SÍRIOS-LIBANESES Antônio Izaías da Costa Abreu, Associado Titular, Cadeira nº 3 – Os sírio-libaneses, costumeiramente denominados “turcos” em razão de terem a Turquia como porta de saída do Oriente pois lhes fornecia o passaporte de emigração, são os estrangeiros que mais se adaptaram aos nossos costumes, possivelmente pela docilidade de temperamento, por professarem a mesma religião, serem pacientes e adotarem, em definitivo, a nova terra como a pátria, destruindo qualquer intenção de retorno à terra de origem. Aqui deram os primeiros ensaios como imigrantes efetivamente a partir do início do século XIX e, com o desenvolvimento da cultura cafeeira, fortaleceram a corrente migratória para o Brasil. Descendentes dos fenícios, comerciantes natos como os antepassados, tinham facilidade para mercancia. Ao aqui chegarem, muitos deles, com um baú às costas, cortando várzeas, vencendo morros, atravessando córregos e rios aproximaram-se das fazendas onde, de início, com fala não inteligível expunham suas mercadorias. Posteriormente, após algumas economias, “o bom turco” adquiria um burrico para varar o longo e penoso percurso, e lá ia ele à frente puxando o animal, agora não mais com miçangas, botões, alfinetes, agulhas, colchetes, dedais, fitas, ligas, elásticos, meias, grampos para cabelos, espelhos, sabonetes, extratos e outros artigos de toucador, como nos primeiros tempos, mas com tecidos finos como seda, lingerie, organza, organdi, linho, cambraia, voil, crepe, tafetá, rendas guipir e richelieu, tudo que o apurado gosto exigia. As vendas eram certas e o pagamento, ainda que a prazo, “era dinheiro contado”, pois “o calote”, era palavra inexistente na cartilha dos compradores. Depois de algum tempo, outro animal era adquirido, desta feita para sua montaria. E assim, numa faina incessante, durante anos no “mascate”, conseguia “o turco” amealhar algum dinheiro para, afinal, se fixar numa vila distrital, principalmente em zona cafeeira de grande população e circulação de riqueza visível. Numa casinha modesta com poucos cômodos, mas com terreno suficiente para ampliação se estabelecia o “filho do Líbano” com sua família. Era o raiar de uma nova vida. Ele não ficaria mais tantos dias ausente e distante da esposa e haveria, doravante, de ter tempo para dispensar aos filhos, inclusive com a educação. Quanto à alimentação, embora já estivesse ele adaptado ao paladar nacional, sua mulher poderia oferecer-lhe refeições que o fizessem recordar de Richi Maya, Tiro, Sídon e Beirute – como as saladas de pepinos “ao vinagrete”, cortados ao comprido; as coalhadas secas, regadas ao azeite de oliva, saboreadas com […] Read More