já que completaria 37 anos aos 24 de novembro daquele ano. Seus biógrafos, ao tratarem do local de seu passamento, apenas mencionavam Sítio, sem entrar em maiores detalhes. Fustigado pelo vírus investigatório, vali-me do Dicionário Histórico – Geográfico de Minas Gerais de Mestre Waldemar de Almeida Barbosa e alí encontrei no verbete correspondente ao local em epígrafe: SÍTIO – Ver Antonio Carlos E foi o que fiz. ANTONIO CARLOS – “O povoado e estação do Sítio fazia parte do distrito de Bias Fortes, município de Barbacena. A capela do Sítio […] Read More

ALGUMAS COINCIDÊNCIAS

ALGUMAS COINCIDÊNCIAS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Quando Campos Sales encerrava seu quatriênio em fins de 1902, todos os que haviam exercido a suprema magistratura da República, na última década do século XIX, estavam mortos. Deodoro sucumbira roído de remorso e de ressentimentos, algum tempo depois daquele fatídico 23 de novembro de 1881, quando renunciara ao poder, depois do golpe de 3 daquele mês, em que fechara o Congresso, tornando-se ditador, a exemplo de tantos caudilhos hispano-americanos. O Marechal Floriano, morreu a 29 de junho de 1895, justo quando se comemorava o Jubileu de Ouro de Petrópolis, fato que a imprensa local ignorou entretida com os funerais do chamado consolidador da República, venerado na altura pelos próceres e defensores do novo regime, depois das radicalizações causadas pela Revolta da Armada e pela Revolução Federalista. Os que ocuparam a Presidência no quatriênio 1894/1898, morreram com diferença de dias, no final de 1902. Primeiro foi a vez do Vice, que esteve interinamente no poder quando o titular teve de afastar-se por motivos de saúde; em seguida foi este para o além, ambos sob o canto fúnebre da Tribuna de Petrópolis, mal saída dos cueiros. No dia 13 de novembro de 1902, dois dias antes de Campos Sales entregar o bastão a Rodrigues Alves, o periódico em tela abria espaço para chorar o Dr. Manoel Victorino Pereira, que dividira a presidência com Prudente de Moraes em meio às maiores turbulências e crises intestinas, tendo deixado inclusive má fama, quer pelo envolvimento num golpe que pretendia alijar o primeiro mandatário definitivamente do poder, quer por sua implicação no atentado que vitimara o Marechal Machado Bittencourt, logo depois do fim da Guerra de Canudos. Mas, como no Brasil todo morto vira santo, a folha citada, na indigitada edição, não fez por menos. E carpiu o defunto nesses termos: “Em pleno vigor da existência, a morte acaba de roubar à pátria e à República, um de seus mais proeminentes vultos: o ilustre baiano Dr. Manoel Victorino Pereira. Nestas curtas linhas, não nos ocuparemos em fazer a biografia do grande brasileiro; simplesmente, a Tribuna de Petrópolis, compartilhando da extraordinária dor, que acaba de ferir em pleno coração, a nação brasileira, vem, associando-se a todas as classes populares, que lamentam o triste acontecimento, derramar sobre o túmulo do grande apóstolo da ciência, do eminente […] Read More

SOBRE O MONUMENTO MILITAR BRASILEIRO DE PISTÓIA (ITÁLIA)

  Alocução proferida pelo Ten. Cel. Ref. Ivo de Albuquerque, a convite dos descendentes do senhor Embaixador Francisco D’Alamo Lousada, por ocasião da entrega ao instituto histórico de Petrópolis de documentos do arquivo pessoal de sua Exª, relativos à Inauguração do Monumento Militar Brasileiro de Pistóia. I – INTRODUÇÃO Constitui para mim honra singular a gentileza do convite formulado por meus diletos amigos, Dr. Luiz Cláudio e Dr. Carlos Eduardo D’Alamo Lousada, para proferir uma alocução alusiva ao Monumento Militar Brasileiro de Pistóia, como parte de cerimônia de entrega ao Instituto Histórico de Petrópolis de documentos extraídos do Arquivo Privativo de seu pranteado Pai, o Senhor Embaixador Francisco D’Alamo Lousada, a quem coube a responsabilidade pela orientação e pela execução daquela imponente obra de extraordinário significado por seu valor arquitetônico e por sua grandeza cívica. Seja-me permitido, inicialmente, externar meus agradecimentos ao digno Presidente desta Casa, Prof. Jerônimo Ferreira Alves Neto, pela aquiescência ao pedido de utilização desta tribuna por um velho soldado, cujo empenho maior reside em fazer reviver, no presente, os feitos, ensinamentos e exemplos de brasilidade legados por ilustres vultos e personalidades, através do culto a suas memórias. Este é o sentido da associação de idéias que pretendemos realizar, relacionando a atuação patriótica do Embaixador D’Alamo Lousada quando no exercício do cargo de representante do Brasil junto ao Governo da Itália, com a emoção que nos domina ao contemplarmos o Monumento Militar Brasileiro de Pistóia, Monumento Votivo, símbolo de reverência cívica à lembrança sempre viva do sacrifício supremo de nossos patrícios que se imolaram pela Pátria nos campos de batalha da Itália, durante a II Guerra Mundial. II – A EDIFICAÇÃO DO MONUMENTO O Monumento Militar Brasileiro foi erigido na área do ex-Cemitério Militar de Pistóia, tendo sido inaugurado em 7 de junho de 1966. A elaboração do projeto e sua execução estiveram a cargo do arquiteto oficial do Itamarati, Olavo Redig de Campos, por indicação e sob a supervisão direta do Embaixador D’Alamo Lousada. Inúmeras foram as dificuldades a serem vencidas para sua implantação, notadamente no que se refere à liberação de recursos orçamentários. Coube ao Engº Carlos Eduardo D’Alamo Lousada desenvolver, no Brasil, intensa atividade junto ás autoridades e personalidades do governo, de quem dependiam providências relativas à liquidação dos compromissos decorrentes da implantação do projeto. A atuação eficaz do Dr. Carlos Eduardo possibilitou a agilização das ações e o êxito final do empreendimento. Da […] Read More

JOAQUIM NABUCO

  A cadeira nº. 37, que humildemente ocupo, na Academia de Letras, por indicação e insistência dos saudosos amigos Mário Fonseca e Win Van Dijk, exalta a figura, com honra, sublimidade e de grandeza impar Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, talento e brilho de primeira ordem, que se firmou na tribuna parlamentar e popular, diplomata, escritor, destaque na crítica literária e na história política. Nasceu há 150 anos passados em 19 de agosto de 1849, em Pernambuco, onde também nasceu o grande Maestro João Paulo Carneiro Pinto, fundador da Escola de Música Santa Cecília, em 16 de fevereiro de 1893, ele nascido em 26 de junho de 1854, entidade que atualmente dirigimos e que persiste na sua trajetória idealística de ensinar música, graças ao idealismo de uns poucos, para a qual a cidade de Petrópolis, precisa dar sua inteira atenção e cooperação. Joaquim Aurélio Nabuco de Araújo, morreu em Washington, em 17 de janeiro de 1910, abrindo os olhos para o mundo em um engenho de açúcar chamado Massangana e sua infância foi marcada por um acontecimento que veio delinear, seu futuro de forma obstinada, cônscia de responsabilidade e segura determinação. Amamentado por uma mãe preta, sempre teve a acompanhar‑lhe os passos um pagem, contratado por seus padrinhos D. Ana Rosa Falcão de Carvalho e Joaquim Ferreira de Carvalho, que cuidava de todos os seus movimentos, além de receber um devotamento todo especial de seus padrinhos, que ficaram cuidando do menino, visto seus pais terem se mudado para o Rio de Janeiro, por ser o pai, político influente, senador do Império. Viveu Joaquim Nabuco, toda a sua infância no engenho Massangana, de propriedade de seus tios, e o fato que marcou a trajetória de sua vida se deu quando, sentado, no patamar da escadaria que levava ao interior da casa, absorto na contemplação da bela natureza, na movimentação de quantos viviam no local, do movimento dos carros de boi, vendo o ir e vir dos escravos, na faina de trabalho diário, ouvindo o trinar dos pássaros pousados nos galhos das árvores, pasmando‑se com a beleza das borboletas, riscando o céu com suas asas multicores e sentindo o vento roçar nos seus cabelos em desalinho, despertou‑lhe a atenção, os gritos de um pobre escravo, mais ou menos 20 anos, fugindo, esbaforido, tropeçando aqui e ali, para desviar‑se do azorrague de um severo capataz que, gritando pega‑pega, tentava atingir e impedir […] Read More

JOAQUIM NABUCO E O AMERICANISMO

JOAQUIM NABUCO E O AMERICANISMO Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima A perspectiva temporal que nos permite examinar com equilíbrio e isenção os fatos históricos, nos leva a divisar nos promissores horizontes do Novo Mundo, à véspera do 5º Centenário do Descobrimento do Brasil, três tipos distintos de americanismo: 1º – o que poderíamos chamar de macro americanismo; 2º – o pan-americanismo; 3º – o iberoamericanismo. O macro americanismo nasceu com a própria América. Que foram os vários cronistas dos tempos coloniais, sempre a esmiuçar tudo quanto o Novo Continente oferecia de exótico, de insólito, de curioso, de interessante, senão americanistas ? Americanistas foram Humboldt, Saint Hilaire, Maria Graham, o Príncipe Maximiliano Wied Neuwied e todos quantos por algum motivo, fossem de onde fossem se interessaram pela América, quer do ponto de vista político e econômico, quer no que toca a parte social e as suas múltiplas facetas culturais; quantos divulgaram os valores americanos; quantos refletiram e escreveram sobre a América, como um todo, do Alaska à Argentina. Tal a chama que vem animando há mais de um século os congressos internacionais de americanistas, desde o primeiro realizado em Nancy, na França, até o 49º que teve lugar em Quito, no Equador, em julho de 1997, estando o 50º marcado para o ano 2.000 em Varsóvia, Polônia. O pan-americanismo, veio à tona no fim do século XIX, como doutrina política de cunho muito lírico, cujas bases foram a bem dizer lançadas no 1º Congresso Pan-americano, realizado em Washington em 1889, justo quando o Brasil passava da Monarquia à Republica. Empolgava esse movimento a idéia de que a América, fosse anglo-saxônica, ibérica, francesa ou holandesa, tinha que buscar os necessários mecanismos que lhe permitissem a união, o congraçamento, e a defesa de seus interesses e de sua integridade, em face do colonialismo europeu e da ingerência de potências européias nos negócios americanos. Era uma doutrina de certo modo utópica, desenvolvida a partir do monroismo e que aos olhos de alguns críticos, principalmente aqueles da América espanhola, como Blanco Fonbona, Ruben Dario, Manuel Ugarte e outros, atribuia erradamente aos Estados Unidos o papel de protetor de todos, de papai grande, solução para os males e agressões eventualmente sofridos pelo Novo Continente. A História já havia demonstrado exatamente o contrário e ainda teria muito a contar para desfazer essa imagem […] Read More

PETRÓPOLIS E SUA MALOGRADA ANEXAÇÃO AO DISTRITO FEDERAL – I

  A Revolta de 6 de setembro de 1893, fazendo da baia da Guanabara espaço de manobra de parte da esquadra sublevada, deixou Niterói vulnerável à sanha revolucionária. O Presidente do Estado do Rio de Janeiro, José Thomaz da Porciuncula, não teve outra alternativa senão transferir a capital fluminense para Petrópolis, primeiro, em caráter provisório, segundo o veredicto da Assembléia Legislativa, em fevereiro de 1894, depois, definitivamente, em outubro do mesmo ano, seis meses após o término da Revolta, quando nenhuma razão justificava a permanência da capital no alto da serra da Estrela. Por quase dez anos, Petrópolis foi o centro do poder no Estado sob as presidências de Porciuncula, Maurício de Abreu, Alberto Torres e Quintino Bocaiúva. E foi justamente este último que se encarregou de levar a capital serra abaixo, depois de renhido pleito na Assembléia, reintegrando Niterói no seu antigo status de caput do Estado. É lógico que tal mudança não se deu sem traumas, sem frustrações, sem ressentimentos, sem perdas e ipso facto sem revanchismos. E houve uma agravante em todo esse quadro: a situação falimentar a que havia chegado o Estado do Rio de Janeiro no fim do desastroso governo de Quintino Bocaiúva, o que coincidiu com a revoada dos políticos no rumo dos novos ninhos niteroienses. O poder na esfera estadual passou a circular no eixo Campos, Macaé, Niterói, Resende, sob a batuta do novo chefe Nilo Peçanha, eleito Presidente do Estado para cumprir um mandato que começaria com muita esperança a 1º de janeiro de 1904. Outro aspecto relevante nessa lamentável circunstância, foi a reforma constitucional de 1903, que acabou por deflagrar um processo de transferência de tributos quando os municípios perderam para o Estado o Imposto de Indústrias e Profissões, tendo sido Petrópolis uma das grandes vítimas dessa nova ordem de coisas, dado que aqui estava situado um dos maiores parques industriais da terra fluminense e um de seus mais expressivos centros de atividades profissionais. Evidentemente que uma crise desse tamanho provocaria reações proporcionais a ela. Um dos aspectos mais interessantes da atitude revanchista tomada por alguns segmentos ressentidos com as perdas de Petrópolis, logo ao alvorecer do século XX, foi a tentativa de federalização do território petropolitano e sua conseqüente desanexação do todo fluminense. Esse movimento teve facetas distintas, não contou com o apoio oficial nem no município, nem no Estado, não apresentou qualquer tipo de proselitismo e foi eminentemente sectorial, […] Read More

FERIADOS MUNICIPAIS – BREVE HISTÓRICO

FERIADOS MUNICIPAIS – BREVE HISTÓRICO Paulo Machado da Costa e Silva, ex-Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 2 – Patrono Alcindo de Azevedo Sodré, falecido 1. A Deliberação nº 132, de 29.11.49, conseqüência da Lei Federal n º 605, de 05.01.49, estabelecia como feriados religiosos em Petrópolis: 06 de janeiro – Santos Reis Magos; 29 de junho – São Pedro Apóstolo; 15 de agosto – Assunção da Virgem Maria; 1º de novembro – Todos os Santos; 08 de dezembro – Imaculada Conceição e ainda as festas móveis de Ascenção do Senhor e Corpus Christi. 2. A Deliberação nº 139/49 não considerava feriados municipais, mas dias de simples comemorações ou dias festivos: 16 de março (Fundação de Petrópolis) e 19 de outubro (São Pedro de Alcântara, padroeiro da Cidade). No entanto, as repartições da Prefeitura Municipal e as Escolas municipais não deviam funcionar. A Deliberação nº 1141, de 15.06.59 considerou data festiva no Município o dia 17 de junho de 1959, quando se comemorou o 1º centenário da instalação da 1º Câmara Municipal de Petrópolis. Também a Deliberação nº 2.447, de 11.05.66, fixou a data de 08 de maio como dia festivo, em comemoração à criação do Distrito de Pedro do Rio em 08.05.1892. 3. No entanto, em 27 de dezembro de 1966, o Decreto-lei federal nº 86 alterou o art. 11 da lei nº 605, de 05.01.49, dando-lhe a seguinte redação: “Art. 11 – São feriados civis os declarados em Lei federal. São feriados religiosos os dias de guarda, declarados em lei municipal, de acordo com a tradição local e em número não superior a quatro, neste incluída a Sexta-feira da Paixão “. Em conseqüência e nos termos desse Decreto-lei nº 86/66, a Deliberação nº 2562, de 24 de maio de 1967 considerou feriados religiosos municipais os seguintes dias: Corpo de Deus (Corpus Christi), que sempre cai em quinta-feira ; Sexta-feira da Paixão e 19 de outubro (São Pedro de Alcântara – Padroeiro do Município e da Catedral). Essa Deliberação nº 2562/67 considerava o dia 16 de março apenas como data festiva a ser comemorada pela Municipalidade, não o tendo na lista dos feriados municipais. 4. Logo em 26 de outubro de 1967, pela Deliberação nº 2611, foi instituído feriado municipal o dia 08 de dezembro – Imaculada Conceição, completando-se a quota de quatro dias feriados. Em 30 de outubro de 1970, a Deliberação nº 2937 revogou em parte a […] Read More

PRINCESA E O FREI (A)

A PRINCESA E O FREI Otto de Alencar Sá Pereira 09 de Abril de 1937; 13 de Maio de 1888. Duas datas quase esquecidas pelos brasileiros e petropolitanos em particular. A primeira marca a morte de Frei Luiz, a segunda a Lei Aurea. Por que estão esquecidas? Por que, também, Frei Luiz e a Princesa Isabel estão sendo relegados a um segundo plano? Ambos viveram grande parte de suas vidas em Petrópolis. O “santo” e a “redentora”! Américo Mendes de Oliveira Castro, talvez o único escritor que ousou contar a vida de Frei Luiz (Editora Vozes – 1942), em um pequeno e precioso opúsculo, narra-nos a morte e enterro de Frei Luiz, no capítulo XIX: “Levantou-se sobre Petrópolis, no dia 09 de Abril de 1937, uma linda manhã de começo de inverno”. Depois de nos colocar no cenário petropolitano daquele triste dia ( alegre para os anjos e santos do Céu), ele nos assusta: “Frei Luiz morreu! Eis o que se ouvia em todos os cantos da cidade, em todos os lugares, quando duas ou mais pessoas se abordavam. A desoladora notícia voava dos tugúrios aos palácios e destes às moradias mais modestas. Naquela manhã não se cogitou de outra coisa em Petrópolis….: mais adiante, ele acrescenta: “Como que obedecendo a uma senha silenciosa, de todos os recantos da cidade a multidão, qual formigueiro imenso diligente e tenaz, moveu-se em direção à Igreja do Sagrado Coração de Jesus”. Era uma verdadeira romaria silenciosa e respeitosa, uma massa de pessoas que estampavam no rosto a orfandade. Todos o queriam ver, em seu ataúde, pela última vez, queriam tocá-lo à busca de uma graça ou de um milagre. Por que? Por que tudo isso? Responde-nos o salmista: “Porque sei que ensinaste a Verdade.” Poder-se-á acrescentar: “praticaste a caridade, imitaste o Divino Mestre, foste grande devoto da Virgem Imaculada.” Frei Luiz, ainda sem a palidez marmórea, repousava em frente ao Altar-Mór, com seu hábito de São Francisco, as mãos cruzadas tendo o crucifixo e o terço entre os dedos. As flores cobriam o chão da igreja. Os frades pediam que não se as colocassem na eça, para não esconderem o corpo do “santo” defunto. Houve Missa de Corpo Presente e o enterro era à tarde. Impossível entrar na igreja. Eis que surge a Família Imperial. Diz-nos Oliveira Castro: “A Família Imperial, sempre e em toda parte tratada com respeitoso acatamento e filial reverência, […] Read More

PONTE PRETA (A)

A PONTE PRETA Jany e Carlos Limongi A ponte de ferro construída em 1909 sobre o Rio Preto na zona urbana da então sede do 5º distrito de Petrópolis, São José do Rio Preto, foi um capítulo à parte da história da estrada de ferro estendida até aquela localidade. O ramal Petrópolis – São José que pretendia ir até encontrar um prolongamento da estrada de ferro Teresópolis com destino ao Peão e, provavelmente, visando alcançar Sumidouro e Cantagalo, na verdade, só foi concluído até São José onde se desenvolvia a cultura do café. Toda a produção das fazendas situadas à margem direita do Rio Preto ficava sujeita a ser transportada, para embarque nos vagões da linha férrea, usando a ponte de Águas Claras, a mais próxima da sede da Freguesia. Este uso obrigatório da travessia do café deu à Águas Claras uma grande projeção na época, mas seria bem mais econômico se o escoamento da produção pudesse ser realizado através da estação terminal de São José, dentro da sede do então 5º distrito. Assim, inicialmente, a estrada que fazia a ligação de São José com o primitivo caminho para as Minas Gerais, passando por Bemposta e Areal, vinda de Cebolas e descia pelo Córrego Sujo, daí margeando sempre o Rio Preto pelo lado direito, até Águas Claras, onde atravessava o rio Preto e fazia a ligação com a estrada que vinha de Teresópolis no Morro Grande. Águas Claras já era, há muito tempo, uma encruzilhada movimentada. Daquele ponto, os viajantes provenientes de Teresópolis poderiam seguir caminho para Aparecida e Cantagalo ou seguir, no sentido inverso, para Bemposta e Parayba do Sul, grande era o movimento naquela travessia. Mais tarde, com o uso da estrada – de -ferro, principalmente, se fazia a conexão com Petrópolis e Três Rios. Com a cultura do café, esta passagem tornou-se a mais usada para o embarque da produção cafeeira das fazendas situadas à margem direita do Rio Preto, pois a linha férrea foi construída vinda de Areal sempre pela margem esquerda. Por várias razões, fazia falta uma ponte dentro do perímetro urbano do distrito que pudesse ligar a parte alta com a parte baixa, usando a estação terminal de São José do Rio Preto, onde se avolumava o comércio e o movimento de pedestre. A travessia era feita por uma ponte de madeira já em estado precário, apresentando perigo para os transeuntes. Quando fazendeiros e […] Read More