VENERANDA SENHORA (A)

  VENERANDA SENHORA (A) Cinara Maria Bastos Jorge Andrade do Nascimento, Associada Correspondente Apesar de divulgado em diversos órgãos de imprensa e ultimamente pela BBC News Brasil, permanece a dúvida se estariam os restos mortais da Condessa do Rio Novo na Capela de Nossa Senhora da Piedade, em Três Rios/RJ, ou no St. Mary’s Cemetery, em Londres, Inglaterra. Mariana Claudina Pereira de Carvalho (antes Barroso Pereira), casada com o primo José Antônio Pereira de Carvalho, considerada fundadora de Três Rios, foi mulher dinâmica e de visão futurista. Benemerente, doou vultosa importância para a fundação de um abrigo de meninas órfãs, a Casa de Caridade de Paraíba do Sul; vendeu uma das casas que possuía em Petrópolis por preço simbólico para instalação do Colégio Santa Isabel, onde até hoje se encontra; facilitou a passagem da Estrada União e Indústria, e mais tarde da Ferrovia D. Pedro II pelas suas terras, entre outros feitos. Falecidos os pais e o marido, passou a administrar os bens deles herdados. Eram de sua propriedade fazendas e imóveis em São João Del Rei/MG, uma residência na rua 1º de Março na Corte e duas casas de veraneio na Rua do Imperador em Petrópolis. Morre em Londres a 5 de junho de 1882, após malsucedida cirurgia feita pelo Dr. Spencer Wells, médico da Rainha Vitória. Mariana não teve filhos e em seu testamento, registrado antes da viagem a Londres, legou seus bens aos sobrinhos, reservando, porém, a maior de suas fazendas, a Cantagalo, para seus quase duzentos escravos, alforriando-os todos antes da Lei Áurea. Nada pediu para seus funerais, apenas queria ser sepultada junto aos pais e o marido, na Capela de N. Sra. da Piedade, próxima à sede de sua fazenda. Em 1885, três anos após sua morte, o caixão com os restos mortais chega ao porto do Rio de Janeiro e de lá foi transportado para a Estação de Entre Rios, seguindo para a referida Capela. Dois anos mais tarde, estando pronto o túmulo de mármore que a receberia, em 5 de junho foram feitas as cerimônias fúnebres, tendo os jornais noticiado que, no momento da cerimônia, ao abrirem o caixão, nele havia um esqueleto sem cabelos e dentes, envolvido em serragem. Até aí chegaram nossas pesquisas ao término do livro “Pioneiros dos três rios – A Condessa do Rio Novo e sua Gente”, lançado no dia 5 de junho de 2012, lembrando os 130 […] Read More

MUSEU NACIONAL

MUSEU NACIONAL Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27- Patrono José Thomáz da Porciúncula Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe   “É preciso formar no Rio uma coleção semelhante das riquezas do Brasil e em cada capital de Província outras das respectivas.” (Diário de D. Pedro II, v. 17, 1876. Museu Imperial). Frases como esta são frequentes na correspondência do imperador D. Pedro II que durante toda a sua vida se dedicou ao estudo das ciências e ao colecionismo de documentos e objetos, dando origem ao seu Museu particular, que funcionou no Paço de São Cristóvão onde nasceu e morou até ser exilado do Brasil. Do exílio, D. Pedro de Alcântara enviou ao procurador da Família Imperial, José da Silva Costa, em 8 de junho de 1891, meses antes de morrer, uma carta doando a sua coleção particular ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Biblioteca Nacional e Museu Nacional. Nela fez um único pedido, que as coleções fossem denominadas “Imperatriz Leopoldina” e “D. Teresa Christina Maria”, em homenagem respectivamente a mãe e a esposa: Sñr. Silva Costa Queira pedir em meu nome ao Visconde de Taunay, Visconde de Beaurepaire, Olegario Herculano de Aquino e Castro, e Dr. João Severiano da Fonseca que separem os meus livros podendo por sua especialidade interessar ao Instituto e h’os entreguem, a fim de serem parte de sua bibliotheca. Esses livros serão collocados em lugar especial com a denominação de D. Thereza Christina Maria. Os que não deverem pertencer ao Instituto offereço-os á Bibliotheca Nacional, que deverá collocal-os também em lugar especial com a mesma denominação. O meu Museu dou-o também ao Instituto Historico, no que tenha relação com a etnographia e a historia do Brasil. A parte relativa ás sciencias naturaes, e á mineralogia sob o nome de “Impera-/triz Leopoldina”, como todos os herbarios, que possão, fica para o Museu do Rio. A corôa imperial, a espada e todas as joias deverão ser entregues, e pertencer á minha filha. Espero que me dê noticias suas e dos seus sempre que possa, e creia na estima affectuosa de D. Pedro d’Alcantara Versailles, 8 de Junho de 1891.   Em seu “ofício de fé”, escrito pouco antes de morrer, menciona a importância do Museu Nacional para o desenvolvimento científico do Brasil e sublinha os seus esforços para a revitalização e modernização da instituição, como a […] Read More

COLONOS DA VALÔNIA PRUSSIANA (OS)

COLONOS DA VALÔNIA PRUSSIANA (OS) Ricardo Pereira Amorim, Associado Titular, Cadeira n.º 39 – Patrono Walter João Bretz Muitas famílias de colonos, vindos para Petrópolis em 1845, são pertencentes à etnia valã, oriundos daValônia (atualmente Bélgica), região conhecida desde a Idade Média, como confirmam Jean de Haynin, (Mémoires, 1465-1477), Jean Lemaire de Belges (Illustrations de Gaule, 1510), os mapas dos monges Capuchinhos de 1610 e de 1654. A Valônia compreendia parte do antigo Ducado de Luxemburgo, o Principado do Liége e área fronteiriça com a França. Departamento francês na Revolução Francesa e, em 1815, com a queda de Napoleão Bonaparte, tem regiões anexadas ao Reino da Prússia.  Perde-se a cidadania francesa e a região passa a ser designada Valônia Prussiana (texto de Robert Cristophe, História de Malmedy). O colono Johann Noel pai e esposa Elisabeth Mathieu, nascidos antes de 1806, em Neuhütten, nacionalidade francesa e cidadania prussiana após a anexação. Os Noel e outras famílias eram originárias da Valônia (atualmente parte do território da Bélgica), migrando para trabalhar em Züsch, Mariahütte, Neunhütten, etc, como lenhadores-carvoeiros, renovando a indústria metalúrgica e repovoando as regiões dizimadas pelas pestes e Guerra dos Trinta Anos. Remacle Joseph Hauzeur, oriundo de uma família com tradição em metalurgia, do Principado de Liége, aproveita que vários estados germânicos estão sob proteção da França e traz a maioria das famílias valãs para a região de Hunrück, que o ajudam na Construção do famoso Martelo de Züsch e outras forjas. Foram várias migrações: Züsch (1658 Jean Mariotte,1694 Hauzeur); Abentheuer (1672 Jean Hujet, 1699 Hauzeur); Otzenhausen (1668); Neunkirchen (1686 Hauzeur), entres outras regiões. A historiadora Liane Sebastian relata mais migrações (1703-1743), pela necessidade de mais mão de obra especializada. O historiador Walter Petto, descendente dos Bideau, escreveu como viviam: construção da capela de Züsch: manter o padre que vinha da Valônia, acordar 4 horas da manhã, missa às 5 horas, trabalho árduo (cortar arvores, lenha para carvão, trabalhar nos fornos); às 17 horas ajudam nas hortas familiares. Muitos habitavam em cabanas de madeira (hütte); porém seus assentamentos eram bem organizados, com “prefeitos”, como Johan Collin, de Mellier (Arlon). Falavam francês, a língua valã (existem vários patois valões até hoje), além dos franciques luxemburguês e renano. O ensino de francês, patois e latim era na Paróquia (os nobres tinham seus tutores). O contrato de Hauzeur com o von Hunolstein está escrito em francês e este último se assina como Ernest Louis. […] Read More

TRAJETÓRIA DE JOÃO VARANDA: EMPREENDEDORISMO E TRABALHISMO NA PETRÓPOLIS REPUBLICANA (1930-1960) (A) – PARTE I

TRAJETÓRIA DE JOÃO VARANDA: EMPREENDEDORISMO E TRABALHISMO NA PETRÓPOLIS REPUBLICANA (1930-1960) (A) – PARTE I Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula De acordo com as novas abordagens historiográficas, o estudo das trajetórias individuais, muito além de pretender exaltar a imagem de determinadas personagens, visa, sobretudo, perceber as conexões de um sujeito histórico com a sociedade na qual esteve inserido, revelando minúcias sobre as relações sociais que, de outra forma, não seriam notadas. É, portanto, neste sentido, que propomos recuperar a trajetória de João Varanda. Nascido em Bicas (MG), em 1913, Varanda chegou a Petrópolis em meados dos anos 1930. Em 1936, fundou a sua primeira empresa, a JVaranda. Nas décadas seguintes, tornou-se um dos maiores empresários da cidade, com dezenas de empreendimentos nos ramos os mais variados, desde o setor de transportes, no qual foi um pioneiro, como proprietário da primeira empresa de ônibus a circular no município, a Rodoviária Sul-Petrópolis, até a imprensa local, com o Jornal O Povo, importante periódico semanal. Nesta ocasião, Petrópolis passava pela recuperação da sua importância no cenário nacional. A presença constante dos Presidentes da República, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, havia atraído novamente para a cidade os holofotes, restaurando-lhe o status que obtivera no período imperial. Por outro lado, desde a década de 1930, ocorria um forte processo de mobilização da classe trabalhadora. Quando João Varanda se estabeleceu em Petrópolis, encontrou uma cidade que passava por intensa renovação política, acompanhada de transformações urbanísticas, presenciando um cenário de acirradas lutas dos operários por direitos e garantias trabalhistas e por melhores condições de trabalho. Assim, como um recorte micro-histórico, por exemplo, a partir das múltiplas ações que ele próprio empreendeu para atender às demandas dos funcionários de suas empresas, como a criação de uma creche-escola e de um centro de atendimento médico, a trajetória de João Varanda torna-se um importante fio condutor para a compreensão do surgimento do trabalhismo e a análise das demandas que pautariam os debates e a conformação da legislação trabalhista, posteriormente. Por outro lado, o seu empreendedorismo esteve relacionando ao processo de industrialização brasileiro, associado à ideia de progresso que baseava, em última instância, as políticas públicas. Neste caso, a atuação de Varanda no ramo dos transportes públicos permite perceber como o incentivo à substituição dos bondes pelo transporte rodoviário dentro do Município, e o paulatino enfraquecimento da importância do trem como […] Read More

GREVE DE 1918 (A)

  GREVE DE 1918 (A) Pedro Paulo Aiello Mesquita, Associado Titular, Cadeira nº 5 – Patrono Ascânio Dá Mesquita Pimentel  A população petropolitana presencia atualmente a greve dos profissionais da educação que se mobilizam em passeatas pelo Centro Histórico com manifestações públicas de descontentamento com as suas atuais condições de trabalho e remuneração. Essa luta dos trabalhadores em prol dos seus direitos não é novidade na nossa cidade. Em meio à atual crise, vemos que há exatos cem anos, em 1918, Petrópolis também era o cenário de uma grande mobilização, naquela ocasião protagonizada pelos operários têxteis. Na edição de 03 de junho de 1918, a Tribuna de Petrópolis noticiava que operários da Companhia Cometa foram à redação do jornal informar que estavam em greve. O porta-voz foi Antônio Luiz Júnior, que alegou como motivo do descontentamento a restituição da chefia das caldeiras a Manoel Rodrigues, acusado de não ter idoneidade, com histórico de agressão e inabilidade na lida do trabalho. Logo em seguida, a diretoria da Cometa ainda demitiu quatorze funcionários, culminando em uma forte instabilidade interna que levou ao cerco policial ao prédio da fábrica. Cumpre assinalar que a carestia que se vivia naquele último ano da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) também contribuía para o agravamento da situação.  Naquele tempo ainda não havia os sindicatos tal como conhecemos. O núcleo de organização dos trabalhadores se dava na “União dos Trabalhadores em Fábricas de Tecidos”, que se situava na Avenida 15 de Novembro, atual Rua do Imperador. Era um corporativismo liderado pelos próprios trabalhadores, sem interferência estatal. Buscava-se ali um meio de unir os trabalhadores em prol de seus anseios, conscientizá-los e ajudar com a subsistência dos mais necessitados, sobretudo os que haviam perdido seus empregos.  A consciência de classe aflorou entre os integrantes da greve e mesmo com a tentativa da Cometa de adiantar a quinzena do salário de junho, os operários não arrefeceram e mantiveram-se organizados e firmes no propósito que os levavam à greve. Nesse sentido, havia sido criada uma pauta das reivindicações, conforme se pode ver na Tribuna de Petrópolis de 2 de agosto de 1918. As mais importantes eram: oitos horas diárias de trabalho, fixação de ordenado mínimo para os adultos, fim da obrigação de trabalhar em mais de duas máquinas, não admissão de menores de 14 anos e licença para a mulher grávida um mês antes do parto e um mês depois, com totais […] Read More

PARÓQUIA DE CASCATINHA (A)

 PARÓQUIA DE CASCATINHA (A) Enrico Carrano, Associado Titular, Cadeira n.º 3 – Patrono Antônio Machado Na semana que passou, mais precisamente no dia 26 de julho, a Paróquia de Cascatinha comemorou o dia dos padroeiros, Sant’Ana e São Joaquim. Convém, a propósito, relembrar datas e fatos importantes da vida religiosa católica do 2.° Distrito, para a preservação da história e da memória do bairro, diretamente ligadas à imigração italiana em Petrópolis. A Igreja de Sant’Ana e São Joaquim  foi inaugurada em 1898, e a Paróquia de Cascatinha  criada em 1913, tendo como primeiro vigário o padre Aquiles de Mello, que desde outubro de 1903 vinha atendendo a primitiva capela. Monsenhor Aquiles de Mello (o título veio mais tarde) permaneceu em Cascatinha até 1914, e hoje dá nome à praça onde se situa a Matriz. Transferido para Paraíba do Sul, exerceu até 1932 as funções de pároco da cidade e foi, de acordo com informações do Instituto Histórico e Geográfico desse Município, o responsável, em 1928, pelo periódico Alvorada. É de registrar que o “Apostolado da Oração”, movimento religioso com sede principal em Tolouse, na França, estabelece-se em Cascatinha a 4 de novembro de 1900. Em setembro de 1914 toma posse o segundo vigário, padre Lucio Gambarra, que um mês depois deixava a Paróquia. Assume, em novembro de 1914, o padre Francisco Antonio Acquafreda. Em outubro de 1917, Acquafreda é substituído pelo padre Lucio Gambarra que, em junho de 1918, é substituído pelo antecessor. Em julho de 1920, padre Gambarra retorna, e permanece em Cascatinha por 17 anos. Padre Lúcio Gambarra veio do Rio Grande do Norte, onde de 1907 a 1914 atuou na hoje Paróquia Santuário de Santana dos Matos. Dá nome àquela que talvez seja a principal rua da Cidade. Foi “o responsável pela construção da maior parte da Matriz (de Santana dos Matos, RN). Ele conseguiu que dos Estados Unidos, por intermédio do Coronel Cascudo, [viesse] um forro de zinco esmaltado e em relevo, de linda padronagem, que hoje cobre todo o teto interior da Igreja”. Padre Gambarra foi advogado militante em Petrópolis e no Rio de Janeiro. Ocupou a Cadeira de n.° 29 da Academia Petropolitana de Letras (sucedido por Claudionor de Souza Adão, Mauro Carrano e Castro e Gerson Valle). Em julho de 1937, chega padre Francisco Maria Berardinelli. Em 30 de outubro de 1938 é criada a Liga católica Jesus, Maria e José. Sucederam o […] Read More

ANÚNCIOS DE PERDAS DE ANIMAIS NOS JORNAIS DE PETRÓPOLIS ENTRE OS SÉCULOS XIX E XX

  ANÚNCIOS DE PERDAS DE ANIMAIS NOS JORNAIS DE PETRÓPOLIS ENTRE OS SÉCULOS XIX E XX Pedro Paulo Aiello Mesquita, Associado Titular, Cadeira nº 5 – Patrono Ascânio Dá Mesquita Pimentel   Nos dias de hoje podemos encontrar em postes e muros alguns cartazes nos quais vemos fotos de animais domésticos que foram perdidos ou fugiram, sem contar nas atuais redes sociais, que se prestam também a esses reclames. Contudo, no século XIX a mídia escrita pode mostrar que esses anúncios também eram recorrentes, tal como o que se lê abaixo, publicado na Gazeta de Petrópolis em 04 de junho de 1892: “CAVALLO FUGIDO: Fugio um cavalo escuro, está ferido na charneira. Quem dele der notícia ou o levar ao Quissamã, à casa de Hylário de Medeios, será gratificado. Ou ainda, no mesmo jornal e data: “VACCA PERDIDA. Acha-se uma, em Pedro do Rio, no pasto de Manoel da Cunha Guimarães: pede-se a quem se julgar seu dono, dando os signaes certos, ir reclamal-a do mesmo, no dito lugar, no prazo de trinta dias. Terminado esse prazo será vendida para o pagamento das despesas” O que desperta interesse é o fato de não haver um endereço com nome da rua, número da casa e outras referências mais específicas. No lugar disso, vê-se uma pessoalidade ao se colocar diretamente o nome do proprietário, facilmente localizado e supostamente conhecido por todos no bairro, fosse no Quissamã ou em Pedro do Rio. Ao analisarmos o que escreveu Boudon, essa relação fica clara: “Nas sociedades tradicionais, dada a natureza pessoal da interação, os atores podem apoiar-se no conhecimento efetivo que têm uns dos outros para decidirem-se sobre os compromissos recíprocos ou sobre modalidades das respectivas interações. Nas sociedades modernas o caráter impessoal das trocas leva a que os protagonistas tenham de recorrer a meios indiretos.” Conforme dados disponíveis em Diégues Júnior, a população de Petrópolis girava em torno de 13 mil pessoas em 1890, tendo aumentado na razão de 1800 pessoas anualmente nos trinta anos seguintes, fazendo com que girasse em torno de 67.574 habitantes em 1920. Esse crescimento é facilmente identificável com o desenvolvimento industrial da nossa cidade, culminando em expansão demográfica e urbana. Dessa forma, há uma “modernização” na estrutura social, possivelmente refletida na nova natureza desses anúncios de perdas de animais, que já se pode constatar na Gazeta de Petrópolis de 1902, conforme se lê abaixo: “CACHORRO DESAPARECIDO: Da Avenida 7 […] Read More

VICENTINOS, SEMPRE: MEMÓRIAS DO COLÉGIO SÃO VICENTE DE PAULO

  VICENTINOS, SEMPRE: MEMÓRIAS DO COLÉGIO SÃO VICENTE DE PAULO Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula Recentemente, como tem sido bastante comum nas redes sociais, e a partir da difusão dos aplicativos de mensagem, foi criado um grupo de amigos do Colégio São Vicente de Paulo. Como ex-aluna do São Vicente, e parte deste grupo, saltaram-me aos olhos, e por que não dizer, ao coração, as muitas memórias e laços de amizade que unem aqueles que tiveram o privilégio de estudar neste estabelecimento, que funcionou em Petrópolis, até 1992. Como homenagem àqueles que comigo compartilham imensas saudades e excelentes lembranças dos tempos do São Vicente, e visando divulgar a sua história para os mais jovens, falarei um pouquinho deste colégio que formou gerações não só de petropolitanos, mas de brasileiros vindos de toda parte, enquanto recebeu alunos em sistema de internato, semi-internato e externato. Fundado em 1890 por padres lazaristas, o Colégio São Vicente de Paulo, posteriormente, teve a sua direção transferida para a Ordem Premonstratense, ou Ordem de São Norberto. Ocupou a princípio um prédio na Westphália, na atual Avenida Barão do Rio Branco, e, em 1908, já como uma importante e nacionalmente reconhecida instituição de ensino, mudaria para o Palácio Imperial, de onde só sairia no início da década de 1940. Após o Decreto-Lei do Presidente Getúlio Vargas, de 29 de março de 1940, que criou o Museu Imperial, os cônegos que dirigiam o colégio adquiriram o terreno à Rua Coronel Veiga, nº 550, para a construção do novo prédio que deveria abrigar o São Vicente. Nesta ocasião, era diretor do colégio o cônego Guilherme Adriansen, que se encontrava à frente do educandário há mais de vinte e cinco anos. Para o novo empreendimento foi contratado o engenheiro Eduardo Piragibe da Fonseca, autor da planta do edifício que, além do prédio principal, contava com uma capela, à esquerda, e um salão de estudos e festas, à direita. A construção e a execução das obras ficaram a cargo da firma Graça Couto e Cia Ltda, enquanto a fiscalização de parte dos trabalhos foi realizada por Pedro Niebus, construtor em Petrópolis. Na Rua Coronel Veiga, onde atualmente se encontra o Instituto Teológico Franciscano, o Colégio São Vicente ficaria até o encerramento de suas atividades, apenas dois anos após completar o seu centenário. Em sua trajetória, uma das grandes marcas foi sempre […] Read More

MIAMI OU PETRÓPOLIS?

  MIAMI OU PETRÓPOLIS? Luciano Cavalcanti de Albuquerque, Associado Correspondente Nos anos 1920 — período conhecido como entre-guerras —, surge um estilo que foi muito adotado nas grandes metrópoles do mundo, como Rio de Janeiro, Nova York, Chicago, e em alguns centros urbanos não tão importantes e industrializados assim, como Miami, ou Petrópolis. Art dèco, esse nome tão curto e delicado, é, na verdade, a abreviação de Exposition des Arts Dècoratifs et Industriels Modernes, que aconteceu em Paris em 1925 e adotou como padrão traços mais funcionais e geométricos, tão importantes quanto a estética por finalidade.  Misturava materiais exóticos, como folhados brilhantes, cromados, aço, laqueados e ebanizados. Tons pastel, marrom, preto, cinza-escuro, eram as cores preferidas para decorações internas, salvo raras exceções. Em Paris a costureira Jeanne Lanvin foi grande colecionadora e encomendava muitas peças aos designers da época. Sua casa era toda em art dèco, decorada por Rateau, grande nome do estilo em França. Era uma época em que se havia passado pela 1ª Guerra Mundial, e as pessoas estavam ávidas para aproveitar esse período de paz, antes que outra guerra pudesse acontecer, como afinal ocorre nos anos 40. Davam-se grandes festas, as saias e os cabelos das mulheres encurtaram, a Coco Chanel ou a la garçon, o joelho, até, começou a aparecer, eram as melindrosas, que, enquanto dançavam o charleston rodopiavam enormes colares de pérolas, qual laços de cowboys, nos novos salões da burguesia ascendente do período do pós-guerra. No revestimento arquitetônico usou-se muito o pó de pedra, hoje em desuso, pela dificuldade de restauração sem deixar marcas, portanto, na maior parte das recuperações arquitetônicas dessa época e estilo prefere-se pintura, abandonando o pó de pedra, como foi feito, inteiramente, no distrito art dèco de Miami, um dos maiores conjuntos preservados nesse estilo do mundo, onde foram usadas cores claras e suaves.  Na nossa Petrópolis encontramos pequenos conjuntos, como o da foto, espalhados pelo Centro Histórico, principalmente na Rua do Imperador, quase um patchwork de estilos arquitetônicos. Rua do Imperador, 834 a 842 Se bem ou mal comparando não sei, mas em Miami temos a praia logo à frente do conjunto, enquanto aqui o rio Quitandinha corre sorrateiro por entre pequenos trechos em art dèco, provando, assim, a face metropolitana da Cidade Imperial.

EXPOSIÇÕES HORTÍCOLAS E AGRÍCOLAS DE PETRÓPOLIS

EXPOSIÇÕES HORTÍCOLAS E AGRÍCOLAS DE PETRÓPOLIS Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe Parte 1 “No dia 2 de fevereiro do ano próximo vindouro, será efetuada nesta cidade uma exposição de flores, horticultura e indústria, da qual coube a iniciativa a Sua Alteza, a sereníssima princesa Imperial.” Esta comunicação foi feita pelo presidente da Câmara Municipal de Petrópolis, o vereador Paulino Afonso Pereira Nunes, na sessão de 19 de novembro de 1874, na qual declarou que a Câmara reconhecia que tal exposição tornaria públicas as riquezas produtivas do solo petropolitano, portanto ela envidaria todos os esforços para o sucesso do evento visando ao desenvolvimento do progresso e engrandecimento do município, bem como convidaria as corporações das câmaras dos municípios vizinhos a fazerem parte do projeto. Cinco dias antes, D. Pedro II, que apoiava a ideia da exposição, escreveu à princesa D. Isabel participando que “A exposição hortícola petropolitana já tem sido annunciada pelas cem tubas da fama”. Isabel amava as plantas, especialmente as flores – colecionava orquídeas –, e estudou botânica com o professor Francisco Freire Allemão de Cysneiros. Em sua correspondência, há várias referências ao assunto, como, por exemplo, na carta dirigida ao pai em 4 de abril de 1867, na qual critica o trabalho de um tradutor: “Hoje de manhã fiquei desesperada com um que me escrevia nomes de plantas em portuguez e latim como suas ventas, perdoe-me a expressão, como diria o Freire”. Ela mantinha amizade com os botânicos e paisagistas Jean Baptiste Binot e Auguste Glaziou, tanto que fez parte da expedição ao pico de Itatiaia, organizada por Glaziou, que depois publicou um livro com o título Plantes cueillies sur l’Itatiaia au mois de juillet 1872, oferecendo-lhe um exemplar com dedicatória. O livro pertence ao Museu Nacional de História Natural de Paris, tendo sido localizado em 2013 pelo pesquisador do Instituto de Botânica de São Paulo, Sergio Romaniuc Neto. Todavia, a ideia da exposição não pode ser atribuída somente ao interesse incontestável de D. Isabel pelas plantas; tanto ela como seu pai, D. Pedro II, e seu marido, o conde d’Eu, sabiam das oportunidades que esse tipo de evento oferecia como espaço de divulgação dos produtos e, consequentemente, na ampliação do mercado, trazendo benefícios para a economia local. No Brasil, já haviam sido produzidas até então três exposições nacionais, todas inauguradas pelo imperador: a primeira, em 2 de […] Read More