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HUGO LEAL, UM AMIGO DE PETRÓPOLIS

HUGO LEAL, UM AMIGO DE PETRÓPOLIS Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe   Esse foi o pseudônimo adotado, em 1911, por Vasco Machado de Azevedo Lima, conhecido como Vasco Lima. Filho dos portugueses Alfredo de Azevedo Lima e de Silvina Faria Machado Lima nasceu no Porto em 6 de setembro de 1886 e veio para o Brasil aos quinze anos de idade. Em 1906, casou-se com Adelaide Guiomar d’Ávila. Faleceu em 8 de agosto de 1973. Desenhista, caricaturista e ilustrador, Vasco Lima foi colaborador de vários revistas e jornais como “O Malho”, revista ilustrada de grande prestígio, onde ingressou em 1905. Seu colega, o caricaturista Álvaro Marins (pseudônimo Seth) recorda: “Enquanto se trabalhava, discutia-se arte, literatura, filosofia e metia-se o pau na vida alheia. Vasco, o eterno irreverente contador de anedotas, ria e fungava através dos seus vastos bigodes da moda”. Em julho de 1911, lançou com Álvaro Marins a revista “Álbum de Caricaturas”, que depois passou a chamar-se “O Gato”, que fazia sucesso entre a elite intelectual. Segundo Álvaro Marins, “Vasco Lima, pelos seus notáveis dotes de atividades e tino de negócio, além dos de artista, dispunha de crédito e boas relações”. O que explica a sua presença na reunião de fundação e instalação da Sociedade Amigos de Petrópolis realizada no dia 24 de março de 1946, na residência do professor Chryso Fontes, na Independência, na qual compareceram várias pessoas de destaque na sociedade carioca e petropolitana, com a finalidade de discutir os problemas da cidade e cooperar para o seu progresso. Em 1912, ingressou no Jornal A Noite e, mais tarde, ocupou o cargo de diretor-técnico. Em Petrópolis funcionou uma sucursal de A Noite. Amigo de Petrópolis, Vasco Lima doou ao Museu Imperial, em 1941, vários objetos, pinturas, gravuras, fotografias, manuscritos e livros. Em cerimônia realizada no gabinete do diretor Alcindo de Azevedo Sodré, em 1944, recebeu das mãos do diretor Alcindo de Azevedo Sodré uma carta do ministro da Educação, Gustavo Capanema, enaltecendo o seu gesto que revelava desinteresse pessoal e esclarecido espírito de cooperação. O ministro concluiu dizendo que considerava “inapreciável a contribuição dos particulares para a formação dos conjuntos artísticos e históricos organizados pelo poder público e que ao público pertence”. Referências MURUCI, Lucio Picanço. Seth: um capítulo singular na caricatura brasileira. Tese apresentada no PPJ em História Social da Cultura, PUC-RIO, 2006. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/9437/9437_5.PDF. Acesso […] Read More

DOIS “NASCIMENTOS” DE FREI MONTE ALVERNE (OS)

OS DOIS “NASCIMENTOS” DE FREI MONTE ALVERNE Enrico Carrano, Associado Titular, Cadeira n.º 3 – Patrono Antônio Machado Em seu belo discurso de posse na Academia Petropolitana de Letras, a 20 de março de 1927, o ilustre sacerdote e advogado paraibano, Padre Lucio Gambarra, que atuou na Paróquia de Cascatinha de 1914 a 1937, afirma que o frade franciscano, Frei Francisco de Monte Alverne, Pregador Imperial de Dom João VI a Dom Pedro II, e precursor do Romantismo no Brasil, patrono da cadeira na qual tomava assento, a de n.°29, teria nascido duas vezes: a primeira em 1785, ao receber na pia batismal o nome Francisco José de Carvalho, mudado aos 23 anos e por ocasião do sacerdócio, para o de Frei Monte Alverne; e a segunda, em 19 de outubro de 1854, aos 79 anos, quando a convite do Monarca, reaparece após 16 anos de recolhimento, cego e debilitado por grave enfermidade, para pregar o famoso panegirico de São Pedro de Alcântara, no Outeiro da Glória, e na presença de figuras seletas da sociedade de então, entre as quais Machado de Assis e Joaquim Manuel de Macedo. Nas palavras de Pe. Gambarra: “Se o primeiro nascimento ficou assignalado desde a juventude de conquistas, de revelações e prodigios, que só em anunciar a predestinação dos genios, o segundo ainda mais se notabilizou, pelo caracter de ressureição com que, após 16 annos de tacitude e obscuridade, durante os quaes todos o lastimavam e carpiam, se mostrou redivivo, na plenitude do seu genio vindo ao pulpito da egreja da Gloria prégar o celebre sermão de S. Pedro de Alcantara, o sublime cégo, emulo de Homero e Milton e talvez ainda maior que ambos, porque, sem desservir os homens, mas antes os instruindo com a sua doutrina de mestre, com o seu verbo de apostolo, sempre esteve, até aos ultimos instantes da sua vida, ao serviço de Deus, da sua Egreja e da Patria.”  O escritor José de Alencar também assistiu ao “segundo nascimento” de Monte Alverne e registrou: “Chegou o momento. Todos os olhos estão fixos, todos os espíritos atentos. No vão escuro da estreita arcada assomou um vulto. É um velho cego, quebrado pelos anos, vergado pela idade. Nessa bela cabeça quase calva e encanecida pousa-lhe o espírito da religião sob a tríplice auréola da inteligência, da velhice e da desgraça. O rosto pálido e emagrecido cobre-se desse vago, dessa oscilação de homem […] Read More

JOÃO AUGUSTO ALVES, FUNDADOR DA ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DE PETRÓPOLIS

JOÃO AUGUSTO ALVES, FUNDADOR DA ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DE PETRÓPOLIS Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira n.º 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe   A Associação dos Amigos de Petrópolis foi fundada em 15 de dezembro de 1940, pelo veranista João Augusto Alves, proprietário de um prédio na Rua Cardoso Fontes, nº 88, em Petrópolis. Eleita com mandato trienal, a primeira Diretoria da Associação dos Amigos de Petrópolis tomou posse em 26 de fevereiro de 1941, sendo assim composta: presidente João Augusto Alves, secretário Eugênio Lopes Barcellos e tesoureiro Antonio Augusto Gonçalves Pereira. Foi criado o Departamento de Publicidade e Turismo instalado à Avenida 15 de Novembro, nº 793, sob a direção do escritor Mário Barreto, que no Rio de Janeiro era representado pelo escritor e jornalista Albertus Carvalho. Foram considerados presidentes de honra, o interventor fluminense Ernani Amaral Peixoto e o prefeito de Petrópolis Mário Cardoso Aloysio de Miranda, conforme o art. 3º, parágrafo único do estatuto. O Conselho deliberativo foi formado por João Augusto Alves, Herbert Moses, Mário Magalhães, Belizário Soares de Souza, Arthur Alves Barbosa, Chryso Fontes, Alcindo Sodré, José Rainho, Antônio Augusto Gonçalves Pereira, Osório Magalhães Salles, Eugênio Lopes Barcellos e Carlos Brandão Camacho. A suplência coube a Henrique Castrioto, Carlos Magalhães Bastos, Paulo César de Andrade, Adolpho Paulino Soares de Souza, Álvaro Correa Bastos Júnior, Paulo Lobo de Moraes, Durval Egydio de Souza, Alberto Borges Gouvea, Antônio Taboada, Vasco Marques Ribeiro e Santiago Araujo Esteves. Em 16 de março de 1941, no Edifício Tocolli, à Avenida 15 de Novembro nº 793, foi inaugurada a exposição comemorativa do 98º aniversário da fundação da cidade e também da instalação do Museu Imperial, promovida pelo Departamento de Publicidade e Turismo da Associação dos Amigos de Petrópolis, em homenagem ao criador do Museu Imperial, Presidente Getúlio Vargas. João Augusto Alves era figura de destaque no comércio do Rio de Janeiro, onde nasceu em 27 de fevereiro de 1883 e faleceu em 30 de setembro de 1953. Casado com Teresa Delfina Pereira Alves, descendente da tradicional família Delphim Pereira, do tempo do Império, teve duas filhas e dois filhos. Foi um dos fundadores do Aero Clube Brasileiro, presidente do Centro de Marinha Mercante, criador do “Dia do Marinheiro”, sócio e diretor do Jockey Club Brasileiro, fundador do Hospital de Jesus no Rio de Janeiro, vereador da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, além de vários outros cargos em sociedades, […] Read More

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL: CONSERVAÇÃO/ RESTAURO

PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL: CONSERVAÇÃO/ RESTAURO Eliane Marchesini Zanatta Abrahão, Associada Titular, Cadeira nº 22 – Patrono Henrique José Rabaço A ausência do entendimento e dimensionamento das abordagens teórico-conceituais relacionadas com a conservação/restauração de bens culturais tem sido uma lacuna frequente no cotidiano da preservação do patrimônio cultural. Ainda hoje, muitos são aqueles que acreditam que tais intervenções se reduzem ao mero restabelecimento estético de um determinado objeto cultural, banalizando completamente que a conversação/restauração desses bens compõe um nicho científico/acadêmico próprio, necessariamente pautado por métodos e teorias que devem ser aplicadas por profissionais detentores de formação específica para tanto. Convém ponderar que a preservação do patrimônio cultural deve ser entendida de forma ampla, com intuito de proteger primariamente o valor cultural de um determinado objeto enquanto inserido em seu contexto atributivo de relevância, cuja defesa, cuidado e respeito visam resguardar o testemunho vivo da herança das gerações passadas que exercem papel fundamental no momento presente e se projetam para o futuro. A história da conservação/restauração do patrimônio cultural tem uma peculiaridade em seu modos operandi que a torna complexa, envolve técnica e ciência, requerendo conhecimentos estéticos, filosóficos, históricos, éticos, sociológicos, físicos, químicos, biológicos, de engenharia de materiais, dentre outros. Assim, o objetivo principal está em retardar/prevenir a deterioração/dano a um determinado bem cultural contra fatores de diferentes naturezas – física, química, biológica e humana –, que possam agir sozinhos ou conjuntamente, ameaçando ou destruindo a sua integridade. Ademais, mantendo coerência com a máxima de que o valor cultural de um bem está diretamente associado ao seu contexto temporal/espacial de inserção, é importante registrar que os procedimentos de conservação devem sempre prevalecer sobre os de restauração, esta que só deve ser realizada quando a sua indicação for estritamente necessária para recuperar, na medida do possível, um objeto cultural deteriorado ou arruinado na sua forma, desenho, cor e/ou função. Por fim, é imperioso que os agentes direcionados ao campo da conservação/restauração busquem uma formação acadêmica que possibilite assimilar os conteúdos teórico-prático e as condutas éticas necessárias para que se possa respeitar as características dos bens simbólicos em toda a sua amplitude.  Somente assim, poderá fundamentar suas ações enquanto sujeitos culturais que têm o poder de intervir e o mais maléfico, o de alterar completamente os objetos que são símbolos de grupos ou mesmo da nação.

MONSENHOR NEY AFFONSO DE SÁ EARP

MONSENHOR NEY AFFONSO DE SÁ EARP Fernando Antônio de Souza da Costa, Associado Titular, Cadeira n.º 19 – Patrono Galdino Justiniano da Silva Pimentel   Tive a alegria de conhecer o Sacerdote Monsenhor Ney Affonso de Sá Earp nos anos 60. Depois, em momento triste por ocasião de seu falecimento em 14.09.1995, quando foi velado na Catedral São Pedro de Alcântara em Missa de Réquiem presidida pelo Bispo Diocesano Dom Veloso e concelebrada pelo Bispo Emérito Dom Cintra. A Missa de Sétimo dia foi celebrada na Capela do Colégio Santa Isabel onde o menino Ney fez sua Primeira Comunhão. Está incluído em minhas orações. Rezo por tão aureolada alma na certeza de sua beatificação. Ney Affonso foi o filho primogênito do casal Nélson de Sá Earp e Amélia Maria Costa de Sá Earp, que teve, ao todo, sete filhos: quatro homens e três mulheres. São eles, por ordem de nascimento: Ney Affonso nascido a 17.12.1935 em Petrópolis, Arthur Leonardo, Maria Cecília, Maria Angélica, Antônio Carlos, Pedro Paulo e Maria Gabriela. Os pais tinham uma profunda formação religiosa; o ambiente familiar foi decisivo para desabrochá-lo à vocação sacerdotal do primeiro filho. Pertencia à Ordem Terceira Franciscana. Ney Affonso fez o curso primário no Colégio Dona Hilda Maduro, tradicional de Petrópolis. O curso ginasial no Colégio São Vicente de Paulo, dos cônegos premonstratenses. No intervalo entre um curso e outro, ocorreu um acidente em 16.12.1946, véspera do seu aniversário de 11 onze anos. Seu irmão, o ilustre historiador Arthur Leonardo em comovente matéria publicada na Tribuna de Petrópolis “Uma tragédia – cinqüenta anos” (15.12.1996) discorreu sobre o lamentável acidente, que marcou a sua vida. Concluiu o curso de Teologia em 1960, ano de sua ordenação em 3 de julho. O recém-ordenado Padre Ney Affonso de Sá Earp não voltou logo ao Brasil. Permaneceu em Roma para fazer novos estudos. A história registra a celebração de sua primeira Missa cantada na Catedral de Petrópolis em 19 de abril de 1964. “Retornou a Roma e a Toronto (no Canadá) para completar sua tese doutoral, laureando-se brilhantemente em 1974” tudo conforme relata a Revista Ação. O então Pe. Ney  assumiu a paróquia de Bemposta. Ela integrava, dentre outras, a Igreja de Hermogêneo Silva, distrito de Três-Rios bem no início de sua ordenação Sacerdotal. Sua permanência ali se deu por pouco tempo. Lecionou no Seminário Diocesano de Corrêas e na Universidade Católica. Foi Secretário Diocesano de Pastoral Familiar. Serviu à Arquidiocese do Rio de […] Read More

PALÁCIO DE CRISTAL NÃO FOI PRESENTE DE CASAMENTO (O)…

O PALÁCIO DE CRISTAL NÃO FOI PRESENTE DE CASAMENTO …. Maria de Fátima Moraes Argon, Associada Titular, Cadeira nº 28 – Patrono Lourenço Luiz Lacombe O Palácio de Cristal não foi presente de casamento do Conde d’Eu à Princesa D. Isabel. Se tivesse sido, ele seria um bem particular e, dessa maneira, só poderia ter passado ao poder público por meio de doação ou de venda, tal como ocorreu com o Palácio de Petrópolis, hoje Museu Imperial. Vamos aos fatos. A Primeira Exposição Hortícola e Agrícola de Petrópolis, realizada no Passeio Público, em 02.02.1875, foi uma iniciativa da Princesa D. Isabel. Com o êxito do evento, foi criada a Caixa Hortícola de Petrópolis, cujo conselho diretor era presidido pelo Conde d’Eu. Sendo assim, foram realizadas mais duas exposições, inauguradas em 20.01.1876 e 18.04.1877. Mais tarde, a Caixa Hortícola transformou-se na Associação Hortícola e Agrícola de Petrópolis, que tinha como presidente o Conde d’Eu e como vice-presidente o Barão do Catete. A Associação decidiu construir um edifício especialmente para abrigar as exposições e obteve autorização para instalá-lo no Passeio Público, fato que, na época, gerou grande polêmica. Em 1878, o antigo pavilhão que abrigou as três primeiras exposições foi demolido e, em 02.02.1879, foi realizada a solenidade da colocação da pedra fundamental do novo edifício. Em prol da Associação Hortícola e Agrícola de Petrópolis, a Princesa D. Isabel e o Conde d’Eu patrocinaram um concerto público em 1882. Assim, o Palácio de Cristal foi inaugurado em 20.04.1884, com a abertura da 4ª Exposição Hortícola e Agrícola de Petrópolis, ornamentada pelo botânico Auguste François Marie Glaziou. O edifício foi construído nas oficinas da Sociedade Anônima de Saint-Sauveur-lès-Arras, na França, por encomenda da Associação Hortícola de Petrópolis, e montado em Petrópolis pelo engenheiro Eduardo Bonjean. Foi inspirado no Palácio de Cristal projetado pelo arquiteto Joseph Paxton para a Exposição Industrial de Londres em 1851. A Associação Hortícola e Agrícola de Petrópolis era, sem dúvida, a proprietária do Palácio de Cristal, mas, como fora construído em logradouro público, era necessário que as relações jurídicas entre a Municipalidade e a Associação estivessem estabelecidas no caso da dissolução desta última. O vereador Domingos Manuel Dias, presidente da Câmara Municipal de Petrópolis, preocupado com essa possibilidade em virtude do fim da Monarquia, em 1889, escreveu ao barão do Catete, presidente em exercício da Associação, solicitando uma reunião para tratarem do assunto. A extinção da Associação Hortícola e […] Read More

CASA BARÃO DE MAUÁ: CONSTRUINDO E DESCOBRINDO MEMÓRIAS

CASA BARÃO DE MAUÁ: CONSTRUINDO E DESCOBRINDO MEMÓRIAS Norton Ribeiro, Associado Titular, Cadeira nº 9 – Patrono Mário Aloysio Cardoso de Miranda   O imóvel conhecido pelos petropolitanos como casa do Barão de Mauá, situado à Avenida Rio Branco n. 3, assim como várias residências da elite do século XIX, guarda muitas histórias, algumas muito conhecidas, outras nem tanto. Redescobrir os fatos ocorridos em outras épocas nas ruas, praças e imóveis da cidade contribui para compreender nossa própria história e resguardar o patrimônio material que compõe parte de nossa cultura e memória. Assim, Petrópolis aparece como uma das cidades brasileiras com grande patrimônio histórico relativo ao século XIX e início do XX, bem como um conjunto arquitetônico variado, compondo-se de muitos estilos diferentes. Sua preservação depende de uma série de fatores que envolvem tanto a sociedade quanto os poderes públicos e precisa ser encarada com seriedade, pois eles são capazes de nos revelar aspectos da cultura e do tempo, as relações sociais de outrora, questões políticas, a interatividade entre o homem e seu meio, enfim, diferentes questionamentos que dependerão das necessidades históricas. A Casa Barão de Mauá preserva memórias de diferentes momentos de nossa história local e nacional. Atualmente ela funciona como a Casa da Educação, promovendo cursos e atividades extracurriculares para alunos da rede municipal.  O trabalho com projetos de educação patrimonial, pesquisas sobre o imóvel e a vida de seu idealizador Irineu Evangelista de Souza, Barão de Mauá (depois Visconde), me tem possibilitado verificar e revelar fatos interessantes sobre a Casa inaugurada em março de 1854.  Um deles foi a localização no acervo do Museu Imperial da fotografia do dia inauguração da placa de bronze colocada na frente da Casa em 21.03.1928. O exame da imagem suscitou várias perguntas: De quem foi a ideia da homenagem? Por que de tanta pompa na homenagem ao Barão? Quem esteve presente na cerimônia? A ideia foi do vereador Alcindo Sodré em 1927, que obteve a autorização do prefeito Paula Buarque e certamente contou com a aquiescência do proprietário do imóvel, o biógrafo de Mauá, Alberto de Faria, grande entusiasta do Barão e suas realizações. A Tribuna de Petrópolis (22.03.1928) noticiou o fato exaltando a relevância das realizações de Mauá para o país e sua ligação com Petrópolis. O cronista Walter Bretz, sob o pseudônimo João de Petrópolis, procurou reforçar esta relação destacando a primeira estrada de ferro do Brasil e transcreveu o […] Read More

RAUL DE LEONI – AINDA E SEMPRE

RAUL DE LEONI – AINDA E SEMPRE Leandro Garcia, Professor de Teoria Literária da UFMG e membro titular da Academia Petropolitana de Letras Raul de Leoni (1895-1926) nasceu em Petrópolis, na residência da sua família que ficava na atual Rua Paulo Barbosa. Poeta singular, culto, formado nas mais clássicas tradições do nosso ensino e da nossa literatura, Leoni teve apenas um livro – Luz Mediterrânea – publicado em 1922, no ano da escandalosa Semana de Arte Moderna. Mas Raul de Leoni nunca foi modernista, foi um clássico em pleno séc. XX, optou pela tradição em plena era das vanguardas artísticas. Mas Luz Mediterrânea marcou época e “permaneceu” através das décadas, ocupou um lugar no nosso cânone literário, gerou incompreensões e elogios, paixões e ceticismo. Lembro a matéria assinada por Mário de Paula Fonseca, publicada na Tribuna de Petrópolis, em 21/5/1922:   As manifestações da atividade humana vêm de um órgão limitado – o cérebro. E, no entanto, algumas delas, como a poesia e a música, se levam ao infinito. É que elas são produções mais nobres do cérebro, são as filhas diletas e gêmeas do pensamento ilimitado, centelhas que promanam imperecíveis, deslumbrantes e encantadoras. […] Está, pois, de parabéns a literatura nacional em aparição deste esplêndido livro, do poeta petropolitano Raul de Leoni.   Sabe-se que o poeta divulgou bem o seu livro, fez o que estava ao alcance da época, batalhou por espaço na imprensa especializada. Percebemos isso no ato de Leoni enviar um livro ao crítico literário Alceu Amoroso Lima, o mais importante à época da publicação. Neste exemplar, que se encontra na biblioteca do Centro Alceu A. Lima para a Liberdade, temos a seguinte dedicatória do autor:   A Tristão de Athayde, / – a quem entrego este livro / com tranquila confiança / na lealdade da sua nobre / crítica construtora – / homenagem / de / Raul de Leoni / Novembro de 1922.   De fato, Alceu leu, analisou e publicou uma bela crítica a respeito de Luz Mediterrânea, na edição de 1/4/1923 de O Jornal:   Ao passo que alguns poetas novos pedem, com razão, luz américa, mergulha o Sr. Raul de Leoni a raiz de sua inspiração nesse Mediterrâneo sutil e aventuroso. Seu livro é tipicamente europeu e exprime, melhor que qualquer dissertação erudita, toda uma face de nossa fisionomia. Não há nele nada de americano, nada de brasileiro, nada dessa mescla mental que […] Read More

PROFETA BINOT (O)

O PROFETA BINOT Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Há 125 anos morria nesta cidade o cidadão franco-petropolitano JEAN BAPTISTE BINOT. Nascido em Paris, em 1806, veio para o Brasil em 1836, onde viveu a maior parte de sua vida, radicando-se na recém-fundada Petrópolis, onde viria a falecer aos 17 de setembro de 1894. Acompanhou os primeiros passos da nova urbe, conheceu de perto o plano Koeler, trabalhou nos jardins do Palácio Imperial, criou renomado orquidário no Retiro, foi paisagista e defensor da exuberante natureza petropolitana, adivinhou os nossos desastres urbanísticos e ecológicos, colaborou na imprensa local mostrando as agressões à plasticidade urbana e ao meio ambiente. Na edição de 5 de janeiro de 1859 d’“O Parahyba” escreveu Binot: “Petrópolis vai entrar em uma nova fase, tanto para as construções, como para as vias de comunicação, porque se temos tantos sinistros a deplorar hoje, a culpa é antes das autoridades que dos proprietários, porquanto para evitar semelhantes desgraças não se devia deixar construir ao pé dos taludes a menos que não tivessem 45º; mas até hoje cada qual constrói como lhe apraz, à sua guisa, visto que as autoridades superiores não procuram determinar ainda um alinhamento e uma construção para os edifícios nesta cidade.” O artigo em epígrafe foi publicado cinco meses antes da posse da primeira Câmara Municipal petropolitana. Ela já teria que encarar o desafio de impor regras rígidas ao movimento fundiário no município, notadamente no centro da urbe onde o meticuloso plano Koeler, já de si valia como bússola. Entretanto, Binot vaticinara o aumento do descalabro, ante a omissão e quanta vez a convivência das autoridades competentes. E por décadas a fio, num crescendo assustador, desafiando a lei da gravidade, a geologia do solo petropolitano, as peculiaridades da natureza local, os temporais de verão, as enchentes dos cursos d’água, as construções de todo o gênero, avançaram morro acima, dizimaram matas, se esgueiraram pelas margens de rios e córregos e como diria Camões, se mais área de risco houvera, lá chegaram. Jean Baptiste Binot adivinhou a vocação industrial de Petrópolis ao dizer que “as fábricas manufatoras aparecerão como por encanto visto que não há em toda a província do Rio de Janeiro lugar mais próprio que Petrópolis para trabalhos desse gênero.” Realmente o clima, a abundância de recursos hídricos, a proximidade da Corte, os modernos meios […] Read More

110 ANOS DA TRAGÉDIA DA PIEDADE (OS)

OS 110 ANOS DA TRAGÉDIA DA PIEDADE Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, Associado Emérito, ex-Titular da Cadeira n.º 37 – Patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima   Foi a 15 de agosto de 1909 que Euclides Pimenta da Cunha subiu aos céus nos braços de Nossa Senhora da Glória depois de ter sido vitimado por uma bala assassina no subúrbio carioca da Piedade. Euclides da Cunha morreu prematuramente quando muito teria que contribuir para o enriquecimento da cultura nacional, para a integração ibero-americana, para a fixação dos limites do norte do país. Sete anos antes de seu falecimento, o filho de Cantagalo legou ao Brasil aquilo que para alguns não passava de um monumento literário escrito em linguagem rebuscada, mas que para os estudiosos da realidade nacional representava um tratado que aglutinava conhecimentos geográficos, históricos, etnossociológicos e demopsicológicos. Intitulava-se a obra “Os Sertões” que tinha como enfoque especial a questão de Canudos a emblematizar um tema muito mais profundo e abrangente nos sertões brasileiros. As causas do fenômeno canudiano foram levantadas e discutidas na obra em apreço e as soluções para o drama sertanejo, com base no diagnóstico, dependeriam apenas da vontade política dos governantes de quaisquer esferas do poder. Mas o caso de Canudos, tratado de per si, como um tumor que precisava ser extirpado com base no pressuposto de que o Conselheiro era inimigo da República, tornou-se um fim em si mesmo. Entretanto, ele deveria ter sido contextualizado, para que a população sertaneja, atraída pelos paranoicos de ocasião, que ofereciam o céu na terra, não prosseguisse no cumprimento de seu triste destino, escrava da ignorância e da indigência. “Timeo homo unius libri”, diziam os latinos, isto é, tenho medo do homem de um livro só. Mas, embora, “Os Sertões” seja o carro chefe de Euclides da Cunha, escreveu ele outras obras tão importantes como aquela. “Contrastes e Confrontos” é uma delas e “À Margem da História” veio a lume dois meses após a sua morte. Neste livro Euclides da Cunha revelou-se um eminente líbero-americanista, com os olhos voltados para a Amazônia, para o Prata, para as vertentes andinas do Pacífico. Tratando da Amazônia, e o tema está agora na ordem do dia, disse Euclides que quando de sua conquista pelo homem branco, não se sabia se aquilo era uma bacia fluvial “ou um mar profundamente retalhado de estreitos”. E afirmou enfático: “O homem ali é um intruso impertinente. Chegou sem […] Read More