O VISCONDE DE UBÁ EM PETRÓPOLIS Jeronymo Ferreira Alves Netto, associado titular, cadeira nº. 15, patrono Frei Estanislau Schaette Joaquim Ribeiro de Avellar Júnior, Barão e, posteriormente, Visconde de Ubá, era filho de Joaquim Ribeiro de Avellar, Barão de Capivary, grande cafeicultor e influente político na região do Vale do Paraíba. O Visconde de Ubá nasceu a 12 de maio de 1821, em Paty do Alferes, fez seus estudos iniciais no Rio de Janeiro e os estudos superiores na Europa, recebendo em conseqüência uma esmerada educação. Em 1849, casou-se com Mariana Velho da Silva, filha mais velha do casal José Maria Velho da Silva e Leonarda Velho da Silva. A família Velho da Silva, é interessante assinalar, mantinha relações muito estreitas com a Corte. O casal teve onze filhos. O Visconde de Ubá “era tenente coronel da Guarda Nacional, jurado eleitor e comandante do batalhão da Guarda Nacional, oficial da Imperial Ordem da Rosa, fidalgo cavaleiro da Casa Imperial e sócio correspondente do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro” (1). Em 1º de agosto de 1863, o então Barão de Ubá adquiriu de Dom Andrés Lamas, Ministro da República do Uruguai, um casarão de rara beleza, localizado à então Rua dos Mineiros, hoje Rua Silva Jardim, em Petrópolis. Do ponto de vista arquitetônico, “o referido prédio de linhas clássicas, reflete a influência do estilo colonial português utilizado sobretudo nos sobrados e fazendas do período colonial no Brasil. Os porões e a escadaria conferem-lhe certa harmonia na composição arquitetônica”(2). (1) MUAZE, Mariana. As Memórias da Viscondessa: família e poder no Brasil Império. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008, p.65. (2) KRÜGER, Maria das Neves. História dos Prédios da Universidade Católica de Petrópolis. Petrópolis, 1992, p. 1 (mimeo). O referido casarão, mencionado em vários relatos de estrangeiros em visita a Petrópolis, durante o final do 2º Império foi palco de intensa vida social e política. Nele, as princesas imperiais Isabel e Leopoldina, passaram suas respectivas luas de mel, em 1864. Em Petrópolis, a família do Visconde de Ubá participou intensamente da vida social, cultural e religiosa da cidade, conquistando a amizade e a estima de todos que aqui viviam. Por ocasião do falecimento do Visconde, ocorrido em sua fazenda, em 1º de outubro de 1888, o Mercantil, prestigioso jornal de nossa cidade, lhe dedicou a seguinte mensagem: “Cidadão prestimoso e que, trilhando sempre a vereda do justo, soube conquistar um nome, que a […] Read More
CARTA AO PREFEITO
CARTA AO PREFEITO Ruth Boucault Judice, associada titular, cadeira n.º 33, patrono Padre Antônio Tomás de Aquino Correia Petrópolis, 20 de agosto de 1986 Exmo. Sr. Prefeito […] de Petrópolis Dr. Paulo José Alves Rattes Exmo. Sr. No momento em que a Câmara Municipal acaba de rejeitar o veto de V. Excia. ao decreto 506, é oportuno o Instituto Histórico de Petrópolis reiterar-lhe o seu aplauso pela atitude que tomou em defesa de nossa cidade. Com aquela atitude V. Excia. tentou proteger a nossa arquitetura, representada por exemplos neo-clássicos, ecléticos, além de produtos da Revolução Industrial. Não se esqueceu V. Excia., que manter a cidade o mais parecida com o que existe ainda hoje, no primeiro distrito, representa propiciar à sua população melhor qualidade de vida. Que por falta de infra-estrutura básica, um crescimento impensado no Centro, seria altamente prejudicial ao Homem que nela habita, inclusive trazendo-lhe problemas para a saúde; que o aumento de circulação no seu centro comercial seria concorrer para o caos. Acreditamos que a constatação dessas verdades alertou V. Excia., acertadamente, para a necessidade urgente da descentralização de Petrópolis. É o que concluímos de sua intenção de mudar, com a máxima urgência, o centro administrativo da Prefeitura para Itaipava. Sentimos sua preocupação em resolver o problema através dos estudos que já estão sendo executados. Pensamos em uníssono, que aí está a solução: crescer para os distritos. O Instituto Histórico diante dos últimos acontecimentos na Cidade, uma vez mais, toma sua posição preservacionista, não se esquecendo, porém, que Petrópolis é uma cidade viva e por isso mesmo dinâmica, que continua a crescer. O grande desafio dos administradores atuais está em saber conciliar a preservação com o crescimento. Essa é a virtude que queremos continuar aplaudindo na sua administração.
EM BUSCA DO MAIS ELEVADO – PETRÓPOLIS, 160 ANOS
EM BUSCA DO MAIS ELEVADO – PETRÓPOLIS, 160 ANOS Joaquim Eloy Duarte dos Santos, associado titular, cadeira n.º 14, patrono João Duarte da Silveira Sob justo orgulho e subida honra, enfrento as vicissitudes de cair na voragem da insegurança das ruas do Rio de Janeiro, deixando por instantes o ruço da minha serra petropolitana, igualmente contaminado pelo desamor que a criatura humana carrega no turbulento coração tão desconexo de todos os tempos, para atender ao pedido da ilustre presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, a extraordinária e percuciente pesquisadora Cybelle Moreira de Ipanema, sob aprovação de seus pares. Na qualidade de presidente do Instituto Histórico de Petrópolis, entidade fundada em 1938 e de cuja ação e primeiro acervo, determinação e raro sentido patriótico projetado ao futuro, surgiu o Museu Imperial de Petrópolis, uma das riquezas maiores da Cultura Brasileira; também, atual presidente da Academia Petropolitana de Letras, fundada no ano de 1922, a primeira do País a admitir mulheres em seus quadros, desde o primeiro encontro de fundação, carrego nos frágeis ombros e em limitados recursos pessoais, uma ilustre carga de soma centenária, que deposito no coração do Rio de Janeiro, no epicentro de uma entidade das mais representativas de nossa cultura histórica. A responsabilidade é tamanha e não posso causar decepção e nem repetir uma história que o Brasil conhece e cujo desenrolar em 160 anos de existência, o querido Rio de Janeiro acompanha, honra, dignifica e contribui. Daí, meus confrades do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro e convidados dessa tarde, não relembrarei as figuras de D. Pedro II, Major de Engenheiros Júlio Frederico Köeler, Paulo Barbosa da Silva, Aureliano de Souza Coutinho, Caldas Vianna, Amaro Emilio da Veiga e tantos que idealizaram, criaram e sedimentaram a urbe nos altiplanos da suave Serra da Estrela. Não! Tampouco farei referência de pesquisa aos fatos marcantes que elevaram Petrópolis à honraria de jóia histórica nacional. Passarei, em vôos acima das nuvens, sem visão da terra firme, por cima de todo o período imperial da cidade; olharei apenas as vicissitudes geradas pela quartelada de 15 de novembro de 1889, que mudou a face política, mantendo, no entretanto, o povo em letárgico desenvolvimento sob parcos recursos deitados à dignidade da educação e da cultura, legado pífio que assombra a todos até nossos dias; fixarei um acontecimento raro e precioso da vida petropolitana. Comemorarei os 160 […] Read More
EXERCÍCIO DIRETO DO PODER – SOBERANIA POPULAR – PARABÉNS, PETRÓPOLIS!
EXERCÍCIO DIRETO DO PODER – SOBERANIA POPULAR – PARABÉNS, PETRÓPOLIS! Arthur Leonardo de Sá Earp, associado titular, cadeira n.º 25, patrono Hermogênio Silva Na oportunidade em que Petrópolis vive tão importante e festejado aniversário, vale ressaltar uma das suas virtudes desde o nascimento. Esquecidos dela, muitos buscam instrumentos para fazer funcionar, hoje, de acordo com as normas constitucionais, a participação popular nos destinos do Município. No que toca à Cidade e a algumas outras partes do Município, existe possibilidade de organizar este exercício da cidadania com segurança e rapidez, bastando apenas resolver pormenores. O fato é que não há necessidade de definir áreas para equacionar a efetiva atuação da soberania popular. Elas já estão definidas! Cada quarteirão tem base física própria, incluindo prazos (lotes) com seqüência numérica específica. Ainda que as fronteiras dos quarteirões hajam passado para o esquecimento no uso diário, se convocados os proprietários, habitantes, moradores, comunidades, que estejam vinculados a prazos de uma determinada seqüência numérica, ver-se-á imediatamente constituída a população de tal área. E, como no planejamento inicial da Cidade esta área não foi delimitada por critérios meramente arbitrários, mas por princípios predominantemente ecológicos, os problemas que a ela se referirem serão comuns a todos os que ali viverem. Assim é que, por exemplo, se forem chamadas todas as pessoas titulares de interesses em prazos com numeração iniciada por 3.400, ter-se-á formado o corpo popular representativo do Quarteirão Presidência. Seguindo no exemplo, para alguém estar incluído em determinada consulta popular a comprovação de ligação ao prazo significará o mesmo que título de eleitor. Isto pode ser feito de logo. Os pormenores precisam ser trabalhados, mas o fundamental já existe, desde os primeiros momentos da aniversariante Petrópolis. O assunto lembra questão que merece ser analisada. Há algumas designações urbanas que não tiveram por fonte o Plano Koeler, mas brotaram do uso popular, da iniciativa privada, etc. São nomes que estão na fala do dia a dia e não devem ser combatidos, apenas situados na medida do possível. Sua utilidade não é grande, porque em geral são designações de áreas não suficientemente definidas. O Valparaíso, continuando em termos de exemplo, permite bem mostrar isto. É designação popular, respeitável. Dada, porém, a sua indefinição, ela, que nasceu aplicada vagamente restrita ao espaço formado pelas Av. Portugal e ruas próximas, foi-se alargando ao sabor das opiniões particulares porque ninguém pode saber onde começa ou termina. É, ao contrário, perfeitamente […] Read More
TEATRO DOM PEDRO (O)
O THEATRO D. PEDRO Carlos Alberto da Silva Lopes (Calau Lopes), associado efetivo, titular da cadeira n.º 7, patrono Bartholomeo Pereira Sudré Em 2 de janeiro de 1933, por obra e graça de João D`Ângelo, Petrópolis assistia à inauguração do Theatro D. Pedro, resultado da ousadia de um empreendedor que soube liderar parentes, amigos, artistas e profissionais de habilidade como: Armando de Oliveira, Francisco De Carolis, Roberto Gabuni e Carlos Shaefer, todos mobilizados para que um belo sonho virasse realidade. Por algum tempo aquela casa de artes recebeu vários e interessantes espetáculos, mas os custos de produção e de manutenção do espaço levaram-no a ser arrendado para funcionar como cinema. Em meados dos anos 60, com o crescimento do movimento cultural petropolitano, em especial na área do teatro, Maurício Silva e Raul Lopes encabeçaram uma manifestação que sugeria ao Prefeito Paulo Gratacós a desapropriação do D. Pedro, a fim de transformá-lo em nosso Teatro Municipal. E a ideia só não vingou porque o prefeito teve seu mandato cassado pela ditadura militar antes que pudesse consumar o ato. Passaram-se os anos, e a demanda, as reivindicações por um teatro da municipalidade só aumentaram. O evento Scena Serrana 83, que coordenei, foi um grande marco no posicionamento da classe teatral sobre políticas públicas para as artes cênicas, a influenciar várias ações e conquistas nos anos subseqüentes, dentre elas, a ocupação, em 1987, do prédio do antigo Matadouro Municipal, hoje Escola Carlos Chagas, para abrigar o projeto Teatro da Cidade, depois abandonado. Em 1989 volta à Prefeitura Paulo Gratacós, disposto a cumprir o compromisso assumido com a comunidade artística, discutido em seu primeiro mandato, em 1968. E o faz pelo Decreto 55, de 29/06/1989, desapropriando o imóvel relativo ao Theatro D. Pedro, inicialmente chamado Teatro Imperial de Petrópolis (a um teatro republicano?), corrigido depois para a denominação consensual de Teatro Municipal de Petrópolis (Decreto 732/1992), “porque era o nosso teatro público; porque era e é, desde então, o teatro da cidade de Pedro, simplesmente”. Eu estava lá, no palco, partícipe do elenco de “Petrópolis em Revista”, a peça que no final de dezembro de 1992 re-inaugurava o nosso Teatro. Sou testemunha da alegria reinante, dos inúmeros melhoramentos realizados naquele nobre espaço, ainda que muito precisasse ser feito. Durante o governo Sérgio Fadel (1993/1996), houve uma precária, mas significativa ocupação do espaço pelo movimento teatral petropolitano e o pagamento do restante da desapropriação […] Read More
MAJOR ENFERMEIRA ELZA CANSANÇÃO MEDEIROS (1931-2009)
MAJOR ENFERMEIRA ELZA CANSANÇÃO MEDEIROS (1931-2009) Claudio Moreira Bento, associado correspondente Major Elza enfermeira veterana da FEB com suas condecorações Faleceu a Major Elza Cansanção Medeiros no Rio de Janeiro, sua cidade natal, em 8 de dezembro de 2009, aos 88 anos. Era uma patriota. Em recente entrevista a ANVFEB que ela ajudou a fundar assim se definiu: “Eu sempre fui uma patriota. Eu tenho de hereditariedade o patriotismo. E na minha família registro uma coincidência: de que de quatro em quatro gerações surge uma mulher guerreira.” Foram elas Muira Ubi, a seguir Jerônima de Almeida que combateu os holandeses. Depois veio a guerreira alagoana mãe do Visconde de Sinimbu, líder liberal amigo do General Osório que foi 1º Ministro do Império e titular de diversas pastas, exceto a da Marinha, e que presidiu o Rio Grande do Sul, ocasião em que nomeou como 1º professor régio do Município de Canguçu, criado em 1857, e minha terra natal, meu bisavô Antônio Joaquim Bento, creio com a ajuda do Tenente Coronel Manoel Luiz Osório de quem seria cabo eleitoral.em Canguçu. Elza nasceu em 21 de outubro de 1921, na Rua Santa Clara em Copacabana. Era filha do médico sanitarista alagoano Dr. Tadeu de Araújo Medeiros que foi amigo de Santos Dumont e auxiliar direto de Osvaldo Cruz no combate a Febre Amarela no Rio de Janeiro. Sua mãe foi Aristhea Cansanção. Aos dezenove anos Elza foi a primeira a se apresentar para lutar com a FEB na Itália. Em 1944 concluiu o Curso de Enfermeiras da Reserva do Exército, classificando-se em 1º lugar com grau 9,5, junto com mais duas colegas. E, segundo o acadêmico Tenente R/2 Israel Blagberg, ao recebê-la em nome da Academia de História Militar Terrestre do Brasil no CPOR/RJ, ”logo veio o treinamento na Fortaleza de São João, no HCE e na Policlínica, e o embarque por via aérea para o TO da Itália, onde as Enfermeiras da FEB se destacaram pelo carinho e profissionalismo com que souberam se desempenhar de suas funções, granjeando o respeito e admiração da tropa. Elas foram dignas de uma Ana Néri, que partiu em 1865 para a guerra do Paraguai com autorização especial do Imperador. 75 anos depois estas outras mulheres guerreiras reviveram em todo o esplendor e beleza aquela figura sublime, inspiradas ainda em Joana Angélica, Maria Quitéria, Rosa da Fonseca, Anita Garibaldi, Bárbara Heliodora, Sóror Angélica, e […] Read More
COMMERCIO (O): O DESAFIO DE UMA NOVA IMPRENSA PETROPOLITANA
O COMMERCIO: O DESAFIO DE UMA NOVA IMPRENSA PETROPOLITANA Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, associado titular, cadeira n.º 13, patrono Coronel Amaro Emílio da Veiga “Há muito que o público e o commercio desta cidade têm enraizada a convicção de que a Companhia Leopoldina, com incrivel descaso pelos interesses vitaes de Petrópolis, não procura jámais attender aos justos reclamos que se lhe dirigem. Isto é tanto mais de notar-se, quanto, por engodo áqueles de quem aufere fabulosos lucros, envolvendo nelle o mais flagrante desrespeito ás nossas leis, a poderosa empreza assume para com o governo da União compromissos que não cumpre. E a prova temo-la na já tristemente celebre reducçao de tarifas, que ella assegurou faria em troca de favores, não poucos, recebidos na presidencia Nilo Peçanha. Já se vão dois annos quasi, e nada fez ainda, nem o fará, talvez.” (Cia. Leopoldina, in O Commercio, pg.01, n.º 01, 03-12-1911) A corajosa denúncia em uma das manchetes do novíssimo semanário contra a poderosa Cia., acompanha o mal-estar presente na própria comunidade pela constatação em notas de outros jornais do período. A péssima prestação de serviços da única empresa a fazer o transporte entre o Rio e Petrópolis. Monopólio de serviços e preços exorbitantes não se apresentam como exclusividade da contemporaneidade como podemos observar: O COMMERCIO continuava sua denúncia: “…agora ella cuida em transferir a sua estação de cargas para o Palatinato… e não seremos nós que o conteste…ela faz o que precisamente contrarie o interesse público”, “…grandes desvantagens e sérios prejuízos para os comerciantes pois o Palatinato fica muito distante do centro da cidade”. No centro localizavam-se os armazéns e depósitos de muitas empresas, e semelhante movimento seria desastroso para a economia local. O COMMÉRCIO, foi um jornal criado por Ticiano Tocantins, que se intitulava diretor do mesmo e Álvaro Martinho de Moraes, seu redator, e cuja biografia já foi tratada em ensaio anterior. O jornal teve seu inicio em 1911 (03/12), e seu fim, pelo que observamos dos números existentes na Biblioteca Municipal em 1929 (12/07). Sua redação localizava-se a principio na Avenida Ipiranga, no número 918, possivelmente casa do próprio Ticiano. Mais tarde transferiu-se para um endereço comercial na Rua Paulo Barbosa, 182. Ticiano Teixeira Tocantins As características enunciadas em seu primeiro número eram “Órgão Comercial, noticioso e literário, de publicação semanal, informativo, com social e anúncios comerciais”. Quanto ao tamanho, proporcionalmente aos dias atuais, o jornal […] Read More
D. JOÃO E SEU AMOR PELO BRASIL
D. JOÃO (1) E SEU AMOR PELO BRASIL Kenneth Henry Lionel Light, associado efetivo, titular da cadeira n.º 1, patrono Albino José da Siqueira A vida do nosso príncipe regente, rei e imperador titular não foi nada fácil. No entanto, as suas duas maiores façanhas. por ter sido o único monarca que conseguiu driblar o homem mais poderoso da sua época, Napoleão, e ao mesmo tempo por ter mantido unida a sua colônia de tamanho continental que foi o Brasil, mostram que, sem dúvida nenhuma, foi um homem sortudo ou então, uma pessoa calma, ponderada, estrategista e inteligente. Após muitos estudos por parte de historiadores, resultando na bem coordenada celebração do bi-centenário da transferência da família real e corte para o Rio de Janeiro, em 2008, não temos mais dúvidas: a figura de D. João, até então uma caricatura do que deveria ser um monarca, mudou e para sempre. Entendemos melhor o seu caráter, os seus pontos fracos e também os fortes. Após esta reavaliação ficou mais clara a sua participação em influenciar o futuro do Brasil, que vem a ser o nosso presente. Somos grandes devedores da sua capacidade, inteligência e visão. Segundo filho da Rainha D. Maria (2), a sua infância foi relativamente calma e até pacata pois o irmão mais velho, José(3), estava sendo preparado para um dia assumir os deveres e responsabilidades de administrar o Império Português. (1) D. João, 1767-1826, 27º Rei de Portugal. (2) D. Maria I, 1734-1816, 26ª Rainha de Portugal. (3) D. José Francisco Xavier, 1761-1788. Herdou a religiosidade da mãe e logo se entregou aos prazeres do canto gregoriano e o convívio com os monges. Hoje, é difícil acreditar mas, naquela época, Portugal era repleto de conventos. Marcus Cheke (4), biógrafo da Princesa Carlota Joaquina, escreveu que nada menos do que trezentos mil, de uma população de três milhões, estavam ligados aos cento e oitenta conventos e mosteiros então existentes. Mas o destino muitas vezes prega o inesperado, e assim foi. Sucumbido pela varíola seu irmão, em 1788, veio a falecer. D. João poderia ainda esperar uma longa vida em segundo plano pois sua mãe só morreria de velhice em 1816. Mas, não foi o caso. Os problemas resultantes de casamentos entre primos, como também entre sobrinhas e tios, logo veio à tona. D. Maria começou a apresentar sinais de instabilidade mental e, em 1785, aos 25 anos de idade, […] Read More
MONÁRQUICA NA APARÊNCIA MAS REPUBLICANA NA ESSÊNCIA
MONÁRQUICA NA APARÊNCIA MAS REPUBLICANA NA ESSÊNCIA Francisco José Ribeiro de Vasconcellos, associado emérito, ex-associado titular, cadeira n.º 37, patrono Sílvio Júlio de Albuquerque Lima Diz o povo que as aparências enganam ou que nem tudo que reluz é ouro. O povo tem sempre razão, pois dificilmente erra nas suas avaliações. Quando se fala em Petrópolis, pensa-se logo no Imperador Pedro II, que foi o herói civilizador destas serras, de cujo empenho nasceu a cidade que cresceu sob o seu olhar vigilante e onde o Imperador encontrou abrigo, fugindo do verão carioca, por mais de quarenta anos. Petrópolis, a cidade de Pedro deveria ter sido uma grande célula monarquista a transformar-se no centro da resistência ao golpe de 15 de novembro de 1889. Mas a história é feita de paradoxos e Petrópolis só foi aparentemente monárquica enquanto durou o regime e o Rei partiu sem que uma lágrima fosse derramada, sem que um cristão defendesse o monarca destronado. Na verdade Petrópolis era já de longa data um poderoso e renitente reduto republicano. Em poucos lugares da Província do Rio de Janeiro agitava-se tanto a bandeira da República quanto em Petrópolis. No jornal “Mercantil”, que viveu de 1857 a 1892 escrevia com elegância e discreção o republicaníssimo Thomaz Cameron. Encastelados nos seus redutos eleitorais aqui estavam em plena propaganda republicana José Thomaz da Porciúncula, José de Barros Franco Junior, Hermogenio Pereira da Silva, Francisco Soares de Gouvêa, Ernesto Paixão, Santos Werneck e outros, alguns deles filiados ao Partido Liberal de modo a lograrem assento na Assembléia provincial. O Coronel José Candido Monteiro de Barros, dos maiores latifundiários do município, proprietário de terras do Retiro para baixo até Pedro do Rio, recebia com todo o respeito e acatamento em sua Fazenda da Olaria (onde está hoje o Castelo de São Manoel) o Imperador Pedro II, mas na hora da eleição era em Porciúncula que ele votava. E mais tarde, chegou a criar dois batalhões sustentados por ele mesmo, para ajudar o Marechal Floriano no combate aos revoltosos de 6 de setembro de 1893. Considerando-se essa intimidade petropolitana com o movimento republicano, com o qual muita gente se identificava, era natural que Petrópolis não se movesse na direção do Imperador deposto. O jornal “Mercantil” não comentou nem lastimou a última viagem da família imperial de Petrópolis ao Rio de Janeiro e daí para o exílio. Entretanto, o mesmo periódico serrano na edição […] Read More
AINDA – A COR DO MUSEU IMPERIAL
AINDA – A COR DO MUSEU IMPERIAL Ruth Judice Nós que somos preservadores, amantes desta cidade, estudiosos de sua arquitetura, quando lemos que o Museu Imperial ia ser pintado de outra cor, paramos para pensar. Analisando sob o ponto da Preservação como Ciência, tudo certo. Pesquisar o passado de um bem e fazê-lo retornar cem por cento, à sua origem, seria o lógico. Foi, certamente, o que levou o atual Diretor do Museu, profundo conhecedor do assunto, a pensar na mudança. Por outro lado, qual a situação atual do Palácio de D. Pedro II? Bem conservado, pintura em rosa intenso, cor adequada pois não “agride” (termo técnico) ao conjunto e ainda realça sua inspiração neoclássica, com os detalhes na cor branca. Há quase meio século ele está no tom que o vemos e que já espalhamos em fotos coloridas, pelo mundo. Segundo Dom Pedro Carlos de Orléans e Bragança, membro da família imperial, “esta é sua cor, desde que virou Museu Imperial”. O povo sempre o viu assim e foi nesta cor que aprendeu a amá-lo. Todos sabemos que o Museu foi a residência de verão do Imperador Pedro II. E muitos sabem que a família imperial ainda reside na cidade em diferentes endereços. Um deles é o Palácio do Grão Pará que abrigou o príncipe Dom Pedro Gastão até sua morte recente. Quem não se lembra dele, sempre montado no seu cavalo Tony, trotando pela Av. Ipiranga, ou seguindo o rio na R. da Imperatriz? Alguns entre nós certamente ouviram uma pessoa do povo cumprimentando-o: – Bom dia “seu” Príncipe – ao que ele retribuía sorrindo: – Bom dia! Pois foi ele que nos contou, numa das suas visitas, comentando quantas residências e sedes públicas usaram a mesma pintura do Museu. Dizia que isto lhe dava muita satisfação, porque fora ele que criara a cor com um fabricante de tintas. O fabricante, em atenção a Dom Pedro batizara a cor de – Rosa Grão Pará. Usemos o bom senso. Este é um fato que tem que ser levado a sério. Dom Pedro era a própria tradição viva, circulando entre nós. Tivera o bom gosto de ir ao fabricante, “criar” uma cor e perpetuá-la como uma característica quase que exclusiva da cidade! Não podemos, de repente, trocá-la sem pelo menos ouvir a população. E essa já se pôs na defensiva, já foi para os jornais, já discutiu nos bares […] Read More