QUARTEIRÕES DE PETRÓPOLIS (OS)

OS QUARTEIRÕES DE PETRÓPOLIS Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva Característica básica do plano ordenador da nascente Petrópolis, designado Plano Koeler, foi a divisão do território da cidade em quarteirões. E eles não são coisa do passado, que só pela vontade de uns poucos ainda estejam na memória e no uso de alguns. Eles existem. O que tem acontecido é que, por causas diversas, se tem deixado de empregar os nomes corretos das regiões da cidade e assim, pouco a pouco, o esquecimento vai se alastrando, o desconhecimento passa a imperar e se tem, então, a idéia de que apenas a teimosia dos saudosistas trata do assunto. Mas, como disse, a realidade é outra. Não tenho a intenção de aqui falar das virtudes do Plano Koeler. Quero apenas fixar dois pontos. O primeiro se refere à afirmação de que os quarteirões não desapareceram. O segundo chama a atenção para a necessidade de se usar a designação dos quarteirões para que a realidade seja revigorada e se retome o caminho de exploração de todas as riquezas que o projeto original da cidade contém, e assim se alcance o objetivo deste, o bem viver da população, tema mais que essencial nos tempos da ecologia. Todo bom petropolitano de nascença ou de vivência deve ter a absoluta convicção de estar respondendo certo à pergunta de como se divide a cidade, o primeiro Distrito de Petrópolis, ao dizer que ela se divide em quarteirões. Sem dúvida. Para o Registro de Imóveis é assim. Para a Prefeitura é assim. Para a Companhia Imobiliária é assim. Isto ocorre hoje como desde os primeiros anos da cidade e do surgimento dos instrumentos e órgãos controladores da divisão do solo. Quem tiver em mãos uma recente escritura de compra e venda de imóvel situado na cidade, pode ver, lendo-a e lendo a certidão do Registro de Imóveis, que o quarteirão lá está mencionado. Continua sendo ele a chave da localização. Quem for ao Cadastro da Prefeitura, verificará que o mesmo ali acontece, salvo alguns lapsos que no correr das administrações se instalaram. Quem se dirigir à Companhia Imobiliária, encontrará o esquema dos quarteirões em pleno funcionamento. Portanto, para o propósito de preservar e desenvolver os valores da cidade de Petrópolis, como tal, nada mais é necessário fazer, em um primeiro passo, com relação aos quarteirões, a não ser […] Read More

QUARTEIRÕES (OS)

OS QUARTEIRÕES Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva Como o assunto sempre desperta interesse e antes que se publique, caso haja solicitação, o resumo dos limites de cada quarteirão nas vias públicas, apresento de novo uma visão geral da matéria, feitas algumas modificações no texto estampado no verso do Mapa Turístico de Petrópolis editado pela Petrotur. Petrópolis nasceu na mesa de trabalho do Major Júlio Frederico Koeler. Cidade planejada. Pioneira no Brasil. Como obrigação estabelecida na escritura de arrendamento da Fazenda Córrego Seco, o Major devia “levantar a planta da futura Petrópolis e do Palácio, … demarcar em prazos … todo o terreno … e … numerá-los (artigo 10 da escritura de 26 de julho de 1843, em que foram partes o Mordomo da Casa Imperial e Koeler). O território inicialmente destinado à construção da cidade foi dividido em vilas, áreas centrais, mais vinculadas ao palácio, previstas para maior densidade demográfica, e quarteirões, nos quais os prazos (lotes) tinham dimensão suficiente para permitir a subsistência de uma família. Quarteirão significa o mesmo que bairro. A planta elaborada por Koeler, conforme a reprodução de 1846, apresentou Petrópolis composta de: duas vilas: 01 – Vila (Vila Imperial) 02 – Vila Teresa e onze quarteirões: 03 – Bingen 04 – Castelânea 05 – Ingelheim 06 – Mosela 07 – Nassau 08 – Palatinato Superior 09 – Palatinato Inferior 10 – Renânia Central 11 – Renânia Inferior 12 – Siméria 13 – Westfália Poucos anos depois, com o prosseguimento dos trabalhos de demarcação e ocupação de espaço mais amplo destinado à cidade de Pedro, definiram-se, segundo a planta de 1854, de Otto Reimarus, outros onze quarteirões: 14 – Brasileiro 15 – Darmstadt 16 – Francês 17 – Inglês 18 – Mineiro 19 – Presidência 20 – Princesa Imperial 21 – Renânia Superior 22 – Suíço 23 – Woerstadt 24 – Worms. Com esta figura de duas vilas e 22 quarteirões (aqui incluído o Quarteirão Mineiro, mostrado mas não nomeado na planta de Reimarus) ficou fixada a estrutura física do coração de Petrópolis, vigente até hoje. Os nomes foram escolhidos por Koeler e sucessores em homenagem: 1 – a locais da Alemanha, de onde veio grande parte das pessoas envolvidas na criação e no desenvolvimento da cidade (Bingen, Castelânea, Darmstadt, Ingelheim, Mosela, Nassau, Palatinato, Renânia, Siméria, Westfália, Woerstadt e Worms), 2 – a grupos nacionais […] Read More

CÂMARA MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS – CENTENÁRIO DA PRIMEIRA CÂMARA REPUBLICANA

  …E nada mais havendo a tratar, dou por encerrada a sessão… Assim, há cem anos atrás, meu bisavô, Dr. Hermogenio Pereira da Silva, terminava a reunião de instalação da primeira Câmara Municipal de Petrópolis republicana. Mas não foi sua a atuação mais significativa naquela oportunidade, nem sua a frase mais importante que hoje comemoramos. Estava-se no sobrado do prédio da Rua do Imperador, Avenida Quinze de Novembro, ali onde, no térreo, nos dias que correm deste 1992, se acham as lojas de Mona Modas, Farmácia Petrópolis, Optica Obelisco, com os números 555-571, na Bacia, em frente ao Obelisco. O Governo do Município o alugara para servir de Paço, por contrato de sublocação celebrado com o arrendatário José Kallembach a 19 de março de l878. Há fotografia dele no Catálogo da Exposição do Centenário da Câmara Municipal de Petrópolis, editado pelo Museu Imperial (1959, página 22). Em decorrência do novo regime, houvera eleições para a escolha, além dos juízes de paz, daqueles que, com o título de vereadores gerais e distritais, seriam administradores de Petrópolis, compondo o mais evidente dos três órgãos essenciais, distintos e harmônicos da administração local, ou seja, o colegiado que tinha funções legislativas e executivas, estas depositadas nas mãos do presidente (artigos 86, 87 da Constituição de Estado, de 9.4.1892; artigos 11, 23 da Lei n. 17, de 20.10.1892). Era o dia 30 de junho de 1892, quinta-feira, e a frase que consubstanciou o importante fato, hoje objeto da comemoração, foi proferida por Antonio Antunes Freire, vereador mais velho, presidente da sessão até aqueles instantes, ao declarar “instalada a Câmara Municipal”. A lembrança do acontecimento se presta a discursos de várias naturezas e permitiria oração enaltecedora da busca dos ideais republicanos neste século de existência da casa de representação popular. Mas aqui, neste Instituto, se impõe o esforço de examinar o fato quanto à comprovação de sua ocorrência, quanto às características do contexto em que ele se deu, quanto à interpretação do seu conteúdo e de suas consequências. Em virtude de indesejável e invencível urgência no apronto do que, por honrosíssima designação, hoje devo dizer, dedicarei atenção a apenas alguns destes elementos, pedindo vênia a meus pares e demais presentes pelas deficiências da análise e da exposição. Parece-me que, dentro da situação limitada em que me encontro, aquilo que poderia eu trazer de utilidade para os Senhores seria o tão só relembrar os fatos, com as […] Read More

TOCA PRO GABRIEL! – TEATRO EM PETRÓPOLIS

“TOCA PRO GABRIEL!” – TEATRO EM PETRÓPOLIS Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva No dia 12 de julho deste ano passei por duas grandes emoções. Uma estava sendo curtida fazia tempo. A outra, e maior, foi inesperada e me atingiu quando acabava a reunião do Instituto Histórico de Petrópolis. A emoção aguardada foi, como se sabe, a de dar por inaugurado ali, de acordo com a pauta, o Acervo Histórico de Gabriel Kopke Fróes via Internet, no endereço www.earp.arthur.nom.br . A partir de então, desde o término da palestra daquela noite, qualquer pessoa poderia consultar tudo o que já existe transcrito, hoje em cerca de 12.300 entradas, dos dados colecionados pelo estimado amigo e sócio fundador do Instituto. Quase ao findar a apresentação, afirmei que utilizar o acervo era o primeiro passo de qualquer estudo sobre Petrópolis. Sem dúvida, é certo que as anotações de Fróes, por sua amplitude, hão de fornecer na maior parte dos casos alguma pista para o aprofundamento da pesquisa que se pretenda fazer. Como exemplo, vale publicar aqui, para delícia dos que investigam a história do teatro em nossa cidade, o texto de um manuscrito do acervo. É o seguinte, constante do registro 10446 do arquivo ama03001: “COLÉGIO DE SÃO VICENTE DE PAULO Caixa Postal 332 Rua Coronel Veiga, 550 Petrópolis, R. J. Fone 3032 Petrópolis, 29 de Junho de 1963 Meu caro Gabriel Junto, o que você me pediu sôbre o que sei do movimento teatral em Petrópolis. Se estivesse em casa, com tudo à mão e com a comodidade que aqui na enfermaria do Hospital não chega a ser mínima, outro teria sido o meu atendimento ao pedido do amigo que tanto merece e sôbre um assunto que tanto me interessa. Daqui, e com muita dificuldade, só posso concorrer com estas notas esparsas sem redação e até mesmo sem português, o que você saberá perdoar a um professor que no momento se vê como um artífice sem ferramenta. Falo muito em mim no que aí vai. Nem encontrei outro meio de expôr o que sei. Não veja nisso uma vaidade, e muito menos uma insinuação. Pois nem sei o feitio que você pretende dar ao seu trabalho. Caso encontre para êle qualquer subsídio na minha xaropada hieroglífica, pode dispôr sem receio, pois que tudo é verdade, e dela dou fé. Com o abraço […] Read More

ACERVO HISTÓRICO DE GABRIEL KOPKE FRÓES VIA INTERNET (O)

O ACERVO HISTÓRICO DE GABRIEL KOPKE FRÓES VIA INTERNET Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva   Não esqueço o encontro daquela tarde. Meu pai e eu fomos à casa de Gabriel Kopke Fróes, conforme especialmente combinado. A amizade que nos unia vinha de longe, de gerações. Na saleta, sentados junto à janela, com D. Hilda sempre o máximo em gentileza circulando por perto, realizamos algo que aos meus olhos se desenrolou em dimensões vitais. Fróes foi um colecionador persistente e meticuloso. No correr de longos anos, juntou todas as informações que levantou em sua cuidadosa pesquisa diária, principalmente sobre Petrópolis. O trabalho de sua vida, a melhor parte do trabalho, a voluntariamente escolhida, estava ali naquela sala, diante de nós, materializado em caixas com fichas, pastas, cadernos, amarrados, exemplares de publicações. A doença não mais lhe permitia manter em ordem os papéis, controlar a disposição física e o conteúdo do que criara. Seus arquivos escaparam do esquema adotado, fugiram-lhe das trêmulas mãos e da atenção já cansada. Com olhar provocativo e sorriso disfarçado, repetindo uma de suas características expressões fisionômicas de simpatia e brincadeira, indagou: – Nelson, você acha que ele vai tratar bem de tudo isto? O médico e amigo respondeu com outro gracejo. Recebi, então, o acervo. Fróes me disse: – Sirva-se deste material. Espero que ele seja útil aos seus estudos. Senti, em uma atmosfera densa de silenciosa emoção, como se o admirado amigo me estivesse entregando a alma. Percebi nos seus olhos, no breve gesto, um indefinido ar entre aliviado e aflito. Nos poucos meses que se seguiram até a morte de Fróes em Teresópolis, não tive tempo de conhecer suficientemente a sua obra para colher as explicações necessárias à restauração da organização que ele julgara ideal para os dados que pacientemente reuniu. Entendi sempre, desde aquela tarde, que não me cabia usufruir sozinho da preciosidade que me chegara às mãos. Decidi logo no primeiro instante que o meu empenho seria o de, reconstituídos os arquivos, colocá-los à disposição de todos. Que assim servissem ao maior número possível de pessoas, na exata grandeza de espírito de quem os produzira. Levei muito tempo para descobrir a chave que me permitisse caminhar no sentido da recuperação do perdido esquema elaborado e observado por Fróes. Hoje já foi alcançado o estágio que a todos possibilita a consulta do que […] Read More

KOELER – HOMENAGEM NA PRAÇA PRINCESA ISABEL A 29 DE JUNHO DE 1993

  Agradeço penhorado o convite feito pelo Clube 29 de Junho para ser o seu orador nesta solenidade de homenagem ao Major de Engenheiros Júlio Frederico Koeler, dentro das comemorações dos 148 anos da chegada dos colonos alemães a Petrópolis. De Koeler muito já se disse e muito a ser dito ainda há. Hoje, porém, neste lugar, os descendentes dos colonos querem prestar uma homenagem, não só da razão, do conhecimento, mas, sobretudo, do coração. São descendentes daqueles famílias que chegaram ao topo da Serra da Estrela tomadas da esmagadora incerteza dos imigrantes frente ao desconhecido das terras que pela primeira vez pisavam e à incógnita das condições reais de trabalho e subsistência. Eles querem reverenciar aquele que foi o executor da verdadeira hospitalidade, recebendo seus antepassados e encaminhando a solução dos problemas concretos que lhes oprimiam a alma. Sim, Senhores, os descendentes dos colonos alemães e todos nós outros aqui presentes queremos realizar agora algo de real e não uma farsa, algo de vivo e não uma representação. Queremos dedicar a Koeler, o vibrar autêntico da melhor emoção que possamos ter neste momento. E como fazer brotar tal emoção, que sem dúvida existe no nosso íntimo? Abramos com mais empenho os nossos olhos. Apliquemos verdadeira atenção ao que está diante de nossas vistas. Não estamos num palco. O monumento não é uma construção vazia. As pedras e os outros materiais artisticamente dispostos abrigam os restos mortais de Koeler. São os restos mortais daquele que caminhou tantas vezes por estes mesmos espaços que hoje ocupamos, daquele que acolheu e tranquilizou os imigrantes e lhes possibilitou uma vida digna, daquele que sonhou uma bela e humana Petrópolis e começou a concretizá-la. Foi a 23 de janeiro de 1955 que, por solene ato fúnebre, presentes o Sr. Prefeito Municipal Cordolino José Ambrósio e o Sr. Presidente da Câmara Municipal Arnaldo Teixeira de Azevedo, se transladaram os restos mortais de Koeler do cemitério para aqui (Petrópolis e seus monumentos, Coordenação Geral: José Ribeiro de Assis, pág. 47). Estamos, portanto, no local do repouso terreno de Koeler morto. A lembrança vale para nos levar ao respeito e à concentração que o especial campo santo pede e que a generosa emoção que queremos ter exige. A seguir, levantemos os olhos para além do monumento e nos deixemos invadir pela beleza deste verde das encostas do Quarteirão Francês, destas majestosas e variadas árvores, destas matas que […] Read More

HERMOGÊNIO SILVA

  Hermogênio Pereira da Silva no tempo de sua atuação em Petrópolis é alguém que se pode comparar à importância que teve Koeler nos primórdios da cidade imperial. Foi líder político destacado, no grupo republicano, mas ganhou sua mais alta projeção como administrador do Município, ao ocupar no colegiado legislativo local, Intendência ou Câmara, a cadeira de Presidente, a quem competiam então as funções executivas, ainda inexistente o cargo de Prefeito. Desenvolveu e completou projetos já começados, iniciou e concluiu outros, buscou realizar alguns que se frustraram, todos do maior significado para propiciar a Petrópolis correto progresso. Foi na área do atendimento às necessidades básicas da população, pelos meios mais avançados conhecidos na ocasião, que Hermogênio Silva empenhou o seu saber e a sua energia. Abastecimento de água, fornecimento de iluminação e eletricidade, instalação de esgoto e de serviços de transporte, de telefone, construção de moradia para os de pequena renda, higiene e saúde, limpeza pública, abertura e calçamento de ruas, construção de pontes, arborização das vias públicas estiveram sempre entre as preocupações principais dele, assim como as de bem estabelecer minuciosos diplomas legais para tornar melhor o convívio social e de sediar condignamente os órgãos do poder municipal, ponto este que atingiu com a aquisição e a reparação do hoje chamado Palácio Amarelo, prédio belo e grandioso que aqui vai citado como símbolo e síntese material das metas de bela e grandiosa vida para o petropolitano que animaram a atividade pública de Hermogênio Silva. Considerando-se o difícil momento econômico, social, político e de ordenamento jurídico resultante do término do Império e do nascimento da República e a pobre situação em que se debatia Petrópolis, é que se pode olhar Hermogênio com olhos de quem vê Koeler. Se a cidade a este ficou a dever o planejamento e os primeiros passos, daquele recebeu em dias tão críticos o mais forte e vital impulso no caminho da autonomia e da maturidade. Assim como foi mencionado um prédio como símbolo de realizações e de projetos, pode-se também invocar o Código de Posturas de lavra de Hermogênio Silva, o primeiro que Petrópolis teve, como imagem dos reais e precisos cuidados, do lúcido exame dos problemas e da escolha das melhores soluções inspiradas nos dados científicos contemporâneos, das utopias que orientaram o espírito daquele que tudo fez para que Petrópolis fosse uma cidade esplêndida. A comprovação documental do valor de Hermogênio Silva no desenvolvimento […] Read More

PASSADO, PARA NÃO PERDER O FUTURO (O)

O PASSADO, PARA NÃO PERDER O FUTURO Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva Faz já algum tempo. Não muito. Mas somado ao período antecedente vai constituindo o valor que a permanência através dos anos acaba conferindo às pessoas, às coisas, aos fatos. Foi a 9 de março de 1986 que o “Relógio da Estação” voltou a funcionar para o público, na fachada da Casa Comércio, na Rua Dr. Porciúncula. Apesar daqueles que, de visão tacanha, hoje lhe dão pouca importância, ele prossegue na marcha para a idade que consagra e que é dado objetivo incontestável. Era um domingo. A cerimônia de reinstalação foi planejada para se resumir no próprio trabalho de levar o relógio do chão ao suporte fixado na parede e de pô-lo em movimento. A solenidade aí estava; era o assistir não a um ato simbólico e evocativo ou a um único gesto externo, como apertar um botão de partida, final de uma série de árduos labores vividos longe do conhecimento da maior parte, mas sim assistir à realidade, com todas as possibilidades de sucessos e de fracasso, da realização da última etapa da recuperação do tradicional relógio. O público acorreu ao local, participando, com suas opiniões, suas apreensões, suas palavras de advertência e incentivo, com o apoio de sua mão e do vigor de seu braço, dos esforços físicos da entrega a ele do aparelho que a ele em serviço sempre pertenceu. Não faltaram os descendentes de Otto Jerke e seus familiares, em cada instante presentes e colaboradores, especialmente Otto Jerke Filho. (1) (1) Ver J. TEIXEIRA NETTO, Jornal de Petrópolis de 14.3.86, pág. 4 . Os trabalhos duraram das 18h15min às 20h45min, momento em que, terminadas as ligações e iluminados os mostradores Norte e Sul (2), os mecanismos secundários se puseram a mover para o ajuste automático com o relógio-mestre às 20h59min. (2) O mostrador Norte é o que está voltado para a Rua do Imperador e o Sul para a Rua Paulo Barbosa. (Com mais precisão, os mostradores visam respectivamente ao NNW e ao SSE). É interessante observar que a Rua do Imperador corre de Leste para Oeste, no alinhamento muito aproximado de 063 e 243 graus a partir do Norte verdadeiro. Os mapas da cidade em geral indicam orientação pelo Norte magnético. O Sr. ALZINO PEREIRA DA SILVA, havia colocado a fiação elétrica para […] Read More

RELÓGIO DA ESTAÇÃO NOVAMENTE EM FUNCIONAMENTO (O)

O “RELÓGIO DA ESTAÇÃO” NOVAMENTE EM FUNCIONAMENTO Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, Cadeira n.º 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva “Eu era então copeiro do rei” (Neemias, 1,11) Com os modernos sistemas de informação da hora, especialmente através das rádios-relógios e do telefone, conjugados e dependentes dos equipamentos de Observatórios Astronômicos, perdeu-se a noção do que representava, tempos atrás, a dificuldade de se saber e de se manter a hora certa. Pense-se, por exemplo, em uma pequena cidade afastada dos grandes centros, em um período em que a população não mais se guiava pelo deslocamento do Sol entre a aurora e o poente. Como se teria ali o conhecimento da exatidão da hora? Quem, afinal, dizia qual era a hora certa? É claro que se está cogitando de referências de tempo mais precisas do que aquelas manifestadas por expressões como “à noitinha nos encontramos”, ou “depois da chuva passo lá”, ou “chegue logo que amanhecer”, ou “o nosso acordo vale até o pôr-do-sol”. Em termos de minutos, quem dizia naquela cidade o que era certo ou errado, quem afirmava que este ou aquele relógio marchava bem ou não? Vem, então, à lembrança os relógios públicos. O da torre da igreja, o da estação, o do relojoeiro. Sim, é interessante marcar que a vida das cidades se organizava, no tocante a horários, pelos relógios públicos, sobretudo aqueles de maior confiança, aqueles dos relojoeiros que forneciam o padrão, a “hora certa”. Em Petrópolis (RJ), na Rua Dr. Porciúncula, diante da Estação da Estrada de Ferro Leopoldina, o relojoeiro OTTO JERKE instalou por sobre a loja onde funcionava a sua “Relojoaria e Ourivesaria Suissa”, um grande relógio, de duas faces, luminoso. Isto ocorreu entre setembro e outubro de 1922. O requerimento de licença para instalação foi protocolado na Prefeitura Municipal sob o nº 3359, a 4 de setembro de 1922 e foi deferido a 18 do mesmo mês, fixando-se o dia 20 de outubro seguinte como termo final do prazo para a colocação do relógio na posição indicada na parede do prédio. O serviço foi realizado satisfatoriamente e encaminhou-se o requerimento ao arquivo a 3 de novembro. Tanto a caixa e o artístico suporte representando uma águia, como o mecanismo haviam sido importados da Alemanha. A precisão do funcionamento foi por todos logo reconhecida e o relógio passou a comandar os avanços, os atrasos e a pontualidade da vida de […] Read More

QUINHENTOS ANOS DE BRASIL – COMPROMISSO COM O FUTURO

QUINHENTOS ANOS DE BRASIL – COMPROMISSO COM O FUTURO Arthur Leonardo de Sá Earp, Associado Titular, cadeira nº 25 – Patrono Hermogênio Pereira da Silva O nosso olhar para a História dos quinhentos anos não pode ser uma contemplação. Tem que ser um ato sério de refletir sobre os ensinamentos alcançados e as experiências vividas para marcarmos que rumo tomar agora, a fim de construirmos um amanhã que certamente não pode ser igual ao hoje de tantas misérias físicas e morais. A História não é narrar acontecimentos pelo simples narrar. É estudá-los, para progredir. As festividades que correm neste período por todo o País hão de diferir da celebração da conquista de uma taça. Não comemoramos um feito acabado, uma competição terminada com vitória. Devemos ter a consciência de que estamos dando relevo, com festas, assim como deve ser um casamento, a um compromisso verdadeiro em relação ao que vamos realizar na vida para atingir a felicidade, cientes das virtudes com que contamos e dos erros a corrigir. A chegada das embarcações de Pedro Álvares Cabral às costas existentes em uma desconhecida vastidão oceânica ao poente é fato resultante de muitos fatores e causador de diversos outros a respeito dos quais temos que pensar. Consideremos alguns pontos nesta oportunidade. O encontro de terra depois de tantos dias de navegação audaciosa, em rota adotada deliberadamente para dentro de região inexplorada, significa o apuro dos conhecimentos da época, a utilização extrema da ciência e da habilidade náutica até então adquiridas. Os portugueses dispunham de instrumentos de observação astronômica e de métodos de seu emprego, recursos materiais e intelectuais que iam sempre desenvolvendo. Dispunham de naus e caravelas as mais avançadas, a última palavra em construção naval. Dispunham de técnicas de navegação, de esquemas de exploração e de sistema de comunicações os mais elaborados a partir das expedições anteriores. Tudo isto foi dura e longamente trabalhado para ganhar eficiência adequada à conquista e à manutenção da liderança nos embates da expansão de domínio.   São afirmações genéricas, mas verdadeiras. Brotam da crítica dos mais sábios à fonte documental. São verificáveis em consagradas obras (1). As palavras que ouvem estão calcadas o mais das vezes no minucioso livro de Moacyr Soares Pereira intitulado A Navegação de 1501 ao Brasil e Américo Vespúcio (2). (1) nota ao final (2) ASA Artes Gráficas Ltda., 1984.   Exemplos concretos vão a seguir mencionados em confirmação das assertivas […] Read More