TEATRO DOM PEDRO (O)

  O THEATRO D. PEDRO Carlos Alberto da Silva Lopes (Calau Lopes), associado efetivo, titular da cadeira n.º 7, patrono Bartholomeo Pereira Sudré Em 2 de janeiro de 1933, por obra e graça de João D`Ângelo, Petrópolis assistia à inauguração do Theatro D. Pedro, resultado da ousadia de um empreendedor que soube liderar parentes, amigos, artistas e profissionais de habilidade como: Armando de Oliveira, Francisco De Carolis, Roberto Gabuni e Carlos Shaefer, todos mobilizados para que um belo sonho virasse realidade. Por algum tempo aquela casa de artes recebeu vários e interessantes espetáculos, mas os custos de produção e de manutenção do espaço levaram-no a ser arrendado para funcionar como cinema. Em meados dos anos 60, com o crescimento do movimento cultural petropolitano, em especial na área do teatro, Maurício Silva e Raul Lopes encabeçaram uma manifestação que sugeria ao Prefeito Paulo Gratacós a desapropriação do D. Pedro, a fim de transformá-lo em nosso Teatro Municipal. E a ideia só não vingou porque o prefeito teve seu mandato cassado pela ditadura militar antes que pudesse consumar o ato. Passaram-se os anos, e a demanda, as reivindicações por um teatro da municipalidade só aumentaram. O evento Scena Serrana 83, que coordenei, foi um grande marco no posicionamento da classe teatral sobre políticas públicas para as artes cênicas, a influenciar várias ações e conquistas nos anos subseqüentes, dentre elas, a ocupação, em 1987, do prédio do antigo Matadouro Municipal, hoje Escola Carlos Chagas, para abrigar o projeto Teatro da Cidade, depois abandonado. Em 1989 volta à Prefeitura Paulo Gratacós, disposto a cumprir o compromisso assumido com a comunidade artística, discutido em seu primeiro mandato, em 1968. E o faz pelo Decreto 55, de 29/06/1989, desapropriando o imóvel relativo ao Theatro D. Pedro, inicialmente chamado Teatro Imperial de Petrópolis (a um teatro republicano?), corrigido depois para a denominação consensual de Teatro Municipal de Petrópolis (Decreto 732/1992), “porque era o nosso teatro público; porque era e é, desde então, o teatro da cidade de Pedro, simplesmente”. Eu estava lá, no palco, partícipe do elenco de “Petrópolis em Revista”, a peça que no final de dezembro de 1992 re-inaugurava o nosso Teatro. Sou testemunha da alegria reinante, dos inúmeros melhoramentos realizados naquele nobre espaço, ainda que muito precisasse ser feito. Durante o governo Sérgio Fadel (1993/1996), houve uma precária, mas significativa ocupação do espaço pelo movimento teatral petropolitano e o pagamento do restante da desapropriação […] Read More

CIDADE IMPERIAL

  CIDADE IMPERIAL Carlos Alberto da Silva Lopes (Calau Lopes), associado efetivo, titular da cadeira n.º 7, patrono Bartholomeo Pereira Sudré Aproveito esse número de nosso Boletim para alertar sobre uma história, propalada aos quatro ventos, de que Petrópolis é “a única Cidade Imperial do Brasil” ou, ainda, “a única Cidade Imperial das Américas”. Isto não passa de enorme balela e que, portanto, não deve ser repetida. Só para citar, na América do Sul, temos a Ciudad Imperial, no Chile, e a Vila Imperial de Potosi, na Bolívia, títulos esses concedidos por Carlos V. Já Cidade Imperial, em terras brasileiras, foi título conferido por decreto a alguns centros urbanos durante o Império do Brasil, destacando-se: Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Ouro Preto (então Vila Rica – MG), Itu (SP), Montevidéu (quando capital da Província Cisplatina), Niterói (RJ), São Luís do Paraitinga (SP) e Belém (PA). Também foram concedidos os títulos de Imperiais Cidades Provisórias a cidades que receberam o imperador e passaram a ser capital provisória do Império, até a partida do monarca. Dentre essas, aponto: João Pessoa (então Parnaíba do Norte) – por conta da estada de D. Pedro II do Brasil, de 24 de dezembro de 1859 a 30 de dezembro de 1859; Teresina – por conta da presença da corte real na cidade, considerada também a primeira cidade planejada do país (?), para sua inauguração, cujo nome é uma homenagem à Imperatriz Teresa Cristina. Já os títulos de Fazendas Imperiais foram, por sua vez, destinados às propriedades rurais pertencentes à família imperial, como a Fazenda do Córrego Seco, berço do nosso município. Tratavam-se de grandes latifúndios, cujas áreas foram colonizadas, progressivamente, dando origem a centros urbanos que perduram até hoje, como: Petrópolis — apenas na qualidade de Fazenda Imperial e residência de veraneio da família imperial, por ocasião do Decreto n.º 155 de 16 de março de 1843; Vassouras — na qualidade de Fazenda Imperial e centro cafeicultor do Vale do Paraíba durante o Império. Petrópolis recebeu o título de Cidade Imperial somente em 26 de março de 1981 (Decreto n.º 85.849), durante o governo João Baptista de Figueiredo, como que a reparar uma injustiça histórica. Particularmente, orgulho-me de ter contribuído decisivamente – à época como vereador e presidente da Câmara – para essa exitosa titulação (sim, porque à parte qualquer discussão não há cidade mais merecedora de tal honraria), como também na luta pela […] Read More

QUINZE ANOS DO FESTIVAL TEATRO D’OUTRAS TERRAS

  QUINZE ANOS DO FESTIVAL TEATRO D´OUTRAS TERRAS Carlos Alberto da Silva Lopes (Calau Lopes), associado efetivo, titular da cadeira n.º 7, patrono Bartholomeo Pereira Sudré Era uma vez um grupo, o Teatro OIKOVEVA – formado por Flávio Kactus, Karla Kristina, Vilma Melo e Roberto Jerônimo – que resolve atracar sua barca, com armas e bagagem, no porto do mar da montanha. Na Petrópolis de 1992, esses artistas encontram Calau Lopes – ator e empreendedor cultural – instalam-se no Museu Imperial, desenvolvem oficinas de arte e apresentam espetáculos, enquanto trabalham a idéia de realizarem, no ano seguinte, 1993, um festival que trouxesse para a Cidade Imperial as melhores expressões do chamado “movimento de teatro de grupo”. Teatro OIKOVEVA O teatro de grupo caracteriza-se por uma forma de organização que se propõe a um trabalho coletivo e permanente, de pesquisa e desenvolvimento estético, inserido na vida da comunidade, bem diferente das produções isoladas, que reúnem uma equipe para uma peça específica, para uma série de apresentações e por um prazo determinado. Uma bela mostra, por exemplo, sobre esse tipo de fazer teatral, tinha sido o I Encontro Brasileiro de Ribeirão Preto-SP, no ano de 1991. E cidades como Petrópolis, de porte médio, ofereciam – como ainda oferecem – a possibilidade de fazer teatro de uma maneira mais artesanal, cuja sofisticação vai por conta de muita criatividade, não raras vezes, da criação coletiva; um teatro mais próximo da realidade de seu povo, provocando reflexões sobre a sua história, os seus costumes. Pois bem, nesse embalo é que nasceu o FESTIVAL TEATRO D`OUTRAS TERRAS, realizado entre maio e novembro de 1993, em comemoração ao sesquicentenário de Petrópolis. Nasceu e se transformou em forte realidade sob a coordenação geral de Flávio Kactus, de Calau Lopes e da produtora teatral Andréa Pachá, que ao longo de “um ano inteiro de ralação” aglutinaram partícipes dos outros grupos teatrais do município, formaram uma equipe de trabalho, sensibilizaram empresários e comerciantes locais como importantes colaboradores e conseguiram o patrocínio estratégico de entidades como o SESC e o SENAI, além do apoio logístico da Prefeitura, da Câmara Municipal e do próprio Museu Imperial, tudo para tocarem o arrojado projeto e arcarem com seus elevados custos. Grupo Galpão (MG) Na abertura do festival, em 27 de maio de 1993, evento que se desdobrou em 7 módulos ao longo de 7 meses, afirmavam com orgulho os coordenadores: “Dizem que ousar é […] Read More

ENTRE CONTRASTES E PARDAIS

  ENTRE CONTRASTES E PARDAIS Carlos Alberto da Silva Lopes (Calau Lopes), associado efetivo, titular da cadeira n.º 7, patrono Bartholomeo Pereira Sudré É certo que o Brasil tem contrastes que desnorteiam qualquer analista. Tem uma posição ímpar e instigante entre as nações. Por um lado, as riquezas naturais e culturais: solo rico e água abundante, flora e fauna exuberantes; a pluralidade de nossa gente, com habilidades peculiares nos inúmeros fazeres; agricultura e indústria fortes, o país se projetando para o futuro como um celeiro do mundo e exemplo de unidade nacional com tantas diferenças. Por outro lado, muitas mazelas: a desigualdade social, a precariedade do sistema educacional, os graves problemas com a segurança de cada cidadão, o descrédito nos poderes constituídos, a corrupção. O rápido adensamento urbano nos últimos cinquenta anos só fez por piorar um quadro de descontrole nas médias e grandes cidades. A falta de planejamento e a falha na fiscalização da ocupação dos espaços municipais, a precariedade (quando não a ausência) de equipamentos e serviços públicos necessários à população, o desrespeito às leis e à cidadania, tudo isso é, também, causa da violência que aumenta e nos choca. É terrível percebermos que a nossa juventude é a primeira vítima desse estado de coisas. Cada vez mais distante de suas aspirações (muitas delas ditadas por uma perversa sociedade de consumo) o nosso jovem luta pelo primeiro emprego, o aperfeiçoamento profissional, a inserção e progressão social, e ganha, a cada dia, frustrações e desesperança, o que leva a muitos se perderem pelos descaminhos do crime. Até mesmo os mais privilegiados se vêem, muitas das vezes, num vazio sem sentido que, no mínimo, os aproxima das drogas e alimenta o crime organizado. Outro dia li em O Globo, perplexo, que a maior causa do baixo fluxo de turistas estrangeiros no Brasil, apesar dos enormes atrativos que possuímos e que são de conhecimento dos viajantes, é exatamente o medo da violência, principalmente no Rio, porta de entrada do país. E é lamentável constatar que a nossa Petrópolis, a par da sua magnífica história – primeira cidade planejada do Brasil – apesar do seu patrimônio natural e cultural ainda de relevo, vê-se crescendo desordenadamente com a injustificada tomada de encostas, de construções em áreas de risco; vê-se perdendo muitas de suas preciosidades arquitetônicas; vê-se com uma malha viária já totalmente saturada e, agora, cheia de quebra-molas e pardais, enquanto a população […] Read More

POSSE DE CARLOS ALBERTO DA SILVA LOPES

  POSSE DE CARLOS ALBERTO DA SILVA LOPES Carlos Alberto da Silva Lopes (Calau Lopes), associado efetivo, titular da cadeira n.º 7, patrono Bartholomeo Pereira Sudré Sendo a gratidão moeda com que se resgatam os débitos do coração quero, logo de início, externar o mais profundo agradecimento pela indicação e aprovação unânime de meu nome para ingressar no quadro de sócios efetivos do Instituto Histórico de Petrópolis. Só o carinho deste meu antigo professor, mestre de várias gerações, pesquisador emérito, Jeronymo Ferreira Alves Neto, aliado à generosidade de tão caras e ilustres personalidades – algumas das mais valiosas amizades e referências que pude conquistar ao longo da vida – que integram com o meu pai, Raul Lopes, esta nobre instituição, justificam tal lembrança, honraria que recebo com humildade, cônscio das responsabilidades que me assomaram em me juntar a importantes cidadãos e cidadãs na tarefa de preservar a nossa memória, cuidar do nosso patrimônio, elevar fatos e figuras da nossa história e laborar reflexões e idéias sobre a nossa gente, a nossa identidade cultural e o nosso projeto de cidade. E agora, ainda mais do que antes, certamente recebendo de meus novos pares os eflúvios estimulantes a outras empreitadas, sob a inspiração de Bartholomeo Pereira Sudré, patrono da Cadeira nº 7 que passo a ocupar, e perseguindo os exemplos legados por Geraldo Ventura Dias, a quem tenho o privilégio de suceder. Aos elogios: A Petrópolis que nascia, povoado próspero, quase se tornando uma cidade, recebia em 1855 o filho de José Pereira Sudré e Maria Cândida Sudré. Alguns afirmam hoje que ele era natural da Bahia. Não importa se não existem provas concretas. Bartholomeo Pereira Sudré veio do Arquipélago da Madeira, em Portugal, até prova em contrário. Nascera a 24 de agosto de 1825. Chegou a Petrópolis beirando 30 anos de idade com o propósito de montar um jornal por aqui, como o fizera no Rio de Janeiro e em Paraíba do Sul. Um historiador de nossa cidade afirmou que: “o seu objetivo estava definido porque vislumbrava naquela povoação grande futuro e queria contribuir para que ela crescesse e cumprisse uma função histórica marcante no contexto da evolução do Império”. Admirador de Dom Pedro II, Sudré pretendia que circulasse no recanto escolhido pelo monarca para veraneio, um jornal que documentasse aquela evolução, no acompanhamento do dia-a-dia de seu povo. Alugando uma casa no início da Rua Teresa, nº 23, montou sua […] Read More