DEZESSEIS DE MARÇO DE 1982 Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Autoridades presentes, Prezados consócios, Meus senhores, minhas senhoras 16 de março de 1982! Hoje é aniversário de nossa Petrópolis. Primeiro aniversário depois de ter sido transformada em Cidade Imperial pelo decreto federal de 25 de junho de 1981. Culminância de todos os anseios de uma população, que em pesquisa recente, disse sim à preservação do seu patrimônio na expressiva porcentagem de 90,4%. Houve uma mudança legal, mas … nenhuma mudança real. A nossa experiência e os conhecimentos adquiridos nos mostram, não só na História da Humanidade, como na História das Artes e no nascimento e evolução da Técnica, que nada acontece de repente. Todos os fatores históricos ou técnicos passaram por um processo primeiro de estudo, seguido de conclusões, mutações, para chegar ao estágio de maturação. E a nossa Petrópolis não fugiu à regra. Nasceu com D. Pedro I, comprando a Fazenda do Córrego Seco em 1830. Seguiu com D. Pedro II, que arrendou a fazenda ao major Julio Frederico Koeler e separou para si, um terreno para seu palácio de verão; nosso atual Museu Imperial. Aos moldes europeus, D. Pedro II encomendou um projeto de urbanismo, o primeiro do Brasil, um projeto de arquitetura e futuramente os trabalhos de um paisagista Jean Baptiste Binot. Evolui na República, quando o nosso primeiro presidente, o Marechal Deodoro da Fonseca, seguindo a trilha do ex-imperador começou a passar seus verões aqui a partir de 1890. O endereço de Deodoro ainda não era o Palácio Rio Negro, mas sim o número 57 da Av. General Osório. Até a capital federal mudar-se para Brasília, era Petrópolis no verão, a capital provisória. Vinham para cá os presidentes, com pequenas exceções, as embaixadas e toda a “entourage” dos mesmos. O Palácio Rio Negro se abria; os palacetes da Av. Koeler festivamente se arrumavam para receber seus proprietários; os hotéis, que eram em maior número que hoje, se enchiam do vai-e-vem alegre dos veranistas, que fugiam do verão carioca, para a amenidade do nosso clima. E hoje? O verão é de fato representativo para o comércio? Para a municipalidade, enfim, para toda a cidade? Temos que reconhecer que já não é o mesmo. Por que? Numa cidade imperial que fica apenas a 1 hora e pouco do Rio, com clima excelente, tendo todos os requisitos para […] Read More
JORGE BOUÇAS – EX-PRESIDENTE DO IHP
JORGE BOUÇAS – EX-PRESIDENTE DO IHP Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Era janeiro de 1981. Eu ia assumir a presidência do Instituto Histórico de Petrópolis. As reuniões ainda aconteciam no Museu Imperial. Cheguei assustada. Diante da minha “pequenez” teria a grandeza da elite cultural da cidade? Fim de tarde. Numa sala pouco iluminada, sentados em torno de uma mesa comprida, pessoas circunspectas que eu conhecia mal, (mais tarde, como me foram queridas!). Numa extremidade, eu, ligeiramente trêmula. Na outra, tão longe de mim, – Jorge Bouças – o então Presidente, com um sorriso cúmplice, pois fora ele que me colocara naquela situação! Quantos anos se passaram. Hoje, aqui estou escrevendo sobre esse grande amigo que se foi. Jorge Coelho Bouças nasceu em 23 de agosto de 1919. Aluno do São Bento, formou-se em Ciências Jurídicas na tradicional Faculdade de Direito da Rua do Catete. Iniciou sua vida de trabalho no Observador Econômico e Financeiro, revista fundada e editada por seu pai Valentin Fernandes Bouças, o introdutor do Sistema Olerite no Brasil – precursor dos computadores de hoje. A partir de 1964 fixou residência em Petrópolis, cidade que muito amou e onde seus filhos foram criados. Candidatou-se a Prefeito 2 vezes. Ingressou no Instituto Histórico em 27 de março de 1976. Foi seu Presidente de 1977 a 1980. Faleceu no dia 27 de setembro de 1994. Foi um dos pesquisadores do “Caminho do Ouro”, junto com Luiz da Silva Oliveira, nosso consócio, tendo até filmado esse roteiro. Como Presidente levou para o Instituto a preocupação com a preservação de Petrópolis. Volta-me à retina a mesma mesa comprida, a sala na penumbra, eu, já segura como Presidente do Instituto. O sorriso cúmplice, agora, é o meu que parece dizer: – Valeu Jorge. Você tinha razão. Foi muito gratificante presidir nosso Instituto. É ele, que por meu intermédio, presta-lhe hoje suas homenagens.
DISCURSO NA COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DO HOSPITAL SANTA TERESA – Pedro Gastão de Orleans e Bragança (Dom)
DISCURSO NA COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO DO HOSPITAL SANTA TERESA Pedro Gastão de Orleans e Bragança (Dom), associado honorário (+ 27/12/2007) Sinto-me muito à vontade para poder falar nesta casa. Aqui nasceram quatro dos meus filhos. Aqui, minha mulher, meu pai e minha mãe foram tão bem acolhidos e tratados por várias vezes. Aqui também esteve minha avó, a Princesa Isabel, e meu avô o Conde d`Eu, acompanhando meu bisavô, o Imperador Dom Pedro II, quando colocou esta primeira pedra. Depois de tão bonitos conceitos que ouvimos do nosso Prefeito, eu só queria dar uma pequena palavra de agradecimento. Agradecimento às madres, agradecimento aos médicos, ao Dr. Nelson de Sá Earp, ao Dr. Donato D´Angelo, ao Dr. Aldo Labronice. Eu sou pai de seis filhos, e quantas vezes senti aqui o carinho e o tratamento, depois de um braço quebrado, um pé torcido, uma perna em mau estado, ao cair de uma árvore, ou de um cavalo. Sempre senti aqui não somente o acolhimento da técnica, da eficiência dos médicos, mas o que sempre muito nos comoveu, a minha mulher e eu, foi o carinho, a compreensão, e a fé cristã, que é uma coisa muito importante para o doente, num momento de sofrimento sentir ao nosso lado, uma pessoa rezando, e pedindo a Deus para a salvação do corpo e da alma, uma equipe destas, freiras e médicos. Minhas palavras são só para agradecer, como bisneto do Imperador, o carinho que minha família sempre aqui recebeu.
FUNDADOR E PRESIDENTE DO INSTITUTO HISTÓRICO DE PETRÓPOLIS (O)
O FUNDADOR E O PRESIDENTE DO INSTITUTO HISTÓRICO DE PETRÓPOLIS Paulo Machado Costa e Silva, associado titular, cadeira nº. 2, patrono Alcindo de Azevedo Sodré A Instituição que tenho a honra de presidir, está intimamente ligada à vida e às atividades de Alcindo Sodré no período que vai de 1937 a 1952. Ela aparece como prolongamento natural e consequência espontânea de seu pensamento e do seu agir. Na época, ele era o Secretário da Comissão do Centenário de Petrópolis, criada pelo Ato n.º 704, de 28 de junho de 1937, pelo Prefeito engenheiro Iêdo Fiúza. A origem de tal medida administrativa foi uma Indicação, aprovada pela Câmara Municipal, em 28 de novembro do ano anterior, apresentada e defendida pelo então Vereador Dr. Alcindo de Azevedo Sodré. Essa Comissão do Centenário de Petrópolis, nos anos de 1938 a 1942, coexistiu com o Instituto Histórico de Petrópolis, a que, logicamente, dera sequência. Em verdade, o Instituto, fruto dos trabalhos dessa Comissão, era o mesmo tempo, penhor e certeza da continuidade do esforço daqueles poucos que visavam objetivos maiores e a mais longo prazo. Hoje, aí estão esses trinta e dois anos de existência do Instituto Histórico de Petrópolis, muito bem vividos no cumprimento de suas obrigações estatutárias e numa série de realizações positivas que, certamente, não traíram a fé e a esperança de seus fundadores. Ainda que sucintamente, vejamos como teria surgido a ideia, ou antes, a convicção de que fundar-se um instituto de estudos históricos, em Petrópolis, era uma necessidade inadiável e uma condição sine qua non para não se perder a continuidade das pesquisas e dos trabalhos iniciados a tanto custo. Para esse estudo, voltemos às fontes, pesquisemos nos documentos. Da leitura atenta do Livro de Atas da Comissão do Centenário ressalta logo, com toda a clareza, que o Dr. Alcindo não era apenas simples anotador dos trabalhos dessa Comissão, criada por sua iniciativa e empenho. Ele era muito mais. Era o principal interessado em que a Comissão funcionasse de fato e realizasse todos os objetivos para os quais fora criada. Executando, ao menos, o que determinava o Ato n.º 704, ela devia: a) – “propôr ao Govêrno Municipal as medidas que julgasse oportunas e necessárias para o brilho das homenagens projetadas” e b) – “coligir os dados e documentos que facilitassem a elaboração da história da cidade”. Aqui, neste segundo objetivo se encontra a verdadeira causa eficiente do aparecimento […] Read More
TRINTA E CINCO ANOS DE SILÊNCIO
TRINTA E CINCO ANOS DE SILÊNCIO Maria de Fátima Moraes Argon, associada titular, cadeira n.º 28, patrono Lourenço Luiz Lacombe O aniversário do Centro de Cultura Raul de Leoni, fundado em 30 de janeiro de 1977, foi amplamente divulgado pela imprensa e ganhou merecida comemoração com a exposição “35 anos de Cultura”. O citado centro de cultura, o maior do interior do Estado do Rio de Janeiro, abriga a Biblioteca que é a terceira maior do Estado, contando com cerca de 140 mil títulos, e o Arquivo Histórico, o primeiro arquivo municipal do Estado é criado pelo Decreto n.º 198, de 7 de janeiro de 1977 pelo então Prefeito Paulo Rattes. O Arquivo é dividido em dois setores: Arquivo Histórico e Arquivo Central, sendo o primeiro subordinado à Fundação de Cultura e Turismo e o segundo, à Secretaria de Administração. O Arquivo Histórico que também completou 35 anos, lamentavelmente, não foi lembrado, o que talvez seja um reflexo do fato de nunca ter conseguido ocupar o seu espaço na administração pública. O Arquivo Histórico perdeu a autonomia administrativa e está ligado à Biblioteca Municipal, onde ocupa duas salas sem as condições exigidas para sua adequada instalação e, principalmente, encontra-se inviabilizado para receber novos lotes documentais transferidos do Arquivo Central. O armazenamento e o acondicionamento da documentação são insatisfatórios. Não há recursos materiais. Há um isolamento administrativo e a inexistência de integração entre os arquivos corrente, intermediário e permanente. Conta o Arquivo Histórico com apenas uma funcionária que, incansavelmente, luta, há quase trinta anos, para manter o seu funcionamento, para atender aos cidadãos e pesquisadores que têm o direito de acesso à documentação garantido pela Constituição. A aposentadoria da servidora está próxima, situação que agravará ainda mais esse quadro tão desanimador e desastroso. A perspectiva de mudança não é nada satisfatória, já que a Lei n.º 6.769, de 20 de julho de 2010, publicada no Diário Oficial do Município de Petrópolis, que dispõe sobre a reorganização administrativa dos cargos e das funções da Fundação de Cultura e Turismo e dá outras providências, prevê para a Seção do Arquivo Histórico: 1 chefe de seção; 1 arquivista e 2 auxiliares de biblioteca (por que não auxiliares de arquivo?). Os profissionais de História e de Conservação não foram contemplados e o número é muito reduzido para o volume documental (aproximadamente 700 mil documentos). O Arquivo Histórico abriga cerca de 700 mil documentos do período […] Read More
PETRÓPOLIS COMEMORA CEM ANOS DO SEU HOSPITAL
PETRÓPOLIS COMEMORA CEM ANOS DO SEU HOSPITAL Gustavo Ernesto Bauer, Patrono da cadeira n.º 21 Início da solenidade com o hasteamento da Bandeira Nacional pelo Coronel Milton Masselli Duarte (TP 14/03/1976 – Acervo Histórico de Gabriel Kopke Fróes) O Prefeito Paulo Rattes inaugurou placa do centenário na porta do hospital, vendo-se o Príncipe D. Pedro de Orleans e Bragança (TP 13/03/1976 – Acervo Histórico de Gabriel Kopke Fróes) Depois do precioso relato histórico escrito por José Kopke Fróes, sobre o secular Hospital Santa Teresa, qualquer tentativa para acrescentar mais algum detalhe, não ultrapassará o notável documento em que a história do Hospital Santa Teresa foi tão bem apresentada pelo ilustre historiador José Kopke Fróes . No entanto tentaremos, como petropolitano, prestar nossa modesta homenagem, colaborando para a importante data que será comemorada pela Cidade Imperial no dia 12 de março de 1976. Quando, repentinamente, em um lugar sem recursos chegam centenas de seres humanos, tentando melhorar suas condições de sobrevivência, é claro, os primeiros dias, semanas, até mesmo anos transformam-se em épocas de sofrimento, talvez piores do que aqueles, vividos anos seguidos, em sua terra natal. Aparecem, então sinais de arrependimento entre imigrantes por terem deixado seus lares, onde durante séculos foram mantidas velhas tradições, embora muitas vezes interrompidas por épocas difíceis; consequências dramáticas de guerras e más colheitas, em que a fome, as enfermidades e a miséria complentavam o cenário da região de onde, em 1845, vieram os colonos fundadores da Cidade nascida do meio de primitivas florestas e de ciclópicas formações geológicas. Imaginar o cenário com centenas de pessoas procurando vencer as dificuldades dos primeiros tempos da Colonização não é difícil, como concluir que a falta de conforto, iria trazer consequências trágicas entre aqueles colonos, vitimando na maior parte das vezes as crianças. Não havia nos primeiros tempos recursos materiais para combater doenças, mas havia a vontade e a energia de Júlio Koeler em transformar aquele ambiente coberto de florestas, em uma cidade, para isso, a preservação da saúde e da vida dos colonos era uma condição inadiável; assim no relatório de agosto de 1845 Koeler informa sobre casos de enfermidade entre os colonos, comunicando ainda ter contratado o Dr. Guilherme Boedecker, a dois mil réis por dia – dois mil réis por dia! Boedecker foi hospedado na casa do Diretor, iniciando suas visitas às humildes choupanas cobertas de palha, como eram as primeiras habitações dos colonos. Já, […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS [QUINTINO BOCAIÚVA]
RESGATES PETROPOLITANOS Francisco de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Quintino Bocaiúva foi o tema da palestra que entretive no Instituto Histórico de Petrópolis, na noite de 11 de junho do corrente, no ensejo do transcurso do primeiro centenário do falecimento do último Presidente do Estado do Rio de Janeiro a governar desde Petrópolis. Contei na altura com a grata presença de uma neta do homenageado, a Sra. Ana Maria Bocaiúva de Miranda Jordão, que enriqueceu a palestra com uma série de dados oportunos e interessantes. Lá estava também o veterano associado do I.H.P. Arthur Leonardo Sá Earp, com a sua fleugma habitual, ele que é bisneto de Hermogênio Pereira da Silva e de Arthur de Sá Earp, dois desafetos declarados de Quintino Bocaiúva e que lhe fizeram dura oposição durante seu triênio à frente dos destinos do Estado (1901/1903). E uma vez mais ficou claro e evidente que o tempo é um santo remédio para aplacar as paixões, para permitir a reflexão isenta e serena dos fatos, para colocar as coisas nos seus devidos termos, permitindo que a História refulja na sua inteireza e veracidade. E ali estavam dois descendentes de polos completamente opostos, de forças que se repeliam no passado, em perfeita harmonia, irmanados numa justa celebração de uma das figuras mais proeminentes da vida pública brasileira, tentando melhorar o seu perfil e recuperar a sua imagem na moldura petropolitana. Não esteve na minha cogitação falar da vida civil do homenageado, nascido no Rio de Janeiro em 4 de dezembro de 1836, batizado na Igreja da Lampadosa e falecido na mesma cidade aos 11 de julho de 1912; também não esteve na minha alça de mira o macro Quintino Bocaiúva, pois a sua atuação a nível nacional já está suficientemente bem documentada nos dois grossos volumes que o Senado Federal vem de publicar. O que me levou à tribuna foi o Quintino no âmbito fluminense e mais especificamente em Petrópolis, como jornalista, nos anos cinquenta dos oitocentos, depois como Presidente do Estado no início do século XX. Quintino Bocaiúva chegou a Petrópolis aos 21 anos de idade e aqui empregou-se no jornal “O Parahyba” de Augusto Emilio Zaluar, periódico infelizmente, de vida efêmera, já que circulou de 1857 a 1859. Talento inato para o jornalismo tornou-se redator da folha e nela publicou diversas matérias com seu nome por baixo. Tinham […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS [VAN ERVEN]
RESGATES PETROPOLITANOS Francisco de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima De Utrecht a Samambaia, passando por Cantagalo, eis a trilha que pontua a saga dos VAN ERVEN na terra fluminense. Foi em 1824 que chegou ao então imenso Município de Cantagalo o engenheiro João Batista van Erven. Trazia a mulher, Maria Cecilia Carolina Auwen, e, dois filhos nascidos em Utrecht, Jacob e João. Jacob dedicou-se à administração das enormes fazendas do Barão de Nova Friburgo, um dos principais cafeicultores da Província do Rio de Janeiro e empresário de sucesso no setor das estradas de ferro. João, que nascera em 1803 e que chegara a Cantagalo com 21 anos, depois de passar duas décadas na companhia dos pais, viera ter a Petrópolis, onde se metera em empreendimentos agrícolas, que infelizmente lhe proporcionaram escasso retorno. Como Jean Baptiste Binot, João van Erven era um defensor da natureza petropolitana e um estudioso das potencialidades da lavoura, tanto no Município de Petrópolis quanto no todo fluminense. Segundo informações fidedignas, João van Erven publicou em 1864 nas páginas do “Mercantil” uma série de artigos sob o título “A lavoura em nosso País”. Antonio Machado, escrevendo sobre as velhas fazendas de Petrópolis no vol. IV dos “Trabalhos da Comissão do Centenário”, informava, que João van Erven, por volta de 1872, dedicava-se na Engenhoca à criação de gado e à lavoura. A Engenhoca era parte integrante do Retiro de São Tomaz e São Luiz, cujo proprietário e senhorio direto era o então Major José Candido Monteiro de Barros, que de fato, conforme depoimentos de alguns de seus descendentes, arrendara aquelas terras ao batavo, que se tornara brasileiríssimo e petropolitano. Entretanto João van Erven não prosperou na Engenhoca, apesar de seus ingentes sacrifícios para produzir em terras pobres e pouco vocacionadas para as atividades agro-pastoris. Devolveu a herdade ao arrendante e a convite deste foi abrigar-se na Fazenda da Olaria, residência oficial do Major Monteiro de Barros, a pequena distância da Engenhoca, onde mais tarde erguer-se-ia o Castelo de São Manoel. E na Olaria, João van Erven, na idade e 72 anos, faleceu a 8 de abril de 1875. Foi sepultado no Cemitério Municipal. A 10 de abril de 1875, um periódico que não pude identificar por falta de elementos, de onde a família van Erven extraiu o recorte, anotava: “Durante a enfermidade que o roubou aos seus numerosos amigos, […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS [BARÃO DE PEDRO AFONSO]
RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima O Barão de Pedro Afonso foi luminosa estrela que encantou o Brasil da segunda metade do século XIX às primeiras décadas dos novecentos. Chamou-se Pedro Afonso Franco e foi o único Barão de Pedro Afonso, título que lhe fora outorgado por Decreto de 31 de agosto de 1889. Nasceu em Paraíba do Sul aos 21 de fevereiro de 1845 e faleceu no Rio de Janeiro em 5 de novembro de 1920. Formou-se em Medicina na velha Faculdade do Rio de Janeiro e foi especializar-se na Universidade de Paris. Clínico de nomeada na Corte não se ateve ao seu consultório, somente. Tornou-se professor e sanitarista. Fundou e dirigiu o Instituto Vacínico Municipal do Rio, embrião do Instituto Oswaldo Cruz. Em 1887 dirigiu a Saúde Pública, estabelecendo produtiva parceria com o também médico e sanitarista Visconde de Ibituruna. Na Santa Casa de Misericórdia conseguiu produzir pela primeira vez no Brasil a vacina contra varíola. Numa frase curta e muito ilustrativa, disse Pedro Nava, que o Barão foi “médico de péssimo gênio e ilustre memória”. (in Chão de Ferro – Memórias/3, Rio, 1976) Pedro Afonso Franco foi dos grandes cirurgiões do Rio de Janeiro de seu tempo, quando qualquer intervenção cirúrgica representava alto risco de vida. Obteve sucesso retumbante na carreira, em 1896, ocasião em que extraiu cálculos biliares do Presidente Prudente de Moraes, que se afastara do cargo por longo período, até restabelecer-se de todo já em março de 1897. O Barão também salvou a vida do Ministro do Chile Villamil Blanco, que já vislumbrava o atestado de óbito ante moléstia que parecia incurável. Mas como ninguém consegue colher somente flores na vida profissional, o Barão de Pedro Afonso não fugiria à regra. Ele era médico da confiança do Marechal Hermes da Fonseca. Quando do acidente sofrido por D. Nair de Teffé Hermes da Fonseca nas proximidades da Engenhoca, em Corrêas, durante o carnaval de 1915, o primeiro médico a ser chamado para acudir a acidentada, foi o Dr. Arthur de Sá Earp, que fez o seu diagnóstico e prescreveu o tratamento. No dia seguinte foi chamado à Engenhoca, onde D. Nair encontrava-se em absoluto repouso, o Barão de Pedro Afonso, que depois do exame de praxe, contrariou a avaliação e as prescrições do Dr. Sá Earp. E como era ele o […] Read More
RESGATES PETROPOLITANOS [ERNESTO FERREIRA DA PAIXÃO]
RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima ERNESTO FERREIRA DA PAIXÃO, eis um nome que honra a medicina, a política e as letras petropolitanas. Rebento desta terra, nascido no dia de Natal de 1866, trazia do berço as luzes do saber. Seu pai, José Ferreira da Paixão, era o dono do colégio deste nome, eminente pedagogo, que trouxera o menino Ernesto ao pé de si, até torná-lo apto a prestar preparatórios, que lhe garantiram o ingresso na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, onde se formou em 1890. Não se deixou ofuscar pelo brilho das ofertas profissionais que o prenderiam à Capital Federal. Voltou à sua terra e aqui abriu consultório, aberto a todas as classes sociais. Fez da Medicina um sacerdócio, aliás obrigação comezinha dos que realmente levam a sério o juramento de Hipócrates. Teve Ernesto Paixão vasta clientela e gozou do melhor conceito entre seus pares. Dirigiu o Hospital Santa Teresa com eficiência e espírito humanitário. Abolicionista, fez campanhas memoráveis, angariando fundos para a libertação do elemento servil, antes da abolição total do nefasto instituto da escravidão. Foi no início da República Intendente Municipal nesta urbe, distinguindo-se pelo seu equilíbrio e bom senso. Nunca foi um político rancoroso, desses que perseguem o poder pelo poder. Apenas servia-se dele para prestar os melhores serviços à comunidade petropolitana. Formado dentro dos melhores padrões humanistas, Ernesto Ferreira da Paixão tinha menos de vinte anos quando estampou seus primeiros artigos no “Mercantil”, folha que se editou nestas serras de 1857 a 1892. Quando da morte de Victor Hugo, o jornal em epígrafe ocupou toda a primeira página da edição de 27 de maio de 1885 com matérias alusivas à vida e à obra do grande escritor francês. Ernesto Paixão, nos seus dezenove anos incompletos atendeu ao chamado do periódico, fazendo publicar vibrante artigo sobre o autor de “Os Miseráveis”. Bem ao estilo da época e coerente com os arroubos da juventude, escreveu Paixão: “Victor Hugo, o deus da literatura, despiu o invólucro de mortal e tomou lugar no sólio da imortalidade. Assim o foi; porque a matéria que o circundava era impotente para resistir à força das chispas, que o gênio – aninhado em seu cérebro – irradiava por ela”. Quando o “Mercantil” deixou de circular, cedendo espaço à “Gazeta de Petrópolis”, o grande jornal da Capital do […] Read More