Joaquim Eloy Duarte dos Santos

EDUCAÇÃO EM PETRÓPOLIS – O Ginásio Pinto Ferreira – Henrique Pinto Ferreira

  EDUCAÇÃO EM PETRÓPOLIS Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira O Ginásio Pinto Ferreira – Prof. Henrique Pinto Ferreira O jovem Henrique Pinto Ferreira, português, natural da encantadora Felgueiras, no norte de Portugal, a 60km do Porto, onde nasceu a 17 de dezembro de 1883, resolveu, no início do século, arrumar suas malas e partir para o Rio de Janeiro. Inteligente, estudioso, vinha para tentar a sorte nas profissões que trouxera de sua excelente formação escolar. Aqui chegou formado em borla e capelo pela Universidade de Coimbra, onde foi companheiro de turma do notável Cardeal Cerejeira. Estudou ainda Engenharia Militar até o 5º ano em Coimbra, concluindo o curso na Academia Militar de Lisboa. Da maravilhosa cidade de Lisboa embarcou em um navio com destino ao Brasil e, no Rio de Janeiro, diplomou-se, pela Universidade do Brasil, em Medicina, Química Industrial e Farmacêutica. Para ser admitido em nosso ensino superior submeteu-se às bancas examinadoras rigorosíssimas do Colégio Nacional (hoje Colégio Pedro II), conquistando o 1º lugar geral, o que lhe conferiu o direito de matriculas e cursos livres de quaisquer ônus. Em correspondência para a família revelou que ficaria definitivamente no Brasil. Sua mãe, preocupada com as notícias das péssimas condições sanitárias e de saúde do Rio de Janeiro, nos sombrios dias da febre-amarela e da peste bubônica, recomendou que residisse em localidade que estivesse livre dessas mazelas. Escolheu Petrópolis. Subiu e desceu incessantemente pela serra naquele trem de Mauá, enquanto estudava no Rio de Janeiro, trabalhando em alguns ofícios na cidade serrana. Dotado de fina cultura e grande pendor para o magistério, foi convidado a integrar o quadro de professores do Colégio Luso-Brasileiro, que mantinha turmas de internato e externato. O internato ocupava o prédio do atual Palácio Grão-Pará e todo o seu imenso jardim que dava frente para a rua do Imperador (então Avenida 15 de Novembro), onde hoje está o prédio dos Correios e outras edificações fronteiras à atual rua Joaquim Moreira. O externato funcionava no prédio que fora ocupado pela Assembléia Legislativa Estadual, ao tempo de Petrópolis-Capital, depois Colégios Plínio Leite e Carlos Alberto Werneck, hoje um edifício comercial e de apartamentos. Estava definida sua vocação verdadeira e a missão de vida: educador. Num instante as salas de aulas da cidade ganhavam um extraordinário mestre. Naqueles tempos a cidade de Petrópolis era um importante centro educacional […] Read More

GRUPO ESCOLAR, O CÍRCULO E OUTRAS LEMBRANÇAS (O)

  O GRUPO ESCOLAR, O CÍRCULO E OUTRAS LEMBRANÇAS Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira O Professor Jeronymo Ferreira Alves Netto, em artigo publicado aqui no Jornal de Petrópolis, edição de 19 a 25 de outubro de 2002, sob o título “Oitenta anos da inauguração do Pedro II”, narrou os anos dourados do Grupo Escolar, desde a fundação numa casa da Rua 14 de Julho (hoje Washington Luís), passando pela doação do terreno à Avenida 15 de Novembro (hoje Rua do Imperador) pela Princesa Isabel e a construção e instalação do estabelecimento no atual endereço e belo prédio, a partir de 26 de novembro de 1922 quando foi inaugurado em sessão solene pelo governador do Estado Dr. Raul Veiga. É do Grupo Escolar Dom Pedro II que falamos e não das sucessivas adaptações e ampliações que impuseram o fim do Grupo Escolar para a criação do ensino até o 2º grau completo, sob outras denominações: CENIP (Centro de Ensino Integrado de Petrópolis), Colégio Estadual Washington Luís e Colégio Estadual Dom Pedro II, este último e atual retomando a homenagem solicitada pela doadora do terreno, a Princesa Isabel. Na década de 40, objetivo desse artigo, era diretora do Grupo Escolar a professora Germana Gouvêa, mestra e administradora impecável, titular da Academia Petropolitana de Letras, que funcionou durante muitos anos nas dependências do Grupo, realizando memoráveis reuniões literárias no Salão Nobre, onde existiam os retratos do patrono Dom Pedro II, do ex-Governador Raul Veiga e o do governador em exercício, sempre cambiável. Naquele salão foi instalada a Câmara Ardente do escritor Stefan Zweig e sua mulher Charlotte, mortos a 24 de fevereiro de 1942, organizada pela Academia Petropolitana de Letras, na presidência Carauta de Souza. Germana Gouvêa, estimulada pelo Diretor do Departamento de Educação do Estado, Dr. Rubens Falcão e auxiliada pelo Técnico de Educação Professor Ovídio Gouveia da Cunha, ambos confrades seus na Academia Petropolitana de Letras, criou o “Circulo de Pais e Professores do Grupo Escolar Dom Pedro II”, com bela atuação no ano de 1944, quando premiou os melhores alunos com cadernetas da Caixa Econômica, a saber: com Cr$ 30,00 cada um: Fabiano Luiz de Pércia Gomes, Franklin Peixoto da Costa Filho, Arildo Hoeltz e Orleia Rocancourt; com Cr$ 20,00 cada um: Marta Klein, Gicelda Ferreira, Nelson Gonçalves, Nilo José de Souza, Delfina Moreira, Ewald Winhefmann, Hélio José Romero, […] Read More

ADMIRÁVEL NAIR DE TEFFÉ!

  ADMIRÁVEL NAIR DE TEFFÉ! Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira No Brasil dos homens surgiu num espanto a mulher desafiadora, corajosa, inteligente, vivaz, nascida a 10 de junho de 1886, filha de um dos notáveis do Império, Antonio Luiz Von Hoonholtz, o Barão de Teffé e esposa Maria Luisa Dodsworth, de família de expressiva tradição. Nair de Teffé vinha ao mundo no crepúsculo do Império e, no ano seguinte, estava com os pais residindo em Paris; depois Bruxelas (Bélgica), Nice (França), novamente Rio de Janeiro, em seguida Roma, novamente na França, enquanto os anos passavam e Nair já era menina moça de 15 anos. Sua educação foi esmerada e sua cultura aprimorada nos melhores educandários da Europa. Em 1905 seu pai retornou definitivamente ao Brasil, após brilhante carreira diplomática, elegendo Petrópolis para residência, mantendo casa do Rio, porém extrapolando sua permanência sazonal na Cidade de Dom Pedro II, além do habitual de seus coevos. A carioca Nair apaixonou-se pela bela, bucólica e florida Petrópolis. Além da educação formal recebida no lar e nos educandários para moças, a irrequieta jovem possuía predicados pessoais que espantavam os circunstantes sociais de seu tempo: cantava afinada e com bela voz, desenhava com apuro e criatividade, corria livre pelos caminhos em alegria diversa das moças de seu tempo, cavalgava com maestria, conversava nos salões com desenvoltura e, na ingenuidade feminina daqueles tempos, escandalizava o rubor das senhoras programadas de narizes empinados; escrevia, poetava, seu espírito era vivaz, arguto, aquilino, caricaturando a sociedade como “homem”. Feminina, bela, recebia olhares, bilhetes, cartas que deliciavam sua verve buliçosa e inspiravam suas tiradas sibilinas e, às vezes, desconcertantes. Tudo com muita graça e particular encanto. Nair alcançou enorme e merecido sucesso com suas caricaturas, publicadas e disputadas pela Imprensa das duas primeiras décadas do século. Alimentou especial dedicação à arte cênica, amava o teatro. Coelho Netto escreveu para ela “Miss Love”, peça que protagonizou e foi sucesso no Rio e tem Petrópolis. Trabalhou na companhia do grande ator-empresário Leopoldo Fróes na peça “Longe dos Olhos” apresentada em Petrópolis para encanto da sociedade local e veranistas o que levou Nair à organização da “Troupe Rian”, montando e encenando peças dos destacados autores daqueles dias, como Abadie Faria Rosa, Álvaro Moreira, Afrânio Peixoto, Cláudio de Souza e do petropolitano Reinaldo Chaves. A Imprensa local e do Rio de Janeiro acompanhavam […] Read More

CRIADORES DO LICEU (OS)

  OS CRIADORES DO LICEU Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira No dia 7 de novembro completará 49 anos um excelente educandário petropolitano, que vem ensinando e educando gerações de petropolitanos, respeitado, bem administrado, um estabelecimento público de assinalados serviços prestados aos estudantes e às famílias do Município. É o Liceu Municipal Prefeito Cordolino Ambrósio. Coube ao Diretor da Inspetoria de Ensino da Prefeitura, na gestão do Prefeito Cordolino Ambrósio, a idéia, o trabalho, a organização e o empenho direto para a edificação da grande obra: o extraordinário Professor Décio Duarte Ennes. Décio era grande amigo da família Ambrósio, contemporâneo dos filhos do político Cordolino, a par de sua reconhecida e admirada vocação magisterial; possuía invejável cultura, adquirida pelo estudo diuturno e interessado, e por sua privilegiada inteligência, adorava escrever fosse poesia ou prosa, além de orador emérito que falava sempre de improviso e forma e conteúdo encantadores. Sua formação escolar coube inicialmente à sua mãe, a inesquecível professora Adalgisa Marques Duarte Ennes e, depois, ao Colégio Pinto Ferreira, aprendendo com o mestre Henrique Pinto Ferreira a universalidade do conhecimento; os professores daquele educandário, mais tarde transformado em Colégio São José, já sob o grande mestre Napoleão Esteves, foram os grandes formadores da cultura de Décio Ennes. Com apenas 14 para 15 anos já lecionava no Colégio como monitor dos mestres consagrados e, em pouco tempo, tornava-se um deles. Professor do Colégio e mais do Liceu Fluminense, Carlos Werneck e Estadual Dom Pedro II, do qual foi competente e disciplinador Diretor, Décio abraçou o sacerdócio mais puro da bela carreira do Magistério. Escreveu livros de português, poesia, prosa e colaborou assiduamente na Imprensa Petropolitana, tendo atuado na redação do Jornal do Povo na melhor fase daquele matutino já desaparecido. Político interessado e atuante, chegou à candidatura para vereador, sem lograr êxito nas urnas; esteve sempre ao lado de Cordolino Ambrósio e, com entusiasmo, ajudou o grande amigo na Prefeitura, o que ensejou um prêmio exuberante para a Cidade, o seu Liceu, do qual foi o primeiro Diretor e Autor do Hino e quem o organizou e deu ao Educandário a forma e a respeitabilidade que hoje possui. Sua passagem pelos Colégios São José, Estadual e Liceu Municipal, notadamente, conferiram gabarito e elevaram os educandários à excelência. Seu fim de vida foi trágico: abateu-o o álcool, assaltante de sua vida apaixonada. […] Read More

CENTENÁRIO DE SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA – HISTORIADOR

CENTENÁRIO DE SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA – HISTORIADOR Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira Historiador conta histórias ou é historiador aquele que interpreta a História? Ou, ainda, o curioso com sede de saber que perscruta documentos, lê e mastiga obras feitas com a dentição da curiosidade, anota os fatos e compilando tudo, escreve a história sob sua ótica? Será que historiador é, simplesmente, quem fala de história, narra acontecimentos e os posiciona junto à evolução social num todo? O que é, ou quem é, afinal, a História e o Historiador? Sobre História, muitos mestres especulativos abriram a discussão e forjaram jornadas pesquisa adentro. Falaram de sua filosofia, teorizaram conceitos, estabeleceram compartimentos interpretativos e, até, a sistematização do conhecimento por áreas de atuação profissional, destacando a história dos meandros econômicos das sociedades ou do factual simplesmente saboroso para a satisfação da curiosidade humana. Com A D. Xenopol, historiador espanhol do princípio do século XX, vê-se que a “História é constituída por uma sucessão de fatos individualizados pelo tempo, indiferentemente de se manifestarem universais, gerais ou individuais e também quanto ao espaço. Essa individualização dos fatos sucessivos no curso do tempo exclui a possibilidade de sua repetição igual indefinida e, conseqüentemente, a possibilidade de formular as leis de sua reprodução.” É o princípio basilar de que a História não se repete, jamais se repetirá porque individualizados seus fatos no tempo e no espaço. Langlois e Seignobos, franceses da primeira metade do século XX, afirmam que “A História se faz com documentos e que estes são os traços que deixaram os pensamentos e os atos do passado.” É a revelação da matéria prima de que se nutre a História. O historiador Van Den Besselaar acrescenta um tijolo à definição sempre incompleta de História ao afirmar que a “História é a ciência dos atos humanos do passado e dos vários fatores que neles influíram, visto na sua sucessão temporal.” Traduz o Autor duas verdades: a História é uma ciência e que seu conteúdo é o estudo especulativo do passado da Criatura Humana em todo o envolvimento evolutivo desde o surgir da maravilha do Universo. O professor Guilhermo Bauer, da Universidade de Viena, na Áustria, reafirma o caráter próprio dos estudos históricos ao comentar: “A ciência se desenvolve em contínuo movimento e significa permanentemente aprofundamento, ampliação e renovação de nosso saber.” Eis que a História […] Read More

ENGENHEIRO PETROPOLITANO (UM)

UM ENGENHEIRO PETROPOLITANO Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira JOSÉ MARIA DA SILVA VELHO nasceu em Petrópolis a 31 de agosto de 1875, filho de José Maria da Silva Velho (médico e amigo íntimo do Imperador D. Pedro II) e de Carolina Monteiro da Silva Velho, neto paterno do Conselheiro José Maria Velho da Silva, (Mordomo da Casa Imperial que firmou a portaria que legaliza o Ato de 1º de abril de 1846, firmando as instruções sobre o aforamento perpétuo das terras petropolitanas e que consta em todas as Cartas ainda hoje emitidas pela Cia. Imobiliária de Petrópolis) e de Leonarda Maria Velho da Silva e neto materno de Manoel Rodrigues Monteiro (Conde da Estrela) e de Eugênia Bastos Monteiro. Passou a infância na Corte do Rio de Janeiro, no prédio do hoje Palácio do Itamarati, então propriedade de seus ascendentes e onde residiam os pais. Ele nasceu, durante um dos veraneios da família, em Petrópolis, onde a família mantinha residência estival. Seus estudos iniciais ocorreram no Colégio Pedro II, na capital do Império. Na exata data da proclamação da República o menino de 14 anos prestaria os exames finais no Educandário, mas pela ocorrência do feriado inesperado, não pode realizá-los e só mais tarde ali completou o Curso de Humanidades. Seu ideal, no entanto, não encontrava eco nas disciplinas do curso pois se apaixonara pela grande novidade científica daqueles dias, a eletricidade. Sua família mostrava-se contrária ao desejo do jovem, preferindo que ele seguisse uma carreira tradicional na família, a diplomacia ou a política e mesmo porque não havia curso médio e nem superior daquela maravilhosa e nova tecnologia. Contrariando a todos ingressa como simples operário na empresa “Mitchel & Cole”, representantes no Brasil da “General Eletric Company”, alimentado pelo desejo de aprender tudo sobre energia elétrica e sua gradativa introdução na vida brasileira. Iniciado o século XX, ano de 1901, o jovem segue para os Estados Unidos, com uma carta de recomendação de Mr. James Mitchell, chefe da “General Eletric” no Brasil, para trabalhar na mesma empresa em Schenectady, onde, nos primeiros meses de trabalho galga posto de chefia, mesmo sendo estrangeiro. Regressa ao Brasil, entrega-se de corpo, alma e competência ao trabalho de engenharia elétrica, tornando-se o grande pioneiro da implantação da energia elétrica no país. Conclui com sucesso seu primeiro trabalho na cidade de Campos, o […] Read More

HOMENAGEM A PEDRO RUBENS

HOMENAGEM A PEDRO RUBENS Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira Repentinamente a palavra da comunicação coloquial e escrita falha inexoravelmente. Por vezes nem o balbucio imperceptível ao ouvido humano sai do imponderável silêncio gelado, o mesmo das alturas do espaço infinito sem atmosfera. Os dedos febris que a mocidade exercitava em rabiscos de caligrafia, que em seguida tomaram de assalto as engenhocas de escrever, e que hoje dedilham os teclados do equipamento informático, não conseguem dobrar as falanges, coitadas, enrijecidas pelo sentimento profundo de espanto e perda total. O vasto dicionário da língua torna-se impotente na busca da terminologia adequada à transmissão de um sentimento pungente que vem lá da recordação de dias de vida e de felicidade, de amor e companheirismo, de dignidade, firmeza e elevado sentimento de fraterna amizade. Quisera encontrar as palavras mais ternas, mais lindas, para falar de você, meu leal amigo, meu sensato companheiro de jornadas profissionais, meu exemplo de coragem e de vida deitada ao próximo sem vacilações ou pensamentos negativos. Se as tivesse agora tentaria dizer que Pedro Rubens Pantolla de Carvalho, que nos deixou na noite de 19 de abril, traduzia o cidadão perfeito, de maravilhosa alma cristã, de sentimentos nobres, de criatura humana acima do trivial limite definidor da bondade magnânima de um coração pronto para servir… Ele excedia qualquer conceituação de lealdade e de amor ao próximo. Pedro Rubens entrou em minha vida no primeiro dia de julho do ano de 1960. É ele, amigo querido, que narra esse encontro em um carta recente que trocamos pela Internet: “Foi assim e é assim desde os meus primeiros momento de trabalho no saudoso Berj quando, naquele dia ensolarado, mas bastante frio, iniciei-me na carreira de bancário através de seus ensinamentos. Daí para a frente, a coisa funcionou mais ou menos como a “corda e a caçamba”. E você, meu primeiro amigo da primeira hora, agindo com sua liderança nata, sempre me empurrando para a frente, fosse no Banco ou fora dele. O tempo rolou. Muitos relógios quebraram, mas de nada adiantou: sempre havia um contando as horas. Chegou a hora da família. Construímos as nossas. As responsabilidades aumentaram pois os filhos não ficam eternamente crianças. E, de repente, diante do espelho, damos conta dos cabelos brancos. Fim de linha. Aposentadoria que chega, mas o trabalho não pára. Aqui e ali, sempre […] Read More

HISTÓRIA PARA TERESA (UMA)

UMA HISTÓRIA PARA TERESA Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira A fazendola do sargento Vieira Afonso – o Córrego Seco – só tinha acesso por um caminho que vinha lá do Porto da Estrela, na margem esquerda do rio Suruí, constituído por uma estreita trilha aberta no meio da espessa mata atlântica. Até a garganta que dá início à hoje rua Teresa subiam os viajantes pela “calçada de pedra”, construída entre os anos de 1802 a 1809, por ordem do príncipe regente D. João, em carta régia de outubro de 1799 dirigida ao vice-rei do Brasil Conde de Resende e uma outra, em seguida, de novembro de 1800 ao vice-rei Dom Fernando José. O príncipe regente mudou a Corte para o Rio de Janeiro em 1808, quando a “calçada de pedra” estava em fase de conclusão, a ele cabendo, em julho de 1809, inaugurá-la pessoalmente. A “calçada” mostrou-se, em pouco tempo, inadequada para o tráfego que se expandia, ganhando a região um traçado novo que a utilizava e adiante a cortava, a Estrada Normal da Estrela. No Alto da Serra iniciava-se a descida ao Córrego Seco para atingir o caminho rumo a Minas Gerais. Dom Pedro I adquiriu a Fazenda do Córrego Seco, depois herdada por seu filho Dom Pedro II, este fundando o povoado de Petrópolis pelo Decreto Imperial 155 de 16 de março de 1843. Uma história muito contada e bastante conhecida e pesquisada. D. Pedro I por ela transitou em suas andanças pelas terras do Império. Em 1822 sua comitiva bateu cascos e rangeu rodas por seu caminho indo e vindo da proclamação de nossa independência. O major Júlio Köeler, em seus trabalhos de engenheiro da Província, acampava com sua tropa no Alto da Serra, inclusive acompanhado da esposa Sra. Maria Delamare Köeler. No Alto da Serra havia estábulos para os cavalos, rancho e alojamentos para viajantes. Na planta de Petrópolis de 1846, dois quarteirões aparecem, dentre os 13, como fundamentais para a expansão do povoado; o “Vila Imperial”, centro da colônia e o “Vila Teresa”, a hoje afamada rua Teresa. Na referida planta Teresa limita-se com os Quarteirões Vila Imperial e Castelânea. O topônimo homenageia a Imperatriz Teresa Cristina, discreta esposa do Imperador Dom Pedro II, enquanto este ganhava os louros da denominação geral do povoado. O Quarteirão Vila Teresa foi dividido em prazos de terras, […] Read More

BARTHOLOMEO PEREIRA SUDRÉ, O PAI DA IMPRENSA PETROPOLITANA

  O jornalista, escritor, professor de História e Geografia, Paulo Monte, em seu discurso de posse na Associação de Ciências e Letras, a hoje Academia Petropolitana de Letras, na tarde de domingo, 26 de julho de 1925, homenageando a figura notável de Franklin Távora, disse sobre a profissão de jornalista: “…A vida do jornalista é a mais singular, a mais interessante, a mais penosa e acidentada, a mais trabalhosa e enervante, a menos compensadora, a mais caluniada e a mais ingrata. O jornalista é, ao mesmo tempo, o indivíduo mais querido e o mais odiado. Todos o cortejam, porque é a vaidade que amolece a espinha dos cortejadores. O jornalista pode amanhã elevar a mediocridade a galarim da fama e pode, a poder de golpes de pena, sugestionando o público, sempre pronto a acreditar no que dizem os jornais, arrastar na sarjeta das vias o papo pando de um magnata. O jornal pode não arrancar os ídolos de seus pedestais, porém arranha bem fundo a glória dos semideuses. O jornalista é o homem rico de adjetivos. O seu segredo está, porém, em não desperdiçá-los. O jornal é um vício. Quem nele se inicia, jamais o abandona…” Nos primeiros tempos de nossa Petrópolis, naqueles dias de incertezas quanto ao destino da povoação, com a política provincial fervilhante de ações desrespeitantes do desejo maior do nascente povo, que era crescer a povoação para elevá-la à condições políticas condizentes com sua importância histórica de eleita do Imperador, a falta de comunicação entre o centro, os quarteirões e a própria Corte, exigiam a criação de um veículo informativo que noticiasse o que andava acontecendo e que, na mesma oportunidade, iniciasse a luta por melhores condições de vida. Eis que chega ao povoado um ilhéu da Madeira, filho de José Pereira Sudré e Maria Cândida Sudré. Dizia-se que havia nascido na Bahia e a especulação está por definir, ainda, nos meandros da documentação histórica, a verdade. Da Madeira, em Portugal, da Bahia, no Brasil, o que importa? Era um futuro e denodado petropolitano honorário que vinha para conquistar o respeito e a admiração do povoado. Seu nome de batismo: Bartholomeo Pereira Sudré. Nascera a 24 de agosto de 1825, a Petrópolis chegando na faixa de 30 anos de idade, jovem de cabeça coalhada de sonhos e sob o propósito de continuar exercendo o mister de jornalista, como o fizera em jornais da Corte e em […] Read More

PERFIL DE JOAQUIM NABUCO DIANTE DE SUA PERSONALIDADE DE HOMEM BRASILEIRO E SEU TEMPO

PERFIL DE JOAQUIM NABUCO DIANTE DE SUA PERSONALIDADE DE HOMEM BRASILEIRO E SEU TEMPO  Joaquim Eloy Duarte dos Santos, Associado Titular, Cadeira n.º 14 – Patrono João Duarte da Silveira Há muitos anos li um impressionante trabalho literário ao tempo em que vivo documento de uma época de nossa História do Brasil. Era um alentado estudo biográfico acerca do estadista Nabuco de Araújo, sob o pomposo título “Um Estadista do Império, Nabuco de Araújo – Sua vida, suas opiniões, sua época – por seu filho Joaquim Nabuco”. O filho, Joaquim Nabuco, que produzira tão alentado trabalho, era uma personalidade das mais respeitadas no decorrer da agitadíssima fase interregna Império – República. Sem dúvida, um dos lummares da cultura brasileira, Joaquim Nabuco tomara o encargo de escrever uma biografia do conselheiro Nabuco, seu pai, exemplo de vida, de homem público, de cidadão brasileiro da mais alta estirpe de amor ao país. Tal como o pai assim o era, o filho, Joaquim Nabuco. A extensa e completa biografia política do pai era, em verdade, o início da expressiva biografia do filho. Ou melhor dizendo, da autobiografia do filho haja visto que a projeção moral, intelectual, pública, familiar, era simbioticamente perfeita; entrelaçavam-se as personalidades, indivisíveis, em seqüência admirável de uma geração para a outra. Umbelicavam-se as vidas com a perfeição maior do sentimento de amor filial, profissional e respeitoso cumprimento da perfeita missão pública por ambos abraçada e levada quase à perfeição. Quase à perfeição porque, seres humanos, cada qual, sem exceção, por pensamentos e obras, têm descaminhos de trajetória, tragando o indivíduo nos abismos da curiosidade da vida por suas opções naturalmente sociais. Os Nabuco de Araújo não fugiram à regra e, tal como os titulares de funções públicas de nossos dias – e de todos os tempos – sofreram a crítica nos impropérios oposicionistas ou, até, na negridão dos cortinados palacianos, que sempre escondem as tramas obscuras embuçadas pelos sorrisos da hipocrisia estampada nas luminárias da falsidade. Não fora a criatura humana o personagem mais inconstante do reino biológico, soprado na materialidade de um astro celeste dotado de vida, pelo destino divino. Joaquim Nabuco escrevendo sobre o pai, falou do país; biografando o progenitor ilustre, fez história; condensando em letras de forma a vida de um ser humano de raras virtudes, contribuiu para o esclarecimento da fase imperial de nosso desenvolvimento como nação. Tomou de paradigma uma figura de exponencial e rara […] Read More