Oazinguito Ferreira da Silveira Filho

EM TEMPO DE RODOVIÁRIA

  EM TEMPOS DE RODOVIÁRIA… Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga Quando abrimos tanto nossos jornais como os da “capital”, nos deparamos com a questão da “nova rodoviária”. E observamos que pontos tanto pró como contra são abordados. Sem sombra de dúvida levaríamos tempo avaliando sobre a decisão política ou mesmo técnica de sua construção. Mas constataríamos que o predomínio de escassas consultas sobre modelos urbanos prevaleceria sendo que se sobressairia o fato de que técnicos ou formações como as do IBAM (Instituto Brasileiro de Administração Municipal) são coisas do passado, diante da verticalização das decisões políticas do presente. Fatores essenciais que de há décadas foram sepultados na maioria das cidades brasileiras pelo imediatismo político e em alguns casos até mesmo eleitoreiro. Sabemos o quanto, em nosso caso, a discussão sobre a preservação do sitio histórico torna-se questão cotidiana, principalmente em época de receita turística. Também sabemos o quanto a desordem demográfica e a consequente especulação imobiliária tornou o primeiro distrito de Petrópolis um sitio “mexicano”. Foram retiradas várias linhas de ônibus inter-municipais, porém permanecem carretas, caminhões de tonelagens míticas, sem falar nos rendosos estacionamentos públicos ou particulares. Por diversas épocas a discussão sobre a preservação da “urbs petropolitana” se fez presente nas inúmeras administrações. Sendo que sempre prevaleceram as decisões de caráter político e não técnico. Lá se vão, perdidos na década de 20, os urbanistas à européia que plantaram magníficas magnólias que por décadas transformaram-se em elogio para Burle Marx e outros paisagistas nacionais. A realidade é que ao final de década de 30 e início da de 40, a propensão ao modismo “modernista”, de base norte-americana, principalmente o de resultado especulativo financeiro conduziu a uma enxurrada de “espigões” que quase destruíram o sítio e venceram a firme deliberação do Dr. Mario Aloísio Cardoso de Miranda, prefeito, que havia proibido a construção de “arranha-céus”. Cardoso de Miranda, para se contrapor as pressões que eram diversas, convidou (25-01-41) para vir a Petrópolis o professor Alfred Agache, famoso urbanista francês e mundial do período, do Institut d’Urbanisme de L’Université de Paris, maior escola de urbanismo do mundo (1924), que afirmou, segundo os jornais petropolitanos, que Petrópolis era uma “obra de arte”. Declarou que em sua carreira não tivera em suas mãos cidade de tantas possibilidades para um trabalho perfeito e que poderia se colocar como “a mais bela cidade do […] Read More

CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA EM PETRÓPOLIS – A GRIPE ESPANHOLA E A QUESTÃO SANITÁRIA EM PETRÓPOLIS

  CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DA SAÚDE PÚBLICA EM PETRÓPOLIS – A GRIPE ESPANHOLA E A QUESTÃO SANITÁRIA EM PETRÓPOLIS [1]. Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “O que se está passando na Saúde do Porto da nossa capital é simplesmente assombroso. Os navios entram infeccionados, os passageiros e tripulantes atacados saltam livremente contribuindo para contaminar cada vez mais a cidade, não soffrendo os navios o mais rudimentar expurgo! ( Rio Jornal, 11 de outubro de 1918) [2] Enquanto o governo faz annunciar que a epidemia declina, o povo soffre as aperturas deste afflictissimo momento – tudo fechado! Não ha pão, não ha remedio, não existem os generos de primeira necessidade. Os donos dos armazens, apavorados com a tranquibernia do Comissariado entendem que o melhor é ter os seus estabelecimentos fechados. (A Razão, 23 de outubro de 1918) [3] [1] Ensaio publicado na primeira página do segundo caderno da Tribuna de Petrópolis, em 14 de agosto de 1983. [2] Recorte inserido em 2003 [3] Idem Nessa hora de incerteza dolorosa, premido pelo grito de piedade que vinha de todos os lados, o presidente da Republica appellou para o Sr. Carlos Chagas e entregou-lhe a organização dos serviços de soccorros hospitalares. Era o gesto que se reclamava; foi o primeiro signal de confiança e de conforto moral. O grande sabio patricio em quem Oswaldo Cruz presentira a capacidade e cuja vida, em um esforço continuo, não tinha servido senão para minorar o soffrimento alheio, iniciou com vigor immediato, proprio á sua natureza activa, a cruzada humanitaria, e sem preoccupações exhibicionista, nem alardes inuteis, começou a luta contra o mal terrificante. (…) A Carlos Chagas nós devemos o jugulamento rapido da “grippe”. (UM GRANDE benemérito da cidade. A Rua, Rio de Janeiro, 9 jul. 1919.) [4] (… algumas dezenas de cadáveres, uns nus, outro embrulhados em lençóis, com a cabeça de fora, outros vestindo roupas de todas as cores e feitios. Os carros transbordavam, e com as trepidações dos motores, todos aqueles corpos inanimados se mexiam, abrindo e fechando os braços, descambando as pernas e a cabeça, em gestos macabros e horripilantes, de quando em quando os empregados do necrotério traziam debaixo de cada braço, o cadáver nu de uma mocinha, de uma criança, de um velho…”(in, Azevedo, J. Soares de, in Espanhola? Não Humana, Revista Vozes, Petrópolis, 1918) [5] [4] Recorte inserido […] Read More

CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DA IMPRENSA PETROPOLITANA – OS GUIAS PETROPOLITANOS

  CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DA IMPRENSA PETROPOLITANA – OS GUIAS PETROPOLITANOS Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga Dando continuidade ao trabalho intitulado “A IMPRENSA PETROPOLITANA NA REPÚBLICA VELHA”, abordaremos neste ensaio “OS GUIAS PETROPOLITANOS”. Porém antes de explorarmos o assunto torna-se necessário definirmos “guia”. O grande filólogo Aurélio B. De Holanda, em seu célebre Dicionário da Língua Portuguesa, página 709, relaciona 19 itens para a palavra guia, onde podemos encontrar no de número 16, o que se coaduna com a nossa proposta: “Publicação destinada a orientar habitantes ou visitantes de determinada região ou cidade sobre atrações turísticas, estradas, logradouros, horários de transportes, etc…; roteiro” Podemos observar que esta definição em muito se difere da que é destinada a “almanaque”, que é uma publicação de características mais genéricas quanto à abordagem dos assuntos e universalista quanto aos mesmos. Já o guia não, este é local ou regional (1) . É claro que não é uma regra especificada e determinada (2) . (1) Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio B. De Holanda, p.71 (2) O guia de Cameron possuía alguns elementos característicos de Almanaque Os guias ou roteiros, como também podem ser denominados, são antigos na história da civilização humana; já na antiga Roma, são inúmeras as descrições de guias produzidos pelos órgãos do Império e dirigidos a seus cidadãos mais ilustres que saíam em viagens de negócios, ou de assuntos políticos de Estado. Entre a Idade Média e a Moderna, eram produzidos como fruto do mercantilismo desenfreado que se processava pelas nações e consumidos pela burguesia comercial ávida por lucros, enquanto frades e padres também possuíam seus roteiros ou cartas de viagem, os quais eram passados de mãos em mãos para a suas solitárias viagens de peregrinação ou de catequização. Com o advento da imprensa, estes se tornam uma rotina dentro das publicações das comunidades sequiosas de informações e atualizações sobre as transformações que se operavam e possuíam como fontes cartas de comerciantes e viajantes que lhes definiam novas rotas e condições. Porém, sua prática e comercialização definitiva ocorre com o advento da Revolução Industrial, onde o aperfeiçoamento da imprensa mecânica e a diversificação das feiras comerciais e industriais européias, a partir do século XVIII, são os elementos propícios à sua evolução. No Brasil, inúmeros foram os guias produzidos desde o estabelecimento da Imprensa Oficial, contudo, o que mais se tornou célebre […] Read More

CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DA IMPRENSA PETROPOLITANA – OS GUIAS PETROPOLITANOS

  CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DA IMPRENSA PETROPOLITANA – OS GUIAS PETROPOLITANOS Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga Dando continuidade ao trabalho intitulado “A IMPRENSA PETROPOLITANA NA REPÚBLICA VELHA”, abordaremos neste ensaio “OS GUIAS PETROPOLITANOS”. Porém antes de explorarmos o assunto torna-se necessário definirmos “guia”. O grande filólogo Aurélio B. De Holanda, em seu célebre Dicionário da Língua Portuguesa, página 709, relaciona 19 itens para a palavra guia, onde podemos encontrar no de número 16, o que se coaduna com a nossa proposta: “Publicação destinada a orientar habitantes ou visitantes de determinada região ou cidade sobre atrações turísticas, estradas, logradouros, horários de transportes, etc…; roteiro” Podemos observar que esta definição em muito se difere da que é destinada a “almanaque”, que é uma publicação de características mais genéricas quanto à abordagem dos assuntos e universalista quanto aos mesmos. Já o guia não, este é local ou regional (1) . É claro que não é uma regra especificada e determinada (2) . (1) Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio B. De Holanda, p.71 (2) O guia de Cameron possuía alguns elementos característicos de Almanaque Os guias ou roteiros, como também podem ser denominados, são antigos na história da civilização humana; já na antiga Roma, são inúmeras as descrições de guias produzidos pelos órgãos do Império e dirigidos a seus cidadãos mais ilustres que saíam em viagens de negócios, ou de assuntos políticos de Estado. Entre a Idade Média e a Moderna, eram produzidos como fruto do mercantilismo desenfreado que se processava pelas nações e consumidos pela burguesia comercial ávida por lucros, enquanto frades e padres também possuíam seus roteiros ou cartas de viagem, os quais eram passados de mãos em mãos para a suas solitárias viagens de peregrinação ou de catequização. Com o advento da imprensa, estes se tornam uma rotina dentro das publicações das comunidades sequiosas de informações e atualizações sobre as transformações que se operavam e possuíam como fontes cartas de comerciantes e viajantes que lhes definiam novas rotas e condições. Porém, sua prática e comercialização definitiva ocorre com o advento da Revolução Industrial, onde o aperfeiçoamento da imprensa mecânica e a diversificação das feiras comerciais e industriais européias, a partir do século XVIII, são os elementos propícios à sua evolução. No Brasil, inúmeros foram os guias produzidos desde o estabelecimento da Imprensa Oficial, contudo, o que mais se tornou célebre […] Read More

RUA DO IMPERADOR 881/887

  RUA DO IMPERADOR 881/887 Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “O Corredor cultural precisa entrar num ciclo reformador” (Augusto Ivan, criador do corredor em 1985 no Rio, in Corredor Cultural: Passagem para o Abandono, p.25, O GLOBO) Prédios históricos semidestruídos, obras artísticas e arquitetônicas entregues ao descaso. No artigo o autor apresenta um raio X do descaso público e privado com sua herança e assinala que seu projeto necessita de “revitalização”. E necessário repensar os fins de utilização da herança cultural de nossas cidades para que a sociedade possa desfrutar melhor desta riqueza. Pelo interior, em centenas de cidades que apresentam conjuntos arquitetônicos apreciáveis, tornam-se quase inexistentes reivindicações político-culturais como estas, inúmeros prédios e estruturas arqueológicas urbanas sucumbem a aterradoras tentações e interesses imobiliários. O vistoso conjunto da Rua do Imperador que engloba prédios do final do século XIX e das duas primeiras décadas do século XX necessita urgentemente de uma comissão de especialistas que possam pensar seus fins junto às administrações públicas vigentes, já que se desenvolveu um projeto de revitalização do centro urbano do sitio histórico. O prédio em destaque é parte integrante do conjunto mais representativo da arquitetura petropolitana do final do século XIX, e que foi tombado pelo IPHAM, sob no.1175 em 1981. Dentro da proposta de administração pública, é o mais precioso e talvez único conjunto arquitetônico sobrevivente fora do eixo administrativo republicano Rio-Niterói do século XIX. O no. 881/887 apresenta um prédio de térreo com pavimento superior que foge ao tradicional sobrado colonial por sua apresentação e disposição interna. Com estilo arquitetônico eclético, que não destoava da do prédio público contíguo. Construído na quadra complementar onde foi erguido o magnífico, para a época, edifício público do Governo do Estado, pelo petropolitano Tomás da Porciúncula, para que fosse sede do governo estadual ante a ameaça de bombardeio à Niterói (Revolta da Armada), e sendo posteriormente doado ao município. Sua localização, em termos econômico-administrativos, para a sociedade, foi a segunda mais importante para Petrópolis, secundando a região próxima à Estação Ferroviária, pois se articulava à época com o centro administrativo e financeiro do município, tendo à sua proximidade grandes hotéis, como o próprio Bragança que se situava à frente do conjunto, assim como boutiques e lojas comerciais de grande importância. Para este centro dirigiam-se empresários, industriais e outros profissionais do período. Importante região que após […] Read More

PETRÓPOLIS: POVO & HISTÓRIA II

  PETRÓPOLIS: POVO & HISTÓRIA II Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga O senhor Geraldo Pires Antunes (74), que nos relatou o declive do piso próximo ao Obelisco, também nos informou que a retirada dos bondes da CBEE em 1939, foi observada por muitos na época, como uma manobra do prefeito-interventor Yeddo Fiúza, para favorecer empresários de transporte que se organizavam na época, com seus lotações. O que de certo modo resultou posteriormente no monopólio dos transportes por João Varanda, recém-chegado de Minas, já a partir do mesmo ano (T.P. 1939), com sua Rodoviária Sul Petrópolis, posteriormente chamada de Cia. Rodoviária de Transporte. Geraldo, um dos poucos mecânicos experientes e de tradição, que se criara no Alto da Serra, aprendera seu ofício na oficina de “Niquinho”, Antonio de Souza Lordeiro que era sócio de seu irmão “Chiquinho”, corredor do Trampolim do Diabo nos anos 40. Estas baratinhas ainda chegaram a fazer corridas em Petrópolis, no final dos anos 40, com Chico Landi, Cassini e outros. A oficina localizava-se na Rua Teresa, e Niquinho já parara de correr, e aplicava sua experiência examinando motoristas em Petrópolis para serem autorizados oficialmente à condução. Para Geraldo, as oficinas foram verdadeiras escolas que profissionalizaram tanto para direção de autos como principalmente para a mecânica inúmeros petropolitanos aficionados do automobilismo, em um processo que se iniciara com o famoso Irineu Corrêa, nos anos 30. Com o crescimento demográfico nos anos 30 em Petrópolis, corria a preocupação com a “vadiagem” que se fazia representativa principalmente com o ócio dos jovens. Muitos filhos de operários com a nova legislação ficaram impedidos de trabalhar nas indústrias. Muitas famílias ofereciam seus filhos para oficinas com o objetivo de se tornarem aprendizes e profissionalizando-se mais tarde. Muitos dos também famosos “motoristas de praça” surgiram neste período, já que era necessário noções de mecânica para ganhar sua “carta” de condutor. Geraldo lembra também que o Abrigo Oscar Weinschenck da Paulo Barbosa fora construído em meados dos anos 40 para tornar-se uma “mini-rodoviária”, para os ônibus da Sul Petrópolis, próxima ao posto-oficina e garagem de FILPO, que fora adquirida por Varanda e passava a ser FILPAN, já que ao lado da estação ferroviária ficavam os ônibus da ÚTIL e depois também os da ÚNICA, formando outra Rodoviária com a extensão da calçada da Estação. Segundo Geraldo, Varanda ainda transformou as oficinas de […] Read More

IRINEU CORRÊA: UM PETROPOLITANO DOS EUA PARA O TRAMPOLIM

  IRINEU CORRÊA: UM PETROPOLITANO DOS EUA PARA O TRAMPOLIM Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga Irineu Meyer Corrêa da Silva, petropolitano, descendente de colonos pela linha materna, filho de Mário Corrêa da Silva, modestíssimo comerciante e de Mathilde Meyer da Silva, nasceu em 24 de janeiro de 1900. Irineu era apelidado pelos familiares de Dário, um jovem apaixonado por automobilismo desde que os viu aparecer nas ruas de Petrópolis em meados do século XX, principalmente o importado pela família Guerra. Estudou no Instituto Gratuito São José, da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus dos Frades Franciscanos, e era o mais velho de oito irmãos. Aos 13 anos de idade, resolveu, sem qualquer conhecimento de seus familiares, se enveredar pelo mundo como aventureiro. Embarcou escondido em um navio para os EUA, a terra do automobilismo, que anos mais tarde observaria o sucesso de Henry Ford, com sua indústria e seu famoso modelo T e seu sistema revolucionário de produção. Irineu estava atraído pelas fascinantes máquinas que lá eram produzidas, permanecendo por exatos sete anos, o suficiente para se tornar aprendiz e alçar-se a condição de profissional, não somente como mecânico, mas também como piloto. Foi nos EUA que também aprendeu a desenvolver a ginástica, modismo típico da Belle Époque que corria pela Europa e desembarcava no Novo Mundo. Em especial, a ginástica hoje considerada item essencial para quem se dispuser a longas jornadas automobilísticas, o que dirá em sua época com os rallyes em moda. Estrangeiro, adolescente, pioneiro brasileiro no exterior, Irineu estabeleceu-se na Philadelphia, exatamente na cidade de Trenton e posteriormente em Detroit, a terra das futuras fábricas de automóveis. Participou de inúmeras corridas de milha, as chamadas pistas de terra, rurais, herdeiras das atuais pistas ovais da atual Indy, onde obteve algumas vitórias. Apresentou-se também nas pistas de meia milha, com bons resultados. Semelhante arrojo conduziu pilotos brasileiros a também embarcarem para os EUA, com semelhante objetivo, seguindo sua trilha. Retornou ao Brasil por volta de 1920. Nesta época, o automobilismo em nossa terra não passava de um número a mais nas atrações circenses, ou em rallyes (os famosos raids). Em nosso país, o limiar do profissionalismo automobilístico ficara restrito ao pioneirismo de duas provas. A primeira corrida de carros realizada no Brasil e na América do Sul aconteceu em 26 de julho de 1908, em São Paulo. […] Read More

QUITANDINHA: MISSES, POETA & TV

    QUITANDINHA: MISSES, POETA & TV Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga O concurso de Miss Brasil foi destaque em nossa sociedade desde a década de 20, mesmo que alguns atribuam suas origens ao final do século XIX, em plena belle époque. Em plena década de 20 as mulheres lutavam por um espaço político e representativo na sociedade, e a ideologia machista afirmava que a beleza é que representava a verdadeira condição da mulher, fato estampado nos jornais de então. Assim, estabeleceu-se uma luta ideológica, onde o sufragismo foi a bandeira de maior presença. Nesta representatividade, a paulista Zezé Leone, foi a miss de 1922; mais tarde, Olga Bergamin de Sá, 1929; e no ano da revolução, 1930, um jornal carioca, A Tarde, promoveu no Rio de Janeiro o “Miss Brasil” e o “Miss Universo”, sendo que Iolanda Pereira, a gaúcha, venceu os dois concursos. Na década de 30, destacaram-se as cariocas Ieda Telles de Menezes (1932) e Vânia Pinto (1939), eleitas Miss Brasil; depois a goiana Jussara Marques, em 1949. Porém, a verdadeira história do concurso de Miss Brasil, contando com a incansável presença da mídia e das empresas de produtos de beleza que foram criadas nos anos 50, mais precisamente em 1954, está em uma passarela armada na boate do Hotel Quitandinha, em Petrópolis. Por ela desfilaram misses de diversos Estados da Federação, diante de um público extasiado, tendo por fundo um cenário hollywoodiano como o do Quitandinha. Muitos atribuem esta notoriedade do concurso ao reflexo da realização em Long Beach, na Califórnia, em 1952, de um concurso de Miss Universo que foi transmitido para todo o país, fato de grande importância para o universo feminino de então, e com grande popularidade. Mas, o concurso que foi realizado no Quitandinha, em uma noite do mês de junho de 54, com a presença de jurados formados entre inúmeras personalidades destacadas no cenário nacional, como os escritores Manoel Bandeira, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, o artista plástico Santa Rosa, a colunista Helena Silveira, entre inúmeros outros participantes. Fato que propiciou relevo nacional e internacional ao concurso. Ao analisarmos a vida de Bandeira nos anos 50 e sua biografia observamos o que segue: na data de uma carta-poema, existem menções a um livro publicado em 1954 – o “Itinerário de Pasárgada”, a um concurso para a escolha da Miss Brasil […] Read More

ANARQUISMO EM PETRÓPOLIS?

  ANARQUISMO EM PETRÓPOLIS? Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga Segundo o historiador Daniel Aarão, os anos compreendidos entre a chegada dos anistiados em 1979, até 1984 quando da luta pelas Diretas Já, são considerados de transição entre a “longa noite” e o “amanhecer” político para a sociedade brasileira. Este processo foi constatado nos grandes centros urbanos, mas que no interior brasileiro reproduzia-se de forma oposta. Nem mesmo a presença de um Brizola em reuniões com grupos locais (1980/2), ou mesmo a reorganização político-partidária localista, principiada pelo PMDB, realizou mudanças no cenário conservador que se processava. O “manto negro” da opressão ainda passeou por nossas instituições interioranas por um bom tempo e segregou muitos intelectuais. O que deveríamos então observar em nosso passado trabalhista? Em nossa memória política ou operária? Na década de 80, mais precisamente 1981, quando acompanhado por Mário Pitzer respondíamos pelo Arquivo Histórico Municipal, procedi a uma longa pesquisa sobre a Imprensa Petropolitana na República Velha, aproveitei para realizar a indexação dos jornais operários de Petrópolis, sobreviventes do mesmo período, tais como A ORDEM e A ALVORADA, mesmo sabendo que não poderíamos publicar. Coincidentemente, a esta época desenvolvia-se um importante movimento de pesquisas dos jornais operários em São Paulo resultando no Arquivo Edgard Leuenroth (1981), como no Rio, pela Biblioteca Nacional. O movimento em ambas as capitais visava resgatar a memória do movimento operário e do anarquista no Brasil, ao passo que a história ou a memória do movimento operário não foi processada em Petrópolis. Destacamos nesta oportunidade uma das curiosas publicações presentes na edição de nº. 08 de 16/07/1921 do jornal A ALVORADA: Coluna: O proletariado nos Estados “Em 18/06 se realizará conferência de Domingos Passos, secretário excursionista do 3º. Congresso Operário Brasileiro, por iniciativa da Federação Operária Mineira em Juiz de Fora e no dia seguinte uma segunda conferência na reunião dos Condutores de Veículos em Petrópolis.” No mesmo jornal, presente em outra coluna, Carlos Dias, outro anarquista conhecido, criticava em artigo especialmente enviado para o jornal, o Cooperativismo. Ambas as cidades, tanto Juiz de Fora como Petrópolis, possuíam imensa representatividade no contexto do operariado brasileiro, comportavam também a presença de movimentos anarquistas, que sofreram grande repressão por parte do sistema. Inúmeros foram os anarquistas que como Domingos Passos, o “Bachunin Brasileiro”, viajavam do Rio para prestigiar reuniões e conferências em Petrópolis e Juiz de […] Read More

GUARANÁ FOI CASCATA!

  GUARANÁ FOI CASCATA! Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga Como diabético fui surpreendido por um refrigerante de guaraná de uma multinacional do tipo “zero”. Seu sabor lembrou-me não somente algo de minha infância como também de minha juventude. Conduziu-me ao passado, a minhas lembranças. Peter Burke considerado atualmente um dos maiores historiados do mundo e também o pai da nova história cultural (NHC), o fato de se relevar uma “história dos odores e sabores”, essencial para o registro da memória das comunidades. Para reforçar esta dinâmica processual histórica ele recorre com grande prazer a literatura pesquisando cenas, narrações, onde os grande escritores recorreram a este fenômeno como expediente para reforçar característica de regiões ou de momentos da sociedade humana. Discussão à parte sobre os defensores da História das Mentalidades nos restringirá, teoricamente a esta citação, já que nosso ensaio destina-se em sua maioria a leigos. Petrópolis, como não poderia deixar de ser, também possuiu recentemente esta memória dos odores. Desde a era Koeler com a preocupação da construção das casas, nossos “rios”, acabaram se transformando em esgotos a céu aberto, não importando a área ou quarteirão próximo onde estiverem após vários dias sem uma manifestação pluviométrica somos abordados pelo “cheirinho” tradicional. Cheiro este que já nos acompanha a quase quatro décadas seguidas, basta que se consultem os jornais e colunistas dos períodos citados. Nos primórdios da organização urbana da era Koeler, os moradores próximos à área onde se encontra hoje a Catedral, reclamavam do abatedouro de gado a céu aberto, que impunha aos nobres moradores da região não somente o cheiro fétido das carcaças jogadas ao rio, assim como a presença dos urubus, o que conduziu a reclamações freqüentes (O MERCANTIL). Esta linha de odores é tão tradicional, que os jornais petropolitanos já acentuavam outro odor também característico de uma “era”, o odor das anilinas químicas que eram lançadas aos rios pelos tintureiros das fábricas, desde a década de 40 (Jornal de Petrópolis & Tribuna de Petrópolis). Odor hoje que só se faz presente por força de uma única fábrica presente na cidade, a Werner. De meus tempos de infância trago o cheiro forte da chuva tocando a terra seca em pleno verão, inconfundível odor prazeroso em algumas ruas do Bingen que não eram calçadas. Porém outra história que Burke e outros pesquisadores também assinalam seria a dos sabores, […] Read More