ROTEIRO DE ESTUDOS (UM)

  Um Roteiro de Estudos Guilherme Auler Não nos parece exata a afirmação dogmática de certos cavalheiros sobre a IMPERIAL COLÔNIA DE PETRÓPOLIS. Declaram que o seu estudo histórico já se acha concluído e nada de importante resta a pesquisar. Situamo-nos, em polo oposto, em absoluta divergência. E para início de conversa, convém lembrar que dos Relatórios Anuais da Colônia somente foram localizados e publicados os referentes aos anos 1848, 1849, 1853, 1854, 1855, 1856 e 1857. Desconhecem-se, portanto, cinco deles, ou sejam os relativos a 1850, 1851, 1852, 1858 e 1859. Também, os ofícios do Major Julio Frederico Koeler, que muita informação proporcionam sobre os anos 1845 a 1847, ainda se acham inéditos, na sua grande parte. Muitos aspectos da Colônia pedem uma atenção especial. Por exemplo, as obras realizadas pela Diretoria, com descrição tão minuciosa nos relatórios, permitem o estudo bem desenvolvido da nossa geografia urbana. Acompanhamos, nesses documentos, a abertura de Ruas e de Caminhos, a construção de pontes e canais, o alargamento das vias de acesso, a modificação provocada com escavações e aterros, enfim tudo que o braço humano realizou, na urbanização de Petrópolis, executando o genial projeto do Major Koeler. O movimento demográfico, desde a primeira estatística publicada no Relatório do Presidente Aureliano, com as curvas de casamentos, nascimentos e óbitos, fornece curiosos elementos de desenvolvimento e expansão. E, se encararmos o setor genealógico, as descendências dos Colonos, famílias que desapareceram pela falta de varonia ou de prole, ou as que se expandiram de modo exuberante, chegaremos a conclusões surpreendentes. Os nomes dos Colonos, suas origens, e a própria quantidade dos elementos chegados, são temas não definidos. Além dos 1.818 Colonos citados pelo Presidente Aureliano, há mais 200 que em fins de 1846 [espontaneamente chegam] (truncado na publicação), segundo revelações dos papéis oficiais. Daí, surge uma distinção na estatística do Diretor Galdino, onze “Colonos obrigados à Província”, isto é, devedores das despesas de suas passagens, e Colonos sem qualificativo algum. O povoamento dos Quarteirões, a natureza das casas e seu mobiliário, despertam muita curiosidade. E nos antigos inventários, colhemos elementos esclarecedores. As finanças da Colônia representam outro capítulo muito controvertido por alguns, que se esquecem que tudo é pago pela Província do Rio de Janeiro. Confundem despesas da Superintendência da Imperial Fazenda, isto é, dinheiro vindo da Mordomia da Casa Imperial, com os gastos da Diretoria. Além da verba mensal de 6:000$000, a Província inúmeras […] Read More

CURSO VARNHAGEN – AULA INAUGURAL (INTRODUÇÃO AO CURSO)

  CURSO VARNHAGEN – AULA INAUGURAL (INTRODUÇÃO AO CURSO) Décio Werneck Para qualquer observador, mesmo para aquele menos capaz, com pouca força de observação, é fácil ver a geral alegria que está em todos nós nesta sala. Para todos nós que somos filhos ou que vivemos nesta centenária Petrópolis, com tantas e tão vivas tradições na vida de nossa terra, é a alegria justa e comovente, e vem emoldurada em uma certa vaidade e até um pequeno friso de orgulho: é que pela ação benfazeja do Instituto Histórico de Petrópolis magnífico guardião das tradições, inteligente pesquisador dos episódios e justo analista da vida petropolitana; e pela ação desta nossa Universidade Católica que é, sem nenhum favor e sem nenhum exagero, a mais rica, a mais valiosa, a mais importante de quantas expressões de valor tem Petrópolis – e é justo lembrar que tem muitas e admiráveis – temos um Curso de Extensão Universitária, que será mais uma prova de cultura, de saber, de conhecimento, ou dizendo melhor – mais uma manifestação de pujança, de força e de vida. Daí nossa justa e vaidosa alegria. – Mas que curso teremos? Quis o bom destino que fosse um curso de História. Quis o bom destino que ele se chamasse Curso Varnhagen. Pela História mais nos aproximamos da nossa terra, mais avivamos e fortalecemos o amor ao Brasil. Pela lembrança de Varnhagen melhor poderemos medir a grandeza de nossa gente. Na verdade, foi homem extraordinário. Filho de oficial alemão, nascido no Brasil, passou a sua meninice em Portugal, onde viveu de 1823 até fins de 1840. Foi oficial do exército libertador de Pedro I contra os absolutistas de D. Miguel. Terminada esta luta, voltou aos estudos e desde aí sua vida ganha um curioso e notável aspecto pela intensidade, pelo volume, pela quantidade de trabalho que pode e soube apresentar. Em Portugal, ainda, examina arquivos, faz descobertas e publica reflexões e críticas ao Roteiro de Gabriel Soares e ainda ao Diário da Navegação da Armada de Martim Afonso, obra de Pero Lopes. Nas vésperas de viajar para o Brasil publica Crônica do Descobrimento. Chega ao Rio e logo faz questão de ser reconhecido como cidadão brasileiro, o que consegue por um decreto especial de 41. Ingressa na carreira diplomática e começa uma longa peregrinação, mas em cada posto não se contenta com seus naturais afazeres: estuda, pesquisa, investiga e, mais afortunado do que […] Read More

PROPRIEDADES DO MAJOR KOELER EM PETRÓPOLIS (AS)

  AS PROPRIEDADES DO MAJOR KOELER EM PETRÓPOLIS Guilherme Auler Quando transcorre mais um aniversário ­ 21 de novembro ­ da morte do Major Júlio Frederico Koeler, em homenagem à memória do primeiro Diretor da Imperial Colônia e também do primeiro Superintendente da Imperial Fazenda de Petrópolis, vamos recordar as suas propriedades nesta cidade, em cujo nascimento ele teve parte tão importante. Inexplicavelmente, até hoje, estão desconhecidos dois documentos básicos para o estudo da formação de Petrópolis: a escritura da doação da Fazenda Quitandinha, propriedade de Koeler, ao Imperador Dom Pedro II, e a escritura de rescisão do contrato de arrendamento da Fazenda do Córrego Seco. Tivemos, entretanto, a satisfação de localizar esses manuscritos tão importantes, no arquivo da Superintendência da Imperial Fazenda, e mais adiante vamos transcrevê-los, na íntegra. A Compra da Fazenda Quitandinha. Em 1º de junho de 1841, Guilherme Francisco Rodrigues Franco, por escritura particular, vendeu a Júlio Frederico Koeler a Fazenda Quitandinha, pelo preço de 1:600$000, com a testada de 1.500 braças e o fundo de uma légua. A transação foi ultimada, em 9 de setembro de 1846, quando se lavrou a escritura de ratificação de venda, no Cartório de João Pinto de Miranda (Rio de Janeiro), Livro de Notas 188, folhas 165 e seguintes. O teor do documento é o seguinte: “SAIBAM quantos este público instrumento de escritura de ratificação de venda virem, que no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e quarenta e seis, aos nove dias do mês de Setembro, nesta mui leal e heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em o meu Cartório perante mim Tabelião, compareceram como outorgante Guilherme Francisco Rodrigues Franco e como outorgado o Major Júlio Frederico Koeler, este reconhecido pelo próprio de mim Tabelião e aquele das duas testemunhas abaixo nomeadas e assinadas perante as quais, pelo outorgante, me foi dito que sendo senhor e possuidor da Fazenda denominada ­ Quitandinha ­ que tem de testada mil e quinhentas braças e de fundo uma légua, partindo pelo lado de Leste com a Fazenda do Córrego Seco, com os fundos da qual faz testada, e com a Serra geral; pelo Oeste, com a Sesmaria de Marcos da Costa; pelo Sul, com o alto da Serra da Taquara; e pelo Norte, com a Sesmaria de Velasco; a tinha vendido ao Major Júlio Frederico Koeler, pela quantia de um conto e seiscentos mil […] Read More

BAUER E PETRÓPOLIS

  BAUER E PETRÓPOLIS Maria das Graças Duvanel Rodrigues No dia 08 de junho de 2009 passei a fazer parte do Quadro Titular do Instituto Histórico de Petrópolis, IHP,ocupando a cadeira n.º 21 sob a patronímica de Gustavo Ernesto Bauer, um historiador descendente de imigrantes alemães. Quando informada de tal distinção, busquei conhecer melhor a história de meu Patrono, por meio de informes biográficos, de seus próprios escritos e de um contato pessoal com sua filha Vera Bauer, que gentilmente colocou parte de seu arquivo documental a minha disposição para uma pesquisa. Logo que comecei a inteirar-me das particularidades de sua vida, minha curiosidade e satisfação foram crescendo e instigaram-me a conhecer cada vez mais a trajetória desse admirável e significativo petropolitano. Gustavo Ernesto Bauer nasceu em 23 de outubro de 1902 e faleceu em 27 de agosto de 1979. Era descendente dos primeiros colonos alemães que vieram, em 1845, para Petrópolis. Seus pais foram Ernesto Gustavo Bauer e Carolina Suzana Kling, seus avós Clemens Bauer e Catharine Judith Monken e seus bisavós Wilhelm Baur e Anne Marie Kaiser. Bauer iniciou seus estudos no externato do professor Alberto Eckardt, à Rua Monte Caseros, n.º 549 e deu prosseguimento no Colégio São Vicente de Paulo que funcionou no Palácio Imperial, hoje Museu Imperial. Aprendeu a falar e a escrever fluentemente o alemão e conhecia bem o inglês e o francês. Trabalhou como técnico em eletricidade e eletrônica no Banco Construtor do Brasil, responsável pelo fornecimento de energia elétrica e funcionamento dos bondes em Petrópolis. Posteriormente passou a trabalhar no Departamento Nacional de Estradas de Rodagem – DNER onde, como chefe da Oficina de Petrópolis, desenvolveu alguns projetos científicos tais como o funcionamento do hológrafo terrestre com bússola eletrônica, montou os primeiros transmissores de rádio de longo alcance, desenvolveu um aparelho para pesquisas geofísicas e um sistema de segurança para prova de espoletas elétricas. Viajou por três vezes à Alemanha, sendo a primeira em 1961 pelo DNER, para aperfeiçoamento técnico. Depois, em 1964 a convite da República Federal da Alemanha para um intercâmbio cultural e para proferir palestras em diversas instituições alemãs sobre os temas: colonização alemã e rodovias brasileiras. Na sua última viagem, em 1972, como nas duas primeiras vezes, levantou informações sobre a pátria de seus antepassados, as cidades das quais os imigrantes de Petrópolis eram oriundos, como também procurou descobrir as origens de seus ancestrais, de amigos e de […] Read More

CURSO VARNHAGEN – ALCINDO SODRÉ (1895-1952)

  Curso Varnhagen – Alcindo Sodré (1895-1952) Américo Jacobina Lacombe A primeira vez que fui chamado a falar a respeito de Alcindo Sodré o fiz em tom de necrológio. Foi em 1952, no ano de sua morte, quando exercia eu o árduo mister de orador oficial deste Instituto. E comecei minha oração sobre esse historiador de Petrópolis afirmando que este próprio Instituto certamente não existiria se não nos animasse, a todos que o fundamos, a convicção de que, na força e no fervor do criador do Museu Imperial, estava uma de nossas grandes seguranças. Digo criador porque muitos dos que aqui estamos fomos testemunhas de como a idéia da fundação de um museu imperial em Petrópolis, idéia que várias vezes fora agitada, encontrou, em determinado momento, e em circunstâncias históricas favoráveis, o homem capaz e decidido a corporificá-la. Daí por diante a idéia do Museu, de que o Instituto foi uma das forças convergentes e formadoras, esteve para todos nós, indissoluvelmente ligada à personalidade de Alcindo Sodré. O tema da aula de hoje é Alcindo Sodré, o Historiador, o Intelectual, o homem que teve a vitória suprema de ver realizado na maturidade um sonho da juventude. Por isso a sua biografia tem um tom acentuado de vivo entusiasmo. Sua existência, tão harmoniosa e afinal vitoriosa, conseguiu construir, com tanta repercussão, uma vida das mais profícuas. Foi exatamente esse o aspecto que tão bem acentuou seu antigo e dedicado auxiliar, Paulo Olinto de Oliveira, ao prefaciar o volume In Memoriam publicado em 1956. Fixemos, inicialmente, sua biografia para depois comentarmos-lhe a obra. Nasceu em Porto Alegre, em 30 de novembro de 1895, oriundo de velhos troncos fluminense e gaúcho. Seu pai, o engenheiro Antônio Cândido de Azevedo Sodré, descendia de tradicional família da velha província do Rio de Janeiro, e sua mãe, Helena Porto, era ligada aos Jobim. Veio ainda menino para Petrópolis e aqui ultimou seu curso secundário no velho Colégio S. Vicente, dos padres Lazaristas, período de sua vida que emocionadamente recordou em comovente discurso ao instalar-se a Associação dos Antigos Alunos daquele educandário. Bacharelou-se em Direito em 1916, pela antiga Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, doutorando-se em Medicina em 1921, laureado com a medalha de ouro, Prêmio Miguel Pereira. Iniciando a vida pública em Petrópolis, aqui ficou, constituiu família e construiu residência, militando com destaque na política e na administração do Município. Por […] Read More

CURSO VARNHAGEN – AFONSO D’ ESCRAGNOLLE TAUNAY (1876-1958)

  CURSO VARNHAGEN – AFONSO D’ESCRAGNOLLE TAUNAY (1876-1958) Murilo Cabral Silva Afonso d’Escragnolle Taunay nasceu em Nossa Senhora do Desterro, hoje Florianópolis, Estado de Santa Catarina, em 11 de julho de 1876, e morreu em São Paulo, aos 20 de março de 1958, quase aos 82 anos, portanto. Era filho de Alfredo d’Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay, imortal escritor de Inocência e Retirada da Laguna. Formou-se pela Escola de Engenharia do Rio de Janeiro, em 1910. Alguns anos depois, tornava-se professor catedrático da Escola Politécnica de São Paulo. Diretor do Museu Paulista em 1917, passando, em 1923, a diretor dos Museus do Estado de São Paulo. Professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade do mesmo Estado, de 1934 a 1937. Aposentando-se em dezembro de 1945, recebeu o título de servidor emérito daquele Estado. Membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Paulista de Letras; do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; da Academia Portuguesa de História. Foi presidente honorário do Instituto Histórico de São Paulo. Trazendo já no sangue o gosto das letras e das ciências, teve extraordinária fecundidade de escritor, escrevendo mais de uma centena de obras, versando os mais diferentes campos de conhecimento da História do Brasil; do Estado e da Cidade de São Paulo; da Arte, da Ciência e da Literatura no Brasil; da Linguística; dos assuntos científicos em geral; da Ficção; da Tradução, das reedições comentadas de obras clássicas. Como historiador, escreveu obra tão vasta e tão completa que, não conhecê-la, é ignorar parte da nossa história. A sua medida está na simples enumeração da sua bibliografia, possivelmente incompleta, tão difícil a pesquisa da sua totalidade. É que Afonso d’Escragnolle Taunay não se limitou aos livros, oferecendo, também, farta contribuição de estudos em revistas e publicações outras, de precária catalogação. Para uma aula, entretanto, que deve, pedagogicamente, limitar-se ao tempo de 50 a 60 minutos, cumpre recordar, desde já, para as anotações dos estudantes, a indicação bibliográfica do Autor, com a ressalva de alguma omissão: História do Brasil “Assuntos de três séculos coloniais” “Visitantes do Brasil colonial” “Na Bahia colonial” “Na Bahia de D. João VI” “Rio de Janeiro de antanho” “No Rio de Janeiro dos Vice-Reis” “No Rio de Janeiro de D. Pedro II” “Santa Catarina nos anos primevos” “Em Santa Catarina colonial” “Viagens na Capitania das Minas Gerais” “De Brasiliae rebus pluribus” “Viagens e Viajantes” “A grande vida de Fernão […] Read More

CURSO VARNHAGEN – OLIVEIRA VIANA (1883-1951)

  CURSO VARNHAGEN – OLIVEIRA VIANA (1883-1951) Paulo Gomes da Silva Aos 20 de junho de 1883, na fazenda do Rio Seco, em Saquarema, Estado do Rio, nasceu Francisco José de Oliveira Viana, filho do fazendeiro Francisco José e sua esposa D. Balbina. Iniciou as primeiras letras na Escola Pública Estadual dirigida pelo afamado professor Quincas Sousa. Frequentou o curso primário até os 10 anos. Em 1897 seguiu para Niterói a fim de continuar os estudos humanísticos. Cursou durante três anos um educandário mantido pelo professor Carlos Alberto, na Rua da Praia. Ao terminar o ano de 1900 inscreveu-se no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro para prestar os exames finais do curso secundário. Matricula-se na Faculdade de Direito e se bacharela em 1905 na cidade do Rio de Janeiro. Formado em Ciências Jurídicas e Sociais passou a exercer o magistério, fazendo parte do corpo docente do Colégio Abílio, de Niterói. Durante sua passagem pela Faculdade de Direito deixara-se logo impressionar sobre a controvérsia existente entre as escolas antropológica e clássica do direito penal e logo, com seu primeiro estudo nesse setor se manifesta eclético: “Inútil de todo se me representa esta contenda, que há pejado de monografias e tratados as bibliotecas: quem atentar nessas engenhosas doutrinas e sujeitá-las ao escalpelo da análise comparativa, descobrirá de pronto que, longe de colidirem, harmonizam-se e enfeixam num só corpo doutrinário. E são por isto como caudalosos afluentes do grande rio criminológico; todas elas vão engrossar as águas dele com as exuberantes riquezas das suas pesquisas e investigações” (Vasconcelos Tôrres – Oliveira Viana – pág. 33 – Ed. Freitas Bastos, 1956). Nota-se que possuía apenas 17 anos quando assim se pronunciou. Outros estudos ainda podemos citar; valendo-nos do trabalho de Vasconcelos Tôrres que teve a primazia de revelá-los. Darwinismo na literatura. Um ensaio sobre o Futuro do Espírito. Outro sobre a França e seu papel na História. Vários outros pequenos ensaios sobre A evolução da idéia do Direito, Futuro provável da idéia do Direito, A pena de morte, Sobre a literatura portuguesa. Ainda consta da informação de seu biógrafo um ensaio por ele mesmo denominado de filósofo-nefelibata sob o título A Crise Social onde o então jovem e futuro sociólogo previa a transformação dos costumes sociais por força da penetração de “uma imensa onda de lama entrando lentamente, morosamente, compassadamente, os recessos mais íntimos da sociedade, e vai diluindo tudo e tudo […] Read More

CURSO VARNHAGEN – RODOLFO GARCIA (1873-1949)

  CURSO VARNHAGEN – RODOLFO GARCIA (1873-1949) Hélio Viana Na historiografia brasileira, onde são numerosos os autores de muitos livros, um existe que se distingue por não possuir grande bibliografia própria, em volumes autônomos, nos quais o seu nome figure nos cabeçalhos. É Rodolfo Garcia, que preferiu anotar e apresentar trabalhos alheios, comentando-os, ampliando-os e corrigindo-os sempre que isto se tornava necessário. Fê-lo, porém, com tanto saber que, muitas vezes, praticamente, criou obra nova, valorizada por suas notas e achegas. A modéstia com que o fez, somente se compara à utilidade e seriedade dos complementos que lhes trouxe. “Trabalho braçal” – dizia ele, ao lembrar o do anotador que recorre aos manuscritos inéditos e aos alfarrábios, para ajuntar algo útil aos textos que de acréscimos esclarecedores necessitam. A seguir, acompanhando sua vida de honrado trabalhador intelectual, podemos aquilatar o mérito de sua contribuição à historiografia pátria. Mocidade no Recife. Nasceu Rodolfo Augusto de Amorim Garcia a 25 de maio de 1873, em Ceará-Mirim, na então Província do Rio Grande do Norte. Filho do Dr. Augusto Carlos de Amorim Garcia e de D. Maria Augusta de Amorim Garcia. Não pode ser imediatamente batizado, por ser maçom o padrinho que lhe queriam dar, nessa época em que ainda estavam vivos os ressentimentos da Questão Religiosa. Destinando-se ao Exército, cursou as Escolas Militares do Ceará e Rio de Janeiro. Da Praia Vermelha estava ausente, por ter ido à cidade, quando ocorreu uma de suas florianescas manifestações de indisciplina, no governo de Prudente de Morais. Desligado com outros alunos, à Escola não quis voltar, quando anistiado. Preferiu regressar ao Recife, em 1895. Em sua Faculdade estudou, bacharelou-se e doutorou-se em Direito, em 1908. Ainda estudante, foi redator do jornal Estado de Pernambuco, órgão do Partido Republicano Federal. Colaborou na revista A Cultura Acadêmica, na qual publicou, em 1906, um trabalho sobre “Antônio Vicente do Nascimento Feitosa”. Pertenceu, então, ao Cenáculo, que, à imitação do de Eça de Queirós, em Lisboa, sob a presidência do Professor da Faculdade, Faelante da Câmara reunia-se na Livraria Silveira, à imitação do que antes faziam literatos na de Cruz Coutinho, da cidade do Porto. Apontados, os seus membros, como imitadores de intelectuais franceses, que lhes deram apelidos, Rodolfo e seu irmão Aprígio foram Jules e Edmond de Goncourt, como em versos àquele dedicados lembrou o Presidente do Grêmio: Rodolfo Garcia Se nunca me passara pela mente – E entanto […] Read More

ESTÁGIO ATUAL DO CAPITAL E O ESTADO DE DÍVIDA CIVILIZACIONAL (O)

  O ESTÁGIO ATUAL DO CAPITAL E O ESTADO DE DÚVIDA CIVILIZACIONAL Júlio Ambrozio, associado titular, cadeira n.° 30, patrono Mons. Francisco de Castro Abreu Bacelar Resumo Se o lugar ambiental denuncia variáveis que empurram a civilização para um estado de incerteza, o fato é que essa ausência de certeza alcança contornos ainda mais problemáticos quando se põe à mesa o horizonte geográfico e histórico da acumulação capitalista. De um lado, o processo de degradação ambiental, se bem que derivado do atual estágio do capital, guarda seu motivo visceral no próprio caráter acumulador do capitalismo; de outro lado, o eventual deslocamento do núcleo de acumulação para o oriente, além de anunciar a possibilidade bélica, amplifica o grau de destruição ambiental. Palavras-chave Ambiente, Oriente, Hiperacumulação, Guerra. Résumé Si le lieu dénonce les variables environnementales qui animent la civilization à un état d’incertitude, le fait est que cette absence de certitude atteints des contours encore plus compliqués quand on présente l’horizon geografique et historique de l’accumulation capitaliste. D’un côté, le procès de dégradation de l’environnement, si bien qu’issu de l’état actuel de le capital, conserve sa raison visceral dans le caractère même qui accumule le capitalisme; et de l’autre côté, l’éventuel d’un déplacement du noyaux de l’accumulation pour l’orient, outre qu’annoncer la possibilité belliciste, amplifie le degré de la destruction de l’environnement. Mots-clés Environnement, Orient, Hiperaccumulation, Guerre. Um olhar que enxergasse o problema ambiental contemporâneo, desnecessário dizer, não poderia descuidar da maquinaria ampliada de acumulação capitalista. Se o estado das coisas materiais ou físicas necessárias à reprodução da existência deriva do atual estágio de acumulação do capital, posto já estava o problema desde a origem dessa acumulação, sobretudo desde os primórdios do capitalismo produtivo. Bastaria como exemplo o testemunho de Charles Dickens e sua vitoriana cenografia londrina. (1) (1) Bem mais adiante, “A Cidade da Noite Apavorante”, o segundo capítulo de Cidades do Amanhã, de Peter Hall, sem mencionar Dickens, reverberou esse testemunho ao descrever os horrores ambientais e, sobretudo, de moradia da Londres vitoriana de 1880-1900, não esquecendo, ademais, de Nova York, Paris e Berlim (HALL, 2002, pp.17-53) O desenvolvimento do capitalismo – um histórico modo de ordenamento espacial e (re) produção material, além de uma maneira datada de dominação social – ocorre no interior de incessante movimento que dá vida ao capital, valendo a notória fórmula geral de Marx D–M–D’: giro, circuito ou rotação no qual certo somatório de dinheiro […] Read More

CENTENÁRIO DO HOSPITAL SANTA TERESA – AS IRMÃS DE SANTA CATARINA

  CENTENÁRIO DO HOSPITAL SANTA TERESA – AS IRMÃS DE SANTA CATARINA José Kopke Fróes Quando o Hospital Santa Teresa foi entregue à Congregação das Irmãs de Santa Catarina, em 29 de janeiro de 1901, por Decreto do Presidente do Estado do Rio de Janeiro, contava o edifício com duas enfermarias para homens, uma de medicina, outra de cirurgia, e duas para mulheres, além de quartos particulares, modesta capela, farmácia, secretaria, sala do médico. Irmã Lídia era a Superiora naquele momento, e conservou-se no cargo até 1907, tempo em que os recursos financeiros eram muito reduzidos. Sucedeu-a a Irmã Macrina, também com a mesma situação, por três anos. De 1910 a 1920, a Superiora foi a Irmã Julieta, em cuja direção foi construída a capela atual, inaugurada em 1.º de novembro de 1912, sendo também no mesmo ano inaugurado o andar térreo de Sanatório S. José, logo depois o pavilhão S. Geraldo, destinado a isolar doentes tuberculosos, e iniciada a construção do necrotério. No ano de 1915, ainda sob a direção de Irmã Julieta, foi construída a casa para as Irmãs, ali de serviço, que ocupavam pequenos quartos nos porões do edifício, sem o menor conforto, sujeitos às enchentes. Continuando na direção, Irmã Julieta, foram construídas 3 amplas enfermarias e a seção de maternidade. De 1920 a 1926, a Superiora foi a Irmã Eulalia, que, como era natural, encontrou grandes dívidas, liquidadas em sua administração. De 1927 a 1933, a Superiora foi a muito nossa conhecida Irmã Agatonia, muito estimada de todos os que passaram pela casa, e que, felizmente, vive hoje em dependência anexa ao Hospital. Irmã Agatonia promoveu a aquisição do Raio X, e a renovação da canalização de água. Durante sua administração ali esteve internado o Presidente Vargas, vítima de acidente na serra de Petrópolis, que mais atingiu sua esposa D. Darci Vargas, durante um mês. De 1933 a 1939, Irmã Eustoquium foi a Superiora, de grande atividade, construindo o segundo pavimento do Sanatório, a maternidade, a enfermaria infantil, a nova lavanderia e a nova farmácia. Nos anos de 1939 a 1942, a Superiora Irmã Thadeia, instalou o laboratório de pesquisas clínicas, o aumento da maternidade. Finalmente, chegamos à bondosa Irmã Paula Schaeffer, decana das Irmãs do Hospital, Superiora de 1942 a 1948 e de 1950 a 1956. Em seu primeiro ano de administração, em convênio com a Prefeitura, a 7 de setembro de 1942, foi inaugurado […] Read More