Francisco José Ribeiro de Vasconcellos

GETÚLIO VARGAS DO PAMPA À SERRA

GETÚLIO VARGAS DO PAMPA À SERRA Francisco de Vasconcellos, Associado Emérito – Atração dos opostos ou afinidade, o certo é que Getúlio Vargas, filho da fronteira aberta da campanha gaúcha, rebento de São Borja, na velha zona missioneira, foi de uma fidelidade impressionante à serra, desde que fixou-se em Ouro Preto, ainda jovem, para levar avante sua formação nas chamadas humanidades. Depois, já como chefe do Governo Provisório, após a Revolução de 30, a Petrópolis veraniega jamais saiu da cogitação getuliana e, quando eventualmente daqui saía durante a “saison”, buscava a serra mineira do circuito das águas, visitando ora São Lourenço, ora Caxambu, ora Poços de Caldas. A serra é um convite permanente à reflexão, ao recolhimento, ao cultivo do espírito e das idéias. A serra no trópico é benfazeja, pelas amenidades do clima. A alma retrancada, cismarenta e precavida de Getúlio, encontrou boa acolhida nas quebradas protetoras e hermetizantes da Estrela e da Mantiqueira. O gaúcho do pampa destabocado e desabrido, amineirou-se no alcantilado das vertentes do Paraíba e do rio Grande. Em 16 de março de 1931, Vargas chegava a Petrópolis, para o seu primeiro veraneio oficial, que durou 36 dias, tendo terminado a 20 de abril. Não se tratavam de férias propriamente ditas, pois o Chefe do Governo não se restringia aqui a desfrutar da calma da cidade, da temperatura agradável, dos passeios pelas ruas e arredores e dos compromissos sociais. Havia sempre papéis a despachar, assuntos a reclamar acurado estudo, audiências, reuniões com assessores e credenciais de representantes diplomáticos a receber. E tudo isso respingado de crises, ameaças, boatos, descontentamentos, muitos deles oriundos da transição que parecia fazer-se no país. De qualquer forma a vida no Rio Negro, sem o desgaste da velocidade das comunicações dos dias que correm e sem a complexidade de um Brasil às vésperas do terceiro milênio, era incontestavelmente muito mansa e portanto restauradora. Do Diário/relatório de Getúlio referente ao verão de 1931, num tom monótono e frio como sapo, em linguagem quase telegráfica, consta apenas um fato relevante em termos locais, já que o resto se refere à politicagem nacional, ao azedume dos interesses contrariados, à fermentação dos arraiais descontentes. Pura briguinha pelo poder no quintal. Raça infame. Era 19 de abril de 1931, dia em que o Chefe do Governo Provisório da República completava 48 anos. E ele registrava: “Sendo dia do meu aniversário não quis incomodar a ninguém com […] Read More

PETRÓPOLIS E SUA MALOGRADA ANEXAÇÃO AO DISTRITO FEDERAL – II

PETRÓPOLIS E SUA MALOGRADA ANEXAÇÃO AO DISTRITO FEDERAL – II Francisco de Vasconcellos, Associado Emérito – Enfim, a idéia não tinha qualquer apelo popular e por conseguinte dela estavam alheios os autênticos petropolitanos. Mas apesar do corpo estranho introduzido numa simples reunião que visava o melhoramento de um dos principais logradouros da urbe de Koeler, a votação da proposta correu normalmente, tendo sido ela aprovada por unanimidade nos termos em que fora apresentada e conforme o projeto de Paulo Bergerot. Ficou constituído na altura um grupo de trabalho integrado pelos Drs. Roxo de Rodrigues, Souza Leão, Eugênio Gudin, Barão de Santa Margarida, José Paranaguá e Teixeira Soares, todos sob a presidência do Dr. Arthur de Sá Earp. Antes que findasse a reunião, o Barão de Ibirocaí, não querendo que morresse no nascedouro a idéia levantada pelo Dr. Roxo de Rodrigues, mesmo diante da má vontade do Presidente da Câmara, propôs, que fosse convocado novo encontro, para que se apreciasse a anexação de Petrópolis ao Distrito Federal. Aceita a proposta pelos presentes, Luiz da Rocha Miranda, alvitrou que seria melhor criar-se uma comissão para o estudo prévio do tema, tendo sido aclamados para tal, Paulo de Frontin, Luiz da Rocha Miranda, Antônio Roxo de Rodrigues, Villela dos Santos, Joaquim Moreira, Franklin Sampaio, Conde de Figueiredo, Teixeira Soares e Eugênio de Almeida e Silva. A Tribuna de Petrópolis, arauto de longa data dessa aspiração da Corte na serra, saiu logo em defesa dela em momentoso artigo que veio a furo no dia 15 de fevereiro de 1906. Dizia o redator da matéria: “Ora, foi baseado nessas razões, que advogamos a aquisição do território desta cidade e de uma faixa dos municípios de Magé e de Iguaçu, necessários ao prolongamento do Distrito Federal até cá, estabelecendo-se, entretanto, um regime especial, que de modo algum ofendesse a autonomia de que goza atualmente Petrópolis, como município do Estado do Rio de Janeiro. E isto por uma razão muito simples: cidade importante, universalmente conhecida, Petrópolis não pode, nem deve perder de um momento para outro, os foros de que goza, para se converter num simples subúrbio daquele distrito, abandonado, sem melhoramentos úteis, como acontece atualmente com o Engenho Novo, Todos os Santos, Cascadura e muitos outros. É necessário, portanto, que a comissão encarregada de estudar o grave assunto, pese bem as vantagens que se deve tirar para Petrópolis, com a anexação proposta”. Tinha certa razão o […] Read More

TERTÚLIAS DE HUMBERTO DE CAMPOS E MANOEL BONFIM EM CORRÊAS

TERTÚLIAS DE HUMBERTO DE CAMPOS E MANOEL BONFIM EM CORRÊAS Francisco de Vasconcellos, Associado Emérito – Corrêas, janeiro de 1928. No Hotel D. Pedro, instalado no velho casarão do Padre Corrêa, dois grandes intelectuais brasileiros, estão ali hospedados em busca de tranqüilidade e refrigério. São eles, o maranhense Humberto de Campos, membro da Academia Brasileira de Letras, dono de enorme bagagem literária e o sergipano Manoel José Bonfim, historiador, pedagogo e sociólogo, com incursões pelo americanismo e pelas raízes nacionais. Corrêas dos anos vinte, não era o arrabalde pretensioso e acanalhado de hoje, onde pedestres e veículos de toda a espécie disputam a exiguidade dos logradouros e a única ponte que liga a povoação à estrada União Indústria. Em 1928, aquilo era um lugar de repouso e de cura, com suas chácaras aprazíveis, seu comércio modesto, sua população rarefeita, seu silêncio profundo, apenas cortado pelo ruido do trem do Norte, que ligava Petrópolis a Três Rios e a São José do Rio Preto. Antonio Machado, que fora comerciante de fumo no Rio de Janeiro, estabelecera na estrada setecentista do Padre Antonio Thomaz de Aquino Corrêa, o hotel D. Pedro, que depois transformar-se-ia em sanatório, dada a grande procura do clima de Corrêas pelos tuberculosos, sempre esperançosos de cura, numa época em que esta somente se operava por milagre. Pois foi justamente nesse hotel D. Pedro, que Humberto de Campos e Manoel Bonfim, trocaram figurinhas nos dias 16 e 17 de janeiro de 1928. Humberto Campos, nascido no Maranhão em 1886, era já autor consagrado, com vasta bibliografia dos contos humorísticos à crítica literária. Ademais, ele era dado a registrar suas memórias, genêro aliás que o haveria de consagrar post mortem, com a divulgação do seu “Diário Secreto”. Foi na primeira série de sua “Crítica”, livro de 1933, que encontrei o registro de sua tertúlia com Manuel Bonfim, na aprazibilidade coreense, num ensaio sob o título “Nossa Formação Étnica”. E Humberto Campos começa assim o seu discurso: “Consultando o meu diário inédito, relativo ao ano de 1928, encontro essas anotações: Segunda feira, 16 de janeiro – Entre os hóspedes do hotel ( Hotel D. Pedro em Corrêas), um há tão bisonho quanto eu, mas que toma a iniciativa de aproximar-se de mim. É Manuel Bonfim, sociólogo e historiador, autor d’América Latina, obra cuja documentação histórica me espantou, quando há vinte e dois anos, adolescente ainda, alí no interior do Ceará. Humberto […] Read More

AMARO VASCONCELLOS, INDUSTRIAL EM PETRÓPOLIS

AMARO VASCONCELLOS, INDUSTRIAL EM PETRÓPOLIS Francisco de Vasconcellos, Associado Emérito Campos dos Goitacazes, 1926. O capitão de indústria Francisco Ribeiro de Vasconcellos, enfrenta mais uma crise no mercado açucareiro. Afora isso, afligi-o um certo desentendimento familiar, que pode pôr em risco anos de sacrifícios na montagem de um pequeno império, que tinha como empresa holding a Usina São José. É nesse momento que Amaro, terceiro rebento do usineiro, alma irrequieta, farejadora de progresso, contaminada por uma ponta de delírio ambulatório e pelo espírito de aventura, deixa Campos, para radicar-se em Petrópolis, onde pretendia iniciar carreira de industrial em áreas que nada tinham a ver com as atividades tradicionais da família, há duzentos anos lidando com a cana de açúcar. Abril de 1926. Amaro Vasconcellos, já está instalado na serra, desfilando com sua baratinha amarela pelas ruas petropolitanas. Fez-se sócio do Tênis Clube e não demorou muito já estava de namoro com moça de tradicional família de Corrêas. Em 4 de maio daquele ano, protocolava na Prefeitura, sob o nº 1894, requerimento em que anunciava estar montando seis máquinas para fabricação de pregos e um motor elétrico de 6 H.P., no prédio nº 159 da rua João Caetano, pelo que, pedia a devida licença. A 7 de maio, pelo requerimento 1957, pedia permissão à autoridade competente, não só para estabelecer a fabrica de pregos, mas também uma carpintaria movida à eletricidade e solicitava lhe fosse cobrado o imposto proporcional ao resto do ano. Informava que o empreendimento ia ter 12 operários. A 10 de maio, novo requerimento: o de nº 1985, nos seguintes termos: “O abaixo assinado, Amaro Vasconcellos, já tendo instalado as suas máquinas no barracão da rua João Caetano 159, de acordo com o requerimento nº 1894 de 4 de maio do corrente, e tendo satisfeito todas as exigências dessa Prefeitura, requer vistoria para as ditas máquinas” . A vistoria foi efetivada a 14 de maio e detectou no local um motor elétrico de 6 H.P., seis máquinas de pregos e u’a máquina de serra de fita. Os emolumentos foram pagos pelo talão 1458 em 25 de maio de 1926. O jornal “O Comércio” de 3 de setembro daquele ano, estampava na seção de anúncios: “FÁBRICA DE PREGOS AMARO VASCONCELLOS – Fabrica e vende esse artigo em qualquer quantidade. Rua João Caetano 159 – Fone 961 – Petrópolis”. E o “Jornal de Petrópolis” de 25 daquele mês, fazia bela […] Read More

QUESTÃO DE LIMITES ENTRE OS ESTADOS DO RIO DE JANEIRO E MINAS GERAIS – II (A)

A QUESTÃO DE LIMITES ENTRE OS ESTADOS DO RIO DE JANEIRO E MINAS GERAIS – II Francisco de Vasconcellos, Associado Emérito Durante os anos oitenta do século passado, o assunto dos limites entre as províncias do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, praticamente desapareceu dos relatórios e dos noticiários. Na fala do Presidente fluminense Antonio da Rocha Fernandes Leão, em 8 de agosto de 1886, ficou consignado o seguinte: “Não tendo na lei do orçamento os meios precisos para levar a efeito aquele trabalho, declarei ao Presidente de Minas em ofício de 11 de junho que oportunamente solicitaria da Assembléia Legislativa Provincial a decretação da verba necessária para a referida verificação, caso não fosse da competência do governo geral manda-la executar”. Conforme se viu até aqui, essa tormentosa e arrastada questão de limites viveu de 1843 até o fim do Império num completo jogo de empurra, dos presidentes das províncias para as respectivas assembléias, que jamais votavam as verbas indispensáveis à demarcação e ao levantamento das plantas; e dos governos provinciais para o central, que por sua vez ouvia o Conselho de Estado, que custava a dar pareceres ou o fazia de forma insuficiente. Mas há um aspecto em tudo isso que não pode ser descurado: o caráter unitário do Império brasileiro, que em grande parte jungia as províncias aos desígnios do governo geral, foi também um dos grandes responsáveis pela não solução em tempo hábil do problema lindeiro no norte fluminense. Afinal, dentro do conceito, do espírito da Constituição de 1824 e da legislação dela decorrente, pouca diferença fazia se esta ou aquela porção do território de uma província estivesse sendo disputado por uma outra. Afinal tudo era Império do Brasil, que jamais deu espaço a qualquer vislumbre de federação. Esse fato não passou desapercebido ao engenheiro Cypriano J. de Carvalho que, em memória apresentada ao Secretário de Obras Públicas e Indústrias do governo Maurício de Abreu, em 1º de agosto de 1897, registrou; “A discriminação das divisas do Estado do Rio de Janeiro, tem constituído, desde muito, uma aspiração dos seus mais ilustres administradores e bem poderia ser hoje uma realidade se maiores houvessem sido em outros tempos, o prestígio e a autonomia provinciais”. Foi com o advento da República e especialmente depois da Constituição Federal de fevereiro de 1891 e da Carta Estadual de abril de 1892, que o tema começou a ser estudado com maior […] Read More

AINDA A VINGANÇA DO CONSELHEIRO

AINDA A VINGANÇA DO CONSELHEIRO Francisco de Vasconcellos, Associado Emérito A morte violenta do Marechal Machado Bittencourt, trouxe à tona os subterrâneos putredinosos da República. Já não se falava do perigo da restauração monárquica, tão explorado durante a Guerra de Canudos. Agora a disputa se circunscrevia à intimidade do novo regime. Nada de fantasmas, de paranóias, de inimigos supostos e muito distantes, como no caso canudeano. Tratava-se então de uma realidade palpável, de um confronto entre facções do mesmo credo político, na disputa desenfreada pelo poder. A Gazeta de Petrópolis, no artigo de fundo de 9 de novembro de 1897, denunciava com todas as letras: “A situação é difícil, porque de um lado se acha, como a única força, a dignidade da Nação brasileira e do outro, um partido, que embora republicano, não teve o poder de desarmar a mão homicida, que se ergueu contra o chefe da nação. Duas forças que disputam a suprema direção da República, devem marchar no caminho que lhes traçou a lei e toda a transgressão dela trará à Nação, não somente dificuldades econômicas, como a desconsideração do estrangeiro, que, forçoso é dizê-lo, ainda não acredita na estabilidade das instituições republicanas.” De longe vinha a luta surda e mesquinha do Vice-Presidente Manoel Victorino Pereira contra Prudente de Moraes, Presidente constitucional do Brasil, durante o quatriênio 1894/1898. Dunhsee de Abranches, testemunha ocular dos fatos, no livro “Como se Faziam os Presidentes”, narra com minúcias as torpes maquinações e o inaceitável comportamento de Manoel Victorino, quando substituiu o Presidente na virada de 1896 para 1897, por motivo de saúde deste. No fundo, Victorino queria perpetuar-se no poder, pelo menos até 15 de novembro de 1898 e para tanto não poupou os expedientes mais escusos e os arranjos mais sórdidos. A volta de presidente ao Itamaratí, então sede do governo da República, em março de 1897, deixou um travo na boca já por natureza amarga do baiano Victorino. E essa volta coincidiu com o desastre de Moreira Cesar em Canudos, ele que havia sido escolhido a dedo pelo Vice Presidente para liquidar o arraial conselheirista e voltar como homem forte, para dar-lhe a ambição de poder. Mas o tiro saiu pela culatra, Moreira Cesar foi para o espaço e Prudente reassumiu pronto para enfrentar qualquer refrega. Correu o marfim. A quarta expedição contra Canudos foi minuciosamente preparada, segundo as circunstâncias do momento e as malogradas experiências anteriores. Pela […] Read More

QUESTÃO DE LIMITES ENTRE OS ESTADOS DO RIO DE JANEIRO E MINAS GERAIS – I (A)

A QUESTÃO DE LIMITES ENTRE OS ESTADOS DO RIO DE JANEIRO E MINAS GERAIS – I Francisco de Vasconcellos, Associado Emérito Muita gente se recorda da arrastada pendência envolvendo a questão de limites entre Minais Gerais e o Espírito Santo que chegou praticamente aos nossos dias, quando deu-se o deslinde, para a alegria e tranqüilidade dos habitantes de Mantena, Mantenópolis, Barra de São Francisco, Baixo Guandú, Aimorés, etc., etc. Também é do conhecimento geral o renitente protesto de mais de cento e setenta anos, dos pernambucanos, na defesa de um imenso território, que ia até os arredores de Paracatú, perdido para a Bahia e Minas Gerais, como pena pela ousadia da revolução de 1824. Mas, o que poucos sabem é que os Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, tiveram durante décadas problemas, em face da imprecisão dos limites na região dos rios Pirapetinga, Pomba, Muriaé e Carangola. O decreto imperial nº 297 de 19 de maio de 1843, considerando as dúvidas resultantes da imprecisão da linha divisória entre as duas províncias, na zona em epígrafe e querendo evitar os conflitos oriundos delas, estabeleceu o seguinte no seu artigo 1º: “Os limites entre a Província do Rio de Janeiro e a de Minas Gerais, ficam provisoriamente fixados da maneira seguinte: começando pela foz do riacho Pirapetinga do Paraíba, subindo pelo dito Pirapetinga acima até o ponto fronteiro à barra do Ribeirão Santo Antonio do Pomba e daí por uma linha reta à dita barra do Santo Antonio, correndo pelo Ribeirão acima até a serra denominada Santo Antonio e daí a um lugar do rio Muriaé chamado Poço Fundo, correndo pela Serra do Gavião até a cachoeira dos Tombos no rio Carangola e seguindo a serra do Carangola até encontrar a Província do Espírito Santo.” Onze anos depois, o relatório do Presidente da Província do Rio de Janeiro, Luiz Antonio Barbosa, datado de 2 de maio de 1854, acusava as instruções dadas ao engenheiro Pedro Taulois para a demarcação de limites entre o município de Campos e a Província de Minas Gerais. Vale esclarecer, que naquele tempo, o município de Campos, extensíssimo, compreendia praticamente todo o norte da província fluminense, abrangendo os territórios hoje pertencentes a Itaperuna, São Fidelis, Lage do Muriaé, Natividade, Porciuncula, Varre Sai… Essas instruções dadas ao engenheiro Taulois, bisavô do nosso preclaro colega Antonio Eugênio de Azevedo Taulois, estavam fulcradas no decreto de 19 de maio […] Read More

RESGATES PETROPOLITANOS [ADRIEN DELPECH]

RESGATES PETROPOLITANOS [ADRIEN DELPECH] Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito – Adrien Delpech, cultor das letras e das artes precisa ser trazido à tona da memória desta urbe no ensejo do setuagésimo aniversário de sua morte. Nascera ele na Bélgica, em 1867 e, em 1892, chegava ao Brasil no vigor de seus 25 anos. Radicou-se no Rio de Janeiro. Com excelente formação humanista e dotado de atributos pedagógicos, não lhe fora difícil incorporar-se ao seleto corpo docente do Ginásio Nacional, que fora o Colégio Pedro II e que, passada a fúria demolidora do início da República, fora rebatizado com o nome do Imperador. Delpech fora contemporâneo de um outro belga, Luis Cruls, que, no inicio dos anos noventa dos oitocentos chefiou a missão encarregada de levantar e demarcar a área onde deveria instalar-se a nova capital brasileira, projeto que só viria a furo sessenta anos depois com o advento de Brasília. Este mesmo Luis Cruls, pai do escritor Gastão Cruls, estava aqui em Petrópolis, em 1899, regendo uma das cadeiras do Ginásio Fluminense, lamentavelmente de vida efêmera. E foi Luis Cruls quem aproximou o professor Delpech destas serras, conforme o depoimento do filho deste, Paulo Weguelin Delpech, que eu conhecera no Rio de Janeiro no início da década de sessenta dos novecentos. Encantado com o clima, a tranquilidade e a beleza da cidade, Adrien Delpech passou a veranear aqui , participando ativamente da vida intelectual desta urbe nas três primeiras décadas do século XX. Adrien Delpech deixou-se impregnar dos encantos tropicais e procurou o quanto possível enfronhar-se na cultura brasileira. Interessado na música e nas artes plásticas, teve uma enorme predileção pela obra de Jean Baptiste Débret. Na literatuda dedicou-se escarafunchar a fecunda produção de Machado de Assis e as elaborações dos poetas românticos e parnasianismo . Relacionou-se com Raimundo Corrêa, Alberto de Oliveira e Olavo Bilac. Iniciava-se o ano de 1929, ano difícil para o Brasil e para o mundo. Crise à vista. Mas aqui em Petrópolis, com o início da estação de veraneio, tudo era alegria e sorriso. Festas, promoções culturais, recreativas, beneficentes. No Tênis Clube, a “jeunesse dorée” dava a nota bizarra aos concursos de “prince” e “princesse” “de la saison”. Enfim um luxo e uma enorme exibição de bom gosto e de fino trato. Era o tempo da Associação de Ciências e Letras, fundada em 1922 e que em breve resolver-se-ia na Academia Petropolitana de […] Read More

RESGATES PETROPOLITANOS [AUGUSTO DE LA ROCQUE]

Francisco José de Ribeiro Vasconcellos, Associado Emérito – Augusto de La Rocque, paraense de Belém, foi grata contribuição do norte brasileiro à grandeza de Petrópolis. Não seria a única. Aqui pontificaram o Barão de Mamoré, Ambrosio Leitão da Cunha e, seu filho, também Ambrosio, brilhante advogado; e um outro causídico, morto prematuramente em 1926, Emílio Malcher Nina Ribeiro, avô do ex-deputado e também advogado Emílio Antonio Souza Aguiar Nina Ribeiro, que por longos anos teve residência à Av. 1º de Março, hoje Roberto Silveira. Augusto de la Rocque nasceu a 2 de agosto de 1851. Seu pai, Henrique de la Rocque, era súdito francês que emigrou para o Porto, em Portugal quando das guerras napoleônicas, de onde passou ao Pará onde fez carreira bem sucedida no comércio. Foi o jovem Augusto educado na Alemanha e na França. Estando em Paris em 1870 tratando de negócios do pai, Augusto de la Rocque assistiu à rendição da pátria de seus ancestrais, ao findar a guerra franco-prussiana. Voltando a Belém, Augusto desenvolveu atividades comerciais e industriais e foi presidente do Banco Comercial do Pará. Dirigiu as companhias das águas e dos bondes de Belém. Em 1908 deslocou-se para o sudeste brasileiro, fixando sua residência na Chácara das Rosas aqui em Petrópolis, onde dedicou-se ao cultivo de flores e frutos. Gozando de enorme prestígio social em Petrópolis, Augusto de la Rocque não era homem de exibicionismos ou de proselitismos mundanos. Era uma alma simples, com aquele despojamento natural dos espíritos superiores. Morrendo a 23 de março de 1929 nesta urbe, dispensou as pompas fúnebres, tendo sido sepultado no cemitério municipal sem alarde, sem convites, em cerimônia praticamente restrita à família. Caridoso por natureza, sensível às angústias do próximo, la Rocque não hesitou em hospedar na Chácara das Rosas as religiosas portuguesas expulsas de seu país quando da revolução republicana de 1910. Augusto de la Rocque era casado com D. Maria José Pereira de la Rocque e deixou os seguintes filhos: Augusto de la Rocque Junior, Emília de la Rocque Mac-Dowell, casada com o Dr. Afonso Mac Dowell, Alice de la Rocque, Jorge de la Rocque e Maria Augusta de la Rocque da Costa, mulher do Dr. Alberto da Costa. O primogênito, que levava o nome do pai, casou-se com Isabel Teixeira Leite Guimarães e Jorge com a irmã desta, Emília Teixeira Leite Guimarães. Eram portanto dois irmãos casados com duas irmãs, todos fortemente vinculados […] Read More

QUINTINO BOCAIUVA – O PATRIARCA DA REPÚBLICA

QUINTINO BOCAIUVA – O PATRIARCA DA REPÚBLICA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito – Na oportunidade do transcurso do primeiro centenário do falecimento de Quintino Bocaiuva, venho a esta tribuna para relembrar, já com excelente perspectiva temporal, essa grande figura da vida pública brasileira que passou à História pátria com o título de Patriarca da República. Falando para uma plateia petropolitana e não sendo do meu feitio cansar os ouvintes com longos discursos, decidi ater-me ao Quintino Bocaiuva em Petrópolis, primeiro como jornalista, depois como Presidente do Estado do Rio de Janeiro, cumprindo o triênio 1901/1903. Aqui e ali um pouco da visão do chamado macro Quintino. Nascido no Rio de Janeiro a 4 de dezembro de 1836 no seio de uma família comum e corrente, Quintino estava aos 14 anos em São Paulo, tendo ainda na adolescência trabalhado em alguns periódicos, notadamente no “Acaiaba”. Tentou estudar Direito, mas os seus parcos recursos não lhe permitiram o intento. De volta ao Rio trabalhou no “Correio Mercantil”. Aos 21 anos chegara a Petrópolis onde viera redatar “O Parahyba” de Augusto Emilio Zaluar, jornal de excelente qualidade mas de vida efêmera, já que durara de 1857 a 1859. Ali durante o ano de 1858 aparecem matérias assinadas por ele que demonstram a profundidade de seus conhecimentos e o seu elevado espírito crítico. Numa delas, Quintino abordou o problema da instrução na Província fluminense e o que escreveu, é ainda atualíssimo, nada distante do discurso do eminente Senador Cristovão Buarque. O professor era e segue sendo desprestigiado e pessimamente remunerado bastando dizer que só há dois países que nos batem nessa questão: o Peru e a Indonésia. A preocupação de Quintino Bocaiuva com a instrução foi uma constante em sua vida. Quarenta e três anos depois de ter exposto suas críticas no mencionado artigo, estando na Presidência do Estado, baixou uma dúzia de decretos tratando da instrução na terra fluminense e sancionou várias leis atinentes ao mesmo tema. Foi ele o criador da Escola Normal de Campos dos Goitacazes anexa ao Liceu de Humanidades que ali fora fundado em 1880, passando a funcionar em 1884. Num outro artigo Quintino tratou do estado calamitoso das cadeias fluminenses, falando de sua super-lotação, de sua falta de higiene, de sua incapacidade para recuperar criminosos e reinseri-los na vida social, aspectos que estão vivíssimos nos dias que correm, agravados pelo chamado crime organizado e pela corrupção […] Read More