RESGATES PETROPOLITANOS

  RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Historiografar no atacado, é fácil; falar sobre figurões de extensa bibliografia, é mamão com açúcar. Difícil é tirar das profundas do esquecimento público as figuras locais, tratá-las no varejo e resgatar-lhes a memória, por vezes repleta de elementos edificantes, elos de uma corrente maior que une o tempo ao espaço. A alóctones e autóctones deve Petrópolis os seus dias de grandeza, de elegância, de “glamour”, de progresso material e espiritual. Alguns deles estão entronizados em praça pública, ou têm seus nomes expostos ostensivamente à entrada dos logradouros. Mas quantos há que ficaram nos desvãos da história, esquecidos numa gaveta, num armário ou numa sepultura sem lápide? É hora de exumar a memória dessa gente e fazê-la ressuscitar para o conhecimento dos viventes de hoje e da posteridade. Falemos de Ricardo Narciso da Fonseca que faleceu nesta cidade aos 17 de abril de 1912, aos 87 anos, depois de ter nela vivido quase sete décadas. Morreu no mesmo 1912 que levou ao túmulo o Barão do Rio Branco, o Visconde de Ouro Preto e Quintino Bocaiúva. Ricardo Narciso da Fonseca era pernambucano, nascido em 1825, no mesmo ano em que viera ao mundo o Imperador D. Pedro II. Mal saído da adolescência, veio para o Rio de Janeiro e, aos 19 anos, com a saúde abalada, subiu a Serra da Estrela para tentar recuperá-la. Corria o ano de 1844. A casa grande da fazenda do Córrego Seco estava ocupada pelo Major Julio Frederico Koeler, que então cuidava do projeto Petrópolis. O jovem Ricardo enquanto buscava a cura para os seus males tentava ocupar-se com alguns misteres. Segundo Antonio Machado ele trabalhou na reconstrução da estrada de Minas no trecho entre o Itamarati e Pedro do Rio; depois dirigiu um rancho de tropeiros no Alto da Serra e finalmente veio explorar o mesmo negócio no entorno da sede da fazenda do Córrego Seco. No contato com o Major Koeler, Ricardo Narciso da Fonseca foi tomando gosto pelo plano que estava criando a nova urbe serrana e, em pouco tempo o pernambucano tornava-se um dos principais colaboradores do Major. Desvio de rios, arruamento, plantio de árvores, preservação das encostas, em todos estes misteres fez-se presente o espírito incansável e otimista de Ricardo Narciso da Fonseca. Foi escrivão da Colônia de Petrópolis. No […] Read More

RESGATES PETROPOLITANOS

  RESGATES PETROPOLITANOS Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Há anos um mistério encobre uma das facetas mais significativas da imprensa petropolitana. Quem sabe a publicação desta matéria não proporcionará o deslinde da questão? Recapitulemos. Em março de 1857 começou a circular nestas serras, à véspera da emancipação política da urbe, o jornal “Mercantil” de Bartolomeu Pereira Sudré. Em dezembro daquele mesmo ano, pela mão de Augusto Emilio Zaluar veio a furo o periódico “O Parahyba”. Aquele viveu até 1892; este morreu em fins de 1859. A coleção d ‘ “O Parahyba”, graças ao espírito lúcido e com enorme visão de futuro do colono e vereador Felipe Faulhaber, está depositada na Biblioteca Municipal de Petrópolis, reunida em dois grossos volumes. Os números do “Mercantil” de 1876 a 1892 também estão encadernados e integram o acervo da mesma Biblioteca, embora com algumas falhas, em virtude do empenho do jornalista Thomaz Cameron, que antes de morrer em 1909, destinou sua coleção de periódicos à instituição em epígrafe. Então perguntar-se-á: Onde foram parar os números do “Mercantil” de 1857 a 1875? Até hoje não consegui obter uma resposta convincente. Há muitas informações desencontradas, mas a triste verdade é que o mistério permanece. A Biblioteca Municipal não os tem. O mesmo acontece com as Bibliotecas Nacional e do Museu Imperial. Onde teriam ido parar tão preciosos documentos que poderiam reconstituir a vida petropolitana da década de sessenta e parte da de setenta do século XIX? Será que esses jornais integram ainda alguma coleção privada, algum acervo de família? Deparou-se-me uma pista ao estudar a figura insigne de Frederico Damcke, que foi contemporâneo de Julio Frederico Koeler, testemunha ocular da fundação de Petrópolis e escrivão da colônia. Encontrei na Biblioteca do Museu Imperial recortes da “Tribuna de Petrópolis” colhidos nas edições de 22 de novembro de 1959 e de 1° de janeiro de 1960. São transcrições de matérias de autoria de Frederico Damcke veiculadas durante o ano de 1857 pelo jornal “Mercantil”. No final do longo artigo que a “Tribuna de Petrópolis” trouxe a furo em 1° de janeiro de 1960, lê-se em letras garrafais: “COLEÇÃO DO JORNAL “O Mercantil” ANO DE 1857 PERTENCENTE AO ARQUIVO WALTER BRETZ.” Parece ficar claro que o arquivo do jornalista e escritor Walter João Bretz, falecido em 29/10/1944, possuía, entre outros documentos, a coleção do jornal “Mercantil”, […] Read More

FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS (A) – O DECRETO DE 16 DE MARÇO DE 1843 E OUTROS DOCUMENTOS DO MESMO ANO

  A FUNDAÇÃO DE PETRÓPOLIS – DECRETO DE 16 DE MARÇO DE 1843 E OUTROS DOCUMENTOS DO MESMO ANO Henrique Carneiro Leão Teixeira Filho Dentre os principais fundadores de Petrópolis foi o Major Koeler, incontestavelmente, o grande realizador senão o próprio inspirador da fundação da cidade. E esta afirmação está longe de ser gratuita: alicerça-se em bons e convincentes documentos. Com efeito, desde o Decreto de 16 de Março de 1843, que em verdade foi o marco inicial, a pedra angular sobre a qual levantou-se Petrópolis, surge o nome de Julio Frederico Koeler em todos os atos governamentais ou administrativos tocantes à transformação da Fazenda do Córrego Seco na povoação que serviu de berço à cidade. Nada se fez, provam os documentos, sem a direta participação do Major Koeler. Com ele lavra-se o contrato de arrendamento da velha Fazenda, constante da escritura de 27 de julho de 1843, onde se mencionava textualmente o “Decreto de S. Majestade”, de 16 de março daquele ano, e em cujo art. 15º exigia-se do arrendatário Koeler, para o fiel cumprimento do contrato, “a hypotheca de seus bens, havidos e por haver”. E nesse instrumento, convém notar, já se aludia ao nome da cidade a ser construída, ao impor-se ao arrendatário, no art. 10º, o levantamento gratuito da “planta da FUTURA PETRÓPOLIS, e do Palácio e suas dependencias”. Do mesmo modo, em outras cláusulas e nas prescrições estabelecidas nas “condições” complementares ao contrato, fixavam-se, desde logo, as regras ou normas a serem seguidas e observadas na cidade nascente, prescrevendo-se obrigações relativas aos futuros proprietários (foreiros), e também concernentes aos alinhamentos, cercas, muros, “portões elegantes” (textual), nivelamentos, indivisibilidade dos lotes mínimos (prazos), arborização, calçadas de alvenaria, primeiras edificações, sem esquecer, quanto a estas, recomendações de asseio e de estética, inclusive recuo obrigatório relativamente às estradas. E planejava-se toda essa obra, que inda hoje seria considerada grandiosa, e à qual se daria o nome de urbanismo, contratando a sua imediata execução com um engenheiro competente, ao qual se conferiam poderes cada vez mais amplos e do qual se exigiam garantias reais. Tudo isso iniciava-se em 1843; tudo isso começava a fazer-se sob a chefia suprema de Koeler, estipulando o aludido contrato, em termos explícitos, os casos em que o arrendatário agiria qual representante direto da Mordomia, com poderes suficientes para dirimir dúvidas entre foreiros e intrusos, e bem assim aqueles em que a Casa Imperial não prescindiria […] Read More

ROTEIRO DE ESTUDOS (UM)

  Um Roteiro de Estudos Guilherme Auler Não nos parece exata a afirmação dogmática de certos cavalheiros sobre a IMPERIAL COLÔNIA DE PETRÓPOLIS. Declaram que o seu estudo histórico já se acha concluído e nada de importante resta a pesquisar. Situamo-nos, em polo oposto, em absoluta divergência. E para início de conversa, convém lembrar que dos Relatórios Anuais da Colônia somente foram localizados e publicados os referentes aos anos 1848, 1849, 1853, 1854, 1855, 1856 e 1857. Desconhecem-se, portanto, cinco deles, ou sejam os relativos a 1850, 1851, 1852, 1858 e 1859. Também, os ofícios do Major Julio Frederico Koeler, que muita informação proporcionam sobre os anos 1845 a 1847, ainda se acham inéditos, na sua grande parte. Muitos aspectos da Colônia pedem uma atenção especial. Por exemplo, as obras realizadas pela Diretoria, com descrição tão minuciosa nos relatórios, permitem o estudo bem desenvolvido da nossa geografia urbana. Acompanhamos, nesses documentos, a abertura de Ruas e de Caminhos, a construção de pontes e canais, o alargamento das vias de acesso, a modificação provocada com escavações e aterros, enfim tudo que o braço humano realizou, na urbanização de Petrópolis, executando o genial projeto do Major Koeler. O movimento demográfico, desde a primeira estatística publicada no Relatório do Presidente Aureliano, com as curvas de casamentos, nascimentos e óbitos, fornece curiosos elementos de desenvolvimento e expansão. E, se encararmos o setor genealógico, as descendências dos Colonos, famílias que desapareceram pela falta de varonia ou de prole, ou as que se expandiram de modo exuberante, chegaremos a conclusões surpreendentes. Os nomes dos Colonos, suas origens, e a própria quantidade dos elementos chegados, são temas não definidos. Além dos 1.818 Colonos citados pelo Presidente Aureliano, há mais 200 que em fins de 1846 [espontaneamente chegam] (truncado na publicação), segundo revelações dos papéis oficiais. Daí, surge uma distinção na estatística do Diretor Galdino, onze “Colonos obrigados à Província”, isto é, devedores das despesas de suas passagens, e Colonos sem qualificativo algum. O povoamento dos Quarteirões, a natureza das casas e seu mobiliário, despertam muita curiosidade. E nos antigos inventários, colhemos elementos esclarecedores. As finanças da Colônia representam outro capítulo muito controvertido por alguns, que se esquecem que tudo é pago pela Província do Rio de Janeiro. Confundem despesas da Superintendência da Imperial Fazenda, isto é, dinheiro vindo da Mordomia da Casa Imperial, com os gastos da Diretoria. Além da verba mensal de 6:000$000, a Província inúmeras […] Read More

CURSO VARNHAGEN – AULA INAUGURAL (INTRODUÇÃO AO CURSO)

  CURSO VARNHAGEN – AULA INAUGURAL (INTRODUÇÃO AO CURSO) Décio Werneck Para qualquer observador, mesmo para aquele menos capaz, com pouca força de observação, é fácil ver a geral alegria que está em todos nós nesta sala. Para todos nós que somos filhos ou que vivemos nesta centenária Petrópolis, com tantas e tão vivas tradições na vida de nossa terra, é a alegria justa e comovente, e vem emoldurada em uma certa vaidade e até um pequeno friso de orgulho: é que pela ação benfazeja do Instituto Histórico de Petrópolis magnífico guardião das tradições, inteligente pesquisador dos episódios e justo analista da vida petropolitana; e pela ação desta nossa Universidade Católica que é, sem nenhum favor e sem nenhum exagero, a mais rica, a mais valiosa, a mais importante de quantas expressões de valor tem Petrópolis – e é justo lembrar que tem muitas e admiráveis – temos um Curso de Extensão Universitária, que será mais uma prova de cultura, de saber, de conhecimento, ou dizendo melhor – mais uma manifestação de pujança, de força e de vida. Daí nossa justa e vaidosa alegria. – Mas que curso teremos? Quis o bom destino que fosse um curso de História. Quis o bom destino que ele se chamasse Curso Varnhagen. Pela História mais nos aproximamos da nossa terra, mais avivamos e fortalecemos o amor ao Brasil. Pela lembrança de Varnhagen melhor poderemos medir a grandeza de nossa gente. Na verdade, foi homem extraordinário. Filho de oficial alemão, nascido no Brasil, passou a sua meninice em Portugal, onde viveu de 1823 até fins de 1840. Foi oficial do exército libertador de Pedro I contra os absolutistas de D. Miguel. Terminada esta luta, voltou aos estudos e desde aí sua vida ganha um curioso e notável aspecto pela intensidade, pelo volume, pela quantidade de trabalho que pode e soube apresentar. Em Portugal, ainda, examina arquivos, faz descobertas e publica reflexões e críticas ao Roteiro de Gabriel Soares e ainda ao Diário da Navegação da Armada de Martim Afonso, obra de Pero Lopes. Nas vésperas de viajar para o Brasil publica Crônica do Descobrimento. Chega ao Rio e logo faz questão de ser reconhecido como cidadão brasileiro, o que consegue por um decreto especial de 41. Ingressa na carreira diplomática e começa uma longa peregrinação, mas em cada posto não se contenta com seus naturais afazeres: estuda, pesquisa, investiga e, mais afortunado do que […] Read More

PROPRIEDADES DO MAJOR KOELER EM PETRÓPOLIS (AS)

  AS PROPRIEDADES DO MAJOR KOELER EM PETRÓPOLIS Guilherme Auler Quando transcorre mais um aniversário ­ 21 de novembro ­ da morte do Major Júlio Frederico Koeler, em homenagem à memória do primeiro Diretor da Imperial Colônia e também do primeiro Superintendente da Imperial Fazenda de Petrópolis, vamos recordar as suas propriedades nesta cidade, em cujo nascimento ele teve parte tão importante. Inexplicavelmente, até hoje, estão desconhecidos dois documentos básicos para o estudo da formação de Petrópolis: a escritura da doação da Fazenda Quitandinha, propriedade de Koeler, ao Imperador Dom Pedro II, e a escritura de rescisão do contrato de arrendamento da Fazenda do Córrego Seco. Tivemos, entretanto, a satisfação de localizar esses manuscritos tão importantes, no arquivo da Superintendência da Imperial Fazenda, e mais adiante vamos transcrevê-los, na íntegra. A Compra da Fazenda Quitandinha. Em 1º de junho de 1841, Guilherme Francisco Rodrigues Franco, por escritura particular, vendeu a Júlio Frederico Koeler a Fazenda Quitandinha, pelo preço de 1:600$000, com a testada de 1.500 braças e o fundo de uma légua. A transação foi ultimada, em 9 de setembro de 1846, quando se lavrou a escritura de ratificação de venda, no Cartório de João Pinto de Miranda (Rio de Janeiro), Livro de Notas 188, folhas 165 e seguintes. O teor do documento é o seguinte: “SAIBAM quantos este público instrumento de escritura de ratificação de venda virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e quarenta e seis, aos nove dias do mês de Setembro, nesta mui leal e heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em o meu Cartório perante mim Tabelião, compareceram como outorgante Guilherme Francisco Rodrigues Franco e como outorgado o Major Júlio Frederico Koeler, este reconhecido pelo próprio de mim Tabelião e aquele das duas testemunhas abaixo nomeadas e assinadas perante as quais, pelo outorgante, me foi dito que sendo senhor e possuidor da Fazenda denominada ­ Quitandinha ­ que tem de testada mil e quinhentas braças e de fundo uma légua, partindo pelo lado de Leste com a Fazenda do Córrego Seco, com os fundos da qual faz testada, e com a Serra geral; pelo Oeste, com a Sesmaria de Marcos da Costa; pelo Sul, com o alto da Serra da Taquara; e pelo Norte, com a Sesmaria de Velasco; a tinha vendido ao Major Júlio Frederico Koeler, pela quantia de um conto e seiscentos mil […] Read More

BAUER E PETRÓPOLIS

  BAUER E PETRÓPOLIS Maria das Graças Duvanel Rodrigues No dia 08 de junho de 2009 passei a fazer parte do Quadro Titular do Instituto Histórico de Petrópolis, IHP,ocupando a cadeira n.º 21 sob a patronímica de Gustavo Ernesto Bauer, um historiador descendente de imigrantes alemães. Quando informada de tal distinção, busquei conhecer melhor a história de meu Patrono, por meio de informes biográficos, de seus próprios escritos e de um contato pessoal com sua filha Vera Bauer, que gentilmente colocou parte de seu arquivo documental a minha disposição para uma pesquisa. Logo que comecei a inteirar-me das particularidades de sua vida, minha curiosidade e satisfação foram crescendo e instigaram-me a conhecer cada vez mais a trajetória desse admirável e significativo petropolitano. Gustavo Ernesto Bauer nasceu em 23 de outubro de 1902 e faleceu em 27 de agosto de 1979. Era descendente dos primeiros colonos alemães que vieram, em 1845, para Petrópolis. Seus pais foram Ernesto Gustavo Bauer e Carolina Suzana Kling, seus avós Clemens Bauer e Catharine Judith Monken e seus bisavós Wilhelm Baur e Anne Marie Kaiser. Bauer iniciou seus estudos no externato do professor Alberto Eckardt, à Rua Monte Caseros, n.º 549 e deu prosseguimento no Colégio São Vicente de Paulo que funcionou no Palácio Imperial, hoje Museu Imperial. Aprendeu a falar e a escrever fluentemente o alemão e conhecia bem o inglês e o francês. Trabalhou como técnico em eletricidade e eletrônica no Banco Construtor do Brasil, responsável pelo fornecimento de energia elétrica e funcionamento dos bondes em Petrópolis. Posteriormente passou a trabalhar no Departamento Nacional de Estradas de Rodagem – DNER onde, como chefe da Oficina de Petrópolis, desenvolveu alguns projetos científicos tais como o funcionamento do hológrafo terrestre com bússola eletrônica, montou os primeiros transmissores de rádio de longo alcance, desenvolveu um aparelho para pesquisas geofísicas e um sistema de segurança para prova de espoletas elétricas. Viajou por três vezes à Alemanha, sendo a primeira em 1961 pelo DNER, para aperfeiçoamento técnico. Depois, em 1964 a convite da República Federal da Alemanha para um intercâmbio cultural e para proferir palestras em diversas instituições alemãs sobre os temas: colonização alemã e rodovias brasileiras. Na sua última viagem, em 1972, como nas duas primeiras vezes, levantou informações sobre a pátria de seus antepassados, as cidades das quais os imigrantes de Petrópolis eram oriundos, como também procurou descobrir as origens de seus ancestrais, de amigos e de […] Read More

CURSO VARNHAGEN – ALCINDO SODRÉ (1895-1952)

  Curso Varnhagen – Alcindo Sodré (1895-1952) Américo Jacobina Lacombe A primeira vez que fui chamado a falar a respeito de Alcindo Sodré o fiz em tom de necrológio. Foi em 1952, no ano de sua morte, quando exercia eu o árduo mister de orador oficial deste Instituto. E comecei minha oração sobre esse historiador de Petrópolis afirmando que este próprio Instituto certamente não existiria se não nos animasse, a todos que o fundamos, a convicção de que, na força e no fervor do criador do Museu Imperial, estava uma de nossas grandes seguranças. Digo criador porque muitos dos que aqui estamos fomos testemunhas de como a idéia da fundação de um museu imperial em Petrópolis, idéia que várias vezes fora agitada, encontrou, em determinado momento, e em circunstâncias históricas favoráveis, o homem capaz e decidido a corporificá-la. Daí por diante a idéia do Museu, de que o Instituto foi uma das forças convergentes e formadoras, esteve para todos nós, indissoluvelmente ligada à personalidade de Alcindo Sodré. O tema da aula de hoje é Alcindo Sodré, o Historiador, o Intelectual, o homem que teve a vitória suprema de ver realizado na maturidade um sonho da juventude. Por isso a sua biografia tem um tom acentuado de vivo entusiasmo. Sua existência, tão harmoniosa e afinal vitoriosa, conseguiu construir, com tanta repercussão, uma vida das mais profícuas. Foi exatamente esse o aspecto que tão bem acentuou seu antigo e dedicado auxiliar, Paulo Olinto de Oliveira, ao prefaciar o volume In Memoriam publicado em 1956. Fixemos, inicialmente, sua biografia para depois comentarmos-lhe a obra. Nasceu em Porto Alegre, em 30 de novembro de 1895, oriundo de velhos troncos fluminense e gaúcho. Seu pai, o engenheiro Antônio Cândido de Azevedo Sodré, descendia de tradicional família da velha província do Rio de Janeiro, e sua mãe, Helena Porto, era ligada aos Jobim. Veio ainda menino para Petrópolis e aqui ultimou seu curso secundário no velho Colégio S. Vicente, dos padres Lazaristas, período de sua vida que emocionadamente recordou em comovente discurso ao instalar-se a Associação dos Antigos Alunos daquele educandário. Bacharelou-se em Direito em 1916, pela antiga Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, doutorando-se em Medicina em 1921, laureado com a medalha de ouro, Prêmio Miguel Pereira. Iniciando a vida pública em Petrópolis, aqui ficou, constituiu família e construiu residência, militando com destaque na política e na administração do Município. Por […] Read More

CURSO VARNHAGEN – AFONSO D’ ESCRAGNOLLE TAUNAY (1876-1958)

  CURSO VARNHAGEN – AFONSO D’ESCRAGNOLLE TAUNAY (1876-1958) Murilo Cabral Silva Afonso d’Escragnolle Taunay nasceu em Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, Estado de Santa Catarina, em 11 de julho de 1876, e morreu em São Paulo, aos 20 de março de 1958, quase aos 82 anos, portanto. Era filho de Alfredo d’Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay, imortal escritor de Inocência e Retirada da Laguna. Formou-se pela Escola de Engenharia do Rio de Janeiro, em 1910. Alguns anos depois, tornava-se professor catedrático da Escola Politécnica de São Paulo. Diretor do Museu Paulista em 1917, passando, em 1923, a diretor dos Museus do Estado de São Paulo. Professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade do mesmo Estado, de 1934 a 1937. Aposentando-se em dezembro de 1945, recebeu o título de servidor emérito daquele Estado. Membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Paulista de Letras; do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; da Academia Portuguesa de História. Foi presidente honorário do Instituto Histórico de São Paulo. Trazendo já no sangue o gosto das letras e das ciências, teve extraordinária fecundidade de escritor, escrevendo mais de uma centena de obras, versando os mais diferentes campos de conhecimento da História do Brasil; do Estado e da Cidade de São Paulo; da Arte, da Ciência e da Literatura no Brasil; da Linguística; dos assuntos científicos em geral; da Ficção; da Tradução, das reedições comentadas de obras clássicas. Como historiador, escreveu obra tão vasta e tão completa que, não conhecê-la, é ignorar parte da nossa história. A sua medida está na simples enumeração da sua bibliografia, possivelmente incompleta, tão difícil a pesquisa da sua totalidade. É que Afonso d’Escragnolle Taunay não se limitou aos livros, oferecendo, também, farta contribuição de estudos em revistas e publicações outras, de precária catalogação. Para uma aula, entretanto, que deve, pedagogicamente, limitar-se ao tempo de 50 a 60 minutos, cumpre recordar, desde já, para as anotações dos estudantes, a indicação bibliográfica do Autor, com a ressalva de alguma omissão: História do Brasil “Assuntos de três séculos coloniais” “Visitantes do Brasil colonial” “Na Bahia colonial” “Na Bahia de D. João VI” “Rio de Janeiro de antanho” “No Rio de Janeiro dos Vice-Reis” “No Rio de Janeiro de D. Pedro II” “Santa Catarina nos anos primevos” “Em Santa Catarina colonial” “Viagens na Capitania das Minas Gerais” “De Brasiliae rebus pluribus” “Viagens e Viajantes” “A grande vida de Fernão […] Read More

CURSO VARNHAGEN – OLIVEIRA VIANA (1883-1951)

  CURSO VARNHAGEN – OLIVEIRA VIANA (1883-1951) Paulo Gomes da Silva Aos 20 de junho de 1883, na fazenda do Rio Seco, em Saquarema, Estado do Rio, nasceu Francisco José de Oliveira Viana, filho do fazendeiro Francisco José e sua esposa D. Balbina. Iniciou as primeiras letras na Escola Pública Estadual dirigida pelo afamado professor Quincas Sousa. Frequentou o curso primário até os 10 anos. Em 1897 seguiu para Niterói a fim de continuar os estudos humanísticos. Cursou durante três anos um educandário mantido pelo professor Carlos Alberto, na Rua da Praia. Ao terminar o ano de 1900 inscreveu-se no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro para prestar os exames finais do curso secundário. Matricula-se na Faculdade de Direito e se bacharela em 1905 na cidade do Rio de Janeiro. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais passou a exercer o magistério, fazendo parte do corpo docente do Colégio Abílio, de Niterói. Durante sua passagem pela Faculdade de Direito deixara-se logo impressionar sobre a controvérsia existente entre as escolas antropológica e clássica do direito penal e logo, com seu primeiro estudo nesse setor se manifesta eclético: “Inútil de todo se me representa esta contenda, que há pejado de monografias e tratados as bibliotecas: quem atentar nessas engenhosas doutrinas e sujeitá-las ao escalpelo da análise comparativa, descobrirá de pronto que, longe de colidirem, harmonizam-se e enfeixam num só corpo doutrinário. E são por isto como caudalosos afluentes do grande rio criminológico; todas elas vão engrossar as águas dele com as exuberantes riquezas das suas pesquisas e investigações” (Vasconcelos Tôrres – Oliveira Viana – pág. 33 – Ed. Freitas Bastos, 1956). Nota-se que possuía apenas 17 anos quando assim se pronunciou. Outros estudos ainda podemos citar; valendo-nos do trabalho de Vasconcelos Tôrres que teve a primazia de revelá-los. Darwinismo na literatura. Um ensaio sobre o Futuro do Espírito. Outro sobre a França e seu papel na História. Vários outros pequenos ensaios sobre A evolução da idéia do Direito, Futuro provável da idéia do Direito, A pena de morte, Sobre a literatura portuguesa. Ainda consta da informação de seu biógrafo um ensaio por ele mesmo denominado de filósofo-nefelibata sob o título A Crise Social onde o então jovem e futuro sociólogo previa a transformação dos costumes sociais por força da penetração de “uma imensa onda de lama entrando lentamente, morosamente, compassadamente, os recessos mais íntimos da sociedade, e vai diluindo tudo e tudo […] Read More